Dia das mães, segunda maior data comercial brasileira (e americana também), dia que filhos
ingratos darão utensílios domésticos para sua pobre coroa! Estes seres que aparentemente
não fazem sexo ou sentem tesão, mas são chamadas, indiretamente, todos os dias
de putas e etc.
Ou talvez simplesmente não tenham uma mãe para dar nada, nem
uma patada, neste caso talvez hoje seja um dia chato (bom... Talvez você tenha e ainda assim seja um dia chato porque as pessoas
sabem ser chatas quando querem!). Apesar disso, e correndo o risco de estar
colaborando com a chatice coletiva, vou aproveitar a data e o interesse das
pessoas para falar de algumas mães dos animes. Algumas que todos gostariam de
ter, outras nem tanto... cof, cof (*olhando
pra Ragyo*). Também relembremos os pobres fetos felizardos por serem abortados
drasticamente, na décima posição. Vamos lá, galerinha otaca!
O texto estava ficando grande demais para a pretensão de
listar 10 nomes, então as 10 primeiras posições terão descrições bem breves. Ou não.
10) Sekai Saionji – School Days
Como saber se as inimiga
tão usando o golpe da falsa gravidez para roubar o seu macho? Abrindo a barriga
delas, é claro! Essa é apenas uma das valiosas lições que aprendemos ao final
de School Days! Sekai alega estar gravida do bosta do Makoto, que está saindo
com Kotonoha bem na sua cara e ainda pede para que ela aborte. Revoltadíssima,
ela decepa a cabeça do desgraçado, mas Kotonoha resolve se vingar apunhalando e
abrindo a barriga da bandida da Sekai. Depois, ainda diz: “sabia, você estava
mentindo”. Heh. A questão que fica é: Estaria Sekai grávida ou não? Eu acredito
que sim, mas acho que neste lance todo, estar ou não grávida é o que menos importa
(risossss). Sekai é representa todas
as mães que não conseguem levar a gravidez adiante. Um pouco trágico, acho.
09) Mother Shimogamo – Uchouten Kazoku
Agora é a vez de uma mãe tanuki. E ela não tem um nome especifico.
Na série ela é apenas “Mãe Shimogamo”. Essa característica ressalta que ela não
é vista como mulher ou alguém que tenha uma vida própria, ela é a mãe,
matriarca da família, é o seu papel naquele mundo. É somente quando se
transforma na figura masculina de um príncipe é que ela pode ser mais que mãe e
desfrutar de banalidades básicas da vida, coisas da qual gosta de fazer e sem
qualquer relação com seus filhos. Nestes momentos, até sua postura muda, mesmo diante de seus filhos. Não por acaso, o que ela mais faz quando se
transforma num príncipe é ir jogar, algo que é caracteristicamente relacionado
a homens. Mãe Shimogamo me ganhou não apenas por ser uma mãe tão querida e personagem
simpática, mas por também saber aproveitar dos prazeres da vida.
08) Rosa Ushiromiya – Umineko no Naku Koro ni
Rosa é mãe de Maria, aquela que fica chorando e fazendo “uuuuu,
uuuuuu~”. Uma mãe terrível, diga-se de passagem. Não é que ela não ame a filha,
mas Rosa tem atitudes desprezíveis para com ela, descontando na filha as suas
frustrações. Rosa é a clássica mãe solteira em que o pai biológico desaparece
abandonando a mulher após fazer a criança, que cresce tendo apenas um dos pais
presente em sua vida. As mulheres de Umineko são fabulosas e Rosa não é
diferente. Ela dá duro e enfrenta muitas dificuldades no dia-a-dia, tem
resistência em abrir mão de sua vida de mulher sem reponsabilidades familiares
e mesmo que sinta remorso por pensar assim, no fundo vê Maria como um fardo.
Consequentemente, Maria é sempre reduzida a uma parcela insignificante em sua
vida. Deixada sozinha diversas vezes, Maria cresce solitária e um tanto quanto problemática,
enquanto Rosa continua com dificuldades de escutá-la e se irritando facilmente
com seus choros, tomando atitudes violentas e erradas para conter a filha. Claro
que como na maioria destes casos, Rosa também teve uma infância com
distanciamento emotivo de seus pais. Mesmo assim, Rosa é apaixonante e daquelas
mães que sabem parar o chorôrô dos filhos, huhu.
07) Ragyo Kiryuin – Kill la Kill
Minha mãe é uma alienigena!! Ou no mínimo, vendeu a alma
para o diabo usando o sangue das filhas como sacrifício. Ragyo é sem dúvidas o
retrato das piores mães que existem no mundo. Desmedidamente inescrupulosa e
ambiciosa, até mesmo o ato “sagrado” da maternidade se torna uma moeda de troca
para a mulher, que vê na filha a possibilidade de ampliar os negócios e alguém
capaz de encabeçar a empresa da família. Como se já fosse pouco roubar a
infância de sua filha Satsuki e moldar seu futuro, quando esta se rebela, ela
não pensa duas vezes em deserdar a garota com dois chutes no bundão e abraçar
Ryuuko; nova filha recém-descoberta, jogando na cara de Satsuki sua
inferioridade frente às habilidades de Ryuuko. Não satisfeita, ainda jogou uma
contra a outra. É, parece enredo de novela, e tirando as camadas de fantasia,
também se parece com a nossa realidade em que os filhos nascem para atender as
vontades e desejos dos pais. Comparando com muitas mães reais, as maldades de Ragyo
se empalidecem. Numa das mais clássicas cenas da série (dica: KILL la KILL - Fascismo Alienígena), Ragyo toca
sensualmente nas partes intimas da filhas, levando-a ao orgasmo, refletindo o
poder e controle absoluto que nutria sobre Satsuki e suas emoções. Ou ao menos,
que pensava ter sobre a garota.
06) Usagi Tsukino – Sailor Moon
A bela e serelepe marinheira da lua também é mãe, princesa,
salvadora da humanidade e nas horas vagas uma adolescente cabeça oca e volátil.
Observar as estripulias da garota, especialmente no anime (no mangá, tudo isto é um pouco mais contido, além de haver
amadurecimento), é ter a certeza de que estamos em péssimas mãos. O ponto
alto é quando sua filha vem do futuro e logicamente Usagi se vê incapaz de agir
como uma mãe para Chibiusa, se tornando uma espécie de irmã mais velha e rival
da própria filha pelo amor do namorado, que por um acaso será o pai da menina. Quando
vemos sua pequena filha apontando uma arma para sua cabeça (tanto no anime quanto no mangá), sabemos que Sailor Moon está na
vanguarda com uma obra que retrata tão bem como se tornaria o relacionamento
entre pais e filhos num futuro nada distante. Em especial, as disputas entre mães e filhas.
05) Irisviel von Einzbern – Fate/Zero
Iris (para os mais íntimos,
como eu) é um homunculus, ou seja, um ser humano criado artificialmente;
mas isto não a impediu de se apaixonar por um homem, se casar com ele e dar a
vida à pequena astuta Illyasviel von Einzbern. Iris foi a primeira criação
artificial a alcançar tal feito, se tornando um ser humano em todos os
sentidos. Nascida para ser um fantoche e protegida sob uma redoma de vidro teve
que superar diversos conflitos internos e externos para conseguir experimentar
o que de fato é ser humano. Sua compreensão para quaisquer atitudes do marido, o
fato de ser emocionalmente madura, portar-se elegantemente, seu senso de auto-sacrifício,
mas também ser bem humorada e denotar um ar de fragilidade infantil; tudo isto
tornam Iris a esposa ideal para o pensamento paternalista clássico. Seu marido
é um dos poucos contatos que teve incialmente com o mundo externo, sendo rigorosamente
protegida, seu extremo amor/devoção e apego a um marido canalha e na maior
parte do tempo ausente, demonstram a carência emocional da personagem. Ele é a
sua maior e única referência até então, se tornando basicamente o chão em que
pisa. Não por acaso, ela é conceitualmente um ser criado artificialmente; uma
boneca feita para satisfazer primeiro a vontade de seu criador e depois de seu
marido. Sua conceitualização serve como metáfora para sua abnegação.
Apesar de uma história triste, Iris soube tirar proveito
disto tudo, como também se impor aos poucos, à medida que ia ganhando
conhecimentos. Sua filha nasceu de seu desejo de que um filho pudesse representar
a esperança num futuro menos trágico. Fica mais triste se você conhecer o
destino de sua filha Illya em Fate/Stay Night.
04) Junko Kaname – Puella Magi Madoka Magica
Ela é mãe de um deus. Na verdade, deusa: Godoka. A família
da Godoka é o arquétipo de família pós-moderna, embora este lar onde o pai é a
figura passiva e fica em casa cuidando da casa e dos filhos, enquanto a mulher
é uma empresária bem remunerada que chega sempre tarde e constantemente bêbada,
seja uma característica criada pelo autor para evidenciar o caráter matriarcal (Dicas: Mitos da Criação e o Culto às Mulheres) de um mundo protegido por um deus feminino. Desse modo, Junko é
muito mais do que o pilar de sustentação de uma casa, ela é a figura
representativa desse mundo matriarcal. Mesmo com dificuldades de acordar cedo e
bebendo além da conta, Junko ainda se mostra uma ótima mãe, mantendo uma
relação intimista com a sua filha.
03) Koto – Kyousogiga
Koto é um ser que não deveria existir neste mundo, mas fora
criada pelas mãos de um artista como um belo desenho em forma de coelho. Quase
como se fosse uma metáfora, tal qual toda obra de arte nas mãos do seu escultor
que com o seu adorno vai ganhando forma e vida própria, Koto também ganhou vida
própria pelas mãos de seu criador. Nascida como um coelhinho preto, Koto se
apaixona por seu mestre e sofre por não ser correspondida ou ao menos poder-lhe
declarar este amor, até que cruza com uma Bodhisattva, que atende o seu desejo
e a torna humana. Ela conquista o seu mestre e como nossos desejos evoluem e
nunca cessam não se contenta em ser a mulher dele, mas logo também se torna mãe
adotiva de um garotinho humano; de dois seres criados a partir de um desenho; e
mãe biológica de uma garotinha impulsiva como ela. É uma família multifacetada,
como se deve ser, com muitas divergências entre si, distanciamentos,
reaproximações e equívocos da parte dos pais, mesmo eles tendo as melhores
intenções.
A relação de Koto com seus filhos é interessante; eles a
respeitam mais do que ao pai (a figura
que Koto assume em suas perspectivas é de praticamente uma santa: este aspecto
é factual se observamos que conceitualmente Koto utiliza a forma humana
emprestada por uma santidade Bodhisattva, se aproximando do arquétipo sagrado
da figura materna estabelecido pelo cristianismo através de sua Maria, mãe de
Jesus. Tal qual Maria, Koto é a mediadora entre um deus e a humanidade, mãe de filhos tão diferentes
um do outro. Não se pode afirmar a intencionalidade dessas ocorrências, mas não
seria de se estranhar isto em uma série que faz uma junção tão harmoniosa entre
diversas culturas e religiões) e quando esta se vê na obrigação de se
distanciar dos seus filhos, devido a questões maiores, como a de garantir a
sobrevivência deles e a do lar que criou [ao lado do marido] para eles, é notável
o quanto os filhos sentem sua falta e esperam ansiosamente pelo seu retorno.
Aqui temos o que é quase o reflexo da mãe moderna da nova geração, instaurando
uma dicotomia com a mãe que Hana simboliza; característica conceitualizada no
fato de que Koto está sempre ao lado do marido (nunca abaixo ou acima) e o acompanhando em sua jornada de garantir
a sustentação do lar criado para a família.
Em termos de relacionamentos com os filhos, gosto especialmente
da sua relação com Yase; a sua filha nascida de um desenho, uma garota que
quando furiosa, se transforma num dragão voraz entorpecido pela fúria. Yase
sofre diversas discriminações e tem um enorme complexo de inferioridade, Koto
parece ser a única que Yase consegue se mostrar em todos os ângulos sem sentir
feia e inferior. É terno e bonito o carinho e compreensão com que Koto trata a
filha, lhe repreendendo quando preciso, mas sem perder a ternura no modo de
lidar com ela. Independente do quão diferente é dos outros irmãos, Yase se
sente amada e querida na mesma proporção que os demais. Em um lar com mais de
um filho, é um desafio para uma mãe fazer com que ambos se sintam plenamente
queridos.
02) Hana – Wolf Children
Hana comeu o pão que o diabo amassou no ótimo Wolf Children
Ame and Yuki. Se apaixonou loucamente por um simpático jovem, mas logo
descobriu que o cidadão escondia dela um segredo que mudaria sua vida para
sempre: o cara era um lobisomem! Okay, tudo bem, essas coisas acontecem e todo
mundo tem aquele segredo que não conta nem para o espelho. Ela perdoa o
homem-lobo e, bem, num relacionamento o sexo é bem vindo e ela não nega fogo,
mas o lobo não usa preservativo e Hana fica emprenhada. Com dois lobinhos
revirando a casa do avesso e a importante missão de esconder a identidade deles
dos vizinhos, o lobo-pai que não é bobo nem nada parte dessa para uma melhor
deixando Hana sozinha, sem emprego e com dois lobos travessos para cuidar e
vigiar!
É, a vida de Hana como mãe não foi fácil, além de ter que
abrir mãe de sua própria individualidade, teve que alternar drasticamente sua
rotina e habitat em prol dos filhos. Na velhice, ainda foi abandonada pelos
dois, afinal, dizem que se cria filhos para a vida e com a exceção de alguns, que
preferem continuar sob as asas acolhedoras da mãe até o dia que estas lhe
faltarem, chega o momento [cedo ou tarde] em que cada um necessita sair em sua
própria jornada. Hana simboliza as milhares de mães que não se detém em dar as
próprias vidas para o bem de seus filhos, fazendo incontáveis sacrifícios para que
este cresça bem e saudável – mais do que isso, Hana representa uma geração de
mulheres que se viam obrigadas a abrirem mão de suas individualidades por terem
se tornado mães, deixando então de trabalhar e estudar ou mesmo sair para
cuidar dos filhos enquanto o marido sustenta o lar; e na falta desse pilar
central, se vendo desamparadas e passando por diversas dificuldades. O fato das
crianças serem lobos é uma metáfora que substância a dificuldade de uma mãe, já
que como lobos, Hana não podia contar com ninguém, nem sair para trabalhar fora
e teve suas dificuldades dobradas. Em meio a isso, Yuki e Ame somos nós,
filhos, que amamos nossas mães, mas também lhe impomos dor e abandono. É a
troca natural que se tem numa relação, por mais amor que se tenha, sempre
iremos nos magoar mutualmente.
01) Haruko Kamio – Air Tv
Mãe de Misuzu Kamio. Tecnicamente, Haruko é na verdade tia
biológica da garota, mas a cria desde que era um bebê, se tornando na prática a
sua verdadeira mãe. Haruko é uma mãe louca, simpática, amorosa, mas também
muitas vezes não se mostra uma boa mãe para Misuzu. Ela pode se mostrar muito
inconsequente, por muitas vezes pouco madura e tende a fugir com facilidade de
seus problemas ao invés de enfrenta-los – o fato de ela adorar se entregar à
bebida depois do trabalho é uma característica de denota essa fraqueza interna,
pois, é depois de cumprir seu expediente e então voltar a ser uma mãe;
retornando para casa, que ela defronta com seus maiores conflitos. A bebida
então caracteriza um aspecto da personagem, que é o de agir de modo pouco
maduro e medo de enfrentar a realidade.
Acontece que Haruko ama Misuzu, mas acaba mantendo uma
relação distante – na maior parte do tempo – com a garota. Então, como assim
ela ganhou a primeira posição? Oras, é justamente o fato de ser tão errante e
manter uma relação tridimensional com a filha que torna a ela e esta relação
muito humana. É o que se vê com frequência aqui fora, em relação a pais e
filhos. É o medo de se tocarem, de se conhecerem, e por mais que haja vontade
de ambas as partes, não conseguem quebrar a enorme muralha estabelecida,
mantendo então uma relação fria e distante. Haruko tem dificuldades de lidar
com várias questões envolvendo Misuzu, chega um momento em que a saúde de sua
filha piora a um estado critico e ela acredita então que não tem condições de
continuar criando a garota, entregando-a ao pai, ao acreditar que isto seria o
melhor para ela.
O clímax deste intenso relacionamento acontece quando,
impossibilitada de andar, Misuzu – como que por um milagre – foge dos braços
fortes do pai e sai andando fragilmente em direção à mãe, que se dá conta que o
local ideal para ela é em seus braços. O ato de Misuzu sair andando com suas
pernas fragilizadas e antes incapazes de se moverem, demonstra a dificuldade de
se romper essa enorme muralha estabelecida entre um pai e um filho, e o ato de Haruko
de sacrificar a relação com a filha por se considerar incapaz, reflete a
unilateralidade numa relação, onde não sabemos exatamente o que o outro pensa e
por uma escassez de diálogos acabamos tomando atitudes que consideramos
corretas e para o bem daquele que se ama, mas que na verdade está infligindo
mais dor. Haruko é espetacular por ser tão conflitiva e plenamente capaz de
superar seus conflitos, fazendo a única coisa possível nestes momentos: encarar
de frente as próprias emoções, afinal, ficou mais do que provado que a própria
Haruko era sua maior critica e rival, se auto-sabotando constantemente. Assim
como na vida, em que adoramos nos sabotar!
***
-A Relação Entre Pais & Filhos nos Animes
-Pocket #01: Pais & Filhos nos Animes
-Influências: Mitos da Criação e o Culto às Mulheres (Milk Closet)
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