terça-feira, 13 de maio de 2014

Cenas de Paranoia Agent

Saudações do Crítico Nippon!


Analisarei algumas cenas isoladas desse anime dirigido pelo mestre Satoshi Kon, em que notei o alto nível do diretor conduzindo-as. E não é pra menos, com uma galeria de filmes invejáveis como a que ele tem. Serão observados elementos da fotografia, da montagem, dos sons e das cores. Tudo trabalhado em harmonia para ajudar a contar a história da melhor e mais rica forma possível. E como já sei que alguns preguiçosos de plantão costumam vir ler só para falar que “vemos coisas onde não tem”, já deixarei linkado meu texto resposta: A crítica, interpretação, opinião.



Nessa primeira análise, veremos o personagem Icchi chamando um colega, Shougo, para conversar nos fundos da escola. O primeiro estava com muita raiva do segundo, se tornando bastante instável, e seu colega ainda não desconfiava. A cena começa mostrando Shougo ao longe, banhado pela luz, pois ainda não sabe do que se trata o pedido de encontro. Enquanto isso, a câmera se encontra nas trevas, e o vemos isolado no meio do quadro, salientando sua vulnerabilidade.


Passamos a ouvir a voz de Icchi, calma e controlada, e enfim o vemos surgindo repleto de sombras, completamente oposto ao colega e caminhando desafiadoramente em sua direção. Shougo permanece no canto do quadro, pequeno e frágil, e notem como a câmera é posicionada de maneira a espremê-lo entre uma casinha de madeira e os arbustos. Assim como anteriormente, na primeira imagem, mesmo estando na luz, ele já aparecia espremido entre o paredão do colégio e as árvores. Isso causa uma sensação incômoda de isolamento e angustia.


Enquanto isso, só é possível ouvir a voz ameaçadora de Icchi. E notem como os sons diegéticos fazem um trabalho magistral aqui justamente por serem discretos. O som dos pássaros e grilos buscam salientar ainda mais o ambiente deserto no qual os personagens se encontram, onde ninguém poderá ajudá-los. Esses sons são a cereja no bolo em termos de “atmosfera de isolamento” que Satoshi Kon procurou criar aqui. Enfim Icchi surge no mesmo quadro que Shougo, encurralando-o na parede e surge um corte brusco na explosão da mão do primeiro próxima do rosto do colega.


A câmera começa a encarar Icchi de baixo para cima, tornando-o imponente e ameaçador, enquanto Shougo é visto de cima para baixo, acuado, vulnerável. E finalmente termina com os dois de frente para o outro em mesmo quadro, na explosão de gritos mais forte até então. E a cena corta e termina.



Outros exemplos ocorrem nas cenas de interrogatório dos dois agentes de polícia que acompanhamos ao longo do anime. Percebam como, inicialmente, a composição delas é com cores mais claras e quentes, e a câmera está mais distante, tanto com a menina quanto com o Shounen Bat. São os primeiros questionamentos e o clima ainda está relativamente leve e observador, não há sensação de opressão.


Agora notem a diferença dois episódios depois, quando os agentes já se encontram desgastados. Já inicia com um enquadramento da dupla visto de cima relativamente torto, salientando o mistério que se distorce dentro daqueles homens desgastados.


E a cena de interrogatório é completamente diferente. Composta exclusivamente por quadros fechados e opressores, causa uma sensação incômoda o tempo inteiro. Percebam as "molduras" do primeiro quadro, como se a câmera estivesse dentro de uma caixa, espremendo aqueles três homens. Do ponto de vista simbólico, mostra quão fartos estão todos aqueles personagens naquela sala há dias. E claro, percebam como as cores diferem completamente naquelas vistas nos primeiros, agora todos escuros e sombrios. É o mesmo cenário, os mesmo personagens, só mudou a maneira de orquestrar devido aos sentimentos necessários que o autor queria passar.


Em suma, terminarei por aqui e agora é com vocês treinarem esse olhar crítico nos futuros animes. Notem como foi importante a base cinematográfica do diretor contribuindo com a linguagem do anime. A junção de trabalhos desde o enquadramento das câmeras, passando pelo jogo de luz e sombra, da delicadeza dos sons diegéticos. Também gostaria de destacar isoladamente nesse curto anime, o episódio 8 que parece quase uma obra isolada, sem relação alguma com o todo, extremamente divertido. Chega a lembrar traços da dinâmica de Tokyo Godfathers de  Satoshi Kon. Aliás, há inúmeras características durante o anime todo que remetem à Perfect Blue e Paprika. Espero que tenham gostado desse tipo de análise um pouco diferente da minha parte e quem sabe eu volto com outras do gênero.


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman