sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Comentários: Zankyou no Terror #10: HELTER SKELTER

Um sorriso forçado enquanto o mundo a sua volta desaba. 
Um episódio carregado de melancolia. Muito apropriado ao seu conteúdo. Único espaço para o humor é o não intencional, como quando o detetive Hamura é enganado por Shibazaki, que o faz correr pela cidade atrás de uma marca de cigarro pouco conhecida apenas para não envolvê-lo num caso que poderia acabar com sua carreira.

(A direção artística acompanha o mesmo timing do texto, com as cenas aberturas sendo retratadas com um tempo fechado – que começa a ser sentido na noite do episódio anterior –, mesmos nas cenas internas há uma certa claustrofobia, já que a luminosidade não é permita entrar completamente. A paleta de cores para as cenas abertas na cidade estavam explendidas, também muito carregadas.)

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Já Shibazaki sente que não tem nada a perder. Ele já tinha perdido seu prestigio, jogado para o porão, suspenso e ameaçado de demissão. Buscando por um objetivo, a relação com sua família também fora prejudicada. A conclusão desde caso significa o fim de um ciclo para Shibazaki, o qual ele vem perseguindo há tempos. Dessa forma, podemos observar o tempo que passou nos arquivos mortos da policia, fora de circulação, como também um período em que esteve perdido; sem vida – durante sua estadia ali ele era retratado sempre preguiçosamente estirado no sofá, resolvendo palavras cruzadas no jornal, completamente desinteressado de tudo, até surgir Sphinx, que novamente deu um sentido à sua vida. É quando Shibazaki retorna ao seu posto anterior é a viver novamente.

Da mesma forma Twelve se sente desorientado quando trai Nine e acredita que não tem mais um papel a desempenhar ao seu lado. Twelve e Nine têm vivido por um único objetivo. Que é revelar a verdade por trás da Rising Peace Academy e o Projeto Atena, acordando a população para as coisas que têm acontecido embaixo de seus olhos sem ao menos se darem conta. Novamente a natureza cíclica da vida vem à tona na narrativa, onde Édipo se volta contra seu criador. Por isso que é compreensível a apatia de Twelve após salvar Lisa, bem retratado no modo como se comporta e as tentativas vãs de fugir com ela para longe de tudo que se relacione a Nine – mas ele não pode fugir de si mesmo, e embora tente, o sentimento de culpa vai continuar o infligindo. É excelente como o roteiro leva essa situação, sem cair na armadilha fácil de fazê-lo acusar de Lisa, para criar uma situação dramática desnecessária. Seria um crime e contraditório com o que vemos no episódio anterior.
Nisto, cheguei a conclusão definitiva de que Twelve não vê Lisa como um interesse sexual (ufa!), a Lisa simboliza aos seus olhos as crianças que foram deixadas para trás e como um retrato vivo dos problemas daquela sociedade, de modo que se ele abrisse mão dela, estaria igualmente se sentindo devastado. E pela segunda vez, já que eles nunca puderam esquecer as crianças que ficaram para trás e a culpa que sentiam por estarem vivos elas não.

Infelizmente, Five é a única personagem que se sente desorientada e sem um grande papel nesta narrativa. Ela poderia ser apenas um personagem de apoio, como Hamura, representando o governo americano e sem conexão com Sphinx, e seria bom – diria que até melhor. Mas ela tem uma trama que se conecta se entrelaça diretamente com a de Nine e Twelve, que no seu momento definitivo, não tem nada a dizer. O seus diálogos finais com Nine e seu obvio objetivo são francamente fracos, e se emparelhado com toda a teia de tramas de Zankyou no Terror, chegamos a conclusão de que foi um trama ruim. O que Five tem a dizer? Ela foi apenas uma mulher obcecada por um cara, que fez dele sua razão para continuar vivendo. Pior: os dilemas de Five são todos mal resolvidos pelo roteiro. Ela poderia ter escapado com os dois, mas resolveu ficar. Então passou o resto da vida perseguindo Nine (sim, Nine. Twelve foi apenas consequência), e quando finalmente o encontra, quer capturá-lo ela mesma. Ao se postar diante dele, o que ela diz? Que nunca conseguiu superá-lo, revelando que sua motivação era uma tola rivalidade sem sentido – no fim das contas, tudo o que ela queria era continuar brincando. Ao menos é o que se subtende desta caracterização tão medíocre quanto a de Misa Misa em Death Note; a de Misa Misa ainda tem um sentindo e se pode tirar uma leitura interessante dali. Já Five foi apenas uma personagem confusa, contraditória, que embora tenha fisicamente crescido, se manteve na infância. Seria uma coisa realmente boa se o roteiro tivesse explorado este aspecto da personagem, fazendo com que ao menos pudéssemos acreditar na sua motivação, mas não acontece, pois não vemos nem nada sobre Five.
No fim, o único momento em que pudemos realmente sentir Five foi nestes últimos segundos finais ao se encontrar frente-a-frente com Nine. Seu sorriso é triste e percebemos como a sua existência foi completamente vazia de um sentido maior até aquele momento. Teria sido excelente se o roteiro da série tivesse se preocupado mais em dar substância à personagem. Infelizmente, a trama de Five se sente inútil para o enredo global, tendo um impacto mínimo para a história – mesmo a tentativa de atrapalhar o percurso de Nine poderia ter sido desempenhada por qualquer outro personagem.

Lamentável pela história, e lamentável que a única força feminina de Zankyou no Terror tenha sido reduzida a uma motivação sem qualquer substância.

***

Por falar no Watanabe, o autor-diretor adora fazer referências culturais nos títulos dos episódios de seus animes. Em Zankyou no Terror sei de My Fair Lady do episódio 8, e deste agora. Helter Skelter é uma famosa música dos Beatles, que Paul McCartney usa como metáfora; “Eu usei o símbolo do brinquedo helter skelter como uma ida do topo para o fundo – a ascensão e queda do Império Romano – e esta era a queda, a decadência, a ida para o fundo”.

Helter Skelter é o termo pelo qual eram chamado os tobogãs na Inglaterra,  além disso, o termo pode significar um sentido de descida desordenada, sem controle (ou confusão e algazarra).

Caiu bem para a temática do episódio.

Mas quem é que estaria descendo desordenadamente, indo para o fundo – Sphinx? Ou seria a queda dos poderosos? É triste, mas tudo indica que seja Sphinx e as últimas crianças sobreviventes do projeto Atena. Faz sentindo.

O quartel que existe por trás desta organização é poderosíssimo, além de Sphinx também atrair o interesse do governo americano. O final não poderia ser mais melancólico e adequado, com Nine dizendo “Adeus”. Em seu ultimo gesto, ele leva o protótipo de bomba atômica que o governo vinha fabricando escondido para o ar, numa cena simbolicamente linda, evitando que o Japão novamente tenha sua historiada manchada pelo cogumelo da morte – é sequência, que não sei se é proposital ou não, alude ao desfecho do filme Cowboy Bebop: Knockin' on Heaven's Door. Quem viu entende.
Finalmente eu entendi o sentido de Sphinx evitar fazer vitimas fatais em seus atentados. Eles são um experimento, criados como “armas” no intuito de elevar novamente o orgulho nacional frente a outros países, manchado pela bomba atômica e subjugação americana. Zankyou no Terror referencia o contexto politico atual japonês, onde nacionalistas tem defendido veementemente o restabelecimento de forças e poder militar em solo japonês, o que é proibido segundo acordo feito durante a Segunda Guerra Mundial entre Japão e EUA, com a rendição dos japoneses. Isso resultou em um país sem um exercito nacional e diversas bases americanas em seu solo. Pelo pouco que sei, o que os nacionalistas defendem é a ruptura desta clausula e sua total “independência”, uma vez que este vínculo fere o orgulho patriótico de muitos conversadores no Japão. Zankyou no Terror utiliza o termo “individualidade”, o que é um tanto irônico para uma cultura coletivista, mas faz sentido no contexto defendido: sua individualidade significa poder voltar a ganhar um sentido próprio e independente, segundo a cartilha nacionalista. 

Enfim, Zankyou no Terror está sempre fazendo um link com o passado conturbado do Japão [sendo que a própria história em si pode ser entendida como uma alegoria sociopolítica]. Sphinx representa as vitimas feitas pelo ímpeto nacionalista (recomendo o longa animado O Tumulo dos Vagalumes/Hotaru no Haka. É um filme que expressa com maestria o ímpeto nacionalista e como ele levou à morte dezenas de vidas inocentes. É fabuloso, e triste. Experiência devastadora, você sai deste filme com um vazio no peito), Lisa a realidade de muitos jovens da geração atual, enquanto Shibazaki é o avatar que reflete todos os fantasmas do passado. Duas coisas que Shibazi disse em episódios anteriores chamam a atenção; as frequentes queixas em relação ao verão e sobre Sphinx serem considerados heróis se estivessem inseridos em outro contexto histórico. Os anos 50-60 e 70 no Japão foram intensos, em particular os 60 e 70, onde manifestações populares eclodiram nas ruas concomitantemente com a explosão da contracultura. E o verão é utilizado como uma sutil referência à Segunda Guerra mundial, a estação que ficou marcada pelo bombardeio atômico no Japão. É uma metáfora utilizada para ilustrar as sequelas deixadas em Shibazaki, uma criança nascida naquela geração.
Por tudo isto é natural que Twelve e Nine que também são vítimas do nacionalismo, evitem ferir da mesma forma que foram feridos. Suas vidas foram roubadas por um ideal, e se há algo de marcante nesta horrível despedida de Five, é o seu sorriso melancólico de alguém que não lhe fora permitido a vida plena e o fato de ser um experimento descartável com prazo de validade (ver como seu parceiro aponta uma arma para ela e a diz que seus serviços não se fazem mais necessários). O se pode tirar de tudo isto talvez esteja no emparelhamento da motivação da Sphinx com o flashback de Shibazaki num pleno verão solitário e silencioso, onde a verdade do passado de guerra japonês tem sido evitado pelas pessoas, não sendo algo retransmitido para a nova geração (achei chocante um depoimento de uma mulher, dizendo que mesmo quando era garota e vivia numa cidade não afetada pela guerra, ela passou muito tempo sem saber o que se passou na outra cidade afligida pela bomba e que mesmo quando descobriu, eram apenas detalhes superficiais).

Podemos dizer então que o título do episódio se relaciona ao seu conteúdo, onde o governo tentava novamente produzir escondido uma arma capaz de elevar o orgulho nacionalista. Era isto que Nine queria denunciar, e o faz enquanto o protótipo da bomba sob pelos are, sob a visão da população. Sphinx sendo uma vítima deste ímpeto nacionalista que não se retrai em utilizar vidas inocentes para alcançar seu objetivo, não faria sentido eles desferindo ataques fatais à vidas inocentes, a mensagem se perderia.


A decepção pela Five ainda é latente em mim, mas não me impede de apreciar um desfecho tão incrível para a premissa da história. Ainda não acabou, o que virá a seguir? Nervosamente ansiosa. 

Avaliação:  ★   ★ ★
Roteiro: Jun Kumagai
Storyboard: Michio Mihara
Direção auxiliar: Masahiro Mukai
Diretor: Shinichiro Watanabe

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