Só uma pena que nunca chegamos a ver o que há além deste horizonte :P
Akihito Kanbara (Kenn)
é um estudante colegial, que apesar de se parecer comigo e com você, esconde um
segredo: ele é metade humano e metade youmu [um gênero youkai fictício], que
lhe confere a imortalidade. Um dia ele conhece a caloura Kuriyama Mirai (Risa Taneda) que está prestes a se
jogar do terraço da escola. Ou assim parecia, porque tão logo ele se aproxima,
ela que também está imersa no mundo sobrenatural e é capaz de controlar e
transformar o sangue em qualquer arma destrutiva, então começa ataca-lo com o
intuito de mata-lo. Este é um mundo dividido entre humano e sobrenatural, com
criaturas que ultrapassam a linha entre os dois mundos e são um perigo contra o
equilibrio. É função então de agências com caçadores zelar por este equilíbrio.
Kyoukai no Kanata (Beyond the Boundary) é uma metáfora sobre crescer e as
implicações que isto causa no indivíduo. As fantasias sexuais pervertidas, a
tensão sexual aflorada, a paixão, bullying, sentimento de abandono, a negativa
de lidar com as perdas, responsabilidades. A série traz tudo isto em sua
narrativa, ora de modo sutil, ora de maneira obvia. Como é perceptível através
de sua abertura, a série trabalha estes conflitos através da dualidade
existente em todo ser humano, mas que reflete muito mais no fim da adolescência,
onde de fato parece que estamos convivendo com monstros interiores querendo
emergir nos momentos mais intensos. Então nem chega a ser surpresa que o maior
fardo que os personagens têm que carregar é com relação à pressão familiar para
que cumpram o que se esperam deles – algo tão comum em qualquer sociedade, mas em
especial na japonesa isto é fator cultural muito mais expressivo. Interessante que na série fica bem claro sobre a verdade destas lutas serem muito mais internas do que externas.
Oh, bem, simbolismos temáticos de lado, e sem dúvidas KnK
renderia um texto apenas com estas dissertações, o estúdio Kyoto Animation está
desde sua estreia como estúdio autoral em constante transformação. Entre todos
os estúdios, é o que mais se “reinventa” – entre aspas porque sua target e modus operandi continua intocável, o que do ponto de vista
comercial, é bem sábio. Depois de começar a investir nas light novels de sua
editora, 2013 é marcado com seu primeiro anime original com Tamako Market,
seguido de uma nova postura com Free!, expandindo seu alcance às fujoshis, e por
fim, sua primeira fantasia dark com Kyoukai no Kanata! Que também dá sequência
à proposta do estúdio de tirar um pouco do recato e a ingenuidade fetichista para
uma linguagem mais ousada, o que é um passo surpreendente percebido
primeiramente em Tamako Market.
E KnK traz muito desta tensão erótica; eu diria que acerta
mais quando se concentra apenas nos trejeitos minimalistas das personagens. Esta
que sempre foi a melhor característica do estúdio. Um plano mais fechado nos
lábios; o modo como eles se contorcem ou ficam entreabertos, os olhos, no simples
gesto de mexer nos cabelos, ao se sentar, uma cruzada de pernas; sequências assim
conseguem ser bastante sensuais e delicadas, sem apelar para algo mais
explicito. Li uma vez nestes artigos sobre os seus funcionários que estas sequências
são desenhadas exclusivamente pelas mulheres do estúdio, para dar um toque de
maior feminilidade. Não me dei ao trabalho de averiguar se foi o caso aqui.
Dirigido por Taichi Ishidate, que faz sua estreia como
diretor, KnK assim como todas as adaptações do estúdio, vem com uma proposta
mais autoral. Não conheço o original, mas segundo o próprio, há muitas modificações
para dar maior coesão narrativa à adaptação, o que devo dizer, não foi
suficiente. Embora o decimo episódio da série seja excepcional em fechar
algumas pontas soltas primordiais e dar motivações a algumas ações injustificáveis
dentro do enredo, a série ainda é bastante fraca na construção dos personagens
e as motivações dos personagens adultos envolvidos na trama que dá nome ao
anime (Kyoukai no Kanata, ou seja; Além
do Horizonte) são tão vagas, que ao invés de dar gravidade às suas ações,
apenas soa superficial. Obviamente, tudo se deve à péssima caracterização em
torno dos personagens. O que não deixa de ser curioso, porque diga o que for os
personagens do estúdio geralmente são bem cativantes e simpáticos. Salve Kuryiama, a personagem de maior curva psicológica no anime.
O melhor exemplo do quão péssimo é a caracterização deste
anime, seria a subtrama envolvendo o passado de Mirai Kuriyama e sua tragédia
pessoal, onde a Sakura Inami (Moe Toyota)
ressurge buscando vingança; subtrama e personagem que vinham sendo construídos
acertadamente aos poucos e com uma estimulação grave acaba culminando num
desfecho descabido onde tudo isto é descontruído e uma questão complexa é
resolvida em poucos segundos para nunca se tocar no assunto. A personagem permanece
na história como um zombie sem função especifica.
O roteiro adaptado de Jukki Hanada (Nichijou/Chuu2Koi) é bastante preso em frases de efeito bregas, que
revela a intenção da narrativa de construir os seus personagens através de estereótipos,
que se funcionam harmoniosamente em outras séries do estúdio, como Kyouka, aqui
é apenas desastroso. O motivo disso seria este mesmo roteiro que não dá
substância aos conflitos dos personagens, se satisfazendo com exposições obvias.
Isto mostra a dificuldade na composição de uma temática obscura
em harmonia com o modus operandi tradicional do estúdio. Os tons dramáticos não
são acentuados como deveria. Como eu disse, o roteiro é bastante preso e nunca
disposto a dar o passo seguinte. Pelo contrario, sempre recua para a formúla
consagrada, deste modo o humor e os conflitos dramáticos nunca que se
complementam organicamente, logo, soa superficial. Um exemplo dessa covardia
narrativa está no final: o roteiro tenta estabelecer um conflito dramático como
ponto alto, mas logo em seguida recua, contradizendo a própria logica empregada
anteriormente (não vou dar spoilers).
Enfim, KnK tem uma direção relativamente na média; se por um
lado o humor e a ação conseguem geralmente se encontrar em cena, e todas estas
com sequências fluidas de animação e com boa ação, por outro faltou algo que
desse mais emoção e diversidade à estas sequências (episódio 4 possui as melhores). Podem ser bem animadas,
bonitas visualmente, mas logo vai cansando e se tornando lugar comum por
estarem sempre repetindo a mesma lógica na mecânica do storyboard. Parece um pouco
exigente quando se percebe que em 99% dos animes de fantasia mal temos mais do
que sequências em quadros estáticos, mas encaro como um potencial desperdiçado impossível
de não chamar atenção. No fim das contas, no meu critério, KnK é o pior dos
animes do estúdio em 2013, num ano onde nada que produziu é realmente digno de
nota. Ao menos, Kuriyama conseguiu ser muito mais que uma gracinha de óculos! No fim, ela se tornou uma personagem bem bacana e forte, a despeito de sua aparência fragilizada. :D:D
Nota: 05/10
Direção: Taichi Ishidate
Roteiro: Jukki Hanada
Estudio: KyoAni
Episódios: 12
Tipo: TV
ANN: http://goo.gl/xy2g3y
MAL: http://goo.gl/8dy3J1
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-Chuunibyou demo Koi ga Shitai! – A Sacarina do KyoAni
Direção: Taichi Ishidate
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