quinta-feira, 31 de maio de 2012

Kuttsukiboshi: Amor Estranho Amor


Kuttsukiboshi (Estrelas Entrelaçadas) é o terceiro lançamento em OAV do estúdio independente de animação Primastea, depois do sucesso surpreendente do infame Isshoni Training: Training with Hinako [e sua sequência Isshoni Sleeping: Sleeping with Hinako], prova cabal de que japoneses sempre podem elevar o nível da bizarrice um pouco mais além – Uma vez que os otakus de lá, sempre estarão dispostos a comprar a ideia.

A história é daquelas bem bobinhas de “Girl Meet Girl” e desenvolvem um romance, mas que costuma agradar em cheio ao público alvo. Para quem estiver interessado em detalhes, pode ler o post que fiz neste blog, pois aqui pretendo comentar de forma mais esparsa e revelando spoilers do enredo. Aaya Saito, uma aluna transferida descobre que Kiiko Kawakami tem poderes de telecinese e se aproxima da garota, a fim de “treiná-la”. As duas ficam cada vez mais intimas e a amizade vai se tornando cada vez mais.... colorida, até que começam a colar velcro (descobri essa palavra recentemente e tô adorando usá-la). Ou seja, elas colocam as aranhas para brigarem! O poder telecinético da Kiiko, como já é notável, não passa de uma ferramenta de roteiro, o foco mesmo é no romance entre as duas, que compartilham diversos momentos meigos. Não é exatamente um problema, já que é o típico material barato destinado a certa parcela do fandom (eu estou inclusa). O primeiro volume tem boa execução e é honesto o suficiente para agradar.

E acaba terminando um clifhanger realmente inquietante, que deixaram os “girls lovers” mais puristas, receosos ao incluir um homem em cena (o que particularmente, gosto por fugir daquela áurea de “contos de fadas” yuri). A história que parecia bem simples e romântica, ganha nuance de tragédia anunciada quando Kiiko flagra seu amorzinho transando com o irmãozinho. Como comentei, o que definiria Kuttsukiboshi como algo minimamente bom ou simplesmente medíocre, seria a forma como trabalhariam isso. Infelizmente, acabou se mostrando bem medíocre como um todo. O incesto, que inicialmente acaba se mostrando um excelente clifhanger, não passou de uma ferramenta baraterríma de roteiro, comparável à personagem Misaki Moe em Another. Mas não apenas isso, a execução se mostra completamente irregular e apressada demais para o assunto tratado, colocando o espectador em uma posição de indiferença com tudo o que está acontecendo no vídeo.

Naoya Ishikawa nesse segundo volume, nos trás um manual perfeito de como fazer as pezes com sua namorada em poucas etapas. Esqueça a temida DR (discussão de relacionamento), providencie algo mais eficaz: Sequestre-a usando um produto químico qualquer, como clorofórmio ou qualquer daqueles “boa noite cinderela”. Amarre-a e a isole em um local em que não possam ser incomodados por vários dias até que ela comece a aceitar suas desculpas. Estupre-a. Não apenas uma vez, mas diversas vezes – Ao gosto do freguês. E se você achava que uma mulher não poderia estuprar a outra, a Aaya mostra que é possível, sem mesmo ter um “pinto” [de borracha ou de carne e veias] entre as pernas. Depois disso, sua namorada fará tudo o que você disser inclusive aceitar fazer sexo oral em um ônibus (!!!). Depois disso tudo, ela irá te perseguir até o fim do mundo, querendo mais e mais. Chegando ao ponto de se teletransportar para onde estiver e te dará aquele pega gostoso, do tipo “Despreza quem lhe tem amor. Chama de lagartixa, joga na parede. Me chama de tapete e me joga no chão. Tem que fazer gostoso pra matar minha sede. Malvada, você me enganou. Na pindaíba você me deixou”.






Bom, como podem ver se no primeiro volume temos algo mais meigo e doce, aqui há uma mudança de foco, se tornando mais picante. Como o desenvolvimento acaba sendo algo “eu te amo”, “mas você me traiu”, “mas eu te amo mesmo assim” e *agarra*, não dá pra dizer que seja sólida. Nota-se uma falta de tempo e até criatividade para trabalhar o enredo, indo para o caminho mais fácil e assim contradizendo o escopo do primeiro volume. No final, a história volta a ser doce, com as duas se teletransportando para um planeta inóspito, onde nuas, são a mais nova versão reinventada de Adélia & Eva. O que dá ainda mais uma sensação de estranheza e “fora do lugar”.

Ishikawa Naoya é um animador freelancer, dono do estúdio de um homem só; Primastea. Para os níveis atuais a animação é ruim, mas dentro do contexto da história consegue ser competente, principalmente se levarmos em conta que é algo completamente independente e vendido a preço de banana no Comiket. Naoya Ishikawa sozinho escreveu o roteiro, animou e dirigiu Kuttsukiboshi, o que explica o vácuo enorme de tempo entre o lançamento de um volume e outro. Parece incrível, mas uma olhadinha pra trás e percebemos que isso é bem comum, e neste caso, chega a ser menos criativo que o igualmente caseiro Kowarekake no Orgel e Midori: Shoujo Tsubaki. No Japão, estúdios e produtoras pequenas, com meia dúzia de cabeças são bem comuns e por vezes nos brindam com séries melhores do que as produzidas pelas multinacionais. Ele chegou a postar em suas redes sociais em como trabalhou arduamente no trabalho de digitalização dos desenhos e todo o processo técnico, como acrescentar cores através de seu tablet nos desenhos já em fase de finalização.


Como eu disse, para o padrão atual a animação é ruim, mas não chega a comprometer. O character designer denuncia o tempo em que esteve envolvido no projeto; por volta de 5 anos. A arte não tem textura e não há refinamento, a paleta de cores é desbotada e a iluminação é horrível, causando uns efeitos não muito agradáveis. A angulação e diversas tomadas de câmera é bem imaginativa, gostei bastante. Mas é algo que não importa tanto para quem busca apenas a história, que como eu disse, é um tanto quanto trolling. A trilha sonora é bem agradável, aliás. Kuttsukiboshi apesar de ser yuri (relação explicita, envolvendo beijo e sexo), não chega a apresentar conteúdo orange (yuri onde o foco é o sexo, expondo as partes íntimas das personagens), então se você tá atrás de exposição visual irá se decepcionar. Assim, como acredito que os yurifags mais puristas, não irão se encantar com Kuttsukiboshi. O blog parceiro, Netoin!, agradou bastante do conteúdo, mas a minha nota 05, pelo mixedfeelings/sentimentos mistos que a história me causou.

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Diretor: Naoya Ishikawa
Roteiro: Naoya Ishikawa
Estúdio: Primastea
Tipo: OVA
Episódios: 02