domingo, 22 de dezembro de 2013

Kyoukai no Kanata (2013): Além do Horizonte

Só uma pena que nunca chegamos a ver o que há além deste horizonte :P
Akihito Kanbara (Kenn) é um estudante colegial, que apesar de se parecer comigo e com você, esconde um segredo: ele é metade humano e metade youmu [um gênero youkai fictício], que lhe confere a imortalidade. Um dia ele conhece a caloura Kuriyama Mirai (Risa Taneda) que está prestes a se jogar do terraço da escola. Ou assim parecia, porque tão logo ele se aproxima, ela que também está imersa no mundo sobrenatural e é capaz de controlar e transformar o sangue em qualquer arma destrutiva, então começa ataca-lo com o intuito de mata-lo. Este é um mundo dividido entre humano e sobrenatural, com criaturas que ultrapassam a linha entre os dois mundos e são um perigo contra o equilibrio. É função então de agências com caçadores zelar por este equilíbrio.

Kyoukai no Kanata (Beyond the Boundary) é uma metáfora sobre crescer e as implicações que isto causa no indivíduo. As fantasias sexuais pervertidas, a tensão sexual aflorada, a paixão, bullying, sentimento de abandono, a negativa de lidar com as perdas, responsabilidades. A série traz tudo isto em sua narrativa, ora de modo sutil, ora de maneira obvia. Como é perceptível através de sua abertura, a série trabalha estes conflitos através da dualidade existente em todo ser humano, mas que reflete muito mais no fim da adolescência, onde de fato parece que estamos convivendo com monstros interiores querendo emergir nos momentos mais intensos. Então nem chega a ser surpresa que o maior fardo que os personagens têm que carregar é com relação à pressão familiar para que cumpram o que se esperam deles – algo tão comum em qualquer sociedade, mas em especial na japonesa isto é fator cultural muito mais expressivo. Interessante que na série fica bem claro sobre a verdade destas lutas serem muito mais internas do que externas.
Oh, bem, simbolismos temáticos de lado, e sem dúvidas KnK renderia um texto apenas com estas dissertações, o estúdio Kyoto Animation está desde sua estreia como estúdio autoral em constante transformação. Entre todos os estúdios, é o que mais se “reinventa” – entre aspas porque sua target e modus operandi continua intocável, o que do ponto de vista comercial, é bem sábio. Depois de começar a investir nas light novels de sua editora, 2013 é marcado com seu primeiro anime original com Tamako Market, seguido de uma nova postura com Free!, expandindo seu alcance às fujoshis, e por fim, sua primeira fantasia dark com Kyoukai no Kanata! Que também dá sequência à proposta do estúdio de tirar um pouco do recato e a ingenuidade fetichista para uma linguagem mais ousada, o que é um passo surpreendente percebido primeiramente em Tamako Market
E KnK traz muito desta tensão erótica; eu diria que acerta mais quando se concentra apenas nos trejeitos minimalistas das personagens. Esta que sempre foi a melhor característica do estúdio. Um plano mais fechado nos lábios; o modo como eles se contorcem ou ficam entreabertos, os olhos, no simples gesto de mexer nos cabelos, ao se sentar, uma cruzada de pernas; sequências assim conseguem ser bastante sensuais e delicadas, sem apelar para algo mais explicito. Li uma vez nestes artigos sobre os seus funcionários que estas sequências são desenhadas exclusivamente pelas mulheres do estúdio, para dar um toque de maior feminilidade. Não me dei ao trabalho de averiguar se foi o caso aqui.

Dirigido por Taichi Ishidate, que faz sua estreia como diretor, KnK assim como todas as adaptações do estúdio, vem com uma proposta mais autoral. Não conheço o original, mas segundo o próprio, há muitas modificações para dar maior coesão narrativa à adaptação, o que devo dizer, não foi suficiente. Embora o decimo episódio da série seja excepcional em fechar algumas pontas soltas primordiais e dar motivações a algumas ações injustificáveis dentro do enredo, a série ainda é bastante fraca na construção dos personagens e as motivações dos personagens adultos envolvidos na trama que dá nome ao anime (Kyoukai no Kanata, ou seja; Além do Horizonte) são tão vagas, que ao invés de dar gravidade às suas ações, apenas soa superficial. Obviamente, tudo se deve à péssima caracterização em torno dos personagens. O que não deixa de ser curioso, porque diga o que for os personagens do estúdio geralmente são bem cativantes e simpáticos. Salve Kuryiama, a personagem de maior curva psicológica no anime. 
O melhor exemplo do quão péssimo é a caracterização deste anime, seria a subtrama envolvendo o passado de Mirai Kuriyama e sua tragédia pessoal, onde a Sakura Inami (Moe Toyota) ressurge buscando vingança; subtrama e personagem que vinham sendo construídos acertadamente aos poucos e com uma estimulação grave acaba culminando num desfecho descabido onde tudo isto é descontruído e uma questão complexa é resolvida em poucos segundos para nunca se tocar no assunto. A personagem permanece na história como um zombie sem função especifica.

O roteiro adaptado de Jukki Hanada (Nichijou/Chuu2Koi) é bastante preso em frases de efeito bregas, que revela a intenção da narrativa de construir os seus personagens através de estereótipos, que se funcionam harmoniosamente em outras séries do estúdio, como Kyouka, aqui é apenas desastroso. O motivo disso seria este mesmo roteiro que não dá substância aos conflitos dos personagens, se satisfazendo com exposições obvias.

Isto mostra a dificuldade na composição de uma temática obscura em harmonia com o modus operandi tradicional do estúdio. Os tons dramáticos não são acentuados como deveria. Como eu disse, o roteiro é bastante preso e nunca disposto a dar o passo seguinte. Pelo contrario, sempre recua para a formúla consagrada, deste modo o humor e os conflitos dramáticos nunca que se complementam organicamente, logo, soa superficial. Um exemplo dessa covardia narrativa está no final: o roteiro tenta estabelecer um conflito dramático como ponto alto, mas logo em seguida recua, contradizendo a própria logica empregada anteriormente (não vou dar spoilers).
Enfim, KnK tem uma direção relativamente na média; se por um lado o humor e a ação conseguem geralmente se encontrar em cena, e todas estas com sequências fluidas de animação e com boa ação, por outro faltou algo que desse mais emoção e diversidade à estas sequências (episódio 4 possui as melhores). Podem ser bem animadas, bonitas visualmente, mas logo vai cansando e se tornando lugar comum por estarem sempre repetindo a mesma lógica na mecânica do storyboard. Parece um pouco exigente quando se percebe que em 99% dos animes de fantasia mal temos mais do que sequências em quadros estáticos, mas encaro como um potencial desperdiçado impossível de não chamar atenção. No fim das contas, no meu critério, KnK é o pior dos animes do estúdio em 2013, num ano onde nada que produziu é realmente digno de nota. Ao menos, Kuriyama conseguiu ser muito mais que uma gracinha de óculos! No fim, ela se tornou uma personagem bem bacana e forte, a despeito de sua aparência fragilizada. :D:D 

Nota: 05/10
Direção: Taichi Ishidate
Roteiro: Jukki Hanada
Estudio: KyoAni
Episódios: 12
Tipo: TV
ANN: http://goo.gl/xy2g3y
MAL: http://goo.gl/8dy3J1

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