Olha só quem voltou a ser tema aqui no ELBR!
É uma entrevista antiga, de 2006, mas bem interessante para
quem curte o estilo de Junji Ito, que como sempre se mostra uma figura simpaticíssima,
tornando a entrevista muito proveitosa. Aliás, ao contrário de muitos outros
artistas de mangás, os de horror parecem ser sempre afáveis e carismáticos. Aqui,
ele comenta de suas influências e a forma como vê a sua receptividade no
ocidente. Eu sinceramente fiquei muito contente, quando entre nomes como Kazuo
Umezu e Lovecraft, que já são influências mais do que obvias, ele cita alguns
nomes bem obscuros – Como também confirmar sua inspiração em Steven Spielberg.
Como fã de ambos, isso sempre me pareceu bem evidente. Ele também comenta sobre
não ter habilidade em prosseguir com séries longas, o que é um ponto bem interessante,
pois sempre notei essa deficiência quando ele se vê obrigado por questões
editoriais, a esticar alguma história. Uzumaki e Gyo, apesar de serem bons
trabalhos, com excelentes argumentos, parecem se perder em algum ponto da
história, para depois se encontrar novamente no seguimento final.
Yuukoku no Rasputin |
Créditos: 78magazine
Tradução: Mira Bai/ Miyako Takano
Tradução para português: Por mim mesma
P.s.: Entre parentes, alguns comentários tecidos por mim.
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P: O que te inspira a
escrever sobre terror?
R: Eu me inspiro em
várias coisas que acontecem na minha vida diária. Eu vejo as coisas de
ângulos diferentes, e muitas vezes eu tenho ideias interessantes dessa maneira.
Eu recebo inspiração principalmente
de filmes de terror, histórias de mistério, e quadrinhos de terror. Cenas
e sons naturais, tais como o crepúsculo e trovoadas também estimulam a minha
criatividade.
Ultimamente, tenho me
interessado em documentários sobre samurais antigos. Eu também estou muito
interessado no trabalho de fantoches. Terras perdidas e culturas são uma
grande fonte de inspiração também.
P: Você declarou que
a arte de Kazuo Umezu é uma grande influência em seu trabalho. Como assim? O
que sobre o trabalho dele que você gosta?
R: Kazuo Umezu tem
sido o meu artista favorito em quadrinhos por quanto tempo eu consigo me
lembrar. Seu trabalho é muito inspirador. Quando eu desenho quadrinhos eu sou
influenciado por seu trabalho, mesmo sem perceber, e acredito que muitos outros
artistas também o são. Seus quadrinhos deixam uma impressão duradoura devido à
arte de alta qualidade e narrativa convincente. Eu não acho que qualquer
quadrinhista de terror possa ultrapassá-lo no Japão. Meus quadrinhos favoritos de
Umezu são "Drifting Classroom",
“Kyoufu” e “The Grave of Butterfly (Roberta: história da coletânea Scary Book)”.
R: Comecei a escrever
"Tomie", porque eu queria criar um conto bizarro de uma pessoa morta que
volta à vida como se nada tivesse acontecido. Eu fui inspirado pelo fenômeno da
regeneração da cauda das lagartixas. "Tomie" é uma história onde as
pessoas são fascinadas com a beleza de uma garota, chegando ao ponto de matá-la,
acelerando seu renascimento. A proliferação (Roberta: Imagem ao lado) de "Tomie" foi criada duranta a escrita do enredo da série, o que ajudou significativamente para
transmitir o conceito de regeneração.
P: "Espirais"
parecem ser um símbolo de destaque em muitos filmes japoneses, mangás e animes.
O que é que a espiral representa na cultura japonesa, e o que te inspirou a
escrever “Uzumaki”?
R: A "espiral" não é normalmente associada com a
ficção de terror. Normalmente, o padrão é que espirais marquem as bochechas de
personagens nos desenhos animados japoneses de comédia, o que representa um
efeito de excitação. No entanto, eu pensei que poderia ser usado em história de
terror se eu desenhasse de uma maneira diferente. Espirais são um dos padrões
japoneses mais populares, desde há muito tempo, mas eu não sei o que o símbolo
representa.
Acho que espirais podem ser o símbolo do infinito. As
diferentes fases da espiral (em "Uzumaki") foram definitivamente inspiradas
nos romances misteriosos de HP Lovecraft. Seu expressionismo em relação à atmosfera
inspira muito o meu impulso criativo.
P: Em muitos de seus
contos os cabelos das personagens femininas parecem assumir uma vida própria.
Por que isso? O que isso representa? Caso represente algo.
R: Historicamente, longos
cabelos negros têm sido símbolos das mulheres japonesas, e a maioria das
mulheres valoriza esta imagem. O cabelo longo de uma mulher é comum no terror
japonês, porque transmite uma sensação envolvente do movimento. Eu acho que
evoca o medo nas pessoas inconscientemente. Por exemplo, sabemos o que as
cobras são, mas elas ainda evocam sentimentos assustadores dentro de nós, e por
razões semelhantes, o cabelo traz o mesmo sentimento no terror japonês.
P: Muitas de suas
histórias como "Uzumaki" e "Tomie" tornaram-se filmes de
sucesso. O que você acha das adaptações cinematográficas de seu trabalho?
R: A produção de um
filme não é tão fácil quanto criar quadrinhos. Cinema envolve muitas pessoas, e
bastantes responsabilidades, como os programas de produção e orçamentos. Meus
quadrinhos originais são criados exclusivamente por mim, por isso é feito da
maneira que eu vislumbro isso.
Comics utilizam-se de
imagens, ângulos e sentimentos que são difíceis de criar no mundo real. Eu acho
que é difícil de reproduzir a atmosfera de uma história em quadrinhos para o
cinema, porque um filme tem de utilizar atores reais e atrizes que não são
perfeitamente compatíveis com o meu trabalho original.
Eu sempre procuro ver
o que um cineasta faz com minhas histórias originais, e eu realmente acho que
um grande diretor possa fazer um bom filme ao fundir seu próprio estilo com o
meu trabalho.
P: Quais quadrinhos
americanos, filmes ou cineastas que você gosta?
R: Eu não sei muita
coisa sobre quadrinhos norte-americanos, mas eu realmente amo os cineastas
americanos. É difícil dizer quais os filmes que eu mais gosto, mas "O
Exorcista" e "Operação Dragão" são dois dos meus favoritos. Eu
amo filmes de monstros, bem como, e eu tenho um grande respeito por Wills
O'Brien (Roberta: Willis H. O'Brien.
Mestre do Stop Motion, que inovou a cena de efeitos especiais em Hollywood,
criando uma nova linguagem de efeitos especiais, embora permaneça sob a
obscuridade até hoje, foi ele criou a imagem que temos na mente de King Kong,
como igualmente a idealizou as trucagens necessárias para a sua mobilidade ao
longo de todo o filme, assim como o cenário), e Ray Harryhausen (Roberta:
Outro grande diretor americano de efeitos especiais, sendo reconhecido por suas
animações). Eu também gosto de
Hitchcock, Spielberg, e Chaplin.
P: Você sente falta
odontologia?
(Roberta: Como você
pode conferir neste post, antes de iniciar na carreira de mangaká, Ito
trabalhou com odontologia)
R: Odontologia exige
habilidade de um artesão, e eu estou muito orgulhoso por eu ter trabalhado como
técnico de prótese dentária. Havia mais habilidades que eu precisava desenvolver,
e por algum tempo eu tinha um pouco de arrependimentos sobre não ter seguido essa
carreira. No entanto, a criação de histórias em quadrinhos é muito mais
emocionante do que a odontologia, e eu não me arrependo de nada agora.
P: O que o inspirou a
escrever "Gyo”?
R: "Gyo" foi
definitivamente inspirado por Steven Spielberg, com o filme "Tubarão".
Ele magistralmente captou a essência de medo na forma de um tubarão canibal. Eu
pensei que isso ficaria ainda melhor para capturar esse medo em um tubarão
canibal provocando o terror na terra, bem como do mar.
P: O que o levou a se
envolver com o filme de terror independente “Marronnier”?
Junji Ito, no filme Marronnier |
R: Fui convidado para
projetar um personagem original para a "Koganemushi Companhia Teatral",
por Hideyuki Kobayashi, que é um dramaturgo de marionetes, que também é o presidente
do meu próprio fã-clube. Eu projetei uma personagem feminina e um membro do
fã-clube teve a ideia de chama-la de “Marronnier”. Depois o Sr. Kobayashi
queria fazer um filme, criando uma boneca com base nos meus projetos. Eu só
contribuí para o projeto de Marronnier e fiz algumas aparições no filme. Foi o
trabalho duro do Sr. Kobayashi e dos outros artistas que mais contribuíram para o
sucesso do filme.
P: Mangás e animes têm crescido imensamente e se tornado
populares nos Estados Unidos ao longo dos últimos anos (Roberta: Embora os mangás tenham sofrido uma queda vertiginosa depois
de chegar a ameaçar os comics americanos, se instabilizou e possuem vendagens
consideradas muito boas para a atual economia. Por outro lado, o número de
títulos licenciados de animes, aumentam a cada ano). O que você gostaria de
dizer aos seus fãs americanos?
R: Desde a infância eu
sempre realmente gostei de filmes americanos, então eu fiquei agradavelmente
surpreso quando meus quadrinhos viajaram por todo o Oceano Pacífico para
alcançar o público americano (Roberta:
Ao contrário de outros títulos de mangakás de terror famosos, como Kazuo Umezu,
os mangás de Junji Ito venderam substancialmente bem. Acredito que pela
identificação do estilo artístico de ito). Eu sempre acreditei que havia
algo em comum entre os meus quadrinhos e o terror americano. Recentemente têm chegado
muitas cartas de fãs internacionais. Isso me faz perceber que existem muitos
fãs fora do Japão que gostam do meu trabalho. Vou continuar meu trabalho,
esperando que todos possam continuar a desfrutara-lo no futuro.
P: Que conselho você
pode dar à mangakás jovens e artistas de quadrinhos que trabalham no mercado de
hoje?
R: Mantenha o seu
próprio ponto de vista, mas os conselhos são sempre bem vindos.
P: No que você está
trabalhando agora? O que os fãs podem esperar no futuro?
The Human Chair |
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