domingo, 13 de janeiro de 2019

Chihayafuru - Parte 2 (live action)


Saudações do Crítico Nippon!

Chihayafuru vem se consolidando como uma de minhas trilogias favoritas de todos os tempos. E trilogias fenomenais não faltam no Cinema. Espero poder escrever isso com propriedade ao assistir o capítulo final. Até o momento, o talentoso diretor Norihiro Koizumi parece ter compreendido perfeitamente o que funcionava ou não no original, aprimorando ainda mais para a linguagem cinematográfica. E após dedicar toda Parte 1 a conhecermos muito bem a relação entre todos, poderia finalmente cair na mesmice do original de enfiar adversários sem parar. O que não é o caso, estabelecendo novos conflitos internos, sem repetir qualquer fórmula já usada no anterior, é uma continuação direta e progressiva do desenvolvimento de todos.




A história segue acompanhando o clube de karuta Mizusawa, estabelecendo objetivos diferentes para seus membros. Taichi quer vencer determinadas competições para ser um jogador classe A; Komano e Kana precisam ficar mais fortes para acompanhar o grupo nas competições mais avançadas; e Chihaya fica deslumbrada ao tomar conhecimento da rainha do karuta, Shinobu, passando a treinar exclusivamente para enfrentá-la. Por trás disso, os dois amigos de infância tentam convencer Arata a voltar para o karuta, afinal ele foi o responsável por apresentar aquele jogo a eles.


Sem perder tempo em reunir os 3 companheiros de infância, o filme já começa com este encontro. É possível compreender os motivos de Arata em seu luto, muito mais do que nos numerosos episódios do original. Além de ser plausível eles não saberem lidar direito uns com os outros após tantos anos sem convivência. Mas nem por isso deixam de ter alguma interação no filme. Após ser derrotado em algumas partidas (diferente das enfadonhas inúmeras vitórias do anime), Taichi vai pedir conselhos para Arata, salientando um pouco daquela amizade e respeito mútuo. Até mesmo Chihaya mantém uma misteriosa relação à distância com ele. Ou seja, o filme não simplesmente isola Arata em um canto, mas os mantém conectados cada um a sua maneira.


Criando uma nova relação (e talvez a mais interessante) entre Arata e a rainha Shinobu, alguns dos melhores momentos do filme são com eles. A atriz Mayu Matsuoka evita colocar Shinobu na vala comum de vilãs, e trás contornos meigos (a reação com a toalha) e genuína admiração por Arata e seu avô. E o garoto aceitar jogar com ela em pleno velório, algo que não se sentiu à vontade com Chihaya e Taichi, diz muito sobre a relação entre ambos. Além de talvez ser a partida mais empolgante do filme, em pleno primeiro ato.


Por sua vez, Mackenyu como Arata constrói um personagem que, mesmo parecendo carregar o peso do mundo nas costas, transparece uma serenidade que o torna amigável. Ora inseguro precisando de ajuda, e ora ajudando na insegurança alheia, Arata é um personagem complexo e que evoluí gradativamente, sem reviravoltas grandiosas da noite pro dia. Mas também não ficando num luto eterno imutável. É um equilíbrio delicado conduzido com maestria. 

 

Contudo, é mesmo o time Mizusawa que carrega o coração destes filmes. O calor no peito ao rever esses adoráveis jovens é a maior prova do quanto estes filmes funcionam. Tendo dificuldades em treinar devido ao barulho do clube de banda, as gags envolvendo essa situação são sempre eficientes e inusitadas, surgindo quando menos esperamos. E assim como a Parte 1 contava com montagens inspiradas, esse segue da mesma forma, encontrando tempo para fazer nossos personagens dançar e aproveitar a música. Talvez seja o momento mais engraçado do filme, que já conta com diversas sequências divertidas.


Inteligente ao trazer conflitos entre Taichi e Chihaya, com discussões (pasmem) absurdamente maduras e ponderadas, em que entendemos ambos os pontos de vista, nos colocando ao lado dos personagens em situações delicadas. Sem esquecer os demais membros do grupo, o diretor ainda coloca na mesa como esses desentendimentos afetam os colegas. Afinal, eles também estão na história e querendo o melhor para o time. Isso traz espaço para o grupo amadurecer de forma tocante, sem precisarem depender de gritos e choradeiras artificiais (cof anime cof).


Esta Parte 2 ainda traz mais aprendizado sobre o karuta, ensinando técnicas novas de posicionar as cartas contra canhotos. E aproveita o personagem de Sudo, o líder do principal time adversário do filme anterior, que já temos alguma conexão, ao invés de enfiar algum novo rosto (como o original fez incontáveis vezes). Resgata detalhes do anterior, como Chihaya colocando o cabelo atrás da orelha para ouvir melhor. E a técnica sem som da rainha que é executada, realmente, com ausência de som, criando um efeito mágico hipnotizante em todas as suas jogadas.


Novamente com a fotografia exuberante em suas cores quentes, essa Parte 2 segue contagiante em sua juventude. Até o flashback de Arata e seu avô parece um sonho idealizado devido aos cenários belíssimos. Chegando a um clímax crescente de forma incrivelmente disciplinada e contida, temos várias partidas intercaladas por inúmeros acontecimentos e conversas importantes. E são esses longos respiros que jamais permitem tornar os jogos cansativos. Assim, quando o filme mergulha de vez nos movimentos ininterruptos na reta final, estamos com fôlego total (mesmo tendo passado já uns 40 minutos naquele torneio). Sequer percebemos de tão impecável a direção de Norihiro Koizumi. 

 

A força de Chihayafuru Parte 2 pode ser constada quando o alegre e esforçado Nishida está enfrentando a rainha, e ao fazer um movimento chave, vibrei como um louco aqui. Não foi pela Chihaya, Taichi ou Arata. Mas por um dos demais colegas. Ou quando Komano está frustrado por ter perdido uma carta, e Kana mostra que ela conseguiu, e o garoto imediatamente muda de expressão, feliz pela companheira. São esses pequenos gestos, de personagens “menos importantes” (só que não), que acabam nos tocando com uma força surpreendente. Encerrando de maneira ainda mais empolgante que o anterior, não vejo a hora de reencontrar estes queridos amigos na Parte 3. Embora eu não queria ter que dizer adeus a essa garotada tão animada e apaixonada pelo que faz.

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