Saudações!
(Antes de começar, me sinto na obrigação de dizer que não será uma simples crítica dos OVAs citados. Não pretendo entrar em detalhes sobre a trama, além de deixar de comentar a qualidade das animações, trilha sonora, e diversas outras coisas que deveriam conter uma crítica mais específica. A intenção deste texto é fazer uma análise da relação que os (bons) OVAs tem com suas séries de TV, e mostrar o cuidado que os criadores tiveram respeitando isso. Ah, será meu último artigo do ano, então tudo de bom à todos, foi ótimo começar aqui no blog e saber que muitos pararam para ler o 'Crítico Nippon'. Ano que vem tem mais!)
Muitos animes não precisavam ter OVAs, mas negócio é negócio. Alguns servem apenas como fillers e repetições do que já vimos, e em nada acrescentam para suas séries televisivas. Exemplos como os de Hellsing, Naruto, Dragon Ball GT, Fly (Dragon Quest)... Outros que até tentam explorar situações não vistas na TV, como os de Dragon Ball Z (com a idéia de como seria se Goku e seus amigos perdessem seus poderes). E aqueles OVAs que servem para ligar uma temporada à outra (Darker Than Black, excelente) e, justamente por isso, acabam funcionando.
Sendo assim, escolhi dois exemplos daqueles que são planejados para completar a série, visando discutir como são feitos OVAs que fazem jus ao anime: Samurai X (Rurouni Kenshin) e, claro, Elfen Lied. Ambos têm estes “Original Vídeo Animation” que, servindo não apenas como entretenimento à parte, completam e engrandecem suas narrativas da TV de forma lógica.
Na série televisiva de Samurai X, conhecíamos breves flashbacks do passado do protagonista Kenshin, conhecido como Batoussai, o retalhador. Foram mostrados algumas cenas rápidas de seus encontros com o famoso Shinsengumi e sequer imaginávamos como ele tinha ganhado sua famosa cicatriz em forma de cruz.
Com os quatro OVAs mostrando seu passado e os outros dois mostrando o futuro da série da TV (explorado melhor no mangá), a história fica muito mais complexa, plantando as sementes do que veríamos na televisão.
Entendemos como vivia o tão falado retalhador que Kenshin um dia foi, para quem trabalhava, o que motivavam suas ações, a cicatriz, e claro, o que fez deixar de ser o assassino que era. Todas essas perguntas respondidas em episódios impecáveis.
Sem perder tempo ou indo pelo caminho mais fácil, o primeiro capítulo já começa com um massacre tenso e forte. Servindo não apenas para mostrar uma mudança radical e decisiva na vida do protagonista, mas para nos ambientarmos àquela época hostil e selvagem, onde a morte pode estar escondida nos capins da estrada, ou nas esquinas das cidades escuras.
Não querendo colocar como vilão algum outro retalhador com habilidades equivalentes (pois no anime já é cheio), Kenshin enfrenta um inimigo musculoso, habilidoso e desarmado. E a agilidade do protagonista que víamos no anime é mostrada aqui de forma bastante veloz, sim, mas muito mais humana e plausível – não algo parecendo o teletransporte, simplesmente fazendo o personagem sumir. Dessa forma, ele não fica parecendo um Super-Homem (ou Super Saiyajin) e assim mesmo não duvidamos nem por um segundo que ele seja capaz de vencer vários adversários ao mesmo tempo. E essa “humanização” de suas habilidades é mostrada também através de um outro golpe, que pode passar despercebido para muitos, no anime chamado “Golpe do Dragão Voador”, em que ele dá um grande salto para cima e cai batendo com sua espada. Na OVA é um pulo normal, mas rápido e eficiente, em que ele cai cortando o inimigo.
Kenshin voando e Kenshin pulando. |
Além de fazer várias rimas com a série, apresentando-nos ao diálogo icônico de Samurai X, dito pelo protagonista no primeiro episódio do anime, e ensinado pelo seu mestre no primeiro capítulo da OVA: “Kenwa kyouki, kenjutsuwa satsujinjutsu!” (Uma espada é uma arma, Kenjutsu é uma técnica de assassinato!). Outro resgate interessante que colocaram no quarto capítulo, é a cena em que Kenshin e Saito se atacam sem se atingirem, afastando-se de costas um pro outro. No anime a cena é mostrada com a câmera de lado para os personagens, no OVA ela nos mostra o golpe de frente. Não é perfeito? E qual fã de Samurai X não abriu um sorriso vendo aquele Saito mais humano e, assim mesmo, sem abrir mão de sua clássica pose de ataque?
Sem perder o foco com o anime, Samurai X é um exemplo que sabe exatamente onde consegue ou não superar a série da TV. Sabíamos que Kenshin havia se encontrado com Okita dos Lobos de Mibu, mas só vemos o confronto deles no OVA. Uma luta rápida, mas extremamente eficiente tamanho seu realismo e agilidade na direção.
Por outro lado, já havíamos visto Kenshin e Saito enfrentando-se no anime (naquela que, para mim, é a melhor coreografia de espadas já feita). E tendo em vista que não teria como superá-la, quando ambos se encontram nos OVAs, a luta é mostrada em flashes rápidos, resgatando aquela lembrança da coreografia super acelerada e grandiosa que conhecíamos da televisão.
Kenshin vs Saito no anime
Kenshin vs Okita e Kenshin vs Saito, no OVA
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E chegamos então a Elfen Lied, que com apenas um Original Vídeo Animation, não deixa a desejar, preenchendo lacunas do anime. Questões que alguns talvez nem tenham se perguntando pela primeira vez vendo a série feita para televisão: como, afinal, a Lucy foi capturada se era tão poderosa? O anime começa com ela fugindo da prisão, mas como ela foi parar lá?
E a resposta é mais simples do que parece: laços afetivos. Aquilo que sempre foi o ponto fraco de qualquer herói.
Apresentando-nos a uma Lucy jovem, ainda que muito mais madura do que aquela vista nos flashbacks do anime de cabelo curto. Mostrando-se uma menina séria e desconfiada, mas que não deixa de buscar ansiosamente por relações afetivas. Sem conseguir conter seus impulsos de usar os poderes para impressionar a amiga, Lucy só quer, de alguma maneira, ser reconhecida por alguém.
Por isso sua rendição é tão trágica, pois é usado contra ela alguém que finalmente pôde estabelecer uma amizade (após o Kouta). Alguém que não se importou com suas diferenças e sua aparência. Como Lucy poderia não se entregar para tentar salvá-la?
E quanto ao Kurama, vemos suas falhas começarem ali, e seu sentimento de culpa ter início – que culminaria em seu final trágico, escolhido por ele mesmo.
Além de entendermos porque Lucy, no primeiro episódio, não enfiou a caneta no rosto do Kurama, e sim nos policiais ("Vou fazer você sentir tudo que eu senti".).
OVAs não deveriam contar a mesma história que a série, repetindo a fórmula. Deviam ser como estes citados: resgatando os personagens que nos conquistaram, aprofundando eles, fazendo-os ainda mais complexos e especiais, preenchendo lacunas que nem havíamos nos dado conta que faltavam.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon', ao lado direito da tela.)
12 comentários :
Ficou ótimo, parabéns. Adoro ler o que escrevem sobre Elfen Lied e sua observação foi muito sagaz, também gostei da critica ao extra de Samurai X. Nem tenho nada a acrescentar.
Um outro OVA, também muito interessante e que sem ele a série não faz sentindo algum, são os de Wolf's Rain, que são basicamente a conclusão do anime. Ver o anime terminando da mesma forma que começou foi fantástico.
Hmm só li o mangá de Wolf's Rain, mas tenho o anime salvo aqui faz um tempo. O problema é que tenho tanta coisa pendente que não comecei a ver ainda =P
Nem sabia que tinha OVA :o
E me doeu na alma ter deixado de comentar os de Darker Than Black, uma das melhores coisas que vi esse ano...
Valeu, Roberta :)
otimo artigo, curtinho mas direto ao ponto
Passei minha infância vendo o Kenshin voar e se teletransportar em Samurai X e eu realmente acreditava que humanos pudessem fazer isso. Samurai X mentiu pra mim.
Texto muito bem escrito como sempre.
mt bem escrito, continue nos brindando com eles.
COMO EU FASSO PRA VER O SAMURAI X O RETALHANDOR...
ótimo. Vc precisa fazer agora de ovas que emporcalham a series, fikdik
Alguem sabe onde tem o filme de Darker Than Black?
Não existe filme.
Não existe filme.
COMO EU FASSO PRA VER O SAMURAI X O RETALHANDOR...
Ficou ótimo, parabéns. Adoro ler o que escrevem sobre Elfen Lied e sua observação foi muito sagaz, também gostei da critica ao extra de Samurai X. Nem tenho nada a acrescentar.
Um outro OVA, também muito interessante e que sem ele a série não faz sentindo algum, são os de Wolf's Rain, que são basicamente a conclusão do anime. Ver o anime terminando da mesma forma que começou foi fantástico.
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