sexta-feira, 17 de junho de 2016

Séries Que você Precisa Conhecer: Over the Garden Wall

Eu andei assistindo uma série encantadora que se chama Over the Garden Wall, caras. Realmente encantadora e apaixonante. A coisa mais mágica e inspiradora que assisti nos últimos tempos (e olha que vi algumas coisas extraordinárias, como Anomalisa). Dei uma olhada em dois episódios, tropegando de sono sob a coberta, e na madrugada maratonei tudo em um fôlego só – e pareceu ser um gesto bastante natural de minha parte. Afinal, com Over the Garden Wall assistir o próximo episódio parece ser tão natural como respirar. 
Toda essa introdução é para dizer que amo essa série como uma das coisas que mais valeram a pena conhecer e se este fosse meu último post neste blog, ficaria absolutamente satisfeita em encerrar falando sobre isso.

Over the Garden Wall (a partir de agora OtGW) oficialmente é reconhecido como O Segredo Além do Jardim, aqui no Brasil, mas que literalmente significa Além da Parede do Jardim – e isso fará todo o sentido no último e emblemático episódio da série, assim como vários outros mistérios, tramas e conexões entre diversos personagens que se cruzam durante o caminho. É a primeira minissérie do Cartoon Network, fechada em apenas 10 episódios com média de 11 minutos e pode ser encarado como um experimento ousado para o horário nobre das 19 horas, no qual foi exibido em 2014 com episódios duplos durante uma semana. 

Acompanhamos os irmãos Wirt (Elijah Wood) e Greg (Collin Dean) que viajam através de uma floresta estranha e obscura repleta de mistérios, para encontrar o caminho de volta para casa – recebe influências indiretas de Alice no País das Maravilhas e Chapeuzinho Vermelho, mas a gente vai se lembrar mesmo é de Caverna do Dragão; e novamente, ao final, essa impressão ficará cada vez mais forte no sentindo de que o autor da obra segue a filosofia de Shinichiro Watanabe, na crença de que o universo de uma obra deve ser fechado com brechas suficientes que permita às pessoas sonharem e levarem aquilo consigo pelo resto de suas vidas. 
O enredo enigmático de OtGW encanta a partir do momento que percebemos que mesmo personagens de fundo tem um papel significante no cenário geral, com uma narrativa que conta com tramas paralelas que se cruzam em todos os episódios, que parecem não se conectarem, e talvez por isso se tornam ainda mais instigantes. O que diabos está acontecendo? é o sentimento que vem à tona durante os episódios. Durante a jornada de nossos heróis os aliados nunca são fixos, há uma iminente sensação de perda e despedida – de se estar perdido e sozinho no universo, um sentimento de abandono crescente e de que não se deve confiar em ninguém. No entanto, algumas figurinhas se tornarão notáveis para nossos desbravadores do desconhecido; o Lenhador “woodsman” (Christopher Lloyd), um velho suspeito e ameaçador sempre a andar com uma lanterna acesa imerso na escuridão, que parece estar sempre tentando ajuda-los, mas acaba sendo nocauteado todas as vezes. 

Mas é compreensível, já que ele parece um louco com problemas psicológicos sérios, sempre repetindo para que tomem cuidado com uma entidade conhecida apenas como “A Besta” (Samuel Ramey). Essa ameaçadora e desconhecida Besta aos poucos vai ganhando forma, embora mais em termos de uma atmosfera aterradora e misteriosa do que exatamente física, já que está sempre imersa na escuridão e jamais vemos claramente sua aparência, a não ser por breves milésimos de segundos por meio de um raio que corta a escuridão em um episódio chave. Traz uma inevitável reminiscência dos filmes de terror clássicos onde raramente víamos a forma do monstro, mas sim apenas a sua alusão, o que o tornava ainda mais assustador em nossas mentes. 
Por isso me lembrou bastante o suspense inicial de Shiki, em que uma espessa apreensão permeava o ambiente do pequeno vilarejo onde acontece a história. De que há algo de mal acontece, mas não sabemos exatamente o que. Isso se traduz belissimamente através das perspectivas dos personagens, apesar de a gravidade das circunstâncias em OtGW ser quebrada invariavelmente em atitudes contradizentes dos personagens – e essa é parte da graça que constitui o humor gótico da série em algo tão brilhante e sensível. O texto tem características irônicas e cínicas que deixariam Machado de Assis empolgado, mas também há um nível substancial de autodepreciação, na perspectiva de Wirt, que deixaria Shinji Ikari com inveja. Isso sem perder a sofisticação para a escrita que as crianças apreciam, apesar de que parte do humor se perderá para elas, ainda há um apelo genuinamente infantil. 

É no segundo episódio (se desconsiderarmos o episódio zero) que conhecemos a ácida e apaixonável Beatrice (Melanie Lynskey), um passarinha azul – que nos EUA é considerado como sinal de boa sorte – que se une ao grupo e promete leva-los a uma pessoa que poderá fazer com que eles voltem para o seu mundo. No Inferno de Dante, Beatrice é um guia com uma aura azul que leva Dante através do Limbo. Em OtGW, Beatrice leva Wirt e Greg através do desconhecido, um análogo de Limbo. Desconhecido, aliás, é como é conhecido todo aquele universo, aquela floresta sem fim, e quando se fecha a série é possível se ter uma ideia do que por que. 
Como diz no piloto da série, em algum lugar perdido nos anais movimentados da história está um lugar que poucos viram. Um lugar misterioso chamado de o “desconhecido” onde as histórias há muito esquecidas são reveladas para aqueles que viajam pela floresta. Os muros altos que separam a alta fantasia da realidade é um simbólico ritual pelo qual todos passamos da adolescência para a vida adulta. Na ficção, essa fronteira é muitas vezes representada pelo espectro da morte ou ritual de despedida, aquela força necessária que nos leva ao outro lado do muro. A maturidade significa dizer adeus a um universo, que é o estado infantil, mas a jornada para além dessas barreiras – o mundo adulto – é muito mais espinhosa e confusa, são caminhos desconhecidos. A resposta dificilmente é a mais feliz e depende muito de como encaramos esta jornada e dos sacrifícios que estamos dispostos a fazer, como descobriu amargamente a Alice do brilhante Alice Ou a Última Fuga (1977), um dos momentos impares de epifania da carreira de Claude Chabrol. (continuo o raciocínio na segunda parte com spoilers).

Assim como nos contos dos irmãos Grimm, OtGW reflete o quão sombrio os contos de fadas podem ser, repletos de metáforas da vida e lições importantes a se tirar de situações assustadoras que no fundo são um dispositivo de alerta em um narrativa de fantasia surrealista. Os visuais são absolutamente deslumbrantes. As madeiras parecem estar em seu pico de outono com as cores vibrantes subjugadas pela aura mais escura que permeia todo o ambiente. Sim, ainda é caricatural, mas de uma maneira em que uma fantasia ingênua de Hayao Miyazaki repleta de sonho pode se transformar em um pesadelo aterrador mais rápido do que uma piscadela.
o existencialismo de OtGW desponta até em suas música
OtGW combina alta fantasia, humor gótico, e as sensibilidades de uma fábula Vitoriana em um pacote extremamente imaginativo. Criada por Patrick McHale, que já teve envolvimento criativo em coisas fodas como Hora da Aventura (Adventure Time), a série é uma masterpiece de feliz harmonia entre forma e conteúdo – a trilha sonora com toques de melancolia e obscuridade é incrível e eu quero pra mim, e as interpretações dos dubladores dos personagens é apenas fantástica, um dos melhores conjuntos que já tive o prazer de apreciar – juntamente do elenco da visual novel de Umineko no Naku Koro ni. É daquele tipo de série em que a presença onisciente do narrador faz toda a diferença e o tom empregado é como se fossem nossas vozes internas ganhando forma. Em especial Elijah Wood e Collin Dean como os protagonistas Wirt e Greg, e Melanie Lynskey como a Beatrice, em performances deslumbrantes e para sempre inesquecíveis. Assim como OtGW.

PARTE II – Spoilers

“...E assim a história está completa, e todos estão satisfeitos com o final. E assim por diante, etc.,e ainda além da parede do jardim...” – Narrador

Como o vento suave 
Acena através das árvores
Enquanto caem as cores de outono
Dançando em um turbilhão
De memórias douradas
As mentiras mais amáveis de todas
As mais amáveis... mentiras... de todas ♪

O enigmático e belo blues de In The Unkown, insert song que encerra a série de OtGW agridocemente, e o tom cínico e sarcástico do narrador ao fim tem a capacidade de explodir nossas cabeças a despeito de todo o final feliz que vemos na tela. Foi tudo mentira? Eles morreram? O Greg se sacrificou mesmo para que Wirt pudesse viver? Wirt está delirando? O final feliz é apenas uma farsa para deixar as pessoas ingênuas felizes?

Claro que cada um pode acreditar no que quiser, há ingredientes suficientes para isso. Mas é curioso como nosso cérebro parece sempre fascinado pelo final mais trágico possível e facilmente nos deixamos levar. No entanto, o que OtGW sugere não é tão simples. Aliás, é sim. Para isso, mais do que olharmos para entrelinhas, basta entender sobre o que a série fala e qual a sua mensagem final. 
A história é estruturada em mentiras – que contamos para os outros e para nós mesmos a fim de justificar nossos atos e incapacidade de lidar com paredes que se erguem diante de nós – e falsas aparências; a forma tola com que nos deixamos enganar por ingenuidade, esperança, por não acreditarmos em nós mesmos, por pautarmos a credibilidade a aparências. A filha do Lenhador não estava morta como este acreditava, era uma mentira da Besta – uma mentira frágil, mas fácil demais de se crer para o coração de um pai onde a morte é a sombra mais nefasta à volta de um filho. Ironicamente, Beatrice que é um pássaro azul da boa sorte, estava usando Wirt e Greg para resolver seus próprios problemas e levando-os para a má sorte, ao ponto de acreditar em promessas frágeis de alguém não confiável. A sobrinha da bruxa Autnie Sussurro (Tim Curry) não era tão doce como aparentava e a bruxa não era maquiavélica como se supunha. Entre outras coisas. 
Há uma grande ironia latente em como Jason Funderberker (Jack Jones), suposto rival amoroso de Wirt, ser como é, um garoto todo desarticulado [e apesar de rico e bem trajado] sem a menor chance com o interesse romântico de Wirt – que logo percebemos nitidamente ser caidinha por ele. Ou seja, ele nunca foi um rival a altura. O subconsciente de Wirt inventou uma mentira para justificar o seu medo e consequente fuga. Porque tudo isso é um universo novo e desconhecido para ele, e a baixa-autoestima é estimulada em nós por uma voz interior altamente influente que se manifesta a todo momento e tem o poder nos paralisar em situações que fujam de nossa zona de conforto, através de personas tais quais a do reclamão; generalista, comparador, catastrofista ou a do leitor de mentes. Cada uma dessas vozes internas únicas insulta você ou assume que as outras pessoas estão pensando o pior de você. Isso nos faz fugir e inventar desculpas/mentirinhas brancas que justifiquem e nos deixem confortáveis com esta fuga repleta de medos, duvidas e confusão. 

É como quando você tem distúrbios alimentares, se olha no espelho e é incapaz de ver a realidade. Inclusive, fugir é o que Wirt fez a vida toda. Com dificuldades de lidar com o novo casamento da mãe, ele se fechou dentro de si mesmo, e apesar de não maltratar seu meio-irmão caçula, seu desprezo vem através de atitudes agressivo-passivas como a indiferença. Em determinado episódio, Wirt expõe seu rancor à superfície ao se referir a Greg friamente como “meio-irmão” fruto de um outro casamento de sua mãe com um outro cara, um usurpador. Mas Wirt não é mal. E ele gosta de Greg. Só que todos nós temos esses sentimentos paradoxos dentro de nós por pessoas que nos são muito próximas. No entanto, Wirt passa de um ponto em que ele não consegue mais lidar com isso da melhor maneira, e nem consegue voltar ou seguir adiante, ele apenas fica “parado”. Esse episódio em questão é o ponto máximo de seu conflito, onde Wirt atinge seu limite e sua inercia acaba propiciando que seja envolvido pela Besta. Se transformar numa árvore é a metáfora para sua atrofia. 
Greg, porém, o salva através do amor puro e ingênua de uma criança. É partir daí que Wirt se arrepende e, ao romper seu estado de inercia, se redime e alcança a maturidade. Em qualquer outra obra abertamente voltada para adultos, a morte de Greg poderia ser facilmente um artificio catalizador, utilizado como gatilho de crescimento para empurrar os personagens para a vida adulta, como tem sido feito em diversos filmes e seriados americanos, mas em OtGW ela não é necessária nem como subtexto já que o ponto não é foder a mente do pobre Wirt e deixa-lo imerso num oceano de culpa e delírios pela vida toda. A simples aproximação da perda definitiva e do imediatismo da morte é o suficiente para fazer com que Wirt desperte daquele sentimento de culpa por nunca ter sido um bom irmão mais velho ou fonte de inspiração (aqui esse sentido é análogo à capacidade de liderança) para Greg, e enfim assume suas responsabilidades e para de fugir. 
O humor gótico de OtGW tem uma maturidade que fala diretamente ao publico adulto. Então, podemos encarar o que o narrador diz ao fim, “...E assim a história está completa, e todos estão satisfeitos com o final. E assim por diante, etc.,e ainda além da parede do jardim...”, como uma provocação, já que é exatamente o tipo de desfecho que o publico moderno espera de uma obra, ao contrário do que era comumente nos desfechos dos contos de fadas folclóricos antigos, em que o final era usualmente trágico. Contudo, embora as coisas no mundo real nem sempre acabem bem e a lição seja mais amarga do que doce, está tudo ok fugir um pouco dessa realidade para um mundo mágico de fantasia. 

É o que está indiretamente implícito. Ou talvez, não tão indiretamente assim, já que logo no primeiro episódio a canção Into the Unkown diz “Se os sonhos não podem se tornar realidade, então porque não fingir?”. Isto também implica diretamente sobre Greg e sua ingenuidade infantil de sempre acreditar em tudo e aproveitar mesmo os momentos ruins para se divertir. Para ele tudo não passa de uma grande aventura. Talvez a grande lição seja a de que manter um pensamento positivo para tudo e aproveitar mais o que a vida lhe tem a oferecer mesmos nos momentos ruins, afinal, a morte é o ponto final de uma jornada. No fim das contas, é Hakuna Matata. 
Em tempo, mesmo a viagem ao desconhecido (uma aparente metáfora sobre o estado de inconsciência de Wirt e Greg), com o passar do tempo e a medida que envelhecem, será encarada por eles com descredito, fruto de uma fantasia ou a mais bela mentira. Há esse fabulesco tom nostálgico que sublinha a produção e a perda da inocência. É como se a capacidade para ver o mundo com outras cores fosse restrito à infância. O que de certa forma justifica o apelo charmoso que OtGW tem para com os adultos.


Led through the mist,
By the milk-light of moon,
All that was lost, is revealed.
Our long bygone burdens, mere echoes of the spring,
But where have we come, and where shall we end?
If dreams can't come true, then why not pretend?
Oh how the gentle wind,
Beckons through the leaves,
As autumn colors fall.

Somewhere lost in the clouded annals of history,

Lies a place that few have seen.
A mysterious place, called The Unknown.
Where long-forgotten stories are revealed to those who travel through the wood.)
Dancing in a swirl,
Of golden memories,
The loveliest lies of all,
The loveliest, lies of all.

Nota: 10/10
Fonte: Original
Argumento/criativo: Patrick McHale
Direção: Bert Youn
Direção de Animação: Robert Alvarez, Larry Leichliter, Eddy Houchins, Ken Bruce
Direção de Arte: Nick Cross
Estúdio: Cartoon Network Studios
Episódios: 10 + Episódio 0
Duração: 10min média

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