segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Chihayafuru - Parte 1 (live action)


Saudações do Crítico Nippon!

Ao escrever sobre o anime de Chihayafuru, salientei que “entendendo inicialmente (e apenas inicialmente) que a força do anime consiste em seus personagens e nas relações entre eles, não nas disputas de um jogo tão monótono”, pelo visto o diretor Norihiro Koizumi entendeu isso perfeitamente. Soando como um filme por si só, não uma adaptação que exigiria conhecimento prévio (algo que 90% dos live action soa), esta Parte 1 traz energia, cores e alegria a um universo que eu pensei que já conhecia, revelando-se uma experiência completamente nova. E no processo, se consolidou como meu live action favorito ao lado de Speed Racer.



Acompanhando a formação do grupo Mizusawa de karuta, uma espécie de jogo da memória com esteroides, o diretor dedica grande parte de suas quase duas horas em realmente nos apresentar aquele grupo. Com um primeiro ato focando na relação de Chihaya e Taichi, redescobrindo sua amizade de infância, somos cativados pela paixão da garota instantaneamente. Enquanto testemunhamos seus esforços em recrutar membros para o clube de um jogo de cartas aparentemente tão monótono.


Já Taichi se revela um rapaz compreensivo e alegre, mas que há mais por trás daquela relação passada com Chihaya. Ora soando como ciúmes dela com o Arata, e ora como um ressentimento velado por ver o amigo ser melhor que ele no jogo. Dando pistas para tornar os dois mais complexos, ouvimos sobre seu alto desempenho esportivo e popularidade com as garotas, assim como Chihaya ganha a companhia de fones de ouvido e um celular para ajudá-la ler as cartas enquanto treina, que a tornam mais real. 


Inteligente ao não mergulhar o filme em enfadonhos flashbacks do trio de amigos crianças, o diretor coloca pequenos vislumbres deles, apenas para mostrá-los recitando os poemas do jogo enquanto brincam na neve. E, claro, pra dar algum peso ao Arata, cuja versão adolescente tem um tempo bastante reduzido nessa Parte 1. Sempre mantendo a história fluída, focada no presente, Norihiro traz uma energia fresca que faltava ao anime. Mergulhando o filme em uma paleta de cores quentes, tirando-os daqueles ambientes marrons e burocráticos do anime. A cerimônia de abertura do campeonato, por exemplo, é ao ar livre, e percebam a beleza do lugar que os cerca. Assim como a sede do clube na escola repleta de objetos que lhe dão vida. Ou o passeio que fazem observando o Monte Fuji, exalando juventude e alegria naquele cenário. Ou mesmo à noite, com as luminárias vermelhas e douradas ao redor de Taichi.


Talentoso ainda em criar gags, como a porta do terraço que sempre se fecha; ou Komano entregando sua carta de admissão e demissão ao mesmo tempo; ou o recrutamento de Nishida, Komano e Kana, em uma montagem paralela divertidíssima. Aliás, o filme conta com várias sequências dinâmicas do grupo treinando fisicamente e, no processo, estreitando laços. E minha favorita talvez seja aquela em que todos estão treinando o movimento com as mãos em seu dia a dia, e Chihaya acaba levantando a mão sem querer para responder a professora; e Nishida acaba chamando um táxi com a mão estendida idem. Toda essa leveza ainda encontra momentos para Taichi e Kana conversarem enquanto admiram Fuji; Chihaya salientar a importância de Komano; Nishida e sua personalidade extravagante; Komano incentivando o grupo; o grupo incentivando Komano. São várias combinações que servem exclusivamente para nos importarmos com cada um deles e vermos todos interagindo com todos.


Assim, quando os personagens vestem as roupas propostas por Kana, o time já está mais unido que nunca, e as vestes extravagantes só complementam essa união. Norihiro ainda é elegante em suas transições, ao cortar do time enfileirado jogando, para o mesmo time em casa fazendo atividades domésticas. E quando Arata e Taichi se encontram adolescentes pela primeira vez, uma barreira simbólica e real é enquadrada entre os dois. 


Com um elenco afiado, Yuki Morinaga interpreta Komano não como um engessado nerd de óculos, mas como um personagem complexo que ora incentiva os companheiros, ora quer ficar sozinho, ora dá gostosas gargalhadas enquanto corre. Yuma Yamato, como Nishida, exala companheirismo, bom humor e traz um calor importante ao grupo, refletido nas suas roupas de cores quentes. Já Mone Kamishiraishi como Kana traz doçura e uma delicadeza contrastante com a de Chihaya, além de acrescentar um respeito admirável a um jogo de, bem, poemas. E enquanto Mackenyu faz o que pode com seus poucos momentos em tela como Arata, ao menos se mostra um garoto de modos calmos, mas nem por isso menos simpático (algo que sempre faltou em sua versão original). Shuhei Nomura traz companheirismo e alegria a Taichi, mesclando com moderação momentos de seriedade, força e determinação. E, finalmente, Suzu Hirose como Chihaya, esbanjando espontaneidade, inocência e garra, sem cair na choradeira desenfreada de sua versão anime.


Desta forma, assim como o filme, só agora sinto necessidade de falar algo sobre o jogo em si. Mostrando treinos e partidas repletas de energia, o impacto dos movimentos no tatame tornam tudo muito mais empolgante (e as cartas enfiadas nas paredes). Além de aprendermos as regras, posições específicas, como o “Jogo fatal”, e maneiras de driblar o bloqueio adversário. E a habilidade de Arata que chega a acertar duas cartas, uma de cada lado, é realmente chocante (servindo pra duas coisas: tornar o jogo mais empolgante e para criar expectativa no personagem). E, mais importante, não cometendo o erro do anime em enfiar adversários sem parar, tornando enfadonho e diminuindo o impacto dos embates. Ao invés disso, focam em apenas um time adversário específico (os de camisa vermelha), e funciona maravilhosamente bem.


Revelando-se um longa incrivelmente vigoroso e contagioso em seu entusiasmo, lembrei bastante de Bakuman, cuja proposta também era essencialmente parada (pessoas desenhando mangá). Permitindo que o filme passe duas horas voando e sem nunca soar melancólico ou reflexivo demais (sério, um milagre numa adaptação live action de anime), é um contraste gritante para os abomináveis filmes shonen, como Fullmetal Alchmist, Blade a Lâmina do Imortal e Bleach. Agora é correr atrás das Partes 2 e 3 também comandadas pelo mestre Norihiro Koizumi. Este que me fez redescobrir Chihayafuru encantado, mesmo após acompanhar duas temporadas. Nas mãos de um diretor talentoso, tudo é possível. 



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