Misteriosas pessoas de preto à espreita.
O Studio 4°C, apesar de produzir de tudo (como a grande maioria dos estúdios de
animações), é mais conhecido por suas produções menos comerciais convencionais,
tal qual Eternal Family ou Tekkonkinkreet, geralmente são animações menores e
de curta duração. Mas eles também fizeram Berserk: The Golden Age, utilizando
uma técnica nova em termos de anime e não se saíram muito bem. No entanto, eu
tenho a mania de associar o 4ºC a ideias criativas que fogem da curva, embora
não necessariamente bem conduzidas. Talvez seja grande parte da minha surpresa
ao vê-los como o estúdio de um projeto como Chronus, patrocinado pelo Anime Mirai; projeto que dá possibilidade para um diretor novo mostrar seu talento,
tenha ficado muito aquém do se poderia esperar desse âmbito.
Ele não traz nada de invencionismo ou ousadia em termos de
animação ou conceito argumentativo, é uma produção bem padrão para um projeto
desse tipo, mas é bem conduzido. O verdadeiro mote do enredo só se revela
verdadeiramente ao final e subverte as expectativas no que diz respeito a
determinado conceito - ainda que o título evidencie a virada ao final. A moral da
história é bem legal, nos conta sobre um garoto chamado Makoto Nakazono (Natsuki Hanae), um jovem do ensino
médio que consegue ver shinigamis – espíritos da morte. Ele se frustra por não
conseguir fazer nada a respeito para evitar que as almas das pessoas sejam
levadas por estes seres, ainda que possa ver quando os shinigamis estão por
perto, já que sempre que tenta fazer algo as pessoas pensam que está louco. Com
o tempo, ele passa a aceitar essas ocorrências com certa naturalidade, afinal,
não há nada que se possa fazer contra o destino. No entanto, as coisas tendem a
tomar rumo inesperado quando a sombra da morte começa a rondar sua amiga de
infância Hazuki Horiuchi (You Taichi).
A mensagem é obvia, mas permitam-me comentá-la (possíveis spoilers). Na mitologia
grega Cronos é o deus do tempo e das estações. Vivemos uma vida sob a égide
desse deus chamado Cronos, onde seguimos uma ordem natural pré-definida do que
deve ser; como e onde. É curioso pensarmos que mesmo que saiamos dessa interpretação
grega, o tempo de Chronos ainda é o que melhor se adequa ao pensamento comum,
principalmente nos tempos atuais onde vivemos sobre uma ótica cada vez mais
racional, onde o planejamento [de metas e etc.], autocontrole e a melhor
administração do tempo são tidos como ferramentas essenciais para o sucesso em
qualquer esfera da vida. Mas além de Chronos, os gregos também tinham outra
referência para classificar o tempo, que é Kairos. Seu nome significa “o tempo
certo” ou “oportuno” e ele se opõe ao tempo cronológico de Chronos, formando
então uma espécie de dualidade. Kairos é contra esse agendamento da vida onde
tudo é calculado e enumerado, Kairos é uma entidade correspondendo ao tempo
existencial e, portanto, ele alude ao indeterminado, natureza adaptativa,
melhor usufruto da vida e às inconstâncias e emocional.
Tanto a filosofia de Chronos quanto a de Kairos são
fundamentais para a existência humana. Se por um lado, é importante saber
antecipar eventos, programar e planejar o tempo/futuro, por outro qualquer
realização depende de um conjunto de ações encadeadas imprevisíveis, é
importante saber lidar com o que foge do controle. Deste modo, o equilíbrio de
um ying e yang é o ideal. Se deixar escravizar pelo tempo é uma forma de viver
engessado. Ao priorizar Chronos,
sufoca-se Kairos e o potencial inconsciente do espaço na mente em lidar com o
que não é planejado. É então que Chronos surge como um ceifador monstruoso. A
adversidade é o que nos prepara física e emocionalmente para lidarmos com
várias questões no ciclo da vida. É o que ocorre com Makoto, que tal qual a
sociedade moderna, vive atormentado pelo fantasma temoroso do destino. Chronos
não apenas ceifou sua autoconfiança na capacidade de lutar contra, como sua
capacidade de agarrar o destino com as próprias mãos e se ver como um ser
individual alheio a previsibilidade de um destino pré-concebido por qualquer
deus. Tempo e destino são duas forças simbolicamente ajustadas ao modelo de
mundo que é guiado pela racionalidade.
Makoto incapaz de lidar com o destino, passa a aceitar todas
as mortes como fruto de sua impotência cósmica, desviando de si mesmo ao ponto
de não conseguir aproveitar melhor a vida ao lado de quem lhe interessa (Hazuki). Na ótica junguiana, quanto
mais nos afastamos de nós mesmos e nos submetemos a tudo que visam controlar
nossas experiências e existência, menos nos sentimos indivíduos. Extrair o
melhor de dois mundos é o que o livre arbítrio proporciona, e Makoto ao final
entende que não existe um deus estabelecendo um destino imutável, mas que
muitas coisas para se tornarem realidade apenas dependem de uma enorme força de
vontade e esforço para se concretizarem. Somente ao se encontrar, ele perceberá
a infinidade de coisas maravilhosas que existe diante de seus olhos, para o
qual ele estava incapacitado de ver devido as suas frustrações anteriores e
gradativo abandono do controle de suas ações. Tudo isso, para dizer, basicamente através de uma alegoria conceitual da morte, que os rumos de sua vida dependem mais de suas ações do que da vontade de qualquer deus.
Embora não tenha tido uma condução forte o suficiente para
marcar, é um desfecho bonito e doce, principalmente numa cultura onde o budismo
é uma religião imperante.
Nota: 07/10
Direção: Naoyuki Onda
Estúdio: Studio 4ºC
Tipo: Curta-Metragem/TV
Duração: 25 min.
Perfis: ANN, MAL, Anilist
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-Little Witch Academia – De Gainax ao Trigger
-Death Billiards – Madhouse (2013)
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