Ânus. Cadela. Fornicação. What? A humanidade em extinção em
um duelo delirante contra a alimentação inorgânica. O problema é que a
resistência, a alimentação orgânica, não está muito disposta a ser o prato do
dia.
Assistidos dois episódios de Jinrui wa Suitai Shimashita, eu
posso dizer com segurança de que as críticas extremamente positivas à escrita
de Romeo Tanaka se confirmaram. Jinrui satiriza um mundo pós-apocalíptico de
forma bem imaginativa e original. Não é a comédia típica, mas possui um humor
negro repleto de cinismo, que ganha um charme TODO especial na voz da Mai
Nakahara (olha só, ela que fez a Rena
Ryuuguu em Higurashi), que dá toda uma personalidade à personagem muitas
vezes proferida como “Watashi” (Eu),
ou simplesmente “mediadora”. É um humor sutil, bem nas entrelinhas. Ela é sarcástica
e manipuladora, mas a aparência é extremamente angelical. Me senti
representada. Nada melhor que mandar a pessoa inoportuna e chata pra puta que o
pariu mentalmente, mas sem tirar o sorriso lindo a atencioso da face. Ah, a minha vizinha,
se ela soubesse todos os nomes sujos que eu pensava toda vez que a gente se
cruzava e ela vinha me cumprimentar, cheia de segundas intenções... HÊ-HÊ-HÊ. A
forma como se referem aos personagens é outro detalhe bem interessante, nenhum
deles possui nome próprio, são sempre referidos com apelidos ou adjetivos.
"Ele teve uma vida feliz, então porque ele tem esse lado obscuro?"
É curiosa a forma como Jinrui faz várias críticas obvias
sobre vários aspectos da sociedade moderna, sempre nos pequenos detalhes,
estes, nem sempre óbvios. Depende muito da forma como você observa. Há as metáforas
e um subtexto sobre a humanidade, o que torna a série, ao menos teoricamente, a
mais interessante da temporada. Mas o seu olhar, pode ser o de alguém está de
frente para um ovo – Ao invés de vê-lo como um feto de galinha, vê simplesmente
como algo gostoso pra se comer. Mas se percebe o tom crítico na fábrica FairyCo,
que produz marmelada e pão, tudo sinteticamente e só tem um funcionário que não
conhece o seu funcionamento. Aliás, essa sacada ai eu achei hilária sem ao
menos me fazer rir.
É como um dos clássicos contos de fadas da Disney, mais
especificamente; Alice no País das
Maravilhas, onde por trás de toda aquela cor e uma aparente inocência,
esconde certa maldade. Eu gosto como Jinrui brinca com isso. E é por esses
detalhes que pretendo assistir até o fim. A direção de Seiji Kishi não é
eficiente em passar a série como um bom entretenimento, embora tenha seus
momentos pontuais de pura épicidade. Mas
não passa o feeling de diversão de um Tsuritama,
por exemplo, onde se podia ignorar toda e qualquer subcamada de roteiro e aproveitar
apenas a cobertura. A primeira parte do primeiro episódio foi tããããão chata,
mas de repente houve um clarão, e tudo parecia fantástico.
Jinrui é conceitualmente, interessante por si só. O ambiente
e suas cores pastéis, aquele instigante e desconhecido universo, seus
personagens, a escrita criativa e questionadora, provavelmente não é algo que
deverá agradar quem procura algo que seja divertido em todos os sentidos, mas é
excitante pra quem busca algo de diferente pra degustar que fuja das habituais
produções. Algumas sacadas são sensacionais, como por exemplo, o sarro que a
Watashi tira de situações clichês do próprio roteiro; "O plano maligno do diretor
foi falado em voz alta para todos escutarem". O pão vomitando suco
de cenoura e se sacrificando em prol de um bem maior. Eu não sei o quanto isso
poderia ser educativo para uma criança, mas o meu filho vai assistir coisas
assim (!!).
-Por favor, ajude-o.
-Não, obrigada (!!!).
“Que tipo de segredos estão ocultos dentro dessa fábrica, operada por
um desconhecido? Eu adoraria sair sem saber a resposta (...)”
O segundo episódio, embora também não brilhe em uma direção
afiada e perspicaz, consegue ser mais eficiente ao se aprofundar nos mistérios
daquele mundinho, ou melhor, nos mistérios da fábrica. A Watashi, nossa fadinha
moe e sarcástica tal qual uma Alice, desvenda os segredos daquele local,
enquanto obtemos mais pistas daquele universo de Junrui. E como Alice, acaba se
envolvendo nas situações mais imprevisíveis e aqui, através de pequenas
esquetes/momentos, a direção de Seiji Kishi consegue se sobressair.
Jinrui foge do slice of life convencional ao tirar o foco
das interações entre personagens e apresentar aquele universo como sendo o
ponto a ser trabalhado na história. Ainda pouco se sabe dos rumos que a narrativa
irá tomar, mas já se nota uma certa semelhança com Aria the Animation, embora o clima das duas séries seja algo
completamente distinto. Em Aria, o
mundo de Neo Venezia é apresentado por uma perspectiva otimista e revigorante, já
Jinrui, ainda que igualmente colorido, brilhante e pulsante, possui um toque de
desespero através do seu humor.
Que iremos continuar observando, afinal é um universo mágico
fascinante e instigante. Pra quem curtiu essa pegada na escrita do Romeo Tanaka,
já está em produção para 2013, mas uma de suas séries; Aura: Maryuinkouga Saigo
no Tatakai – Que parece ser tão interessante, quanto. Romeo é conhecido e
elogiado principalmente por suas visual novels [Yume Miru Kusuri, CROSS†CHANNEL
e Family Project] e esse é sua primeira série sendo adaptada. Talvez tenhamos
ai, além de um Gen Urobuchi em pleno crescimento comercial como roteirista, como
também um inspirado Romeo. Enquanto isso, sua light novel Jinrui wa Suitai
Shimashita está planejado para ter seu fim em fevereiro de 2013, com 8 volumes.
Fica a pergunta de como Seiji Kishi irá lidar como uma série ainda inacabada.
Seria maldade terminar com um final em aberto, não!?
Destaque: A opening Real World, de nano.RIPE é surrealmente
criativa e já passa o feeling da série. Acho uma graça a Watashi dançando
freneticamente, com gestos meios plásticos. E a ending, Yume no Naka noWatashi no Yume de Masumi Itou, igualmente criativa e com uma melodia muito
mais apreciável.
Direção: Seiji Kishi
Roteiro: Makoto Uezu
Episódios: 02/12
Estúdio: AIC A.S.T.A.
Direção: Seiji Kishi
Roteiro: Makoto Uezu
Episódios: 02/12
Estúdio: AIC A.S.T.A.