quinta-feira, 1 de maio de 2014

Lily C.A.T. (1987) – Ameaça Invisível

Depois de The Green Cat e Cat Diary, mais uma obra colocando os lindos e provocantes felinos num universo de terror, aporta aqui no ELBR. 

No espaço, ninguém pode ouvir seus gritos – esse foi o slogan de um clássico absoluto que surgia em 1979 e com sua narrativa seminal influenciaria não apenas o gênero como o Cinema, e por isso o título de clássico incontestável. Falo de Alien, O Oitavo Passageiro. Tudo que faz sucesso influencia, assim como também gera cópias descaradas. Alien teve um seu quinhão de obras do tipo, uma continuação argentina não-oficial, tentativas de uso sequencial do título por outros estudios e inclusive um anime em formato de OVA lançado em 1987. Não creio que Lily C.A.T. foi meramente influenciado, o que seu enredo faz é replicar a mesma estrutura narrativa do clássico de 1979, modificando alguns rumos tomados para que a história coubesse no formato de 91 minutos do OVA. Como poderá notar no resumo abaixo, se trata de uma versão simplista e destilada de Alien, sem o charme narrativo e suas múltiplas camadas. Sem nem mesmo sua liderança feminina tão determinada e pulsante.

Lily C.A.T. é a história de um grupo heterogéneo de viajantes interestelares no ano de 2264 d.C a bordos da embarcação comercial, no mais profundo espaço, a caminho de um planeta chamado LA-003. Eles estão a serviço da Syncam Company, com exceção da filha do presidente da empresa, Nancy Stroustrup (Masako Katsuki/Julie Maddalena), que parece estar embarcando ao lado do seu gato Lily mais por uma diversão aventuresca que qualquer outra coisa. Quando eles entram em sono criogênico, a fim de não serem afetados pelos 20 anos de viagem que têm pela frente, um acidente ocasionado por uma falha do sistema de inteligência artificial da nave (que se chama Mãe) permite que uma bactéria alienígena adentre em seu interior pelo sistema de ar. Quando eles acordam, aqueles que ficam expostas à bactéria são afetados das mais diversas maneiras. Os com certa sorte possuem uma morte instantânea, os menos afortunados são assimilados e devorados pela bateria que vai ganhando com o passar do tempo uma forma tenebrosa. Em meio a este caos, os tripulantes sobreviventes precisam lidar o caos que se instaura e com a paranoia que se instaura por ninguém saber exatamente o que está acontecendo nem quem está por trás das mortes. Logo tem inicio o ciclo de desconfianças. Obviamente nenhum deles quer ser a próxima vítima e confiar no outro pode ser fatal. O que eles nem imaginam que deveriam temer de verdade é a IA da nave (a Mãe), que planeja impedir que qualquer um consiga sair daquela embarcação com vida para poder contar história.
Não vou dizer quem ou o que é Lily dentro da história,  nem a sua motivação, embora pareça obvio. Não que a narrativa de Lily C.A.T. tenha por característica ser surpreendente em algum momento, pelo contrário, é uma história bem previsível. Este tipo de enredo eliminatório só consegue surpreender através da estética e nos possíveis conflitos gerados em torno dos personagens, uma vez que o esqueleto que conduz a narrativa é bem básico. Lily C.A.T. tem um aspecto estético regular, a animação é econômica, mas falha principalmente por um enredo que não entrega uma experiência orgânica, fazendo com que no final fique uma sensação de vazio. Soa um apanhado de ideias sem substancias. Seus longos corredores, salas e tecnologia basicamente são uma replica simplista da que se vê em Alien. O destaque fica para a concepção de arte das diversas formas do monstro alienígena, originado da mente de Yoshitaka Amano, que ilustrou a maravilhosa arte de Vampire Hunter D (tanto original com sua adaptação), e entre outros trabalhos, é o responsável pela história e a intrincada arte de Angel's Egg, ao lado de Mamoru Oshii. Outra coisa que chama a atenção é o character design dos personagens, criados por Yasuomi Umetsu (Galileu Donna, A Kite) – são personagens com traços, nomes e sobrenomes americanos. O que certamente vende a ideia de esta obra ter sido não apenas espelhada em Alien, como também produzida exatamente para surfar em sua popularidade.

É praticamente impossível algo surgir sem ter sido influenciado indireta ou diretamente por outra, o próprio Alien é uma soma de diversas influências sci-fi de anos interiores, só que com uma nova roupagem e filosofia. Lily C.A.T. poderia ter sido igualmente interessante se sua construção de ideias e direção fossem mais encorpados. As mortes não possuem impacto estético ou atmosférico, a tensão se esvai na falta de ambição e por mais que o roteiro não seja ruim, acaba por soar sem vida. Os personagens, por mais diversos que sejam não somam ou são de alguma forma significativos, que não ser o próximo alvo. No fim das contas, os melhores momentos são os que envolvem Lily na penumbra, estimulando os medos reprimidos no subconsciente; e o próprio alienígena, que exerce certo fascínio sempre que aparece. O que é bem pouco. No geral, gosto de pensar que Lily C.A.T. é o que seria de Alien se não fosse o sincronismo de tantos talentos envolvidos e uma grande ambição: ser muito maior que as obras que o inspiraram (ou seja, mais que um filme b de horror) e um grande expoente do sci-fi. Tive a oportunidade de rever Alien recentemente em sua qualidade máxima, e foi novamente uma experiência incrível – tenho tanto a dizer que é melhor não dizer nada e encerrar por aqui. Bom ou mal, agradeço Lily C.A.T. por ter me motivado a isto! 

Trívia:
Não há legendas para este OVA, apenas sua versão dublada em inglês de seu lançamento oficia nos EUA. E a dublagem é razoavelmente boa.

Nota: 05/10
Direção: Hisayuki Toriumi
Roteiro: Hiroyuki Hoshiyama
Estúdio: Pierot
Tipo: OVA
Quantidade: 1
Duração: 91 min.
Perfis: ANN, MAL, Anilist

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