terça-feira, 12 de novembro de 2013

Corpse Party: Tortured Souls (2013) – Splatter

Uma adaptação meia-boca para os sedentos por sangue.
"Parece que sua amiga foi tocada pela maldição. E... Para proteger sua mente, ocorreu uma reação defensiva repentina. Ela mesma escolheu se matar.Agora sua amiga se foi, a única pessoa viva nesta escola é você. E agora você... Ficará sozinha até morrer..."
Corpse Party: Tortured Souls é uma adaptação em 4 OVAs do game de survival horror Corpse Party BloodCovered, remake do primeiro jogo feito em RPG Maker da franquia Corpse Party. A história gira em torno de um grupo de estudantes da Academia Kisaragi e uma professora. Eles se reúnem depois das aulas como uma forma de despedida de uma colega que irá se transferir no dia seguinte e um dos personagens começam a contar uma aterradora história de terror sobre uma antiga escola que havia naquele local antes da construção da atual. Essa era a Escola Celestial, que fora demolida depois de uma série de assassinatos envolvendo alunos e professores. 

Claro que não seria tão legal se ficasse apenas em histórias de terror, então eles vão fazer um ritual místico chamado Sachiko da Felicidade representado por um boneco de papel. Para que o ritual dê certo e a amizade deles perdurem, é necessário que cada um fique com um pedaço do boneco e repitam diversas vezes um mantra, sem quebrar a corrente. Mas alguém quebra e o pior acaba acontecendo: eles vão parar na Escola Celestial e antes mesmo de poderem descobrir uma forma de desvendar a saída daquele pesadelo, terão que lutar contra suas próprias mentes a fim de não perderem a sanidade.

Corpse Party vêm chamando bastante atenção ultimamente e já conta com várias sequências. Em 2011 eu comentei da adaptação em mangá, BloodCovered e já imaginava que não iria demorar muito até surgir uma adaptação para anime. Tortured Souls é para que curte um bom gorn (junção de gore com porn. Nesses casos, é tão extremo que beira ao sadismo lascivo) trash sem muita profundidade ou bons valores técnicos (como eu, por exemplo!), e acontece o obvio ao se tentar transpor 10 horas de jogo em pouco menos de 2 horas em uma série de 4 OVAs seguindo à risca a mecânica do original. Os personagens e suas relações não são aprofundados e o enredo recebe cortes que tiram a substância de muitas sequências, tornando-as rasas ou mesmo ilógicas. 
O ritmo é horrível e essa direção cheia de tropeços do diretor Akira Iwanaga (Tegami Bachi: Letter Bee) prejudica até mesmo o timing de muitas sequências – como quando a irmã de um dos personagens morre. Numa cena ele está terrivelmente abalado e na sequência seguinte, se porta em meio a sorrisos e uma paz de espirito injustificável. Com um ritmo apressado e tropeçante nos próprios calcanhares, algumas sequências ferem a lógica primordial do enredo e as regrinhas criadas para aquele mundo. Assim, acontece de vários personagens surgindo abruptamente em um locais que não deveriam estar sem uma resposta coerente por parte da narrativa. O mesmo acontece com as etapas necessárias para que os personagens desvendem os mistérios, que são encurtadas ao máximo, tirando muito do clima de suspense e mistério da trama.

Só para dar uma ideia, se numa cena um personagem diz que eles não deveriam existir na mesma dimensão, na outra cena eles já estarão interagindo na mesma dimensão.

O modo como é conduzido tira a sensibilidade e atmosfera de terror que o game consegue atingir com maestria mesmo com seus gráficos limitados. Se por um lado perdeu muito da sutileza e riqueza do original, por outro se torna algo próprio com sua violência banalizada. Poderia ser um pequeno mérito, se a qualidade de produção do estúdio Asread (Mirai Nikki) não fosse tão medíocre. Infelizmente também se perde muito do teor psicológico e estudo de personagens. Provavelmente foi o que me fez ficar comparando mentalmente a filmes de terror b americanos, com seus personagens agindo de forma burra e background inexistente.

É assim que todas as tentativas do roteiro em estabelecer laços emocionais acabam soando desinteressantes, é difícil se importar minimamente com qualquer personagem por serem tão artificiais. Ao invés disso, as ações é o que diverte, já que é o motivo pelo qual Tortured Souls acaba despertando interesse. É quase sádico? É, horas! Essa é a graça! Por isso que ainda é capaz de divertir para quem se excita pela simples coloração do sangue e violência. Acompanhar a punição daqueles personagens que agiram egoistamente ou até mesmo àqueles que ousaram manter seus traços de ingenuidade, é como um reflexo do nosso próprio mundo onde alguns valores inconscientes são reafirmados. Todos os dias você está julgando, ainda que inconscientemente, alguém por estar sendo ingênuo demais num mundo tão cínico, por estar sendo tão canalha com aqueles que os amam, pelo modo que se vestem, que se comportam. Até mesmo numa frase tão simples e aparentemente ingênua como “quando você perder aprenderá a dar mais valor” está incutido um julgamento moral com prévia punição. 



Tortured Souls faz jus ao seu nome e melhor ainda: sem censura. Triste é a direção ser fraca e desinspirada,  não tirando o melhor dessa liberdade. Idem pra trilha sonora que não é utilizada apropriadamente e a iluminação, que é precária (nunca confunda borrão escuro com boa iluminação). A animação é ruim (os germes sequer se mexem!! Que absurdo! Como é que vou sentir nojinho se eles estão estáticos?) e os valores artísticos não se destacam como em um Blood-C, é o mesmo nível plastificado do anime de Mirai Nikki (anime de horror precisa ser menos plastico e mais organico. O sangue e tripas precisam parecer vivos de verdade. Menos limpo e mais sujo).

Ainda que com muita carga de violência, falta a densidade emocional, que é possível se encontrar mesmo num anime cheio de problemas como Higurashi. O que é uma pena, Blood Covered tinha potencial para mais. Gosto muito da premissa da série Corpse Party e seus jogos psicológicos; estudantes que são enviados para o passado de outra dimensão, de espíritos que desconhecem estarem mortos e o fato desses espíritos serem majoritariamente crianças que cometem barbaridades, mas ainda são crianças. Provavelmente uma serie de 2 cours fosse o ideal, embora se continuasse com essa direção genérica, o resultado não seria tão melhor também. Mas quem sabe as outras séries da franquia? Por pior que seja, não serei capaz de resistir ao fanservice! Ainda assim, não é algo que me fará sentar na frente de um monitor para rever. Agora é rezar para que parem de mandar projetos de horror para o estúdio Asread. 

Trivia
Fora algo que acontece no fim, e apesar dos problemas ocasionados pela falta de ritmo, os OVAs seguem de perto o original, incluindo uma cena pós-crédito que eu acho bem interessante por dar mais ambiguidade à história.

Nota: 04/10
Tipo: OVA
Episódios: 04
Direção: Akira Iwanaga
Roteiro Adaptado: Soichi Sato
Trilha Sonora: Mao Hamamoto (Team GrisGris), Takashi Hamada
Estúdio: Asread
MAL: http://goo.gl/iKyXMB
ANN: http://goo.gl/076yWU

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