quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tenha Uma Morte Retorcida, Com Ibitsu [De Ryou Haruka]



Ibistu é um mangá que vem sendo bem comentado ultimamente, e muito se deve ao fato de ser uma série recente, escrita pelo novato Ryou Haruka, do final de 2009 até meados de 2010. Perdendo tempo do Tumbrl, acabei de deparando com as páginas do mangá em certa ocasião e o traço me chamou bastante atenção, tem muita personalidade e o autor sabe usar o lápis para criar uma sensação de perigo eminente e consegue fazer o leitor sentir isso na pele. Merece as boas críticas que recebe, e sim, é um retalho de clichês, mas que no contexto da obra, se encaixa e se desenvolve satisfatoriamente. Contudo, Ibitsu está longe de ser o melhor que temos quando se trata de terror.

Ibitsu conta a história do azarado Itou Kazuki, que em certa noite foi jogar o lixo fora e acaba se deparando com uma estranha garota no lixo, toda suja, fedendo e com um bichinho de pelúcia a tira colo. Mas o que acaba lhe chamando a atenção, é que ela estava vestida de Lolita e com um guarda-sol caindo aos pedaços, erguido. Obviamente ele se sente desconfortável com a situação, ninguém gostaria de uma pessoa suspeita assim, parada no lixo e em frente a sua casa. Porém, a situação acaba se repetindo outras vezes e Itou começa a ficar irritado, até que a garota vestida de Lolita, o pergunta se ele tem uma irmã. Desprevenido (sabe quando você ouve uma voz chamar o seu nome e no ímpeto, você acaba respondendo? /Dizem que são os mortos chamando e pedindo permissão pra entrar na sua casa. Kowaii), ele acaba dizendo que sim. Foi o suficiente para que ele começasse a ter medo e corresse para o seu apartamento. Lá, ele olha pela janela para expiar, mas a Lolita não se encontrava mais no local. Porém, já era tarde demais para ele, que acabara de entrar numa espiral do horror.

Ibitsu significa literalmente [イビツ] torção/torcida em Japonês, uma referência direta a Lolita da história, que mata suas vítimas de forma retorcida. Esse, “retorcida” tem muito mais um sentido subjetivo, do que realmente literal. Sua forma de matar é com bastante sadismo, como uma mãe que prepara o almoço com bastante amor, acrescentando outros ingredientes pra refeição ficar mais apetitosa. Infligindo dor a suas vítimas das formas mais cruéis possíveis, ela os leva suas aos limites do psicológico [fato que fica evidenciado no capitulo final], ao ponto de chegarem a perder completamente a sanidade quando são os alvos principais, uma vez que ela não se satisfaz apenas matando, mas de poder observar o desespero explicito em seus rostos. E a forma que ela pratica o sadismo, é sensacional; vai de martelada no dedo a um golpe de martelo gigante nas pernas das vítimas, que se retorcem nervosamente. Ibitsu nos brinda em seus dois volumes, com um terror psicológico, que por vezes se mostra inquietante, com situações que são de puro nervosismo (!).


Em Ibitsu, há uma lenda urbana que se chama “a Lolita estranha”. Na meia noite, uma garota vestida de Lolita aparece e te faz um pergunta: “Você tem uma irmã?”, se você responder que sim, ela vai dizer “eu achei o meu irmão mais velho” e começara a ter perseguir. Que é exatamente o que acontece com Itou. Isso acontece porque, em japonês a frase "watashi imouto iru kara" [“tenho uma irmã”], pode ser lida em dois sentidos; “eu tenho uma irmã” e “eu preciso de uma irmã”. Mas Itou já tem uma irmã, Hikari, que acaba se tornando um alvo em potencial da estranha Lolita.

A história é bem amarrada, com algumas surpresinhas no percurso e se desenvolve como um legítimo thriller psicológico, com várias situações alucinantes. Mangás que tenham personagens stalkers, não é novidade e mesmo Ibitsu, segue um percurso bastante similar a Zashiki Onna (de 1993), mas acaba se saindo de uma forma melhor. E muito se deve á arte de Ryou Haruka e sua capacidade de abranger sua história, que acaba não se resumindo apenas a Itou. Com isso, ele dá folego novo pra trama principal e distrai o leitor. Mesmo que Hikari não seja a protagonista, suas cenas onde é perseguida pela Lolita stalkers psicopata são sensacionais, e até mais atraentes que a de Itou. Basicamente, a Lolita não é simplesmente uma assassina, mas sim uma sádica. Ela não quer matar, mas sim fazer suas vítimas urinarem de tanto pavor. E como toda boa história de terror, consegue te envolver plenamente: Personagens tendo atitudes idiotas e que te deixam em estado de puro nervoso ao ponto de querer gritar "idiota, não é por ai", "corre, não fica parado", “AAARGH, ele a deixou entrar”. Para mim, boas histórias de terror/psicológico, conseguem fazer o leitor sentir na pela a tensão, independente de a história ser assustadora ou não, o ato de saber conta-la é o que diferencia algo envolvente, de outro puramente superficial. Eu não leio [ou assisto] histórias de terror pra sentir medo, mas porque quero sentir aquilo tudo na pele, sem me expor a perigos reais.


A formula não é nova, mas é executada de forma satisfatória. Os enquadramentos dão todo um dinamismo ao que estamos vendo no painel, o cenário é simples e sem muito detalhismo, com enfoque tão somente nos personagens e suas expressões. A arte, que é um tanto quanto exótica, é boa. Ryou Haruka possui um traçado que é bem fluído e propositalmente inconsistente, me lembra o de Sakai Esuno (de Mirai Nikki) – Isso acaba dando uma liberdade de movimentação e expressões, bem exageradas. O que é bom para esse tipo de série. Além disso, a angulação em 360º em alguns quadros, o uso excessivo de sombreamento e os rabiscados de lápis [com arte final aplicada] às vezes dão a sensação de que tudo ali está saltando para fora das páginas [claro que, não chega nem perto do que Inio Asano faz em Oyasumi PunPun – Que é uma verdadeira experiência cinematográfica em quadros estáticos]. O que é um diferencial com relação a muitos mangás novos de terror mais famosos, como Corpse Party: Blood Covered, que tem uma arte muito simplista e enquadramentos que não contribuem para o ritmo da história.

Ibitsu é baseado em uma lenda urbana real, Red Paper, Blue Paper [Aka Manto], que se tornou material de referência para vários mangakas, como por exemplo, Kanako Inuki e até mesmo Sakai Esuno com o seu Hanako to Guuwa no Tera, que é uma leitura recomendada para todos que querem descobrir mais sobre essas lendas urbanas japonesas. A lenda basicamente é sobre um espirito que vive assombrando banheiros públicos e escolares, sempre perguntando "Gostaria de papel vermelho ou papel azul?”, se você escolhe Azul = Estrangulado/sufocado até a morte”, “Red = esfaqueado/dilacerado até a morte”. Dessa lenda, surgem diversas variantes, como a da abordagem escolhida por Ryou Haruka.


Ibitsu está longe de ser o melhor que temos quando se trata de terror. Contudo, é uma leitura recomendada principalmente para quem gosta do velho e bom terror, que não precisa apelar para violência explicita ou sangue para impactar quem lê. Visualmente é bem limpo e se mostra como um conto bem light [apesar de mostrar visualmente sangue e tortura, assim como MAMILOS, não soa como sendo gratuito, nem exagerado como normalmente se vê], o que torna a leitura ainda mais agradável para quem não está acostumado a ler histórias de terror. Esses, com certeza irão se assustar com várias páginas de Ibitsu. Para quem já é habituado, dificilmente verá algo de magnifico ou ficará com medo, mas com certeza será tocado pela boa dinâmica de Ryou Haruka. Ibitsu não é pra quem procura boas histórias, mas sim pra quem procura um terrorzinho bacaninha pra passar o tempo. Boa opção para os “fracos” de plantão.

Autor: Ryou Haruka
Volumes: 02 (com extras)
Ano: 2009/2010
Editora: Squere Enix (revista Young Gangan)
Demográfico: Seinen
Gênero: Horror
Onde encontrar: Aion

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