Hayao Miyzaki pode ter anunciado aposentadoria mas continua
com a bola toda.
E seu aparente canto dos cisnes, The Wind Rises, vêm fazendo um
baita sucesso dentro e fora do Japão (incluso as polêmicas que o titulo agregou
por ousar colocar o dedo na ferida de um passado nipônico nada bem quisto pelo
mestre); forte candidato ao Óscar em um ano fraco para animações, também estará
aportando aqui no Brasil em Fevereiro de 2014 com o título O Vento Está
Soprando, segundo o Jovem Nerd.
O filme conta a história de Jiro Horikoshi (Hideaki Anno), um homem que projetou
caças japoneses durante a Segundo Guerra Mundial, mas antes disso, seu grande
sonho é construir uma máquina capaz de voar e em meio a esta incessante busca
por seu objetivo, ele conhece a graciosa Naoko (Miori Takimoto).
Essa é uma entrevista do site Thompson on Hollywood com um executivo
do estúdio Ghibli Geoffrey Wexler, que é o responsável pela transação dos
títulos do estúdio para os EUA. Achei pertinente as perguntas e respostas e
resolvi translatar (!), menos a
introdução e as primeiras duas perguntas que não têm muito haver nem com o
filme The Wind Rises nem o Ghibli em si, mas você sempre por ir lá na fonte praconferir tudo completinho.
***
Este é mais um filme
para adultos. Isto parece incomum mesmo para você.
Wexler: Eu tendo a pensar nisso como um cardápio familiar.
Este filme definitivamente não é destinado a crianças. Miyazaki quis fazer o
filme que ele tanto queria fazer. É uma
despedida de verdade para ele. Uma das coisas que é interessante sobre esse
filme é que há um herói masculino, em vez de uma menina de 7 aos 14 ou 15. A
maioria dos filmes de Miyazaki acontece em um período muito curto de tempo.
Poderia ser um dia, poderia ser vários dias. Nosso produtor fundador, Toshio
Suzuki, desafiou Miyazaki a fazer um filme que tem lugar durante um período
muito mais longo de tempo. Da segunda a última cena do filme é de 1935, e a
última cena é de 1945, e não há nada mostrado neste meio [tempo]. Miyazaki não
estava lá para mostrar a guerra. Nós temos outro filme que sai no próximo mês
pelo mentor de Miyazaki, pode-se dizer rival em alguns aspectos, o Sr. [Isao]
Takahata. Ele tem filmes com mais de um ponto de vista do mundo real, com um
pouco de fantasia presente.
Quanto tempo tem que Miyazaki
queria filmar esta história?
Wexler: Havia diversos tópicos em sua cabeça por um longo
tempo. Seu pai fez parte da indústria aeronáutica, ele amou aviões e máquinas
de todos os tipos por um tempo muito longo. Mas cerca de cinco anos atrás, ele
escreveu um mangá serializado que apareceu em uma revista para fabricantes de
aeromodelos. Eu não sei quantos episódios eram, cerca de 8 ou 9 edições, e são várias
páginas de uma história em quadrinhos que conta essencialmente a história de
Jiro Horikoshi.
Isto é ficção até
certo ponto, mas até onde é verdade?
Wexler: Ele escreveu e, em seguida, começou a trabalhar
nele. Nós temos o que é chamado de uma proposta de projeto ou plano, várias
páginas de como deve ser a visão do diretor sobre o filme. Então eles escrevem
um conte (Nota da tradutora: essencialmente
falando, um ‘conte’ são páginas com sequências de storyboard de uma obra com
marcações do diretor que serve como guia para os animadores se guiarem
previamente. Muitas vezes em obras de grande sucesso contes são agrupados
sequencialmente e transformados em livros e posteriormente colocados á venda. Quer
exemplos? Aqui e aqui e aqui), que é a nossa versão de storyboards, e eles
escrevem desde o início, parte A até o fim, parte D, e, em seguida, fazem o
filme apenas com isso. É muito diferente do que um monte de estúdios que estão
constantemente revisando e criando storyboards. E então começamos no início de
2010 e a produção começou, a sério, em meados de 2011 na época de “Poppy Hill”.
Estamos focados principalmente no personagem principal, Horikoshi Jiro, que é
baseado em duas pessoas. Ele é um amálgama de um homem chamado Jiro Horikoshi,
um engenheiro aeronáutico considerado um dos melhores de todos os tempos, e um
homem chamado Tatsuo Hori, um romancista e ele escreveu um livro chamado
"Kaze Tachinu", "The Wind is Rising, uma linha de um poema
francês que está contido no início do filme. Nós o ajustamos um pouco para que
fosse nosso título. O personagem é uma combinação da história de Tatsuo Hori
com Jiro Horikoshi, ele foi uma pessoa com tuberculose, subiu nas montanhas para
estar bem. Tuberculose fazia grande parte de nossas vidas naquela época, no
Japão, e a única coisa sobre isso, então era que, se você adquiriu você morreu.
A ideia de que você poderia se recuperar era algo muito raro, poucos conseguiam,
e isto que instrui muito do que você vê na tela. Miyazaki quis fazer algo
bonito, por isso é uma mistura dessas coisas, e é realmente sobre viver a sua
vida o melhor que pode naquele momento.
Ele também está
pintando um retrato do Japão pré-moderno.
Wexler: É a restauração pós-Meiji e o país está correndo
para recuperar o atraso, como Aquiles tentando alcançar a tartaruga. Será que
algum dia vamos recuperar o atraso? Mesmo se chegarmos perto de onde estavam
eles já terão avançado para frente. E o Japão não era um país rico, há
discussões sobre como quão pobre todo mundo é, o quanto eles estão gastando em
aviões. É muito mais que era de 1900 até 1935.
E esta história é bem
conhecida no Japão?
Wexler: Esta história não é. Miyazaki quis apresentar uma
história deste gênio engenhoso, e um engenheiro, e do que estava acontecendo no
Japão naquele momento. É fácil dizer o que o Japão não foi, mas a muito do que era
o Japão, e havia muita coisa acontecendo no Japão na época.
Como você
caracterizaria as inovações na animação?
Wexler: Como alguém que passou muito tempo com esses filmes
e ouviindo alguns dos problemas que passaram, eu posso falar sobre duas coisas:
uma é o incrível nível de detalhe. Hoje eu estava percebendo coisas que eu não havia
notado antes, realmente maravilhosos pequenos detalhes. Em segundo lugar, o som.
Os aviões, trens, todos os carros, os terremotos foram manifestados por um ser
humano, um cara, nosso técnico de som principal e coordenador de som. Miyazaki
quis fazê-lo sozinho, mas sua equipe disse que não. Mais de metade dos efeitos
sonoros são sons vocalizados. O som é mono, um alto-falante, um canal. Miyazaki
queria um som mais limpo, mais simples.
Qual é o equilíbrio
entre filmes do Miyazaki e filmes de outros diretores? Quantos anos o Studio
Ghibli leva para produzir.
Wexler: Costumamos fazer um filme a cada ano por 2 ou 3 anos
e depois ficamos livres por um ano. Mas tem sido quase todos os anos. Não tem
havido uma película de Miyazaki a cada ano. Ele não está supervisionando todos
os nossos filmes. A maioria, mas não todos. Temos vários diretores que chegaram
a escrever parte da história, mas não foi dirigido por ele. O seu filho dirigiu
"Up On Poppy Hill", temos os filmes do Takahata e outros filmes de
outros diretores. Metade do nosso portfólio são filmes do Miyazaki.
Miyazaki gosta de
voltar no tempo para retratar outros períodos no Japão, e ele gosta de se
concentrar na beleza do Japão rural antes da industrialização.
Wexler: Muitos de seus filmes têm lugar numa Europa
fantasiosa. Pense em " Howl's
Moving Castle". Realmente não parece ser a China. Ele tem uma
visão de como as coisas são, ou foram, ou deveria ter sido, ou poderia ter
sido. Muitos dos comportamentos dos personagens são como ele pensa de como as
pessoas devem ser. Muitos personagens não falam na gíria, você não tem um monte
de “heys” e “ums” e “ahs”. Este é um grande desafio na dublagem, porque é muito
fácil de colocar um "então" ou "um" ou "ah" para
corresponder o que está sendo dito, e um dos meus trabalhos é dizer não. Por
exemplo, em “My Neighbor Totoro”, a roupa das crianças é dobrada ao lado de sua
cama para a manhã seguinte, porque é isso que as crianças devem fazer antes de
ir para a cama. Em "Poppy Hill," tivemos colegiais, sem gírias, nem
um pouco de gírias, falavam corretamente. É difícil expressar em Inglês, mas
existem muitos níveis de formalidade e informalidade em japonês e os
personagens tendem a falar como as pessoas deveriam conversar.
Dê-nos um senso dos
maiores sucessos de Studio Ghibli no Japão e fora do Japão.
Wexler: Se eu pensar neles pelos números nas bilheterias, não
vão coincidir com o que você pensa sobre os nossos sucessos. "Totoro"
foi um grande sucesso, que evoluiu ao longo do tempo. “Spirited Away” é, de
longe, nosso maior sucesso. Eu odiaria fazer qualquer injustiça a estes filmes
- há apenas 20 anos, então eles são todos grandes sucessos - mas eu diria que são
os filmes de Miyazaki “Spirited Away” e “Howl's Moving Castle”. Se eu encontrar
com homens, talvez de 40 ou mais velhos, que pensam que animação não foram
feitas para eles, eu os encorajo a assistir “Porco Rosso”. As pessoas
imaginaram que este filme seria um “Porco Rosso 2”, o que não é. Mas há muitos
aviões. “Kiki's Delivery Service” é um prazer absoluto, “Castle in the Sky”. Eu
sou um grande fã de "My Neighbor the Yamadas", que usa um novo estilo
de animação. É incrivelmente inteligente e espirituoso, e mais distinto.
Será que este vai ser
realmente o último filme de Miyazaki?
Wexler: De tudo que eu ouvi, esta será sua última animação
de longa duração. Têm sido um enorme sucesso no Japão. Temos ainda uma longa
temporada teatral antes de irmos para o home vídeo. Estamos preparando uma
premiação que acontecerá em novembro, em Nova York e Los Angeles, que serão legendadas,
e em fevereiro teremos nossa versão dublada.
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