Ou deveria ser “A
história de uma mulher chamada Mari Okada”?. Depois de quase 30 anos da
última animação para TV, Lupin e sua turma voltam com tudo. Ou... era o que se
pensava.
Essa definitivamente não é uma série que irá agradar ao fã
hardcore de Lupin III por muitos motivos. Porque possui outro feeling, outro
character designer, que está menos macaconesco
(macaco + cartunesco = Explico:
originalmente, o personagem Lupin tem um traçado que se assemelha e muito a um
macaco e toda série tem um estilo de arte muito mais próxima ao cartoon
americano, algo comum na década de 60, onde a influência americana num Japão
pós-guerra, iria definir o traçado de grandes quadrinistas, como Tezuka e o criador
de Lupin, Monkey Punch), a animação
deixa de ser mais flexível – essas animações repletas de movimento rápidos, frenéticos
e com seus personagens repletos de gestos e expressões, algo bem exagerado, uma
técnica bem mais usual na animação ocidental – e se torna mais cheia de poses.
E o principal: A história gira em torno de Mine Fujiko e deixa de lado todos os
outros personagens, que estes fãs têm em alto estima. A bem da verdade, pelo
pouco que pude observar no comportamento desse quieto – porém – crítico fandom,
é que a própria Fujiko não é uma personagem tão querida quanto os outros.
Arsene Lupin III é neto do lendário ladrão Arsène Lupin.
Juntamente com seus companheiros de crime, Daisuke Jigen [o melhor atirador do
mundo], Goemon Ishikawa [e sua katana que corta qualquer coisa] e seu interesse
amoroso Mine Fujiko [uma femme fatale melindrosa], se envolvem nos maiores e
audaciosos roubos da história, isso enquanto fogem do alcance do Inspetor
Koichi Zenigata, que supostamente é sempre ridicularizado – Algo que vimos
pouco aqui, onde ele tem uma postura bem mais séria.
Então, na comemoração dos 40 anos da franquia, produzir algo
contando a forma como essas figuras se reúnem parece uma decisão acertada.
Claro, muito da decisão se deve ao “apelo” de Fujiko. Uma história
protagonizada por uma forte personagem feminina, repleta de erotismo e sexismo,
certamente pesou mais do que qualquer outra coisa. Com isso, também veio à
decisão de fazer uma animação que seja próxima a esse público casual, que ainda
não teve contato com a franquia. Podemos questionar até onde isso pode ser válido,
mas com certeza conseguiu chamar a atenção de um público novo.
A parte ruim disso tudo é que Fujiko Mine não passa de uma
série mediana, pretensiosa, mas que está longe de qualquer Panty & Stocking with Garterbelt ou REDLINE (que eu não gostei...
não gosteeeei... mas reconheço que é bem feito e tem apelo crítico), que
são obras igualmente pretensiosas – Oras, são séries talhadas artisticamente
como não se vê muito na indústria, e como a maioria que possuem este apelo,
estão fadadas ao ostracismo popular.
No caso de Fujiko, esse ostracismo é até justo. Embora, deva
dizer que de um modo geral, essa primeira experiência que tive com o universo
de Lupin III, foi bastante proveitosa. E eu gostei, com algumas ressalvas. A caprichosa
produção do estúdio TMS Entertainment, com uma equipe de primeira no projeto é
o destaque da série, mas que infelizmente não consegue ofuscar o fraco roteiro
da Mari Okada. Eu até havia comentado no post de primeiras impressões, como o roteiro havia deixado a dever apesar da boa
direção de Sayo Yamamoto, mas desacreditei que isso fosse afetar
significativamente a história. Mero engano.
O ritmo de Mine Fujiko to Iu Onna oscila bastante entre um episódio
e outro, tanto quanto o roteiro, direção e animação (embora não seja realmente um problema. A bela arte compensa). Como
argumentista e escritora principal, Mari Okada acaba sendo o principal problema
do anime, assim como ocorreu com o sucesso de vendas e público chamado Hanasaku Iroha. Aqui, dos sete
episódios escritos por ela, destaco apenas o primeiro e o nono – Que embora não
possuem linhas de diálogos fantásticos, tem uma direção que é bem perspicaz em
te fazer sentir tudo o que está acontecendo na tela. E claro, nesses dois
episódios o Lupin está solto, divertido e fazendo piadinhas que conseguem soar
engraçadas, mesmo que as atitudes de Fujiko ali soem desajustadas.
Como comentei nas primeiras impressões, o grande temor era a
vulgarização do corpo de Fujiko, ironicamente essa não se confirmou como a
grande crítica da série. A nudez de Fujiko não se qualifica como fanservice,
nem tão pouco as cenas picantes são direcionadas para provocar tesão. As
atitudes combinam com a personagem, que além de usar o corpo para conseguir o
que quer, também é forte e inteligente. Sabe muito bem o que faz e faz
consciente. Aliás, ela é quem costuma sair por cima em todas as situações,
apesar do obvio sexismo já próprio da obra original.
Mari Okada, Hiroki Azumi e Yamakan - Trio de Fractale |
Eu poderia ficar aqui apontando vários exemplos pra provar o
quão inconsistente foi à escrita de Okada, mas vamos ao que interessa apenas. Enquanto
nos primeiros oito episódios temos casos que aparentemente até então, não se
interligavam [episódios que eu descrevo como uma montanha russa; enquanto uns
foram divertidos e aventurescos, outros eram apenas aborrecedores – Em comum, o
fato de nenhum deles trabalharem satisfatoriamente todos seus personagens
principais para o grande momento final que deveria ter sido. Algo que só fui
entender quando assisti ao episódio final], na sequencia final nos temos uma
intricada trama que se propõe a enfim, contar a história de Fujiko.
No fim, tudo é esplendorosamente justificado. Vários
acontecimentos de episódios anteriores acabam sendo bem amarrados aqui. Não
consigo enxergar nenhuma ponta solta. O problema não é a montagem, mas sim as
escolhas. Dai Sato (Eureka Seven/ Ghost
in the Shell), embora tenha escrito o competente, mas insosso e mal
dirigido, episódio sete, nos brindou com um bom episódio três e o melhor que a
série teve: O episódio dez. É o episódio mais viajado e bem montado da série,
onde Sayo Yamamoto monta um excelente espetáculo, que além de bem desenhado, é
pulsante, nervoso e instigante. Um delírio entre fantasia e realidade, que
manteve uma boa harmonia entre melodia, suspense, ação e drama, sem perder o
tom, como ocorreu no bom episódio nove. A forma como o Lupin se mexia, se
divertia e interagia com Zenigata foi ótimo.
Se no episódio nove temos como destaque a ótima química
entre Lupin e [o rude e sarcástico numa dublagem maravilhosa] Jingen, enrolados
numa perseguição nervosa com uma então transloucada Fujiko em sequências
divertidas, nos três últimos que foram escritos pela Okada, o feeling da série
se perde completamente. Foi como um balde de água fria, pois eu estava bem
empolgada. Um espetáculo que deveria ser de ação, suspense, diversão e
sequências endiabradas, nós temos um roteiro pretensiosamente psicológico. Como
se estivéssemos num filme do Satoshi Kon
[ou quem sabe, Tarkovski?], onde a trama aparentemente simples vai ganhando contornos
cada vez mais complexos, de uma forma alucinada onde o tema é sempre
sociologia; uma confusão violenta e instintiva entre o artificial e o
autêntico. Ao menos, essa foi à pretensão em Mine Fujiko to Iu Onna, que não
passou de uma experiência frustrante.
[Ah, esse aqui foi um bom momento do episódio 13] |
Já no episódio treze, nos temos boa parte do episódio onde é
explicado à lá Sherlock Holmes, todos os detalhes do intricado enredo, as
reviravoltas e como tudo isso se amarra na revelação final. Nada empolgante. Envolvente.
Ou contagiante. Um saco. Apesar de tudo se encaixar, o Deus Ex-Machina usado
por Mari Okada me cheira a ferramenta barata de roteiro [que é sua especialidade,
verdade seja dita. Em Ano Hana
funcionou. Em Fractale foi aquela
coisa] para sustentar sabe o quê? A inclusão das malditas corujas na reta
final. Imagine algo assim: “Preciso de algo contundente para essa reta
final da série, uma grande reviravolta que na verdade é só uma farsa, porque a
verdade sempre esteve lá.” – Verdades, afinal, Mine Fujiko sempre foi
Mineko Fujiko. A autêntica. A que não busca subterfúgios como justificativa de
seus atos.
Tudo se encaixa, é verdade. Mas não deixa de ser
inconsistente a forma como Fujiko é representada na fase final [levando em
conta o Deus Ex-Machina], de personagem forte, a uma garotinha fragilizada que necessita
da ajuda de um homem para se levantar, enquanto o restante do anime mostra o
exato contrário [novamente, levando em conta o Deus Ex-Machina]. E assim, é
respeitada a origem da personagem. O que me faz pensar que eu fui completamente
trollada com um roteiro meia boca e
sutilmente mentiroso, tirado diretamente da bunda da Okada. É como um tapa na
cara do espectador de Mine Fujiko. A série é constantemente comparada como influenciada
pela franquia James Bond. Aqui, a
Fujiko assume o controle e de uma personagem estereotipo fetichista de uma
época (ela pode ser uma ótima
personagem, forte e com personalidade, mas ainda é um estereotipo, um
personagem arquétipo) onde representa o papel de última integrante em nível
de relevância do bando, passa ser o próprio James Bond. A personificação da fantasia de ambos os sexos. Acaba
sendo decepcionante e sente-se como que todo o desenvolvimento da personagem
nos 12 episódios anteriores, não passou de punhetação,
afinal, pra quê serviu se ela não conseguiu nem se safar sozinha do maior
conflito de sua vida?
Mine Fujiko to Iu Onna se destaca pelo bom e criativo storyboard.
Mesmo quando a escrita pudesse soar um pouco confusa ou menos inspirada, houve
ótimos momentos onde a narrativa visual garantiu altos pontos no conceito de
audiovisual da série. O episódio cinco, escrito por Shinsuke Onishi, foi um espetáculo
e sem dúvidas, um dos melhores momentos da série. Os personagens estavam expressivos,
sequências criativas e que consegue te transportar para um universo mágico e
repleto de perigos capsulados por uma animação bem sólida. Aquela coisa de aventura
na areia do velho Egito.
Falando da parte de áudio, Shinichiro Watanabe como produtor
musical fez um excelente trabalho. O jazz se parece mais com jazz aqui, sem
muitas firulas. Aliás, não sou grande fã do gênero, mas aqui, acabou se
mostrando muito superior a Sakamichi no
Apollon. Tem um tom de acidez e selvagem, diferente do que ouvi em
Sakamichi, e que complementou muito bem o que se via em cena. Destaque também
para a ótima dublagem e trilha sonora como um todo.
Se a animação é apenas algo na média para o padrão atual de
animação, a arte é excelente. Apesar de Lupin casar melhor [pelo próprio
feeling do original] com a arte disforme e carismática de Monkey Punch, aqui o
character designer se mostra muito mais elegante e refinado, do que na série
clássica. Mas na tentativa de capturar o mesmo feeling clássico de Lupin, ainda
que comedido, o sombreado sobre o filtro aplicado [fazendo com que o forte
traçado estilizado pareça que foi desenhado a lápis] no lugar do cel shading
tradicional, acaba prejudicando a narrativa visual em alguns momentos, como
visto no episódio oito, onde várias sequencias parecem recortes + colagens. Em estática
é lindo, em cenas que não exigem uma narrativa mais ágil é ok. Agora, quando
precisa se movimentar, ai complica, como visto no mesmo episódio oito onde Goemon
salta do avião e corta tudo com sua katana. Com esse tipo de arte, se requer um
pouco mais de tempo de produção e um orçamento maior que o normal para uma
produção de anime para TV. Vale lembrar também, que o anime se aproxima muito de tipo de animação [a arte, execução e feeling] que o Ikuhara é mestre, que é emular o estilo shoujo em sua narrativa audiovisual.
Se você chegou a assistir clássicos do shoujo da década de 70/80 como Rosa de Versalhes, Onisama-E.., Ace o Nerae! (esse eu estou assistindo ainda), Mine Fujiko to lu Onna possui o apelo melodramático, a sensibilidade, a narrativa romantizada que era típico dos shoujos dessa época. Storyboard, pequenos detalhes na arte, angulações que dão um sentido mais intenso para a expressão da personagem. O episódio quatro, do fantasma da opera, juntamente com o episódio seis, onde tem a escola exclusiva para garotas e possui todo aquele subtexto lésbico. Tá certo que foi escrito e dirigido por duas mulheres. Mas o ponto é que isso foi feito pensadamente, incluindo ai as inúmeras referências, ao qual só me darei ao trabalho de mencionar o Oscar, que não apenas é um personagem pensadamente para o público feminino, como também é referência obvia à Lady Oscar. Claro que esteticamente, é bem mais sútil do que o Ikuhara costuma fazer. Mas o feeling, é o mesmo. Daí se explica, o fato da série parecer tão atrativa aos olhos femininos.
Se você chegou a assistir clássicos do shoujo da década de 70/80 como Rosa de Versalhes, Onisama-E.., Ace o Nerae! (esse eu estou assistindo ainda), Mine Fujiko to lu Onna possui o apelo melodramático, a sensibilidade, a narrativa romantizada que era típico dos shoujos dessa época. Storyboard, pequenos detalhes na arte, angulações que dão um sentido mais intenso para a expressão da personagem. O episódio quatro, do fantasma da opera, juntamente com o episódio seis, onde tem a escola exclusiva para garotas e possui todo aquele subtexto lésbico. Tá certo que foi escrito e dirigido por duas mulheres. Mas o ponto é que isso foi feito pensadamente, incluindo ai as inúmeras referências, ao qual só me darei ao trabalho de mencionar o Oscar, que não apenas é um personagem pensadamente para o público feminino, como também é referência obvia à Lady Oscar. Claro que esteticamente, é bem mais sútil do que o Ikuhara costuma fazer. Mas o feeling, é o mesmo. Daí se explica, o fato da série parecer tão atrativa aos olhos femininos.
Lupin vale pela arte e alguns bons momentos de lucidez, mas
assim como Tasogare Otome X Amnesia,
é algo sem muita substância, que apela para efeitos artísticos pra camuflar o [fraco]
roteiro.
Nota: 06/10
Direção: Sayo Yamamoto
Roteiro:Dai Sato (epsódios 3, 7, 10)
Itsuko Miyoshi (episódio 2)
Junji Nishimura (episódio 8)
Mari Okada (7 episodios)
Shinsuke Onishi (episódio 5)
Estúdio: TMS Entertainment
Episódios: 13
Ano: 2012
Siga o Elfen Lied Brasil no Twitter @ElfenLiedBR
Surpresinha. Eu adorei essa sequência, então tinha que rolar um flood de imagens.
Nota: 06/10
Direção: Sayo Yamamoto
Roteiro:Dai Sato (epsódios 3, 7, 10)
Itsuko Miyoshi (episódio 2)
Junji Nishimura (episódio 8)
Mari Okada (7 episodios)
Shinsuke Onishi (episódio 5)
Estúdio: TMS Entertainment
Episódios: 13
Ano: 2012
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Surpresinha. Eu adorei essa sequência, então tinha que rolar um flood de imagens.