domingo, 7 de julho de 2019

The Promised Neverland (2019)


Saudações do Crítico Nippon!

Facilmente um dos melhores animes do ano, The Promised Neverland é de tirar o fôlego de minuto a minuto.

(contém alguns spoilers básicos, mas o mínimo possível)



No ano de 2045, somos apresentados a um orfanato que abriga crianças com no máximo 12 anos. Conhecemos a Mamãe, encarregada de todas elas, acompanhamos suas atividades, suas esperanças de serem adotadas, e as provas que as crianças fazem para medir o que seria uma espécie de QI. As crianças jamais saíram para o lado de fora, confinadas em uma área com campos e florestas e zonas proibidas que sempre foram respeitadas por todos. Contudo, logo descobrimos a terrível verdade junto com os pequenos heróis: o orfanato serve apenas como uma fazenda para criar alimentos – vulgo, as crianças - para os demônios que governam o mundo lá fora. Cedo ou tarde, chegará a vez de todos terem uma morte dolorosa para alimentar estes seres misteriosos.


Dirigido por Mamoru Kanbe (o mesmo de Elfen Lied \=^_^=/) com uma maestria de dar inveja a inúmeros animes. Não perdendo um segundo sequer para enrolações, os protagonistas Emma, Norman e Ray imediatamente começam a elaborar uma série de planos para fugirem daquele orfanato. O que inicialmente é hilário devido ao tamanho e a idade do trio (11 anos), proferindo frases complexas como “Com base na tecnologia humana, eles provavelmente usam ondas de rádio”. Porém, logo nos acostumamos e mergulhamos de cabeça nas estratégias dos pequenos que deixariam Light Yagami e Lelouch Lamperouge extremamente orgulhosos.

 

Justamente por fazer seus pequenos heróis tão metódicos e perfeccionistas, os obstáculos vão surgindo um atrás do outro para pôr a prova esta capacidade toda. Primeiro com o muro além da floresta, a bússola rastreadora, a Irmã assistente, traidores no grupo, e assim sucessivamente, sem dar qualquer descanso aos protagonistas. Exigindo o raciocínio rápido de absolutamente todos os envolvidos, o anime adota um ar sombrio desde o início. Aliás, o primeiro plano do orfanato, quando sequer sabíamos de nada ainda, o enquadra esmagado por arbustos em cima e embaixo. Ao invés de nos permitir observar aquela paisagem bonita, temos uma visão à espreita, como se alguém observasse de longe. Isso gera um desconforto, mesmo que não saibamos dizer a princípio por quê.



Aliás, a direção de arte é absolutamente brilhante. Colocando as crianças sempre iluminadas por lampiões e luzes marcantes, que salientam as sombras ao redor, ocultando possíveis perigos. E seus corpos diminutos nos corredores sombrios do orfanato constantemente deixam o espectador grudado na cadeira. Aliás, há um momento em que a Irmã assistente sai do quarto da Mamãe após uma conversa dolorosa e ela é enquadrada da mesma forma oprimida que as crianças, seguindo a lógica maravilhosamente bem. Há também um dos momentos de maior sofrimento aos heróis, que enquadra Emma absurdamente espremida entre o vão das escadas, refletindo seu sufoco. A residência, aliás, facilmente adota um aspecto de cores mal assombrada, seja na noite ou em dias nublados. E mesmo quando estão conversando de dia, no bosque, a câmera parece se esconder entre os arbustos, tornando o clima sempre apreensivo. Os sons diegeticos também são destaque, e há uma longa conversa em um quarto escuro acompanhada por trovões bem baixinhos (não aqueles óbvios relâmpagos na janela, nada disso) a cena inteira, salientando o suspense.


 




Inteligente ao salientar as diferentes personalidades entre o trio principal, e como um afeta o outro, Emma, Norman e Ray são complexos e constantemente precisam se adaptar uns aos outros. Destaque para o confronto entre Ray e Norman no quarto, intercalando a posição de quem está na frente naquela corrida de interesses. Ray é repleto de gestos espalhafatosos com as mãos, sugerindo uma instabilidade emocional que condiz com sua traição; enquanto Norman parece concentrado o tempo inteiro e praticamente não se move, mas sabemos que suas ideias estão funcionando a todo vapor. Enquanto Emma surge como a bússola moral do grupo, querendo salvar todas as crianças pequenas, mesmo que isso dificulte muito mais as estratégias de fuga do grupo. E ainda consegue fugir do estereótipo de simplesmente ser a “menina boazinha” do grupo, e é capaz de agir em vários momentos com coragem e atitudes surpreendentes. Especialmente ao final quando exibe uma liderança formidável.




Repleto de batalhas intelectuais, reviravoltas e estratégias dentro de estratégias (a informação falsa sobre a corda escondida para encontrar o traidor, por exemplo), nunca nada sai exatamente como o planejado. Isso torna The Promised Neverland deliciosamente imprevisível, em que dá medo de perder alguma informação crucial só de piscar os olhos. Essa é a maior força deste anime. Conseguindo colocar até mesmo uma batalha velada entre as adultas que estão do mesmo lado, contribuindo para as estratégias entre os grupos aflorarem. Chegando nos episódios finais com revelações absolutamente devastadoras, mostrando o quanto havíamos sido ludibriados em alguns aspectos (no melhor sentido possível, claro).

Os demônios e o mundo lá de fora não importam realmente, são apenas uma desculpa para apreciarmos os jogos de gato e rato em um local tão limitado. Contudo, no momento em que o anime resolveu revelar uma espécie de reunião-conselho entre os demônios ao redor de uma mesa, discutindo como se fossem homens de negócios, foi a imagem mais ridícula do mundo. E não faz muito sentido se passar em 2045 se usam lampiões à querosene, utilizam código morse e escrevem com pena (?!?).





The Promised Neverland encerra com a maestria, inteligência e a tensão que o acompanhou em todo o percurso. Beneficiado por vilãs e vilões aterrorizantes e praticamente impossíveis de serem vencidos, a série ainda conseguiu humanizar a vilã principal de forma surpreendentemente tocante. Incontáveis foram os momentos em que eu não conseguia respirar. É o Prison Break dos animes e desde já um dos meus favoritos de todos os tempos.



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