domingo, 29 de novembro de 2020

The Case of Hana & Alice (2015)

 Saudações do Crítico Nippon!

 

É difícil expressar quão soberbo é este filme. Lembra aquelas obras que vão crescendo exponencialmente pelas beiradas, como Tokyo Godfathers, até se revelar algo incrivelmente maior do que julgávamos a princípio. Além disso, a animação em rotoscópia (como em Aku no Hana, ou A Scanner Darkly, com Keanu Reeves e Robert Downey Jr., sério, assistam) é de tirar o fôlego, pegando todos os gestos e movimentos naturalistas de suas atrizes reais. Desde já é uma de minhas animações japonesas favoritas de todos os tempos.


Concebido como uma prequel do live action de 2004, “Hana and Alice” (o qual não assisti), claramente não há necessidade nenhuma de tê-lo visto antes, se sustentando como uma obra completa. Assim, acompanhamos a personagem Tetsuko Arisugawa (Arisu = Alice) que se muda para outra cidade com sua mãe, em que uma vizinha parece estar sempre bisbilhotando pela janela. E sua escola nova parece ocultar segredos que iremos descobrir aos poucos ao longo da narrativa, inclusive tendo conexão com a vizinha.

 

Aliás, um dos grandes méritos do longa são os diversos tons que a história transita com maestria impecável, graças ao roteiro e a direção do veterano Shunji Iwai. Mesclando uma história de fantasma e exorcismo, que se desenvolve para um clima de investigação e assassinato, flerta com os romances da adolescência, e culmina em uma amizade inusitada. O filme navega por tudo isso e ainda mantém o clima sempre leve, contagiante e cheio de energia. 


Com uma paleta de cores sempre viva e forte, em cenários recheados de detalhes, valoriza a ação do que está ocorrendo e ajuda a compreender a geografia e localização dos personagens. Além de momentos com a câmera inclinada que contribuem para o desconforto do espectador em momentos chave, como ao nos colocar nos olhos do garoto agredido por Alice; ou na posição de espectador de um certo ritual na escola. Já os movimentos fluídos das personagens são um destaque à parte, basta reparar uma conversa de Alice e Moo ao ar livre; ou Alice sentada em uma mesa tomando suco enquanto tenta se esconder de alguém. Pra citar só dois momentos soberbos.


O filme ainda encontra espaço para os antagonistas ganharem personalidade própria. Desde a mãe de Alice que já começa flertando o professor; passando pela vizinha explosiva (mãe de Hana) que ganha contornos mais suaves no decorrer; até a sinistra Moo, que flerta com o papel de bullie, mas se revela muito mais que isso. Embora, claro, são Alice e Hana que carregam a narrativa com uma segurança invejável. E se a primeira já demonstra sua inesgotável energia no início do filme, caindo da janela no dia da mudança; a segunda, logo que surge em cena, já desenvolve um plano extremamente calculado e mirabolante que irá tomar todo o segundo ato do filme. E essa complementariedade das duas será usada até o final. 


E por falar em segundo ato, é impressionante o quanto tudo se torna imprevisível naquela “missão”, com um obstáculo atrás do outro, mesmo havendo um plano tão meticuloso por trás. A sequência serve para inúmeras funções, desde desenvolver a relação das recém conhecidas, além de ser divertidíssima e tensa para a história, até acrescentar uma figura paterna para Alice. A própria trilha sonora se transforma de um tema divertido para toques mais suaves e comoventes.

 

Deste modo, se a breve sequência de Alice com seu pai divorciado serve para deixar o segundo ato ainda mais significativo, a apresentação do balé através de uma amiga de infância serve para deixar o terceiro ato ainda mais forte, culminando na comunhão das duas meninas dançando à noite. São inúmeras as pistas e recompensas no longa.



The Case of... é o tipo de filme que torcemos para não terminar, pois queremos continuar testemunhando muito mais daquelas relações, surpresas e aventuras inusitadas. Trata-se de uma obra delicada e ambiciosa, que pode parecer simples, mas possui uma riqueza abundante que atinge um patamar que poucos filmes alcançam. 


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Twitter: @PedroSEkman

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