Filme do anime que não exige conhecimento prévio da série de
tv.
O mundo de Ao no Exorcist consiste em duas dimensões unidas como uma, como um espelho. O primeiro é o mundo em que os seres humanos vivem; Assiah, e o mundo dos demônios; Gehenna. Normalmente, viagens e até mesmo qualquer forma de contato entre os dois é impossível. No entanto, os demônios podem passar para este mundo por possuir qualquer coisa que existe dentro dele. Satanás é o deus do submundo, mas não pode atravessar para o mundo terreno por não haver um recipiente capaz de suportar a densidade de seu poder. Então ele tem dois filhos com uma mulher humana, Rin (NobuhikoOkamoto) e Yukio Okumura (Jun Fukuyama), para que eles possam crescer naquele mundo e cumprirem seus planos maléficos. Só que, criados por um humano, acabam aprendendo valores humanos.
Ah, o xintoísmo! É uma religião folclórica simplesmente
fantástica e uma esponja imaginativa para qualquer artista. Quanto mais
descubro, mais apaixonada fico. Mas não é esse o motivo que me levou a gostar
tanto de Ao no Exorcist (Blue no
Exorcist – acho que eu não precisaria dizer, mas o “Exorcista Azul” no título é
porque o protagonista emana chamas azuis sempre que desperta seu... poderzinho)
em sua exibição em 2011. Ao no Exorcist me diverte, me fascina e me empolga não
apenas por ser um mundo folcloricamente rico, mas pelo modo como o enredo e
seus personagens são trabalhados dentro da premissa.
E este filme, apesar de ser uma história original, carrega
de forma exemplar a estrutura da série e seu feeling de ser uma série
essencialmente aventuresca. Dito isso, eu devo informar que ainda não conheço o
mangá (agora que foi licenciado pela
editora Jbc, pretendo conferir) e minha visão parte da perspectiva da
adaptação animada.
Em Ao no Exorcist – O Filme, enquanto a True Cross Academy
está completamente envolvida nos preparativos para um famoso festival que
ocorre apenas a cada 11 anos, alheios à agitação da massa, Rin e Yukio
juntamente de Shiemi Moriyama (Kana Hanazawa) têm a missão de reprimir e exorcizar um trem possuído por um
demônio, enviando-o para Gehenna. Só que Rin e Shiemi resolvem salvar as almas
das pessoas dentro do trem e a missão acaba falhando. Nesse meio tempo, Rin
acaba conhecendo e ficando responsável por um pequeno demônio.
Esse filme traz dois personagens novos, o demônio Usamaro (Rie Kugimiya) e o exorcista Liu
Cheng-Long (Hidenobu Kiuchi). O
roteiro da requisitada Reiko Yoshida (K-ON!,
Kaleido Star, REC) começa com uma lembrança, que se torna o mote do filme,
de Rin com relação a uma história que seu pai lhe contou uma vez sobre um
espirito que apareceu em uma aldeia, distraindo a todos com sua alegria,
fazendo com que se esquecessem de trabalhar. A moral da história é que aparece
um exorcista para selar o diabinho, mas já era tarde. Com todos distraídos se
divertindo e ninguém trabalhando, a plantação morreu e a aldeia foi devastada.
Logo de cara, o que mais impressiona aqui é o mundo
desenhado em cores vivas, incríveis texturas que formam um excelente casamento
entre 2D e 3D, de cores fortes e estilizadas. O diretor de arte Shinji Kimura que já fez backgrounds incríveis em filmes como Akira (1988), Tekkonkinkreet (2006),
Angel's Egg (1985) – e são filmes
que se destacam exatamente pelo belíssimo cenário que possuem. Uma
característica de Shinji Kimura, que sempre desenvolve fotografias impactantes
nas obras que coloca a mão.
A cidade é desenhada com cores fortes e estilizadas,
destacando a densidade geográfica e amplitude dos edifícios de modo a passar
para o espectador o sentimento de poluição visual em meio a densa massa de
pessoas se preparando para o festival. O
comercio está nervosamente movimentando, há turistas por todos os lados, e
todos os personagens ali possuem um papel vital em meio àquelas festividades.
Os exorcistas criam barreiras para impedir os demônios para atacar e estragar a
festa, e para dar conta da demanda, novos e prestigiados exorcistas chegam à
cidade para ajudar nessa contenção, além dos exorcistas que estão especialmente
encarregados de performances durante o festival.
Esse é um bom ponto no roteiro da Yoshida, justificando a
inserção de novos personagens ao enredo e dando função a turma de amigos de
Rin, para a narrativa se concentrar no trio Rin, Yukio e Shiemi.
Mais uma vez o filme não se distancia da série de tv ao
continuar a explorando a polaridade entre os dois irmãos e a temática da
responsabilidade. Fugir dela não resolve nada, o ser humano é um ser complexo
pela coexistência de sentimentos contraditórios dentro de si. No fim do filme,
há a mensagem de que a busca plena felicidade é uma utopia inalcançável para
aqueles que possuem consciência e memória. É como um yin-yang. A dor é
necessária para a superação e os sorrisos dos bons momentos é o alívio que nos
mantém vivos. A figura da cidade e todas as funções desempenhadas pelos
personagens exemplificam sem precisar dizer, o conceito do roteiro. São... Somos...
todos uma complexa engrenagem num intricado sistema.
Enfim, é um filme divertido que traz duas belas sequências de ação, no inicio e no final. Mas o que eu gostei mesmo foi o que fez me sentir tão emocional com muitos dos episódios da série de tv, que é a interação cotidiana entre os personagens em meio a diversas aventuras. Aqui eles nem exercem um papel proeminente, mas é gostoso ver Rin e Usamaro construindo um laço fraterno tão bonitinho. O Usamaro é uma gracinha. Inicialmente ele é todo arredio, arisco, por motivos que serão explicados mais a frente. De certa forma, ele é um reflexo do próprio Rin. O filme é feito de momentos fraternamente emocionais bonitos assim.
No xintoísmo, youkais e demônios afins não são criaturas
malévolas como são no ocidente. Isso se deve ao conceito contrastante
filosófico do xintó como religião e da cristandade ocidental. No ocidente, o cristianismo
vilaniza demônios e criaturas sobrenaturais como uma forma de tirar o peso por
ações praticadas pelo homem (“não foi culpa sua, você estava sendo
induzido pelo demônio”). E a beleza do xintoísmo esta na possibilidade
de coexistência saudável entre humanos e demônios. No fato de demônios e
humanos pouco se diferenciarem, sendo essencialmente seres tridimensionais.
Ao no Exorcist – O filme é bonito e se sai muito bem ao não
se distanciar da temática da série. Poderia se encaixar perfeitamente na
cronologia original, acredito. O bônus fica por conta da direção envolvente de Atsushi
Takahashi e da trilha sonora do Hiroyuki Sawano, que não tem a vibe da série
de tv, mas que cai muito bem aqui. Daquelas melódicas gostosas de se ouvir em
dias chuvosos.
Nota: 07/10
Direção: Atsushi Takahashi
Roteiro: Reiko Yoshida
Estúdio: A-1 Pictures
Tipo: Filme
Duração: 90 min.
ANN: http://goo.gl/L8G8yk
MAL: http://goo.gl/n7PLHZ
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