domingo, 20 de maio de 2012

Dorothea: A Bruxa De Nauders - Volumes 03~06


Em julho de 2011, comentei aqui no blog, sobre Dorothea, que na época se encontrava no volume 02. Por algum motivo, o primeiro volume não conseguiu me tocar, mas o seguinte teve uma crescente tão grande, que me senti tentada a fazer uma crítica positiva sobre o mesmo. Quase um ano depois, o mangá chegou ao fim, e será que o mesmo conseguiu atender as expectativas? É o que vamos conferir logo abaixo. 

Escrito e ilustrado pelo autor de pseudônimo Cuvie, Dorothea possui seis volumes, o suficiente pra contar a odisseia da bruxa de Nauders. Nos primeiros três volumes, a história se foca no crescimento individual de Dorothea, com os conflitos políticos e sociais, sendo basicamente uma invisível teia que une a todos os personagens. Cuvie, que até então só havia assinado diversos doujinshis de conteúdo sexual, demonstra uma incrível sensibilidade ao retratar o conflito interno de Dorothea. Ela começa como uma garota sonhadora e idealista, se vê “obrigada” a fazer parte de um grupo de mercenários que não possuem pudor em saquear as cidades que atacam, além de estuprar as mulheres daquele local. Por mais que isso vá de encontro a sua ideologia, ela não pode simplesmente virar as costas e voltar para trás, uma vez que a casa dos branco estava correndo perigo de ser dizimada, ao ser entregue à Santa Inquisição. 


Cuvie consegue recriar os horrores da guerra, de uma forma que o impacto gerado sobre Dorothea, acerte em cheio ao leitor. Numa guerra, as mulheres acabam sendo aquelas que mais sofrem, e vemos isso retratado em Dorothea de forma sútil: As violações a que são impostas, as meninas órfãs que devem cuidar de seus irmãos menores, exemplo que vemos na própria Dorothea, que é sempre deixada pra trás por seu amigo Gyurk e não conhece nada além das fronteiras de Nauders. Aliás, Gyurk demora um bocado a reconhecer que Dorothea, é capaz de se virar sozinha em meio a uma guerra e diversas pessoas que a odeiam. O que acaba a irritando, por não desejar ser menosprezada, por ser uma mulher. Em meio a tudo isso, tem as mulheres que acabam se prostituindo – Aliás, isso é algo bem pontual na história e o primeiro grande desafio de Dorothea. Há uma comitiva de prostitutas que acompanham os mercenários e que servem de válvula de escape para os mesmos. Como elas cobram um preço, imagino eu, relativamente alto pelo serviço, isso acaba servindo de incentivo para que os mesmos não apenas saqueiem as cidades que atacam, mas como também abusem das mulheres. Logicamente, Dorothea reage a isso, de uma forma negativa, mas o que ela pode fazer? É apenas uma garotinha, ainda inexperiente, com talento para lutas. 

Em meio a isso, Dorothea começa a se questionar, no fim das contas, a guerra não é nada aquilo do que ela imaginara. Não é simplesmente uma luta de “bem VS mal”, muitas vezes o conflito a colocava diante de um homem de bem, onde seu único erro, era estar do lado adversário. Logo no inicio, vemos bastante dessas cenas, onde inclusive Dorothea começa a fraquejar, por sentir pena dos adversários, por enfim ela ter saído de Nauders e enxergado que os mercenários não são os heróis que ela acreditava que seriam. Que não existem heróis em uma guerra e que não há como salvar a todos. Sua ideologia começara ali, a desmoronar, assim como sua força. Afinal, pra quê ela está lutando? No fim das contas, ela estava fazendo parte e se tornando aquilo que ela mais abominava. 

  • “Seu desgraçado, tem ideia do que está fazendo?” 
  • “Olhe em volta, isto é um guerra. Esse é o nosso ganha-pão, mocinha ingênua” 

No volume 02, temos alguns dos momentos que mais sintetizam esse conflito ideológico de Dorothea. No primeiro momento, temos ela lutando com um soldado rival, onde eles acabam se conectando. Após ser vencido por ela, ele ergue um crucifixo: 

  • “O que pretendia com isso?” (Dorothea) 
  • “Ah...de fato, isso não funciona com você... Eu já tinha percebido enquanto lutávamos, seus olhos se mantém lúcidos... Não é o olhar de um herege...e nem de alguém que diz agir em nome da igreja ortodoxa. Se alguém como você foi escolhida para lutar desse lado, ainda há salvação” 

Então, vem à mente de Dorothea um flashback, de algo que lhe disseram; “Não exite perante o mal”, mas afinal, que mal é esse? Como podemos ver mais adiante, no volume final, pela boca da própria Dorothea, esses são apenas nomes que dão, para justificar suas ações. Porém, o mais interessante, ainda estava por vir. Dorothea acaba ficando com o crucifixo, e ao adentrar à cidade e salvar uma senhora de um ataque de um de seus colegas, a mulher acaba reconhecendo o colar em sua mão, como sendo de seu marido. Desesperada, ela xinga Dorothea, preferindo morrer na casa em chamas, com seus filhos, a ser salva por uma “bruxa”. É uma sequência que acaba sendo muito forte, mais pelo contexto, do que visualmente. 

Logicamente que não quer dizer nada, um autor só ter feito trabalhos amadores e eróticos, anteriormente, porém, é impressionante ver como Cuvie se foca no crescimento de Dorothea, de forma altamente satisfatória e convincente. Do volume um, ao volume seis, vemos duas Dorothea's distintas, porém com o mesmo espirito. Foi excelente, a alternativa que ela arranjou para que os homens, não violassem mais as mulheres, nem saqueassem as cidades atacadas por eles, dando a eles, entretenimento. Não apenas isso, mas conseguiu que recebecem uma recompensa, caso tivessem uma boa conduta. Mostra bem, como ela consegue ir além de força física para conseguir o que quer, e através de politicagem, consegue ao menos, alcançar algo em que ela não abre mão, embora nem tudo ocorreu como : queria. A forma como ela domina e cresce mais diante daqueles homens, é impressionante. E nos últimos três volumes, não apenas vemos o crescimento de Dorothea, que se torna mais forte emocionalmente, aceitando que uma guerra jamais será justa e que cada um luta por seus próprios objetivos, como também o excelente desenvolvimento da trama central da história – Que acaba se tornando muito mais estratégica. Mas os últimos três volumes são muito mais "ação", do que propriamente, desenvolvimento. A história cresce, Dorothea já não exita mais como antes, e intrigas, traições, mortes, reviravoltas políticas, acabam sendo o destaque.

Os combates se tornam corriqueiros, e os massacres mancham todas as páginas dos volumes. Em meio a isso, o que fica obvio, é como a politica tem uma força descomunal, onde os homens que lutam no campo de batalha, acabam sendo peças de tabuleiro, pronto para serem repostas. O conflito se mostrou bem mais complexo, do que eu imaginava no inicio e embora, Dorothea seja uma história, não tão densa assim, conseguiu ser pontual ao transmitir isso para o leitor. Dorothea acaba se distanciando e muito, de mangás como Claymore, que é basicamente mais um battle shounen, com uma áurea mais madura, mas que, embora ótimo, com enfoque mais nas boas lutas, do que no período histórico da qual se passa sua trama. Não possui o mesmo plano de fundo de Dorothea, que nos remente a algo muito mais crível. 

A princesa Else, acaba tendo um papel mais pequeno dentro da história, mas que me agradou completamente. De personagem fraca, ela acaba assumindo um papel importante para o desfecho da trama. Gyurk assume seu lugar ao lado de Dorothea e apesar de seu papel ser apenas um pouco maior que o de Else, ele acaba sendo um protagonista simpático. Mas sem dúvidas, o destaque é Dorothea, e os mercenários. Os últimos dois volumes são cruciais, nesse sentindo. Dorothea acaba se tornando uma líder admirável, se tornando quase um amuleto de sorte para todos os soldados. Mas não tem como fugir, todo o conflito é sensacional, porém o destaque mesmo o lado interior da personagem título. Isso acaba ficando evidente quando ela é presa e enfim, vemos que ela se tornou uma mulher, que não tem mais pudor, nem em usar o próprio corpo, para atingir um objetivo maior – E acredito que exatamente por isso, Cuvie sempre resguardou esse lado dela, não expondo seu corpo. Assim temos duas linhas, onde na primeira parte é visível uma Dorothea mais pura, meiga e porque não, infantil. Na parte final, já uma mulher, não há porque não começar a explorar o seu corpo. Isso acaba dando um sentido mais crível para tudo aquilo, já que estamos numa época barbara e ela apesar de ser chamada de bruxa, é uma garota linda e desejada. O ponto alto, sem dúvidas, são: O momento em que ela assiste, a execução de outras mulheres consideradas “bruxas”. Foram quadros realmente chocantes, onde não se precisou explorar a tragédia, para que nos fizesse compreender tudo aquilo. O outro momento, sem dúvidas o encontro de Dorothea, com sua avó, a atual líder da “casa dos brancos”, que a chama de “garota mimada”. E realmente, Dorothea, acima de tudo, tinha medo de assumir a liderança, tentando fugir de algo obvio. Fiquei contente com os rumos da história, pois nada pior do que uma trama que não consiga abandonar o status zero. 


A partir dai, o desfecho acaba tendo menos impacto, porém foi um final satisfatório. Infelizmente, faltou estrutura que tornasse Dorothea, algo mais marcante, porém se torna uma daquelas leituras indispensáveis para amantes de, não apenas boas histórias, mas os admiradores da literatura medieval. As diversas referências são um prato cheio, para quem conhece o mínimo de história, e obvio, as referências a Joana d´Arc, transbordam a cada página. O traço de Cuvie é competente, destoa do traçado padrão que estamos acostumados a ver. Seus desehos para a história, são competentens, embora eu deva dizer que, reparei que eles não tem uma força visual, como por exemplo, do “similar” Claymore. Não é um mangá que você vai encontar, por exemplo, em algo como “páginas fodas, de mangás”. Mas acaba não fazendo falta, embora pudesse vir a ser algo ainda mais atrativo, porém o roteiro é tão consiso, e forte, que isso acaba não fazendo falta alguma. Principalmente porque as cenas de combate são ótimas. Se me perguntatem, qual dos títulos “desconhecidos”, lançados pela Panini, é o melhor, direi que sem dúvidas, é Dorothea. Nota 08/10.

Tipo: Mangá
Volumes: 06
Autora: Cuvie
Editora: Panini
Páginas: 178
Brochura/formato: 13 x 18 cm
Valor: 9,90
Tradução: Karen Kazumi Hayashida

Não detalhei muito o cenário, já que o post anterior, é basicamente assim.

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