sábado, 13 de julho de 2019

Love Exposure


Saudações do Crítico Nippon!

Responsável por algumas das obras mais ambiciosas do Japão contemporâneo, Sion Sono é responsável pelo formidável Why Don’t You Play in Hell (2013) que contava com um design de produção surpreendente e uma trama exponencialmente imprevisível. Bem como o extraordinário Antiporno (2017), cuja direção de arte e fotografia criavam planos belíssimos e coloridos, usando sua narrativa repleta de metalinguagem para criticar a própria indústria dos “roman porn” japoneses. Porém, o que lhe trouxe mesmo a fama e o fez decolar na indústria foi este Love Exposure (2008). Com 4 horas de duração absolutamente impecáveis, não é exagero considerar este o melhor filme japonês que eu já assisti.



Tentar descrever a trama de Love Exposure é um exercício fútil, pois sempre cambiante e dividido em capítulos, o roteiro flerta com vários estilos e muda de direção quando menos percebemos. Começamos com Yu (Takahiro Nishijima), um cristão em conflito cujo pai (Watsuro Watabe) – que é padre – praticamente o força a cometer pecados. E conforme Yu vai aprimorando seus pecados propositais, de repente se vê parte de um grupo que utiliza técnicas de artes marciais para tirar fotos de calcinhas por baixo das saias das garotas (sim, você leu direito essa frase). Este cristão pervertido se interessa romanticamente por Yoko (Hikari Mitsushima), uma garota que odeia os homens mais que tudo ao ponto de simplesmente espanca-los na rua. Para fechar o triângulo amoroso, conhecemos Koike (Sakura Ando), interessada em Yu, que consegue a proeza de ser ainda mais violenta que Yoko, ao ponto de ter castrado o próprio pai (com direito a chuveirinhos de sangue saindo do falo e tudo). 

 

O filme investe um tempo precioso em cada um de seus personagens, tratando-os com seriedade absoluta (algo fundamental para o sucesso do projeto), caso contrário jamais levaríamos a sério as lutas internas (e externas, muitas lutas externas) de cada um. Afinal, há tantos momentos simplesmente hilários, incluindo o maior número de ereções da História do Cinema. Até os cantos sacros que insistem em acompanhar a narrativa, mesmo após momentos completamente obscenos e/ou sanguinolentos.


Em suma, Love Exposure flerta o tempo todo entre o sagrado e o profano, utilizando seus absurdos para fazer comentários sérios sobre diversos tópicos. A castração simbólica (e aqui, literal) que a religião exerce sobre seus seguidores e pastores (que muitas vezes tem o efeito contrário, onde a pessoa busca compensar tanta repressão e insegurança); o fanatismo de cultos que aprisionam pessoas profundamente perturbadas que precisariam de ajuda profissional; a desastrada maneira de lidar com a sexualidade entre os jovens (o Japão é extremamente doentio em alguns âmbitos).


Sion Sono cria uma obra que flui com maestria sem jamais soar episódica ou causar sono, intercalando entre o tocante e o dramático de maneira a nos importarmos com o destino de todos os personagens. Aliás, os figurinos acertam a gradualmente vestir Yu com roupas mais extravagantes e escuras, que se afastam da pureza do branco da igreja. Assim como é bacana notar a personagem de Makiko Watanabe vestindo vermelho em praticamente todas as suas cenas, até mesmo o seu carro, salientando sua paixão avassaladora e destrutiva.


Já Koike, que aparece segurando um periquito várias vezes até literalmente sua última cena, também é única que de fato segurou inúmeras vezes o periquito ereto (ou não) do protagonista (essa é frase mais 5ª ano da História do Elfen Lied Brasil, desculpa). Isso obviamente não pode ter sido coincidência, e é uma piada do filme por si só. Porém, é mesmo Hikari Mitsushima, como Yoko, quem rouba o filme sempre que aparece. E seu longo monólogo sem cortes na praia, com os olhos cheios de lágrimas, deveria ter lhe rendido todos os prêmios do mundo pela atuação.



Love Exposure é uma montanha russa de acontecimentos, todos coerentes em sua lógica interna, com temas fortes e atuações primorosas. Reunindo chuveirinhos de sangue, colegiais lutando, gangues, perversão, religiosidade, é um prato cheio para todo tipo de análise. O longa impressiona pela energia inesgotável com incríveis 4 horas de duração. Sion Sono claramente criou sua obra-prima transbordando paixão e tesão no processo, assim como os personagens que nela habitam. 

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