sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Derrubando os muros de Number Six!



De longe o anime mais subestimado da temporada, No.6 é uma prova que honestidade na hora de divulgar a premissa é tudo. Oferecido a todos como mais um anime com a premissa presa ao termo “Sci-Fi”, ao mesmo tempo em que todos ficaram um pouco apreensivos devido ao fracasso de Fractale (que não é ruim como dizem, mas deixa a desejar), mas o conceito era suficientemente interessante para se arriscar. Bem, a repercussão ao primeiro episódio foi notável e foi tão interessante a reação das pessoas (principalmente dos garotos) que faço aqui uma comparação: Parecia que eu estava correndo em direção a forças inimigas, em uma guerrilha e quanto mais me aproximava do foco, mais via companheiros caindo durante o percurso. Foi bem assim. E confesso que em partes, divertido ver a reação deles, morria de rir em várias situações (=_=). 



Houve um que disse ao ver uma imagem de um dos episódios, que aquilo era “ficção cientifica” demais para ele – ou algo assim. Mas Fractale também sempre esteve no mesmo nível, tão "Sci-Fi" quanto. Então, por quê? Hoje é dificílimo um espectador chegar a este anime sem saber de sua grande “polêmica” e sem ter uma opinião formada. Das duas uma: Ou é uma pessoa em busca de uma história razoavelmente boa e que pouco se importa se o principal par romântico da trama é formado por um casal hétero ou gay. A outra possibilidade é ser uma shipper/Fujoshi ávida por um romance bem construído. Apesar de que seria uma boa discussão, não pretendo entrar no fator X da polêmica, mas desde já possuem minha admiração, os que conseguirem formular uma boa crítica ao anime, fora somente o asco ao ver dois homens de mãos dadas, como um casal.


No.6 é mais um anime do prestigiado bloco Noitamina (vejam aqui uma matéria, sobre), baseado numa série de Light Novels do autor Atsuko Asano, e já encerradas. A premissa, mais uma vez é sobre uma cidade que por algum motivo, é regida pelo modelo de totalitarismo. A historia tem como fio condutor, a cidade de Number Six, que dá título ao anime. Se passando no ano de 2013 e juntamente com Shion, conhecemos um pouco da rotina da cidade modelo e todas suas regras que são seguidas a risca. Acompanhamos também o que acontece quando um dos moradores dessa cidade modelo quebra as regras. Com Shion, ficamos conhecendo a cidade “fantasma” que vive ás sombras de Number Six, que despeja ali, todo o seu lixo. Assim como também, Nezumi e toda a vida “miserável” daquele local.


Bom, a BONES conseguiu com maestria fechar bem outra adaptação, Gosick, mesmo com alguns altos e baixos. No.6 segue por um caminho plano, depois de um primeiro episódio que me deixou uma péssima impressão, mas que hoje eu entendo bem. Apesar de dar nome ao anime, essa não é exatamente uma história sobre a cidade de Number Six, ou pelo menos, o anime não é. A história é sobre Shion e Nezumi, juntamente com seus confrontos ideológicos. Segue a certa distância o fio condutor da história, responsável por manter as tramas interagindo entre si e não deixar a história se perder; O mistério escondido sobre Number Six e sua eminente destruição, jogada como uma granada explosiva sobre a história e deixando o suspense no ar, que obviamente, chegou ao seu clímax no episódio final.



No.6 também funciona como uma fabula futurística, rascunhada no anime através de uma sociedade rigorosamente organizada, vivendo em um sistema de castas. Além do romance se desenvolver de forma altamente satisfatória – principalmente para as garotas e simpatizantes, obrigada BONES – e a motivação de Shion e Nezumi ter sido belamente exposta e confrontada, as pinceladas do anime numa sociedade sem livre arbítrio, sempre dispostos a servir e sempre “felizes”, mesmo que a Number Six tivesse que intervir a conceder a "felicidade instantânea", sempre foi certamente o ponto alto da história (na verdade, meu lado fangirl discorda e prefere as “discussões” entre o Shion e Nezumi). Igualmente belo, é a população miserável e esquecida além dos muros da Number Six, seus dramas são extremamente tocantes, ainda que não haja nenhum aprofundamento melodramático sobre nenhum desses personagens. Mas encantam pelo ponto de vista de ficção e a fotografia de todo o cenário, apesar de não ostentar nenhum glamour, casa perfeitamente com a narrativa.



Por fim, No.6 tem uma história mediana, que não sei se é mais mérito de seu criador original ou da adaptação, mas que é apresentada de uma forma muito mais interessante e empolgante, com boas reviravoltas, cenas de ação, conflitos emocionais e ideológicos. Mas certamente, quem espera por uma bem elaborada ficção cientifica vai se decepcionar. Apesar de ter uma dinâmica e uma direção mais competente, No.6 esbarra nos mesmo problemas de seus antecessores, Fractale e [C], onde todo o lado realmente Sci-Fi é deixado pra última hora, como uma bomba que explode, seguido de um breve silêncio e branco geral. Fica a impressão de que não existia nenhuma ideia além do conceito básico. E deve ser isso ai mesmo.


Mas ao contrário dos antecessores, em No.6 te dão uma explicação sobre tudo. É rápida, não há o impacto necessário, mas existe a origem e sua justificativa é suficientemente convincente. Diferente principalmente de Fractale. Talvez o problema maior seja o curto espaço de 11 episódios, goste ou não das partes envolvendo o relacionamento pessoal entre Shion e Nezumi, que davam a impressão de levar a lugar algum, foi um desenvolvimento necessário para culminar no excelente e surtante clímax da história. O anime foi conduzido de forma extremamente feliz e não fosse assim, a história não teria sito tão atraente como foi. Mas o grande problema mesmo foi à forma como se utilizaram do deus ex machina ao final da história, com uma reviravolta que além de inesperada, nos deixa meio céticos. Se por um lado você – talvez – abra um sorriso, por outro, é notável como forçaram uma situação que já não tinha mais volta e sinceramente, olhando friamente, fazia muito mais sentido ao contexto que a atual crise de Number Six tinha alcançado.


Mas bem, estaria mentindo se dissesse que não me deixei influenciar pelos recursos do roteiro. Mas há muito mais a se elogiar do que criticar e No.6 vale por isso. O breve gostinho amargo deixando no episódio final, a atmosfera tensa e emocionante, fora a belíssima OST, dão o toque final a uma das histórias mais bel levadas e dirigidas da temporada e é uma pena ter visto apenas 11 episódios, de 9 volumes do material original, certamente, muita coisa ficou pelo caminho. Dica: Antes de assistir ao episódio final, pegue uma barra de chocolate pra aliviar a tensão e aprecie sem moderação toda a ação. Infelizmente, é uma história com “inicio, meio e fim” e o momento mais esperado de No.6 se passa tão rapidamente!