Ibistu é um mangá que vem sendo bem comentado ultimamente, e
muito se deve ao fato de ser uma série recente, escrita pelo novato Ryou
Haruka, do final de 2009 até meados de 2010. Perdendo tempo do Tumbrl, acabei
de deparando com as páginas do mangá em certa ocasião e o traço me chamou
bastante atenção, tem muita personalidade e o autor sabe usar o lápis para
criar uma sensação de perigo eminente e consegue fazer o leitor sentir isso na
pele. Merece as boas críticas que recebe, e sim, é um retalho de clichês, mas
que no contexto da obra, se encaixa e se desenvolve satisfatoriamente. Contudo,
Ibitsu está longe de ser o melhor que temos quando se trata de terror.
Ibitsu conta a história do azarado Itou Kazuki, que em certa noite foi jogar o lixo fora e acaba se deparando com uma estranha garota no lixo, toda suja, fedendo e com um bichinho de pelúcia a tira colo. Mas o que acaba lhe chamando a atenção, é que ela estava vestida de Lolita e com um guarda-sol caindo aos pedaços, erguido. Obviamente ele se sente desconfortável com a situação, ninguém gostaria de uma pessoa suspeita assim, parada no lixo e em frente a sua casa. Porém, a situação acaba se repetindo outras vezes e Itou começa a ficar irritado, até que a garota vestida de Lolita, o pergunta se ele tem uma irmã. Desprevenido (sabe quando você ouve uma voz chamar o seu nome e no ímpeto, você acaba respondendo? /Dizem que são os mortos chamando e pedindo permissão pra entrar na sua casa. Kowaii), ele acaba dizendo que sim. Foi o suficiente para que ele começasse a ter medo e corresse para o seu apartamento. Lá, ele olha pela janela para expiar, mas a Lolita não se encontrava mais no local. Porém, já era tarde demais para ele, que acabara de entrar numa espiral do horror.
Ibitsu significa literalmente [イビツ] torção/torcida
em Japonês, uma referência direta a Lolita da história, que mata suas vítimas
de forma retorcida. Esse, “retorcida” tem muito mais um sentido subjetivo, do
que realmente literal. Sua forma de matar é com bastante sadismo, como uma mãe
que prepara o almoço com bastante amor, acrescentando outros ingredientes pra
refeição ficar mais apetitosa. Infligindo dor a suas vítimas das formas mais cruéis
possíveis, ela os leva suas aos limites do psicológico [fato que fica evidenciado
no capitulo final], ao ponto de chegarem a perder completamente a sanidade
quando são os alvos principais, uma vez que ela não se satisfaz apenas matando,
mas de poder observar o desespero explicito em seus rostos. E a forma que ela
pratica o sadismo, é sensacional; vai de martelada no dedo a um golpe de
martelo gigante nas pernas das vítimas, que se retorcem nervosamente. Ibitsu nos
brinda em seus dois volumes, com um terror psicológico, que por vezes se mostra
inquietante, com situações que são de puro nervosismo (!).
Em Ibitsu, há uma lenda urbana que se
chama “a Lolita estranha”. Na meia noite, uma garota vestida de Lolita aparece
e te faz um pergunta: “Você tem uma irmã?”, se você
responder que sim, ela vai dizer “eu achei o meu irmão mais velho” e
começara a ter perseguir. Que é exatamente o que acontece com Itou. Isso
acontece porque, em japonês a frase "watashi imouto iru kara" [“tenho
uma irmã”], pode ser lida em dois sentidos; “eu tenho uma irmã” e “eu preciso
de uma irmã”. Mas Itou já tem uma irmã, Hikari, que acaba se tornando um alvo
em potencial da estranha Lolita.
A história é bem amarrada, com algumas
surpresinhas no percurso e se desenvolve como um legítimo thriller psicológico,
com várias situações alucinantes. Mangás que tenham personagens stalkers, não é
novidade e mesmo Ibitsu, segue um percurso bastante similar a Zashiki Onna (de 1993), mas acaba se
saindo de uma forma melhor. E muito se deve á arte de Ryou Haruka e sua
capacidade de abranger sua história, que acaba não se resumindo apenas a Itou.
Com isso, ele dá folego novo pra trama principal e distrai o leitor. Mesmo que
Hikari não seja a protagonista, suas cenas onde é perseguida pela Lolita stalkers
psicopata são sensacionais, e até mais atraentes que a de Itou. Basicamente, a
Lolita não é simplesmente uma assassina, mas sim uma sádica. Ela não quer
matar, mas sim fazer suas vítimas urinarem de tanto pavor. E como toda boa história
de terror, consegue te envolver plenamente: Personagens tendo atitudes idiotas
e que te deixam em estado de puro nervoso ao ponto de querer gritar "idiota, não é por ai", "corre, não fica parado", “AAARGH, ele a deixou entrar”. Para
mim, boas histórias de terror/psicológico, conseguem fazer o leitor sentir na
pela a tensão, independente de a história ser assustadora ou não, o ato de saber
conta-la é o que diferencia algo envolvente, de outro puramente superficial. Eu
não leio [ou assisto] histórias de terror pra sentir medo, mas porque quero
sentir aquilo tudo na pele, sem me expor a perigos reais.
A formula não é nova, mas é executada
de forma satisfatória. Os enquadramentos dão todo um dinamismo ao que estamos
vendo no painel, o cenário é simples e sem muito detalhismo, com enfoque tão
somente nos personagens e suas expressões. A arte, que é um tanto quanto exótica,
é boa. Ryou Haruka possui um traçado que é bem fluído e propositalmente
inconsistente, me lembra o de Sakai Esuno (de
Mirai Nikki) – Isso acaba dando uma liberdade de movimentação e expressões,
bem exageradas. O que é bom para esse tipo de série. Além disso, a angulação em
360º em alguns quadros, o uso excessivo de sombreamento e os rabiscados de lápis
[com arte final aplicada] às vezes dão a sensação de que tudo ali está saltando
para fora das páginas [claro que, não chega nem perto do que Inio Asano faz em Oyasumi PunPun – Que é uma verdadeira experiência
cinematográfica em quadros estáticos]. O que é um diferencial com relação a
muitos mangás novos de terror mais famosos, como Corpse Party: Blood Covered, que tem uma arte muito simplista e
enquadramentos que não contribuem para o ritmo da história.
Ibitsu é baseado em uma lenda urbana
real, Red Paper, Blue Paper [Aka Manto], que se tornou material de
referência para vários mangakas, como por exemplo, Kanako Inuki e até mesmo Sakai Esuno com o seu Hanako to Guuwa no Tera, que é uma leitura recomendada para todos
que querem descobrir mais sobre essas lendas urbanas japonesas. A lenda
basicamente é sobre um espirito que vive assombrando banheiros públicos e
escolares, sempre perguntando "Gostaria de papel vermelho ou papel
azul?”, se você escolhe “Azul =
Estrangulado/sufocado até a morte”, “Red = esfaqueado/dilacerado até a morte”.
Dessa lenda, surgem diversas variantes, como a da abordagem escolhida por Ryou
Haruka.
Ibitsu está longe de ser o melhor que
temos quando se trata de terror. Contudo, é uma leitura recomendada
principalmente para quem gosta do velho e bom terror, que não precisa apelar
para violência explicita ou sangue para impactar quem lê. Visualmente é bem
limpo e se mostra como um conto bem light [apesar de mostrar visualmente sangue
e tortura, assim como MAMILOS, não soa como sendo gratuito, nem exagerado como
normalmente se vê], o que torna a leitura ainda mais agradável para quem não
está acostumado a ler histórias de terror. Esses, com certeza irão se assustar
com várias páginas de Ibitsu. Para quem já é habituado, dificilmente verá algo de
magnifico ou ficará com medo, mas com certeza será tocado pela boa dinâmica de
Ryou Haruka. Ibitsu não é pra quem procura boas histórias, mas sim pra quem
procura um terrorzinho bacaninha pra
passar o tempo. Boa opção para os “fracos” de plantão.
Autor: Ryou Haruka
Volumes: 02 (com extras)
Ano: 2009/2010
Editora: Squere Enix (revista Young
Gangan)
Demográfico: Seinen
Gênero: Horror
Onde encontrar: Aion
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