Ou: E encarnação de um deus grego!
Narrativamente, é interessante e agradável como o texto deste episódio cria um link temático entre a motivação megalomaníaca de Gilgamesh e a simplicidade das razões de Assassin para continuar empunhando a sua espada – acredita-se que ele aguardava esperançosamente exatamente um último momento com Saber; única personagem com a honradez e o orgulho capaz de despertar-lhe uma faísca, no sentido de que uma existência vazia de essência tem um raro momento de humanidade plena em que não se comportara como uma mera ferramenta – é importante considerar que embora os contratantes enxerguem os servos como meras ferramentas para obter o Graal, eles têm sua própria razão para aceitar se submeterem a criaturas inferiores; as condições que envolvem a convocação de Kojirou são diferentes, como salientado no episódio. Sua criação é sustentada pela abrangência do que dá forma aos espíritos heróicos, considerando que a criação do mito no imaginário de outrem é suficiente para que sua existência seja validada.
Enquanto o falso Kojirou encontra uma razão simplesmente emocional que dê sentido a sua existência, Gilgamesh como um semideus se sente solitário – como haveria de se esperar de alguém com tamanho poder e conhecimento; o trono é um local solitário, devemos nos lembrar – e entediado. Naturalmente ele é o que se chama de um “peixe fora d´água”. Gilgamesh só pode ser Gilgamesh em um contexto próprio. Como criaturas sobrenaturais que se tornam tangíveis diante à crença que possuem nelas. E acaba que a alta densidade cria obstáculos na sustentação dos mitos. Conseqüentemente leva a outros fatores que não são favoráveis à crença nas divindades, e assim, a extinção de uma Era onde deuses são soberanos.
Essa motivação de Gilgamesh é um tanto mais vaga no original, e o script do anime é bom em compreender melhor esta faceta que é plenamente plausível numa figura mitológica como a de Gilgamesh. Não importa o quanto ele desfrute das maravilhas deste mundo atual, ele logo se encontrará entediado, afinal ele não é alguém que se satisfaz em apenas se misturar em meio à multidão, afinal de contas ele não é apenas mais um; ou ao menos, ele não se sente assim. O discurso filosófico de Gil e toda a cena nova dos desejos que alimentam o Graal fazem parte de uma expansão original, mas que poderiam estar no próprio original, por serem conceitualmente complementares. Contudo, na prática, essa nova interpretação é uma antítese para a interferência de um Archer extracorpóreo que age como um protetor de Shirou com seu Rho Aias – essa interferência do “além” sempre foi polêmica entre os fãs do original, criando uma polaridade dissonante de opiniões. Cá entre nós, acredito que a nova interpretação é a melhor, pois ter Archer interferindo no mundo material depois já ter se dissipado sempre me soou absurdo, mesmo com a justificativa posterior (inclusive isso praticamente confirma um desfecho diferente para aqueles que só assistiram as animações da franquia).
A mudança foi para melhor em todos os sentidos, principalmente em termos de apreciação visual. Os efeitos gráficos da EA ficaram magníficos (e devem ser ainda melhores na versão BD), assim como todo o espetáculo em torno da combustão do Graal. Essa interpretação também se estende em relação ao papel de Rin, embora talvez ainda seja cedo para afirmar qualquer coisa, no resgate à Shinji, já que ela precisa contar com o auxilio do Archer metafísico. Contudo, aqui, seu trajeto é simplificado por demais e seu resgate à Shinji soa como uma brincadeira de criança que em nenhum momento consegue transmitir qualquer sentido de perigo ou desafio, pois simplesmente não há nenhum obstáculo real. Diante disto, é impossível não se indagar: se os tentáculos do Graal procuraram Gil a procura de um recipiente, porque diabos deixaram que Shinji fosse arrancado com tamanha facilidade do seu núcleo? Falta bastante de coesão nesta proposta.
Sempre achei muito idiota a Rin indo salvar o Shinji, mas se você escreve mocinhos tradicionais, o que se espera deles são realmente este tipo de atitudes clássicas atribuídas à trope, embora a ação impulsiva de Shirou em adentrar no manto de maldições sem nenhuma proteção ou garantia é mais do que imprudência, é pura estupidez de um personagem que é mesmo tão estúpido quanto um protagonista de battle shounen clássico. Ao menos em Rin, há um pouco de lucidez e legitimidade, afinal de contas, para ela seja Shinji o escroto que for ele ainda é o irmão de Sakura – e nem em sonhos ela pode cogitar o que isto significa sem viver a Heaven’s Feel.
A luta entre Saber e Kojirou não obteve toda a gloria que o momento pedia, e se mostrou inferior ao primeiro embate, ainda assim ver a postura poeticamente melancólica do guerreiro etéreo soou bastante pungente. Não reclamo do tempo de duração da luta, mas da ausência de sequencias animadas que provocassem certo impacto. Bom, claro que o desenho da coreografia entre os personagens foi bonita e eficiente, mas é o diálogo e a postura charmosa do personagem que acaba seduzindo mais que a ausência da urgência visual que tanto denotou diversos desfechos de Zero. Mas por agora chega, levarei os efeitos devastadores da EA no meu peito, e aguardo ansiosa por ver muito mais disto. Por enquanto, nada mais que especulação é possível quanto ao desfecho, pois as brechas deixadas nesse episódio podem afetar significativamente seu final.
Avaliação: ★★★★★
Staff do episódio:
Roteiro: Kazuharu Sato
Diretor do episodio: Takahiro Miura, Masashi Takeuchi
Storyboard: Takahiro Miura
Direção de Animação: Takuya Aoki, Miyuki Ishizuka, Tetsuto Satou
Direção: Takahiro Miura
-KYAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH altamente masturbável! Eu poderia passar o epsiódio inteiro apenas escutando a voz do Tomokazu Seki e ainda seria o melhor dos prazeres!
-MELHOR MOMENTO do episódio! Pena que o Shirou é igual barata...
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