Unlimited Blade Works representa o meu primeiro contato com
a Type-Moon, a não muito tempo atrás, quando vi as imagens desse post sobre o filme. Na época, eu achei aquelas imagens simplesmente
perfeitas. Ai eu aprendi que a ignorância é realmente uma benção! Com Fate/Zero dando seus últimos suspiros,
acredito que este é o momento ideal pra traçar uns comentários a respeito deste
filme. Mas antes, vamos nos situar. Fate/Stay
Night é um eroge; visual novel com conteúdos pornográficos (oh sim, nem toda VN contém sexo, como reza
a lenda urbana), com três rotas a serem exploradas. Cada rota tem sua
heroína principal (estou sendo muito didática?).
No caso da rota Fate, temos a Saber, como heroína principal. Na segunda rota, Unlimited
Blade Works, temos Rin Tohsaka. A última, Heaven’s Feel, é a mais
trabalhada e complexa de todas, com um plot bem mais centrado no drama de
Sakura Matou do que propriamente na guerra pelo Cálice Sagrado. Pelo forte
drama retratado é a minha predileta, além de ter todos os elementos que
tornaram seu escritor, Kinoko Nasu, ao lado de Jun Maeda e Gen Urobuchi, um dos
escritores/cenaristas de romances visuais, mais conhecidos e queridos.
Fate/Stay Night tem uma certa fama no fandom de animes,
então todos já conhecem a sinopse sem ao menos ter assistido. A cada 10, anos
acontece a Guerra pelo Cálice Sagrado (que
dizem realizar qualquer desejo do ganhador), onde 7 magos invocam 7 servos
– Espíritos Heroicos, do passado ou do futuro. Emiya Shirou é o herói
principal, que vai traçar a garota
virtuosa, a tsundere e a tímida, em cada um das três rotas escolhidas (eu sei que você adoraria estar no lugar dele,
confesse). Eu sei que eu e você (é,
você mesmo!), somos os únicos que gostaríamos que Fate/Stay Night não fosse
originalmente um eroge, mas o Nasu é um pervertido (!) e tem um certo complexo mal resolvido com a personagem Saber.
Dito isso, tenho que dizer que nada disso importa nas adaptações. Unlimited
Blade Works (UBW) é um filme em
animação baseado na rota homônima da visual novel, porém, ainda que nos
primeiros momentos o que vemos é um apanhado de slides de acontecimentos da
série de tv, Fate/Stay Night (FSN), você precisa tê-la assistido antes, para
compreender o básico do básico, que se passa nesta história. Algumas linhas abaixo contém spoilers!
Como cada rota da visual novel pode ser encarado como um
universo alternativo, o inicio é basicamente igual, com Shirou invocando Saber
e a partir de algum ponto, as histórias tomam um rumo próprio. A adaptação não
funciona como um produto independente, sendo necessário prévio conhecimento.
Tanto a série de tv, quanto o filme, foram dirigidos por Yuji Yamaguchi, o que
explica perfeitamente essa dependência, porém ele acaba cometendo novamente os
mesmos erros grosseiros que cometera anteriormente. A impressão é que o projeto
era grande demais para o diretor, que mostrou não ter os maneirismos de
diretores experientes, como o operário Shinbo Akiyuki (Bakemonogatari/Nisemonogatari) e o colossal Shinichiro Watanabe (Sakamichi no Apollon/ Cowboy Bebop) –
Apenas dois exemplos extremos de diretores que sabem fazer uma transposição
perfeita do material de origem, para a adaptação, assim como trabalhar as
nuances das mesmas.
A despeito de UBW ser a rota mais longa do material de origem,
é a mais simples, a que tem mais ação e com um Shirou badass e repleto de questionamentos, sendo a preferida do fandom.
Porém, a adaptação em certo ponto acaba sendo pior do que a que vimos em FSN, parece
faltar algo. Falta substância, sentimento e desenvolvimento para que possamos
compactuar com as ações dos personagens e principalmente; Fata consistência. Você
é capaz de identificar qualquer série adaptada da Type-Moon, porque eles têm
algo que é característico da produtora. Em UBW, falta justamente esse feeling,
tornando o apenas um amontoado de aleatoriedades e confeitado com fanservices.
Os diálogos cheios de pampas, verborrágicos e questionadores, solilóquios
extensos que são a marca de Nasu, se fazem ausentes. Consequentemente as
personagens perdem suas nuances e o espetáculo perde o impacto que deveria ter.
Se a deusa tsundere e amada por todos; Rin, enfim tem a chance de mostrar (apenas) parte de seu potencial por não
estar ofuscada por uma Saber que sofre transtorno de personalidade (me refiro a tv), Shorão, digo, Shirou
que deveria ter o seu momento de esplendor, acaba não passando de uma casca
vazia e embora esteja menos irritante que na série principal, continua sendo um
protagonista não identificável.
Não comento sobre a Saber, e companhia, porque não podemos
nos esquecer de que se trata de um filme e num contexto geral, focando apenas
no que interessa, não faz tanta falta. Vamos ignorar que UBW tem um conteúdo
extenso e que, apesar de menos denso que a Heaven’s
Feel e até mesmo Fate, possa sim
ser adaptado para um longa metragem com uma hora e quarenta e cinco minutos –
Seria necessário mexer em todas as estruturas e criar algo novo a partir do
original. Então, acaba-se repetindo a mesma problemática da série de tv, que é
tentar pegar tudo e resumir. Com isso, o elo emocional que liga Shirou, Rin e Archer
e diversos pontos da história se mostram inconsistentes, embora para tudo haja
uma explicação, tudo parece um retalho mal costurado. Por que Kirei “forçaria” Gilgamesh
a fazer um contrato com Shinji? Por que Rider é tão fraca? Por que arrancar o
coração de Illya? O abrupto confronto entre Shirou/Rin VS Rider/Shinji na
escola, a não inserção de Caster/Kuzuki que dá um gostinho amargo na boca ao
percebemos o corpo de Rider no chão. Ou após isso, num corte que parecia um
teletransporte, todos os personagens em um novo cenário, com Caster, que rapta
Saber. A não inserção de uma cena chave onde Archer e Rin discutem, sobre “não
matar Shiro” e que acaba deixando a decisão dele mais a frente, algo meio
discrepante e inesperado.
Com isso, o fato dele matar Caster com o argumento de ser “sem proposito algum”, acaba soando vago e
perde o propósito original. Aqui nós temos a queda definitiva do roteiro, que a
partir deste ponto não se leva mais a sério, se tornando uma bagunça completa.
Claro que relevando os fatos que não acrescentam ao conflito central e foram
deixados de fora. Shirou é suposto como mais fraco que Archer, que por sua vez
é suposto ser mais observador. Shirou originalmente luta de forma amadora. Com
as lutas demasiadamente apressadas, elas acabam não sendo precisas e os
resultados absurdos. O ponto alto disso certamente é a luta final entre Shirou
e Gilgamesh. Incomoda bastante a forma como Shirou sempre encontra forças para
lutar de igual com outros servos, quando na verdade há explicações plausíveis para
tal, como, por exemplo, a vitória que teve sobre Gilgamesh (que o filme distorce por completo para algo “força + superação + Herói
battle shounen + vilão que se acha, mas não dá uma foda”). Shirou se
utilizando do Rho Aias, mesmo sem o prévio conhecimento para tal. São alguns
detalhes que tornam a experiência para quem procura uma boa história, altamente
frustrante, capaz de deixar na ignorância até mesmo quem assistiu FSN.
Visualmente é satisfatório, ainda que a qualidade seja algo
somente BOM para o padrão de animação feita para a tv. Obviamente, superior a
FSN, mas longe do primor que se espera de um longa metragem e se pensarmos em Kara no Kyoukai, da mesma época, o
coração chega a doer. Trás alguns presentinhos para os fãs: A reação de Rin após se “conectar” com
Shirou, onde se tiver o mínimo de percepção verá que é uma reação típica de
heroína após ter feito sexo com o protagonista (o que na verdade aconteceu originalmente). Caster e Saber em momentos quentes.... tá, não tão
quentes, mas se você já sabe o que acontece, é um belo fanservice, além de uma
Saber vestida (sei lá pra quê :P) de noiva (!!), devidamente amarradinha e....suando, gemen—E EMBOOOORA (cof, cof, cof) tenha faltado
expressões faciais na Saber, o sorriso final dela para a Rin foi uma graça. Alguns
espelhamentos dos CG’s da visual novel, embora eles tenham abusado demasiadamente
deste recurso, ficaram muito mais atraentes que no original. Como Shirou com a Rin, o Rho Aias, entre outros momentos.
A arte esta muito mais polida e há detalhamento maior nos desenhos
do cenário (storyboard) e character
designer, embora isso seja bem inconstante e o visual ~mais~ polido seja pura enganação/ouro de tolo. Faltou técnica a Yuji
Yamaguchi para encobrir o orçamento reduzido. Há bastante focalização a longa
distância para cortar custos, faltando uma rotação e zoom-out maior nas lutas,
além da coreografia que não empolga. A luta de Archer e Lancer, por exemplo, é um
dos piores momentos (junto com: Saber e
Berseker lutando do nada em modo aleatório), com keyframes que distorcem os
corpos e rostos das personagens de forma tão escandalosa que não dá pra passar
despercebido. Como exemplo de alguns momentos em que tudo flui bem, está na luta
envolvendo Rin, Shirou, Archer e Caster, com boa movimentação e uma paleta de
cores mais viva do que em grande parte do que veríamos a seguir.
Claro que acaba não sendo culpa do estúdio DEEN (ao menos, em grande parte, afinal algumas
decisões ainda lhe são exclusivas, como a escolha da staff), embora isso
não nos impeça de torcer por um remake vindo de um estúdio com qualidade, ao
menos tecnicamente, garantida. Sendo um estúdio que executa projetos por
demanda e sem participação nos lucros (e
com isso, a redução de custos e uma animação inconsistente), se não fosse o
DEEN, poderia ser, por exemplo, o J.C. STAFF. Então, por mais que Fate/Stay
Night tenha tido excelentes vendagens para os investidores, o filme acaba
ganhando uma quantia, provavelmente, um pouco mais elevada apenas, com o
estúdio DEEN não ficando mais pobre ou rico nesse processo – Uma vez que apenas
oferece a mão de obra.
Olhando de uma forma global, UBW acaba servindo de
aperitivo, longe da produção desleixada de FSN onde a disputa pelo corpo da
Saber, acaba ofuscando o que realmente interessa. Infelizmente, aqui, Rin e
Shirou não possuem muita conexão além de umas poucas cenas que deixam o romance
subtendido. Com direito a um súbito clima de romance no final entre Rin e o Espirito
Heroico, Archer, que exatamente por falta do desenvolvimento, acaba soando fora
do lugar. Em UBW você não sente o peso emocional de nenhum desfecho, o
idealismo que é o suposto tema do filme, acaba erroneamente ganhando o sinônimo
de burrice/roteiro barato. Infelizmente não dá pra dizer nem que é um belo
filme de pura ação. Mesmo a ação aleatória não tem tanto brilho assim. Mas
quando falamos de cenas isoladas, seu personagem enfim receber um trabalho
decente (casos de Rin e Lancer), um
ou outra fanservice aqui e acolá, UBW pode sim agradar. Tem sequências que conseguem empolgar entre uma pipoca e outra. Mas é uma pena que mesmo
para os Type-Fãs, a produção passe longe de ser algo marcante.