Ela vai castigar você em nome de Marte!
Assim como para muitos, Rei Hino, a Sailor Mars, é a minha Sailor
preferida. Ela é uma personagem forte, sem que isso afete sua feminilidade. Ela
não é uma personagem feminina com características masculinas. Eu acho isso
legal porque mostra que garotas podem ser proativas, independentes, fortes e
saberem se defender mesmo usando saltos, sendo vaidosa, adorando maquiagem e
etc. Que isso não a faz acéfala/fútil ou incapaz. Da mesma forma que eu adoro
personagens como Satsuki e Ryuuko, de Kill la Kill (para o roteirista, elas serem garotas é indiferente. Na verdade, elas serem
garotas, soa mais como conveniência, como o mesmo chegou a declarar), por
saber que não é o gênero que irá definir sua postura e que não é por ser garota
que você precisa ser delicada, mas também é bom ver personagens como a Rei.
Eu acredito que tem muito da Naoko Takeuchi na Rei. Em
determinada entrevista, ela diz que sua parte favorita na personagem são seus
saltos altos. Rei é uma personagem bastante vaidosa e com uma postura impecável.
Ao contrário do que se estabeleceu no anime clássico, ela é uma personagem autocentrada
[e um tanto quanto melancólica e com diversos conflitos internos] e sem
qualquer interesse em homens – não, ela não é lésbica, mas ela sempre se mostra
muito centrada em seus objetivos, não demonstrando tanto interesse em relações
amorosas. Influencia também o fato dela ser uma miko em um templo Shinto,
ensinada desde pequena que deveria se manter casta – em geral, mikos são filhas
de sacerdotes e é importante que se mantenham solteiras, para que possam vestir
o quimono branco tradicional, e a menos que se tornem a sumo sacerdote, não podem
se casar ou ter filhos (no entanto, mikos
podem deixar a posição, constituírem família e depois voltarem a fazer votos de
castidade).
Tem como objetivo se tornar a sumo sacerdotisa do templo,
diferente do anime clássico, onde ela tratava essa posição apenas como um
emprego temporário, fazendo planos futuros de namorar e se casar; a bem da
verdade, no anime, Rei é uma personagem louca, histérica e fissurada por relacionamentos
amorosos. Sacerdócio xintoísta é aberto à mulheres, mas sacerdócio feminino só
se desenvolveu após a Segunda Guerra Mundial, e como consequência, sacerdotisas à frente de Templos têm aumentado
com o tempo. Progressiva, Naoko constrói seus personagens com muitas camadas de
características sociais em sua época, e se por um lado ela não ignora o
tradicionalismo, como se nota na construção de Usagi, por outro, o aspecto
predominante em Sailor Moon é o progressismo feminino. No inicio de 1990,
quando a Equal Employment Opportunity [uma política de igualdade de
oportunidades no emprego que garantia o tratamento igualitário entre homens e
mulheres de quaisquer cores] foi aprovada, o Japão também vivia um momento
fundamental de transformações culturais que moldaria o futuro do país e
mentalidade de sua nova geração. Foi quando Sailor Moon surgiu, com seus
valores de liberdade feminina, representando um novo tipo de mulher que não
temia enfrentar diversos desafios que se colocavam diante seus objetivos.
O sacerdócio, embora os templos e festivais tenham caído em
popularidade, é uma função tradicional e de importante valor cultural no Japão.
Ao colocar um de seus personagens femininos com a ambição de assumir o templo
do seu avô, Naoko garante uma representação interessante da mulher da época, que
vinham se interessando cada vez mais pelo papel de liderança em templos que,
num geral, sempre foram caracteristicamente liderados por homens, com as
mulheres se restringindo ao papel servil das mikos, fosse até se casarem ou
continuamente.
Rei é bonita, elegante, decidida, pragmática, equilibrada (mas hey, eu também sou apaixonada pela
versão desequilibrada dela no anime e suas brigas frequentes com Usagi pela
atenção do Mamoru. Foi ali que eu me apaixonei mesmo) e inteligente. Lembra
muito a Naoko no aspecto de temperamento e postura. Ela também gosta de se
vestir elegantemente, tem um ar meio esnobe e é conhecida por defender
ferozmente seu ponto de vista, batendo de frente com o que considera “uma
mentalidade atrasada”.
Bem, esse foi de todos os três episódios, o meu preferido.
Ele tem um roteiro mais fluído e uma trama com uma narrativa mais forte,
equilibrando bem o timing cômico com as sequências mais sérias. E, ainda tem a transformação mais criativa e orgânica, com desenhos de uma performance inspirada. Tudo se encaixa bem, mesmo o 3DCG – ao contrário do que se vê nas transformações de Usagi e Ami,
com detalhes que denunciam a artificialidade da cena. Na parte técnica do episódio, a animação é estável, mas a
consistência do character design cai drasticamente do episódio 2 para o 3, e
olha que este já se mostrava bem abaixo do ideal. Para um anime com o tempo de
produção que Sailor Moon Crystal ostenta, era esperada uma maior consistência (o anime clássico também era altamente
inconsistente em termos de character deisgn, mãs era semanal e muitos episódios).
No mais, visualmente tudo continua lindo, principalmente o estilizado da
animação 2D. É tão gracioso que... realmente não entendo quem prefira o 3DCG
das transformações à uma envolvente sequência de segundos desenhada à mão.
Em tempo, esse início de Sailor Moon é mesmo bem fraquinho e
travado em termos de desenvolvimento e narrativa nem tão atraente, por outro
lado, é um gozo ver os personagens com suas reais personalidades e uma história
que irá se mostrar bem compactada. Rei no mangá só teve um interesse amoroso,
que não deu certo e ela nunca mais pensou no assunto, e mesmo que oficialmente
a personagem não tenha um parceiro romântico, Naoko deu um jeito de cultivar a
imaginação dos fãs, já que Jadeite demonstra um obvio interesse nela e, em ilustração
oficial do Milênio de Prata no artbook da série, a autora desenha Jadeite emparelhado
com ela. Curiosamente, no anime, Sailor Mars queima Jadeite até a morte!
HAHAHAH. Enquanto isso, a adaptação continua adaptando algumas coisas, como o fato de no mangá Rei nunca ter uma visão do Moon Kingdom. Com isso, a série se mantém coerente no que começou no primeiro episódio, que não é fazer segredo e utilizar esses flashbacks como um prenuncio, causando ansiedade nos fãs. É eficiente. :)
Trívia:
Rei faz sua primeira aparição no que seria o protótipo de
Sailor Moon, o mangá Codename: Sailor V, com o mesmo nome e uniforme escolar.
Mais tarde, antes mesmo de surgir a proposta de recriar o conceito para que
fosse adaptado em anime, se cogitou a possibilidade de um anime para o mangá da
Sailor V, onde o design conceitual de Rei como uma miko aparece pela primeira
vez, só que com o nome de Miyabi Yoruno. Segundo Naoko, essa personagem
conceitual se tornou a Rei que conhecemos. O conceito de donzela do santuário
surgiu da própria experiência da autora, quando ela atuou como miko em um
santuário de Shiba Daijingu enquanto cursava a faculdade. Ela confessa ter
transportado para a personagem muitos dos transtornos e aborrecimentos que
viveu na época ao bater de frente com o que chama de os velhos do santuário.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
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-Sailor Moon Crystal Act. 1: De Volta às Origens
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