Mais um mergulho a um universo fantástico criado por
Takahashi.
Rumiko Takahashi sempre flertou com o lado sobrenatural da
vida em suas obras – não todas, mas tramas ambientadas em universos folclóricos
se tornaram uma de suas maiores características. No inicio de sua carreira, produziu
algumas obras mais sérias e obscuras, sem seu característico traço de humor
leve. Já comentei aqui no ELBR sobre Mermaid Saga, e novamente me deparo com
mais uma adaptação pouco conhecida, dessa vez da sua trilogia Rumic World , The
Laughing Target (Warau Hyouteki),
que ganhou uma adaptação em OVA ao lado de Fire Tripper, Maris the Choujo e One
Pound Gospel; também do universo Rumiko World.
Coisa triste é que as adaptações das obras da Rumiko-sensei –
independe de suas qualidades – não podem reproduzir a singular arte original de
sua autora. Sempre é algo menor. Nem diferente, menor mesmo, o estilizado de
sua arte é algo que se perde um bocado. Falando de adaptação em si, Mermaid
Saga por mais que não seja nada incrível, tem uma atmosfera dark e melancólica que
se sobressai em muitos aspectos, já The Laughing Target resulta em um produto
final apático e sem centelhas de vida.
The Laughing Target conta a história dos primos Azusia (Hiromi Tsuru) e Yuzura Shiga (Yoku Shioya), que têm suas vidas
entrelaçadas por uma promessa de infância, onde a mãe de Azusia compromete a
mão de sua filha com Yuzura, mesmo sendo primos, a fim de manter o nome da
tradicional família. Muitos anos se passam depois disso, os dois se tornam
adolescentes e quando a mãe de Azusia morre misteriosamente, ela vai morar com
seu tio, sob o mesmo teto de Yuzura. Para sua surpresa, ele já tinha uma
namorada chamada Satomi (Tadanori Matsumoto/Iyo Matsumoto), mas Azusia não está disposta a abrir mão da promessa
de infância, usando de todos os métodos para tirar a rival do caminho. Não
pense que é um triângulo amoroso tradicional, porque Azusia não é uma garota
normal e seus métodos fogem do convencional...
Existe uma brincadeira que se espalhou por várias partes do
mundo, mas que é uma tradição particular da Ásia Oriental (acredita-se que tenha surgido na China), que é a promessa do dedo mindinho; ou Yubikiri
Genman. Essa brincadeira tem origem na crença de que almas gêmeas são
conectadas pela linha vermelha do destino, ligadas ao dedo mindinho de cada
par. Os japoneses correlacionam a quebra da promessa ao ritual de cortar o dedo
da pessoa que quebrou. Isso dá muito pano pra manga e se torna combustível para
muitas obras, principalmente as mais românticas ou que tratam de obsessão –
você já deve ter visto mencionarem este ritual em algum momento, se é
consumidor de cultura japonesa. Mas no mundo real, claro, isto é apenas uma
maneira informal de selar uma promessa. Nós também fazemos muito disto, não? O
que não impede crianças e artistas de fantasiarem, e entre muitas versões mundiais,
a japonesa tem até uma cantiga que diz “É uma promessa, se eu estiver mentindo,
beberei mil agulhas e cortarei meu dedo mindinho” ou “se
você mentir, te farei engolir mil agulhas”.
The Laughing Target é basicamente sobre isto. A história
traz muitos dos elementos que permeariam as muitas obras da autora, como o
choque de tradições entre gerações, o arreigado apego às velhas tradições por
parte de alguns personagens, obsessão, espíritos possessivos, enfim. Talvez,
por ser originalmente uma oneshot, ao ser adaptado para um OVA de 47 minutos, a
história sente-se perdendo o folego gradativamente num claro sinal de que havia
tempo demais e pouca situações relevantes para contar. Pela consequência de
direção e roteiro não conseguirem ou não terem mesmo vontade de criar situações
mais atrativas para uma obra audiovisual ou mesmo trabalhar melhor com os
elementos que tinham em mãos, este trabalho só demonstra alguns poucos bons
momentos (entre estes, uma bela sequência de perseguição em tons P&B) de situações conflitivas da obra original, soando mais algo
burocrático sem fulgor em termos de animação e roteiro. Apesar disso, é uma OVA bonito esteticamente, a despeito de sua simplicidade. Acredito que uma
experiência válida mesmo apenas para fãs da autora e de obras mais obscuras. Ou
talvez nem isso.
Nota: 05/10
Direção: Motosuke Takahashi
Roteiro: Hideo Takayashiki/Tomoko Kanaharu
Direção: Motosuke Takahashi
Roteiro: Hideo Takayashiki/Tomoko Kanaharu
Estúdio: Pierrot/ Warp
Tipo: OVA
Duração: 47 min.
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