domingo, 15 de janeiro de 2012

Comentários: Solanin - Volume 01

Depois que eu li o primeiro capitulo de Honey & Clover, de Chika Umino, eu não consegui mais parar de ler, em menos de dois meses eu já havia devorado 7 volumes e desde então,  estava faltando apenas 3 para que o mangá chegasse ao fim aqui no Brasil, pela editora Panini. Aquela história do grupo de cinco amigos que estavam na complicada ponte que separa a adolescência da vida adulta, onde cada um teria que fazer uma decisão que iria decidir seus futuros. Em meio a tantas dúvidas, dissabores e lágrimas, eles ainda tinham aquela amizade entre ambos que era uma fonte perfeita de escapismo. Eu me senti completamente envolvida e apaixonada por aquele universo tão crível e poeticamente melancólico. Desde então, já li alguns mangás que realmente conseguiram mexer comigo, mas nada tão apaixonante e que me fizesse identificar com cada situação, cada quadro, cada pensamento e atitude de um personagem. Isso até eu encontrar Solanin.

Na história criada pelo talentoso Inio Asano, de Oyasumi Punpun (que também estou adorando ler), nos vemos as voltas com a história de um jovem casal e sua vida cotidiana; estes são Inoue Meiko e Taneda Shigeo. Ao contrário do tom agridoce de Honey & Clover, onde parte do elenco ainda está estudando e tendo que encarar a difícil decisão do que serão no futuro, aqui nos é mostrado à fase além. Ao menos no que diz respeito ao casal principal. Ambos saíram de suas cidades do interior, para tentar a vida em Tóquio. Conheceram-se, namoraram e resolveram morar juntos. Um ponto interessante é que por ser uma história sobre o cotidiano, acaba sendo uma releitura de uma situação da vida real que é muito comum e inio Asano não perde tempo em introdução. A história já começa de forma abrupta, de um ponto da vida daquele jovem casal, insatisfeitos com a forma estagnada que suas vidas se encontram. Só que eles não são mais crianças e estão longe das asas dos pais. É então que a indecisão bate à porta; ir de encontro aos seus sonhos, apostando em algo incerto ou continuar fazendo parte do sistema que transforma a todos da sociedade em peças de uma enorme engrenagem?

“Mas ter uma vida comum empurrada com a barriga, é muito mais complicado do que parece. Mas talvez, o que mais estivesse me incomodando, fosse ver o Taneda tentando virar adulto a todo custo.”

A estrutura de Solanin é bem intimista, sobre dois jovens que buscaram uma razão de ser. E Asano nos permite ver o interior de seus personagens, o que trás uma identificação quase que instantânea. Começando com a Meiko, que trabalha em um escritório e tem certo problema em aceitar a forma como a sociedade e os adultos agem, tão robotizados. Ela é aquele tipo de pessoa que ainda não conseguiu se enquadrar na sociedade e nem encontrar algo que gostaria de realmente fazer. Gostei da forma como o autor retrata esse “vazio” na personagem, essa procura desesperada que nada lembra o seu semblante, sempre calma e passiva. Lindo também é a química entre ela e seu namorado, o Taneda. Eles estão naquele estagio onde não precisam dizer nada, que um já sabe o que o outro está pensando. Ele trabalha como designer, mas seu grande sonho é ser musico. Aliás, mudar o mundo com a música, mas encontrou na vida prática um empecilho para levar o seu sonho adiante, afinal, ele já não é tão jovem e precisa se sustentar. Além disso, o Taneda é bem inseguro, tem medo de falhar ao sair de sua zona de conforto e aparenta não estar pronto para as críticas que possivelmente iria receber.

Meu coração quase saiu pela boca quando Meiko lhe diz que estava pensando em sair do emprego por não estar satisfeita e ele lhe dá um apoio irrestrito.  Mas não entendam errado, meu coração quase pulou pra fora, mas foi porque achei aquilo tudo muito romântico, uma cena de cumplicidade mutua em que tudo ao redor parece parar e os refletores estão todos sobre os dois. Claro, depois ele se dá conta da situação e leva um susto quando ela lhe diz que realmente saiu do serviço, o que foi uma situação bem engraçada. Durante esse tempo em que Meiko não sabe o que fazer da vida e se encontra num estado letárgico e passivo, ela anda por todo o cenário da história e Asano vai nos apresentado a todos os personagens de fundo. São igualmente carismáticos, excêntricos e também, estão procurando sobreviver em meio à selva competitiva de Tóquio.


Gostei em especial, do Jiro Yamada, ou melhor, o Billy (seu apelido) que representa bem o cenário proposto por Asano em Solanin. Ele já deve estar na faixa dos 23/25 anos e trabalha na farmácia de seu pai. É solteiro e aparentemente, vive no automático, ou pelo menos, foi assim que eu senti em toda a subjetividade ao qual ele é apresentado por Inio Asano. “É sapo, que vida é essa?” – É bem engraçado e gera um sorriso involuntário a forma como ele é representado na história. Ele, juntamente com Kato, formam com Taneda uma banda de garagem. É bem bacana a interação entre aqueles amigos que se conhecem desde os tempos de faculdade. Tudo isso, acaba ajudando a criar um clima bem familiar para história.

Apesar do primeiro volume ser bem introdutório, eu li afoitamente cada página, quase que sem respirar. Seguindo uma espinha dorsal que dialoga sobre as incertezas da vida, nunca vi tanta graça em um cotidiano tão tedioso, como o de Solanin. Realmente tem um clima de felicidade morna, passa a sensação de que algo está escorrendo pelos seus dedos e você não faz a menor ideia de como agir. O clima é o recheio do bolo, onde Meiko enfim resolve falar o que realmente desejava desde o inicio, encorajando Taneda a seguir com a banda. O que acaba os colocando em uma situação ainda mais delicada. Como não se sentir explodindo por dentro com o casal chegando num ponto de ruptura silenciosa, onde nenhuns dos dois não falam nada, mas sentem que algo importante se perdeu no meio daquilo tudo? Em meio a tudo isso, toda a angústia de ter que lidar com aquela situação inesperada, que parece rumar a um fim trágico e dramático.

Sonhos, desilusões, o difícil momento de ter de encarar a vida real, se misturar em meios a tantas outras pessoas. Parece extremamente complicado e dá um certo receio de não saber o que virá a seguir. E Inio Asano executa isso de forma perfeita e realista, principalmente quando mostra uma Meiko completamente desmotivada com a rotina sem graça do dia-a-dia em seu serviço. Acha que largando o emprego, se sentiria livre e independente, mas só encontra mais tédio pela frente e aquele sentimento de que está desperdiçando sua vida, vegetando e não conseguindo dar um passo adiante. Gostei bastante de como ela é retratada, passiva e incapaz de fazer qualquer coisa pra mudar a sua vida, mas sempre observando o Taneda e ainda que silenciosamente, o pressionando. Parecia não ver que este também estava se afundando silenciosamente e sentindo o peso daquela relação. Você terá que ter lido pra entender tudo isso e ter conhecimento da brilhante catarse que Asano reserva para o jovem casal ao final do primeiro volume.


Enfim, leitura altamente recomendada para todos que querem se sentir tocados de alguma forma por uma narrativa que lhe seja familiar ou que buscam meramente um entretenimento solido e bem construindo e consequentemente, desenvolvido. Para quem já passou por esse complicado momento ou para os que estão prestes a passar por esse caminho da independência. Afinal, eu também me sinto muito como as personagens dessa história às vezes, sentindo que não estou vivendo meu máximo e completamente acorrentada pelo tédio do dia-a-dia. O traço é lindíssimo e foge do traçado caricato e comum que vemos nas maiorias das histórias hoje em dia. Nesse aspecto, é bem original. Aliás, Solanin lembra bastante mangás josei, seja no traço ou na narrativa empregada na história. Bom, em breve comento o volume 2 aqui e de uma forma mais completa.