sexta-feira, 25 de maio de 2012

Space Brothers: Episódios 01~08 - Feel so Moon


Space Brothers (Uchuu Kyoudai) conta a história de dois irmãos, Mutta e Hibito. Quando crianças, os dois prometeram um ao outro, que viraram astronautas, um explorando a Lua e o outro, Marte. Agora, em 2025, Hibito seguiu seu sonho e se tornou um dos poucos pilotos japoneses a ingressar numa missão da NASA, à lua. Ao contrário do irmão, Mutta se formou em engenharia mecânica, sendo capaz de brilhar na sua área de atuação, onde desenvolveu diversosdesigners premiados de automóveis. Aqui, nós temos não apenas o plot básico da história, como também o espirito japonês embutido em Mutta.

Um ponto a se destacar, é a rivalidade dos irmãos. Mutta, como o mais velho, sempre quis estar um passo a frente do irmão caçula: Se Hibito se metia em alguma encrenca, Mutta sempre tratava de tomar a responsabilidade. Quando Hibito diz que seu sonho é pisar na lua, Mutta imediatamente mira num alvo além, no caso, marte. Só que o tempo passou, e Mutta não conseguiu acompanhar os passos do irmão, se tornando um assalariado. Seguir uma carreira convencional é o mais comum, quando se trata do competitivo Japão. Afinal, o homem precisa de um emprego com renda estável, capaz de suprir as necessidades de sua família. É um conceito mundial, mas que no Japão, é encarado de forma ainda mais extremista, onde desde pequenos, já são expostos a essa competividade. Se o homem não tem uma carreira, as chances de ele conseguir uma esposa são mínimas. Muito se fala do machismo do homem japonês, mas a própria mulher, já se acostumou a ser uma figura subserviente.


Ao contrário do ocidente, que é mais liberal e expansivo, e a pressão é menor. Com uma sociedade tão reprimida, é completamente natural que o povo japonês procure uma fuga drástica dessa realidade. E é aqui, que vem avalanche de personagens carismáticos de desenhos caricaturais, sem muita preocupação com o realismo. Os americanos buscam no tom de deboche dos sitcoms (acho que os Simpsons, são o melhor expoente disso ou ao menos, o exemplo mais conhecido), um alívio para o “american way of life”. Os japoneses parecem buscar no sonho e alienação. Se me perguntarem qual a diferença entre um K-on! e um Space Brothers, eu digo que a diferença gritante está na estrutura narrativa. Este tem uma história linear para ser contada, enquanto K-on! é o completo vazio (e é bom no que se propõe). Porém, ambos não possuem compromisso algum com a realidade. Space Brothers é intencionalmente fantasioso e trata de forma superficial, à temática do homem a lua, pra fazer uma apologia ao sonho e ao trabalho duro pra realizar esse objetivo.

E Space Brothers, tem um horário adequado de exibição [o horário nobre/caro japonês], que mira exatamente no espectador comum. E apesar da baixa audiência para o horário [o anime tem uma média de exibição, de 3 pontos, variando um pouco pra mais, ora um pouco pra menos], cumpre seu papel de merchandising para o live action (e o mangá) – e expõe o papel do anime atualmente, de ser [apenas] um subproduto. Mas o ponto que eu quero levantar, não é esse. Space Brothers é muito divertido, mesmo sendo exageradamente inocente, possui uma técnica espantosa e um roteiro divertido e tenso – E muito disso se deve a excelente escolha de Ayumu Watanabe (o homem por trás das animações do clássico e popular, Doraemon). Quando escrevi minhas expectativas para os animes da Spring2012, eu comentei: “se ficou tanto tempo com uma série tão prestigiada no Japão, como Doraemon, é porque fez um bom serviço” e agora, parece até ser uma escolha obvia para dirigir algo à sociedade e não apenas, ao nicho. Curiosamente, ele também é diretor de Nazo no Kanojo X, uma otakice, onde ele demonstra uma técnica e tanto na execução da série. 


Eu não sei como é o mangá, mas o fato é que, Ayumu Watanabe consegue pegar algo simples, e fazer o espectador vibrar com aquilo, se importar com os fatos que estão ocorrendo. E sinceramente, até aqui, Space Brothers se mostrou muito previsível, mas a narrativa é tão boa, que você não se importa, você sente a tensão do mesmo jeito. Até o atual momento, foram exibidos oito episódios, que parece formar um pequeno arco, que acompanha de perto, o tombo e a volta por cima de Mutta. Ele se esqueceu do seu sonho, seguindo pelo caminho que lhe pareceu mais fácil e seguro, e com 32 anos, levou um chute da vida ao ser demitido do emprego. Volta com todas as suas tranqueiras para a cada dos pais. Apesar da idade avançada, ele tem um currículo brilhante, porém, o fato de ter agredido o seu superior com uma cabeçada [no melhor estilo Zidani, não lhe dá boas referências e num país como o Japão, achar um emprego a altura, nessas condições parece impossível. O que acontece, é o mais provável: sua auto estima que já não parecia ser tão grande assim, simplesmente desmorona, e ter que conviver com todo mundo o lembrando que ele é o irmão mais velho do talentosíssimo Mutta, parece mais uma faca atolada no peito, onde cada um vez e dá mais uma batidinha nela.


 “Hibito, você cumpriu o seu sonho... Um irmão mais velho deve ficar sempre à frente do seu irmãozinho. Mas de alguma forma, um irmãozinho sempre fica à frente de mim! O que...o que eu tenho feito até hoje na minha vida?”

“Hê, que ironia.. eles estão me colocando na rua e como presente, vou ser levado pelo carro que eu projetei”

Um dramalhão, né? Errado. Space Brothers é irônico, Mutta é um fodido e azarado na vida, mas extremamente bem humorado e esperançoso. O anime é feito na medida, para aquele cidadão, que depois de um dia exaustivo, quer assistir algo leve e agradável. E novamente, a direção é determinante em pontuar isso na adaptação. O primeiro episódio, onde Mutta acabara de ser demitido, e na porta do emprego, é pego por um carro que ele desenvolveu o designer, é impagável: “Eu tenho uma última palavra de conselho pra vocês crianças...não, em nenhum circunstância, deem uma cabeçada no seu superior, como eu fiz” – É uma cena que quebra toda a tensão e Space Brothers, está repleta delas. Essa mistura de melancolia e comicidade é algo que trás a série pra bem mais próximo de nós, do que, por exemplo, um Chihayafuru, que trata das raízes japonesas. Ao contrário deste, Space Brothers, tem um pé no Japão, e outro no ocidente (literalmente). Esta influência está, desde as referências ocidentais, até a trilha sonora que tem um feeling muito americano [a OST lembra bastante algumas comédias de situações e as músicas temas, tem a alma do rock britânico]. O character designer é bem próximo do cartoon, algo comum no Japão dos anos 60 aos 90, onde cada personagem tem sua característica. Se o Mutta é feio e tem um cabelo como aquele, Hibito já é mais bonito e com um traço mais fino. E olhem só, eles tem narizes (RISOS, RSRSRS), e o fanservice é praticamente ausente. O único que eu notei até agora, é o romance, que é uma pontinha de nada dentro da trama e que, a audiência agradece. 


E traço das personagens, é algo que caminha lado a lado com a história. As expressões faciais, gestuais, as gags, expressam o que o roteiro não consegue. O que eu quero dizer, é que o humor de Space Brothers, é subjetivo. É um humor de situação, onde a graça está em situações corriqueiras do dia a dia. Eu olho para o Mutta, e vejo nele o Mr. Bean (eu nunca assisti, mas já peguei alguns trechos, que são sensacionais) – Ainda que o contexto não seja engraçado, os trejeitos da personagem são hilariantes. 

Créditos a Hiroaki Hirata. Se alguém ainda tem dúvidas de que, um dublador também é um ator, que ele também precisar atuar e convencer a plateia, vestir o personagem e interpretar de verdade, Hiroaki Hirata prova que todas essas habilidades são necessárias pra imprimir o carisma que o personagem requer. Alguém se lembra dele? Ele fez o Kotetsu T. Kaburagi (Wild Tiger) em Tiger & Bunny. Este que por sua vez, é bastante similar a Mutta, seja em carisma, simpatia ou o fato dos dois serem personagens perdedores, perante a sociedade. Atuação brilhante e que, marcou esses personagens. Seu timbre de voz, juntamente com a boa animação nas expressões dessas personagens, passa bastante sinceridade e ajudam a dar vida, a algo que já nasceu revestido de certa personalidade. Personagens carismáticos podem não ser uma condição vital para o sucesso de uma obra, mas é essencial para fazer que o espectador se identifique ou que facilite sua imersão e vinculo emocional com a história que está sendo contada. 


No chão, Mutta recebe a oportunidade de sua vida, que é participar de uma seleção pra um programa da NASA, para treinamento de astronauta. O sonho que parecia impossível bate a sua porta, apesar de sua idade avançada. Mutta quer agarra-lo, competir mais uma vez com Hibito e ser reconhecido, não como o irmão do astronauta japonês, mas por suas próprias qualidades. Porém, Mutta é bem humano, comete erros, tem anseios, mas encontra na baixa estima uma forte rival. O grande inimigo de Mutta, ao invés da vida, acaba sendo ele mesmo. Até aqui, este tem isso um ponto brilhante do roteiro. Todos acreditam em Mutta e seu potencial, menos ele próprio, mas mesmo que não se sinta confiante, ele ainda consegue ser bem humorado e rir das próprias desgraças. Certamente fizeram um bom trabalho com relação a isso. Se o Mutta não fosse tão identificável e fácil de digerir, Space Brothers estaria com sérios problemas, tendo em vista que até aqui, a história é contada quase que unicamente, pela sua perspectiva. Aliás, essa técnica narrativa, quando há dois personagens centrais, me agrada bastante – Nana, de Ai Yazawa, desenvolve isso de forma incrível (falo do mangá), onde metade da história é sob a perspectiva de apenas uma personagem, enquanto a outra metade trás outra visão sob um novo ponto de vista. 

Fato a se destacar, é em como a Yazawa foi mestre em misturar presente e passado, diferentes linhas da história, de uma forma competente. Space Brothers é perspicaz nisso também. Consegue unir o flashbacks aos fatos que estão ocorrendo no presente, com maestria. A história é muito voltada para o interior de Mutta, a narrativa te permite ver o que ele está sentindo – Do episódio um, ao oito, suas emoções foram como uma montanha russa, subindo e descendo numa intensidade impressionante. No episódio seis, já em Houston, depois de ser convidado por Hibito há passar uns dias na cidade americana, Mutta passa a sofrer uma forte pressão. E a incerteza de não saber se passou ou não nos testes da JAXA, o faz ele perder completamente a naturalidade na frente do irmão. Hibito quer saber o que está acontecendo, mas Mutta não tem a coragem de dizer que, provavelmente não irá passar nos testes preliminares, diante a empolgação do irmão. Ele vai guardando tudo aquilo dentro si e quando está Johnson Space Center, a cena onde ele se impulsiona no elástico e solta um grito desesperado, foi fantástica e expressa toda aquela pressão que Mutta vinha recebendo de seus pais, da sociedade e do seu irmão, com todos confiantes, enquanto ele tinha a certeza de que não iria se sair bem. Para mim, foi um estouro surpreendente. 

Space Brothers tem uma animação padrão [e muito fluida, não poderia se esperar menos do A1-Pictures, embora seja algo bem diferente do que já fizeram anteriormente], um cenário que não se destaca tanto, mas que combina com a narrativa, que é forte sem ser densa. Nesse aspecto, me lembra de Nodame Cantabile, ou até mesmo Honey & Clover, que se destacam pela execução e roteiro. A execução é cinematográfica, e repleta de grandes pequenos momentos. São nesses pequenos momentos, em que o anime realmente brilha. Novamente citando Nodame Cantabile e Honey & Honey, que são repletos desses “pequenos momentos”, situações te fazem sentir uma vibe pulsante, uma cólera do dragão queimando dentro de si, que explode em um sorriso de plena satisfação. Em vários momentos, me peguei sorrindo, com um sorriso gigante no rosto ou dizendo mentalmente "Mutta! Mutta! Mutta!". Talvez Space Brothers não se torne tão marcante quanto estes dois, mas têm tudo pra ser uma ótima história de 50 [e tantos] episódios, como nos velhos tempos que animes tinham uma longa duração, e havia tempo para se trabalhar roteiros de grande potencial (oi, Zetman).


    
    
    

Não é todos os episódios que possuem esse “quê” a mais, esse tempero que te faz saltitar feito um pônei maldito, mas em sua maioria, tem sido altamente satisfatório. Inclusive, até aqui, já contando com uma infinidade momentos marcantes. Essa mudança de passado e presente, onde mesmo na quase ausência até então de Hibito, podemos ver como eles eram quando crianças. Seus sonhos e afinidade um com o outro, que dão um impacto e tanto nas cenas do presente. Num desses flashbacks, temos os dois visitando a JAXA (basicamente, um centro de treinamento e palestras, uma filial japonesa da NASA), onde eles brincam pelo local, assistem todas palestras e se tornam conhecidos pelos funcionários – São sequências belíssimas que acabam se interligando, com outros momentos do presente, e envolvendo diferentes personagens. Por exemplo, quando a paixão momentânea e platônica de Mutta, Serika, o pega no flagra, abraçando uma roupa espacial que estava em exposição. É mixed feelings total, impossível não rir da vergonha que o Mutta passa, mas também, não tem como não se emocionar com o que ele estava sentindo, ao ver aquela roupa e se lembrar do passado, onde quando criança fez o mesmo gesto. Contextualmente é sútil e intenso ao mesmo tempo. A forma como o gesto de Mutta, impacta Serika, e a faz recordar da infância, e mais tarde repetir o que ele fez, abraçando a roupa, é incrível.

Mais disso, podemos ver no episódio sete, onde Mutta corre o risco de ser desclassificado, mas um dos votantes que se lembra claramente dele e de seu irmão, ainda moleques e assistindo uma palestra num auditório vazio, o defende, por enxergar nele o seu velho sonho que infelizmente, não se tornou realidade. São cenas repletas de tensão, impactantes, revestidas de nostalgia, mas que são entregues a nós, de uma forma leve e gostosa de digerir. É previsível, você sabe que a história é longa, que essa é apenas a primeira fase que Mutta, precisa ingressar na JAXA, ou então a narrativa perde o seu proposito. Porém, é uma situação que dá um nervosismo, por esse “show” ser incrivelmente envolvente. O desfecho desse pequeno arco, no mostra mais uma vez, o quão azarado é Mutta, mas que mesmo nas situações mais indesejáveis, é importante manter certo otimismo. Space Brothers é apologia ao sonho, mas também a perseverança. Mutta se envolve em um acidente e por um mal entendido, ele acaba sendo considerado herói. Com o seu jeitinho “brasileiro/ocidental de ser”, ele se aproveita disso, pra se mostrar diante de todos. Claro, ele não é bobo, porém, sua consciência dói, por ele achar que conseguiu aquele status, por pura sorte e conveniência. É quando lhe é dito que: “Sorte é o que você, consegue fazer”. Space Brothers é uma verdadeira cartilha, de sobrevivência na competitiva selva de pedra. Até mesmo a sorte, precisa de uma mãozinha, pra fazer acontecer. E que venham mais episódios fantásticos, FEEL SO MOOOONN.


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