De longe o anime mais subestimado da temporada, No.6 é uma
prova que honestidade na hora de divulgar a premissa é tudo. Oferecido a todos
como mais um anime com a premissa presa ao termo “Sci-Fi”, ao mesmo tempo em
que todos ficaram um pouco apreensivos devido ao fracasso de Fractale (que não
é ruim como dizem, mas deixa a desejar), mas o conceito era suficientemente interessante
para se arriscar. Bem, a repercussão ao primeiro episódio foi notável e foi tão
interessante a reação das pessoas (principalmente dos garotos) que faço aqui
uma comparação: Parecia que eu estava correndo em direção a forças inimigas, em
uma guerrilha e quanto mais me aproximava do foco, mais via companheiros caindo
durante o percurso. Foi bem assim. E confesso que em partes, divertido ver a reação deles, morria de rir em várias situações (=_=).
Houve um que disse ao ver uma imagem de um dos episódios,
que aquilo era “ficção cientifica” demais para ele – ou algo assim. Mas
Fractale também sempre esteve no mesmo nível, tão "Sci-Fi" quanto. Então, por quê?
Hoje é dificílimo um espectador chegar a este anime sem saber de sua grande “polêmica”
e sem ter uma opinião formada. Das duas uma: Ou é uma pessoa em busca de uma
história razoavelmente boa e que pouco se importa se o principal par romântico da
trama é formado por um casal hétero ou gay. A outra possibilidade é ser uma
shipper/Fujoshi ávida por um romance bem construído. Apesar de que seria uma
boa discussão, não pretendo entrar no fator X da polêmica, mas desde já possuem
minha admiração, os que conseguirem formular uma boa crítica ao anime, fora
somente o asco ao ver dois homens de mãos dadas, como um casal.
No.6 é mais um anime do prestigiado bloco Noitamina (vejam aqui uma matéria, sobre), baseado numa série de Light Novels do autor Atsuko
Asano, e já encerradas. A premissa, mais uma vez é sobre uma cidade que por
algum motivo, é regida pelo modelo de totalitarismo. A historia tem como fio
condutor, a cidade de Number Six, que dá título ao anime. Se passando no ano
de 2013 e juntamente com Shion, conhecemos um pouco da rotina da cidade modelo
e todas suas regras que são seguidas a risca. Acompanhamos também o que
acontece quando um dos moradores dessa cidade modelo quebra as regras. Com
Shion, ficamos conhecendo a cidade “fantasma” que vive ás sombras de Number
Six, que despeja ali, todo o seu lixo. Assim como também, Nezumi e toda a vida “miserável”
daquele local.
Bom, a BONES conseguiu com maestria fechar bem outra
adaptação, Gosick, mesmo com alguns altos e baixos. No.6 segue por um caminho
plano, depois de um primeiro episódio que me deixou uma péssima impressão, mas
que hoje eu entendo bem. Apesar de dar nome ao anime, essa não é exatamente uma
história sobre a cidade de Number Six, ou pelo menos, o anime não é. A história
é sobre Shion e Nezumi, juntamente com seus confrontos ideológicos. Segue a
certa distância o fio condutor da história, responsável por manter as tramas
interagindo entre si e não deixar a história se perder; O mistério escondido
sobre Number Six e sua eminente destruição, jogada como uma granada explosiva
sobre a história e deixando o suspense no ar, que obviamente, chegou ao seu clímax
no episódio final.
No.6 também funciona como uma fabula futurística, rascunhada
no anime através de uma sociedade rigorosamente organizada, vivendo em um
sistema de castas. Além do romance se desenvolver de forma altamente satisfatória
– principalmente para as garotas e simpatizantes, obrigada BONES – e a
motivação de Shion e Nezumi ter sido belamente exposta e confrontada, as
pinceladas do anime numa sociedade sem livre arbítrio, sempre dispostos a
servir e sempre “felizes”, mesmo que a Number Six tivesse que intervir a conceder
a "felicidade instantânea", sempre foi certamente o ponto alto da história (na verdade,
meu lado fangirl discorda e prefere as “discussões” entre o Shion e Nezumi).
Igualmente belo, é a população miserável e esquecida além dos muros da Number
Six, seus dramas são extremamente tocantes, ainda que não haja nenhum
aprofundamento melodramático sobre nenhum desses personagens. Mas encantam pelo
ponto de vista de ficção e a fotografia de todo o cenário, apesar de não
ostentar nenhum glamour, casa perfeitamente com a narrativa.
Por fim, No.6 tem uma história mediana, que não sei se é
mais mérito de seu criador original ou da adaptação, mas que é apresentada de
uma forma muito mais interessante e empolgante, com boas reviravoltas, cenas de
ação, conflitos emocionais e ideológicos. Mas certamente, quem espera por uma bem elaborada ficção cientifica vai se decepcionar. Apesar de ter uma dinâmica e uma direção
mais competente, No.6 esbarra nos mesmo problemas de seus antecessores,
Fractale e [C], onde todo o lado realmente Sci-Fi é deixado pra última hora,
como uma bomba que explode, seguido de um breve silêncio e branco geral. Fica a
impressão de que não existia nenhuma ideia além do conceito básico. E deve ser isso ai mesmo.
Mas ao contrário dos antecessores, em No.6 te dão uma
explicação sobre tudo. É rápida, não há o impacto necessário, mas existe a
origem e sua justificativa é suficientemente convincente. Diferente
principalmente de Fractale. Talvez o problema maior seja o curto espaço de 11
episódios, goste ou não das partes envolvendo o relacionamento pessoal entre
Shion e Nezumi, que davam a impressão de levar a lugar algum, foi um
desenvolvimento necessário para culminar no excelente e surtante clímax da
história. O anime foi conduzido de forma extremamente feliz e não fosse assim,
a história não teria sito tão atraente como foi. Mas o grande problema mesmo
foi à forma como se utilizaram do deus ex machina ao final da história, com uma reviravolta que além de inesperada, nos deixa meio céticos. Se por
um lado você – talvez – abra um sorriso, por outro, é notável como forçaram uma
situação que já não tinha mais volta e sinceramente, olhando friamente, fazia
muito mais sentido ao contexto que a atual crise de Number Six tinha alcançado.
Mas bem, estaria mentindo se dissesse que não me deixei influenciar
pelos recursos do roteiro. Mas há muito mais a se elogiar do que criticar e
No.6 vale por isso. O breve gostinho amargo deixando no episódio final, a
atmosfera tensa e emocionante, fora a belíssima OST, dão o toque final a uma
das histórias mais bel levadas e dirigidas da temporada e é uma pena ter visto apenas
11 episódios, de 9 volumes do material original, certamente, muita coisa ficou
pelo caminho. Dica: Antes de assistir ao episódio final, pegue uma barra de chocolate
pra aliviar a tensão e aprecie sem moderação toda a ação. Infelizmente, é uma
história com “inicio, meio e fim” e o momento mais
esperado de No.6 se passa tão rapidamente!