domingo, 22 de abril de 2012

Comentários dos Animes da Temporada de Inverno 2012 - Parte 02


Dando sequência ao que iniciei semana passada, hoje seguimos comentando sobre Nisemonogatari, Bakuman 2 e Ano Natsu, que se encerraram na temporada passada. Se você ainda não leu, pode conferir a parte 01 do post aqui, onde comento sobre Natsume Yuujinchou Shi e Chihayafuru. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.


Nisemonogatari
Nota: 08/10
Estúdio: SHAFT
Episódios: 11

Polêmico. Controverso. Nisio Isin trollando a todos. Assim pode ser definido Nisemonogatari, sequência direta de Bakemonogatari, que dessa vez contou com mais recursos financeiros e com isso, uma produção caprichada e um Akiyuki Shinbo realmente inspirado. Mas acaba ultrapassando a linha vermelha e afastando os mais pudicos. No fim das contas, Nisemonogatari é essencialmente igual à Bakemonogatari; 8 ou 80. Com a diferença [nada sútil] que desta vez, Shinbo e Nisio Isin, conseguem irritar os apreciadores mais “cabeças” e amantes do bom diálogo existente em Bakemonogatari.

Mas o que mudou e porque mudou? Isso você verá amanhã, no Globo Repórter! Brincadeirinha. Como eu disse, essencialmente continua igual, com Nisio Isin brincando com as palavras, com os clichês e trocadilhos. Com a diferença que dessa vez ele brincou com as múltiplas interpretações e tornou Nisemonogatari muito mais expositivo que a sua série anterior. Se em Bakemono ele brinca bastante com as figuras arquétipas, aqui nos temos um jogo conceitual, que só conseguiria mandar sua mensagem, explorando a fundo aquilo que o público alvo da franquia monogatari mais gosta: Fanservice. E não se engane, pois o alvo da franquia sempre foi o famigerado fandom otaku. E Nisemonogatari é o que podemos chamar de fanservice “elegante” (por mais absurdo que possa parecer), com a série atingindo um novo nível [de perversão!!!!!] do que se entende como ecchi. No fim das contas os diálogos continuam afiadíssimos e ultrapassam a quarta parede com Isin fazendo aquilo que faz melhor em quase tudo com que se envolve: Satirizar. Só é uma pena que a série tenha encontrado um entrave na barreira anti-fanservice de muitos que vieram a torcer o nariz para essa nova narrativa (e aqui ele faz o mesmo que fez em Medaka Box, construindo pra depois descontruir), pois Nisemonogatari entrega justamente aquilo que propôs em Bakemono e vai um passo além no quesito técnico. E o melhor: Mais enxuto, com apenas 11 episódios.

Não deixe de ler o post que fiz sobre a série.



Bakuman [Segunda Temporada]
Nota: 07/10
Estúdio: J.C. STAFF
Episódios: 25

Não, Bakuman não é um bicho em extinção!!! Bakuman é literalmente, “aposta”. E ao contrário da primeira temporada, onde eles não tinham nada a perder, aqui a aposta realmente envolvia todo um futuro. De um modo geral, superior à primeira temporada que foi um tanto quanto arrastada, mas ainda permanecendo na média. Enquanto a primeira temporada mostrou eles lutando por um lugar ao sol, enquanto desenvolvia uma subtrama romântica, na segunda há um processo de amadurecimento e crescimento dos personagens, assim como mais conflitos. Também pontuou bem a dificuldade de se manter entre os melhores e a questão dos sonhos, que muitos sacrificam por uma posição estável. Pra conseguir ser o melhor naquilo que se propõe, é importante ter ambição e coragem de arriscar e é exatamente isso que vemos ao decorrer dos episódios.

"Até hoje, eu pensava que só ser serializado já era o suficiente. É um absurdo que eu só tenha percebido agora que isso não é o suficiente." – Mashiro

A mudança mais notável e que ditaria o ritmo da narrativa do primeiro episódio em diante, com certeza foi à mudança de editor, saindo o competente, e carismático Hattori e entrando o inexperiente Miura. Apesar de eu achar o Miura um atraso completo de vida e um personagem extremamente medíocre, ele desempenhou um papel muito importante para uma história como Bakuman, que gira em torno do departamento editorial de uma grande revista. Em todos os lugares há bons e maus profissionais e é preciso saber conviver com ambos. O que vemos é essa dificuldade de Mashiro e Takagi, de se adequarem ao novo editor, que por sua vez não consegue extrair o que há de melhor na dupla. Temos então, um dilema. E não apenas isso, mas bons conflitos que vai desde regras que sustentam um departamento editorial, à conduta de um mangaká com seu editor.


Apesar de não ter se mostrado sempre consistente em sua execução, possui uma narrativa muito mais pulsante e arcos simplesmente sensacionais, que envolvem não apenas a dupla principal, mas todo o elenco de personagens. O que com certeza é um diferencial com a primeira temporada, contando com desenvolvimento dos personagens secundários. Nakai e Aoki foram muito bem explorados, sendo que enquanto ela pôde mostrar um lado mais humano, ele mostra se mostra da forma mais odiosa possível e faz contra ponto interessante com Mashiro e Takagi: Enquanto eles persistem no sonho, ele simplesmente foge e abandona tudo. O drama de Mashiro sendo hospitalizado foi excelente e apesar das revoltas que envolvem conceitos morais, aqui nós temos a síntese de um mangá batle shounen. E sim, Bakuman pode não ter lutas e disputas mortais, mas não deixa de ser um shounen de competição carregando aqueles valores de sempre da shounen Jump: Desafio>Luta>Superação. E é exatamente por isso que Death Note nunca poderia ter um outro fim, se não aquele. Mas o episódio em si, foi incrível e carregado de nuances que não cabem nesse curto espaço. Destaco também o arco onde todos boicotam a “Jack”, o clima leve e descontraído, com a Aoki se envolvendo mais intimamente com Takagi e os efeitos que isso teve na trama, além de Hattori sendo alvo de um amor inesperado (!!). E claro, a volta da rivalidade entre a dupla e o carismático Eiji, que andava adormecida e que ganhou uma narrativa empolgante e emocionante nos episódio finais.

E Bakuman não é apenas o anime mais destoante de todas as produções da “cara” atual do estúdio J.C. STAFF, mas também conta com uma produção bem feitinha, que sim, o próprio anime não exige tanto da animação, mas que é bem feitinho e tá na média. E se Bakuman tem muito daquele J.C. STAFF de um tempo atrás, méritos a Kenichi Kasai, que supervisiona a série, mas que nem sempre da o ar da graça nas produções de baciada do estúdio ao qual é filiado. É o bastante pra merecer uma note sete.


Ano Natsu de Matteru
Nota: 06/10
Estúdio: J.C. STAFF
Episódios: 12

Sua comédia água com açúcar da temporada. Mas estranhamente, este “show” acabou se mostrando o oposto; Sem sal e sem açúcar, incapaz de convencer nem mesmo aos shipping-fags. E bem, deixando as comparações com Ano Hana de lado e de ser um convite doce aos nostálgicos de Onegai Teacher, o estúdio J.C STAFF mostra que com dinheiro, consegue produzir belos cenários. Ainda que, tenha muito mais do A-1 Pictures na bonita fotografia do anime do que normalmente se vê nas habituais produções do J.C. STAFF. E juntamente da bela parte técnica, há que se destacar o belíssimo trabalho do experiente Tatsuyuki Nagai na direção do anime, que sem dúvidas, é o grande responsável pela boa aceitação que o anime teve entre parte do fandom ocidental. Isso aqui, porque no Japão, mesmo com tantos atrativos [leia-se; fanservice, arquétipos vazios e outras diversas otakices], a recepção foi aquém do esperado para uma produção desse naipe.

E o anime é tão bem executado, que mesmo com uma narrativa tão superficial e conflitos broxantes como o de Mio Kitahara e seu dramalhão por seguir um estilo de vida.... natureba (!) ou o de Ichika e Kaito, que consegue ser tão sem graça quanto os próprios personagens. E nesse mar de previsibilidade e clichês sem inspiração por parte de Yousuke Kuroda que faz uma releitura de Onegai Teacher, quem acaba se destacando é justamente o elemento estranho e inédito: A misteriosa Lemon Yamano. Sim, sua história e desenvolvimento não só consegue convencer e envolver quem assiste, como também é bem amarrada.

A premissa é de uma garota alienígena que se apaixona por um terráqueo, com essa relação se tornando o mote de série e desencadeando um polígono amoroso. Mas a série nunca se expande ou se desenvolve satisfatoriamente e mesmo se concentrando nas relações dos personagens, a história não flui e nem surpreende. O relacionamento entre Kaito e Ichika é assustadoramente forçado e sem química. E esta abordagem se estende aos outros personagens, com a história se tornando um labirinto desnecessário com personagens emocionalmente estáveis e vulneráveis, que formam um polígono amoroso onde o roteiro parece ter saído de um seriado teen decadente como Malhação.


Mas a série tem bons episódios e temas interessantes, como a passagem fugaz da juventude e o primeiro amor. É um exemplo de como não se deve desenvolver um Coming of age, mas que pela habilidade de Tatsuyuki Nagai, consegue atrair admiradores como pode ser visto nesse post do blog Gyabbo! ou neste, do blog OtomeNerd – Ele dita um ritmo tão bacana, que você é capaz de entender boa parte das ações dos personagens, assim como aquele conflituoso relacionamento. Outra coisa bacana, é que existe a sensação palpável de amizade entre os personagens, o feeling é algo como há muito no se vê nos animes atuais. Porém, definitivamente, mesmo com pontos positivos como direção, execução, ótima trilha sonora, uma linda fotografia, o roteiro simplesmente não convence. A Ichika como Deus Ex Machina, não funciona como deveria e ela não tem efeito significativo nenhum no desfecho da história, onde apenas reafirmamos a certeza de que há uma certa forçada de barra para que tudo aquilo te convença e derramar algumas lágrimas no fim da história. Talvez tivesse funcionado sem o aspecto sobrenatural [e grande trunfo] do enredo.

Recomendações de leitura: Além dos links recomendados acima, é válida a crítica presente no blog NahelArgama.