"O que precisa
ser feito é feito por aqueles que são capazes de fazê-lo. Essa é a graça
concedida à humanidade por Sibila”.
Em total contraste com a narrativa anterior que foi bem
intensa e expositiva, este episódio foi mais calmo e como já de praxe em todos
os trabalhos do fucking Urobuchi, a característica aqui são os diálogos, bem
pensados, pontuais e a forte caracterização daquele mundo. Mas por favor, antes
de qualquer coisa eu preciso comentar a abertura de PP, que de longe é a mais fantástica
da temporada, desbancando até mesmo a de Chuu2Koi – AMICOW, você pode até não
curti-la, mas foi muito bem produzida e com a clara intenção de viralizar e
criar identidade visual/comercial. Bom marketing –, contando uma história
curtinha, que pode ser spoiler de eventos futuros, ou simplesmente artstyle,
envolvendo os dois principais personagens da história em seus conflitos: Akane
e Kogami.
O que eu curti pra caramba é o fato do noir normalmente
trazer aventuras criminais com grande ênfase na análise psicológica dos personagens,
envoltos por flashbacks. E acaba sendo mais do que puro estilo, pois essa
abordagem mostra o personagem de uma forma mais interna com sentimentos de
desilusão e questionamentos, o que é caracterizado por sombras que escondem
parte do que se vê na tela. Meio que criando um certo mistério visual. Mas, a abertura de PP é de um noir
estilizado e pautado pelos tons cinzentos. O que é muito bacana, pois PP não é
uma série noir, mas se realmente certas aberturas buscam ser a cara do enredo
através de imagens codificadas, então a Sayo Yamamoto (High School of the Dead/Death Note/Ergo Proxy/Texhnolyze – Olhando a
sua lista, ela parece sacar bastante quando o assunto é trabalhar com uma
paleta de cores mais escura) conseguiu fazer algo incrível aqui.
A música "abnormalize" da banda Ling Tosite Sigure
também caiu como uma luva com sua canção de batidas eletrônicas casando bem com
o tom futurista do anime, e com a animação de abertura. Não é excepcional,
parece ter sido feita como medida, mesmo a letra “Coisas que eu não posso mostrar
para ninguém/ Estão inundando minha mente/ eu estou perdido em um mundo onde
nem mesmo os erros existem/”. E eu preciso repetir isso novamente: O
cara canta como se tivesse acabado de engolir uma pastilha de menta
HAHAHAHAAHAHAHAAH.
Tá, eu me empolguei. Tem muita gente que não curte, mas eu
adoro aberturas e encerramentos que não se resumem a quadros estáticos ou
pedaços de animações da série. Agora, sobre o episódio...
Foi mesmo menos extravagante que a estreia, mesmo a animação
ficou bem abaixo do primeiro episódio, o que não é um grande problema, pois não
exigiu tanta fluidez de movimentação, e mesmo o character designer – Aliás,
preciso dizer que anteriormente achei meio fraco, mas na pratica o char da Akira
Amano está excelente, com um design muito variado – sendo bem detalhado (o que significa mais trabalho por parte
dos animadores, e consequentemente mais grana), ainda se mostrou bem
sólido.
Algo bacana de se comentar é sobre o que faz um anime ser moe? Afinal, moe não é gênero. Não tenho
espaço pra discutir isso aqui, mas na virada do século já dava pra perceber
como a estética moe iria revolucionar o mercado de forma irreversível e presente em qualquer obra a partir de
Cowboy Bebop. O que eu quero dizer, é que esteticamente nenhuma série está
livre dessa narrativa visual como forma de expressão. Neste episódio, também
tivemos mais um bom uso de CGI por parte do Production I.G., que é simplesmente
um dos melhores no uso dessa ferramenta, e novamente temos uma boa integração
entre 2DCG.
Deu vontade de morder a bochecha dela na imagem maior ~tão fofa~ |
Ok, não teve ação aqui, mas este episódio ainda é muito
charmoso, um bom exemplo que mesmo com uma simples narrativa de caracterização,
sem toda aquela tensão encadeada por montagens paralelas dentro da cena (como visto no anterior), ainda pode
sair algo no mesmo nível, ainda que com um feeling diferente. Um bom exemplo de
narrativa que consegue mostrar várias coisas ao mesmo tempo está neste episódio,
onde todo o desenvolvimento se desencadeia através do cotidiano de Akane e sua
interação com os demais personagens.
Psycho-Pass meets Kuragehime |
Desde o momento em que ela acorda e tem uma água-viva que é
sua assistente pessoal (acredito que
qualquer um pode automatizar e dar a forma que quiser ao seu assistente)
que já lhe dá toda a sua agenda e mede o seu Psychopass, assim como sua saúde física.
Tudo minuciosamente controlado e fiscalizado. A tecnologia holográfica a um
clique, o que torna tudo mais pratico em uma micro metrópole com uma população
que provavelmente excede seus limites e não há muito espaço físico para
diversos tipos de apetrechos – Muito curiosa aqui pra descobrir mais sobre esse
universo, se o isolamento daquela cidade em meio a um oceano infinito com
construções submersas significa se grande parte da população foi realmente
devastada, etc. –, e aqui PP começa a fazer contrapontos muito interessantes
com o Japão contemporâneo, que também é uma ilha que sempre teve a característica
do isolamento e da alta tecnologia, super controle da população (de forma geral), leis rigorosas e alta
tecnologia.
Akane faz um tour por aquele mundo, onde mesmo numa conversa
aparentemente informal com suas amigas, está sendo feito um bom trabalho de
caracterização e de desenvolvimento de Akane que ainda está submersa no
conflito concebido no episódio anterior. Aqui nos vemos a instabilidade mental de
Akane sublinhada juntamente de outros questionamentos, como por que seu
Psychopass continua abaixo da média geral da população quando ela está
claramente sob efeito de stress (sua
insatisfação em desempenhar um papel burocrático, sua baixo estima e o fato de
ter atingido seu colega)? Não deveria estar ligeiramente elevado? Junte aí
o fato de ela ser vista pelo Sibila como alguém com habilidades e inteligência
acima da média, e temos diversos pontos de interrogação que podem ou não ser
algo.
Claro que é bem obvio que Akane é o coringa do enredo,
aquela que irá trazer uma nova visão ao grupo e aos poucos descontruir suas convicções.
Aliás, o @ojudeuateu trouxe um belo ponto sobre ela ser situar estrategicamente
como se fosse a antagonista da história, sendo aquela que possui um ponto de
vista completamente diferente de todos ali, estando disposta a divergir do
sistema. Bem, até aqui estou adorando a Akane, estão desenvolvendo ela de uma
forma verossímil e menos arquétipa (embora ela e todos ali sejam montagens
evidentes, nada impede que sejam bem construídos). Todo o questionamento
dela, sua insatisfação belamente representada naquela conversa com o velho Masaoka
(hahaha esse velhinho é FODA, véi) após
novamente ter sido pouco efetiva numa operação:
“Como eu falei...” (destaque para a atuação do dublador do Masaoka, que conseguiu imprimir aqui um tom de descrença que soa tipo “você é uma criança, não espere ter o mesmo nível que eu”)“Depois que levar os justiceiros até o local, você só precisa ficar de olho para não deixar ninguém vagabundear, fugir ou causar problemas pra sociedade. Esse é o seu trabalho”.“Está me dizendo então para não fazer nada?”
O timing dessa cena foi perfeito, com destaque para os momentos de silencio, enquadramentos e diálogos. A parte em que a Akane tece esse diálogo acima, com a porta da viatura se fechando é excelente e pontua ainda mais o seu conflito interno. É o desenvolvimento que mais me agrada, pois pude ver no final que a trama não pretende ficar numa morosidade eterna, Akane tem atitude, e mesmo se sentindo inferior, sendo aparentemente frágil, ela não titubeia em reafirmar convictamente que a atitude que tomou no episódio passado foi a mais correta. Vale menção ao bom diálogo entre ela e Kogami, que certamente foi à injeção de gás que ela necessitava. Enfim, espero que a personagem continue numa crescente.
Outros pontos dignos de nota são com relação ao seu diálogo
com Kagari. Foi um bom esboço sobre o passado do personagem, e novamente como o
Psychopass e todo aquele sistema influencia na vida de toda a população,
colocando novamente em cheque a questão discussão de diversos neurocirurgiões,
sobre a propensão de uma pessoa a cometer crimes e a influência exercida por
fatores externos. Uma criança violenta realmente tem maior tendência a ser
tornar um assassino/pessoa violenta? Games podem tornar uma pessoa mais violenta?
Materiais lolicons 2D estão formando um possível estuprador? Todas essas
questões fazem uma correlação com a sociedade atual (em especial, o Japão), caracterizando PP como um autêntico
cyberpunk (que é pegar um mal comum da
sociedade contemporânea e explorar e ampliar o campo de visão desse debate como
entretenimento) tornando a realidade da série algo não muito distante dos
padrões atuais, que são debatidos frequentemente
por estudiosos, ONG’s, e jornalistas.
Por exemplo, o papel exercido pela Sibila não é tão diferente
do sistema educacional exercido em países que são potencia mundial. No Japão, a
criança já cresce em meio a expectativas, com a escola servindo como um
importante retrato da sociedade, com uma liberdade de escolha bem estreita
muitas vezes (caso de Kagari). Ou
você se torna uma engrenagem na sociedade, ou fica a margem dela. Solanin é um
bom retrato de nossa geração (mundial).
Ainda espero ver como o entretenimento afeta o indivíduo comum em Psycho-Pass e
como são vistas as relações homossexuais fufufufufu.
[Estou postando apenas pelo fanservice. Eu sou discarada, eu sei. A colação de velcro entre a tomboy e a loirona biscate (Shiro) ficou bem discreto, MÃS]
Enfim, eu tinha mais coisas pra falar, mas já passei dos
limites de caracteres. Foi um episódio tão bem executado quanto o anterior (é assim que eu faço minhas pontuações),
mas de uma forma diferente; apresentando os principais personagens e
desenvolvendo Akane. No mais, só tenho a dizer que I LOVE THIS SHOW.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★