segunda-feira, 14 de maio de 2012

Comentários: Fate/Zero Episódio 19 ~Feliz Dia Das Mães!


O humor da Type-Moon tem se tornado tão questionável quanto o de Gen Urobuchi, repleto de ironia. Como podemos ver na capa do script do episódio logo acima, onde Kiritsugu está amarrado com a fantasia de Kamen Rider, se preparando para o sacrifico em prol de um bem maior, da forma mais masculina possível. E claro, do seu lado, Natália Kaminski [~sua mãe~] com as luvas na mão, pronta pra sacrificar o filho com um sorriso sádico na face. E coincidência ou não, o episódio foi ao ar justamente no dia das mães (nas tardes de sábado do Brasil e nas madrugadas de domingo do Japão), o que torna tudo o que aconteceu no episódio ainda mais significativo.

E se compararmos com o episódio anterior, esse sem dúvidas foi muito melhor. Quer dizer, o episódio 18 foi muito divertido [ainda que completamente destoante do que é Fate/Zero], mas este tem um equilíbrio bem maior. O build-up, a construção da tensão e a execução foram crescentes até o momento da catarse, o momento da descontrução de Kiritsugu, um charmoso e frio assassino, ao “conto de um homem que, mais do que ninguém, acreditou em seus ideais, e foi levado ao desespero por eles.” – Como descrito no romance, mas aqui sem qualquer sutileza e em pura verborragia. Exagerado, mas particularmente, gostei da representação. O problema é que por mais que estes dois episódios tenham sido bons, eles soam completamente deslocados e quebraram a narrativa anterior, que rumava ao clímax total e fodônico.

Claro que o Ufotable tem tentado se manter fiel ao máximo possível, que a adaptação desses desse arco, acabou ficando inegavelmente ainda melhor [e maior] que original, mas aparenta ser desnecessário [e não é] a essa altura. Ficaria mais bem encaixado logo no inicio ou até mesmo na primeira metade do anime, sem perdas. Mas como eu comentei, a transição de Kiritsugu, de uma criança sonhadora para o homem que conhecemos, foi bem suave, agradável e sem muito que se destacar. Com exceção da parte final, onde Natália embarca para sua última missão a bordo do A300B2. Acredito que até mesmo aqueles que estão assistindo de forma inédita ou sem spoilers, já imaginavam que ia dar alguma merda. Natália mata o mago Varzak Odd, que através de abelhas carniçais que transformavam suas vítimas em cadáveres ambulantes (que tem uma explicação técnica, mas que para quem assiste o anime não tem a mínima importância), mas ela não contava que ele transportasse as abelhas dentro de si. Genial da parte dele, importante ressaltar.


Tanto Varzak, quanto as abelhas, desempenham seu papel de “elemento de roteiro” e até mesmo por isso, não houve qualquer enfoque na ação no que se refere à Natália, passado por aquele largo corredor de mortos-vivos e abelhas, até a cabine [mas a roupa protetora de abelhas, recebeu sutilmente seu destaque], pois o que importa seria o que vem a seguir. E é o momento onde na primeira parte Natália ensinou Kiritsugu como se portar e como deixar a emoção de lado e pensar com a lógica, iria ganhar força e sintetizar o seu lema: “Para salvar centenas, você deve sacrificar dezenas”. Como sempre quando se trata de Type-Moon, os diálogos finais entre a Natália e o Kiritsugu, foram o destaque do episódio. Foram densos, tocantes o suficiente pra dar aquele nozinho na garganta dos mais sensíveis. Pô, eu que me amarrava na Natália e gostava daquela sua interação com Kiritsugu, não pude evitar sentir umas pontadas no peito.

Principalmente porque ao contrário da “quebra” de Kiritsugu, estes foram sutis e repletos de subjetividades. Não houve um exagero de “é impossível eu sair daqui sem libertar as abelhas, me sacrifique” “Não, eu não posso fazer isso, você.... você...voc...eu te vejo como uma mãe, não me peça isso” algo que se fosse o Shiro de F/SN, certamente o diálogo seria bem assim. Gostei de ambos saberem o que precisa ser feito, mas conversarem como se houvesse salvação, como se fosse demais para eles deixar o orgulho de lado. Mas que ainda assim, ficou bem nítido toda a carga emocional e sentimental que os cercava. O sorriso de Natália antes morrer, certamente evidência sua satisfação ao perceber que não se enganara com relação à Kuritusugu. Ela o conhece e mesmo não sabendo ao certo onde ele está, sabia que ele faria a coisa certa. Derrubar o avião no oceano foi à atitude mais sensata da parte dele, representando um risco mínimo ao restante da população. Ele é a pessoa certa e com potencial suficiente para mudar alguma coisa. Digo sinceramente, que é por cenas assim, revestidas de diálogos filosóficos e emocionais, que eu gosto das séries da Type-Moon, porque embora suas personagens sejam meras carcaças, são bem fundamentadas.


Quer um exemplo maior que Kiritsugu, o protagonista mais errado da temporada? A cena que ele desaba e se desfaz de sua mascara, eu vejo muito mais como pura catarse do que propriamente uma tentativa desesperada de fazer o espectador sentir pena dele (eu não sinto. Não faz sentido querer fazer com que sintam pena dele, mas fazer com que soe imparcial sua construção sem cair para os lados – completamente mal ou completamente bom), afinal, nós já sabemos pelo que ele passou e o que aconteceu para que o mesmo se tornasse esse “monstro”. Me soou muito mais convincente e cativante, sua reação com relação a morte de Natália, do que o episódio anterior, que realmente precisou de uns minutinhos a mais, que na falta disso, acabou tornando a atitude do pequeno Kerry um tanto quanto brusca no diálogo com o pai. E ele romper em lágrimas, vem muito em razão disso, até então ele vinha sendo atormentado por essas memórias, tudo aconteceu muito rápido para ele, onde sequer ouve um tempo para digerir tudo, participando com Natália, de suas caçadas e presenciado constantemente vidas inocentes serem tomadas. Acredito que faltava esse “estalo” para ele e ao fazer o que considera certo, matando a pessoa mais importante até então em sua vida, ele parece sentir como se estivesse redimido do erro que cometeu anos atrás ao não ouvir a súplica de Shirley.


Foi sensacional, que em meio a lagrimas, a dúvida por um breve momento, comece a nascer em sua mente, com diversos questionamentos e então o lado emocional e racional dele pela última vez entram em conflito de divergência. Achei essa cena não apenas intensa, não apenas incrível, mas como também extremamente crível. Durante todo o episódio o Kiritsugu é representado como um vegetal, seus olhos estão mortos, na sua face não há um sorriso. Ele ali, definitivamente não era o Kiritsugu frio, charmoso e filha da puta que nós adoramos odiar ou amar. O Verdadeiro Kiritsugu nasceu depois que enfim, ele acorda daquele transe e se desespera com o que se tornou. Se desespera pelo que acabou de fazer e pelo que não fez! É um momento de extremo conflito interno para ele, não havia a menor chance de isso ser representado com sutileza. É o momento da fera escancarar algo que nunca mais voltaríamos a ver expositivamente. Foi puro desespero. Não foi bonito, não foi poético. Mas eu senti como sendo bastante verdadeiro, pois é exatamente assim a reação de qualquer pessoa que esteve em transe e atordoado por tanto tempo. Vocês não tem ideia do quanto eu vibrei, ao ver o “imbatível” e imponente Kiritsutu de joelhos, se desesperando. Só me faltou, soltar um sorrisinho cínico. Na parte onde ele fala “matei de novo” em meio a frases desconexas, evidência de que Kiritsugu mesmo antes de matar o seu pai, já tinha traços de psicopatia [e que por acaso, Natália chega a questionar no material original, deixando isso subtendido]. Eu acredito que o arrependimento dele não é pelas pessoas que morreram, mas por ele não ter feito o que achava ser certo e lógico. O que acabou despertando esse lado de matar sem pudor adormecido. E bom, novamente se repete a peça shakespeariana onde um homem é capaz de matar um pai, por amor a uma mulher. Kiritisugu não é tão bonzinho e puro, não é mesmo. Shirley era o seu velcro.

-Você viu isso, Shirley?
-Eu matei de novo...
-Como eu fiz com o meu pai.
-Eu não estraguei tudo, como fiz com você.
-Eu salvei muitas pessoas...
-Se a Natália tivesse conseguido aterrissar, não há como saber quantas pessoas teria morrido.
-O seu sacrifício evitou que...
-Então... então...
-Shirley...
-Eu...
-Cala a boca! Cala a boca!
-Seu maldito!

“Kerry, que tipo de adulto você quer se tornar quando crescer?”


Agora já sabemos a resposta. A Saber, já sabe a resposta. E essa é a origem, daquele é o badassssssss desgraçado mais sensacional do Nasuverso. Bom, muito bom, valeu a pena visualizar esse arco? Sem dúvidas, pena que como um todo é completamente inconsistente por não se encaixar na narrativa iniciada quando Kirei enfim, começa a ofensiva. Veremos como isso irá pesar lá na frente [o clima já foi e todos broxaram, vão ter que começar as preliminares de novo], pois são poucos episódios pra taaaaaaaaaantos diálogos e muitos acontecimentos.

Outras coisas que eu gostaria de destacar, é que o CGI do avião ficou fabuloso, não foi tão artificial quanto aquele carro CGzão da Shirley, no episódio anterior que parecia completamente deslocado da fotografia. O ritmo suave e a agradável BGM ao fundo contribuiu para que o episódio fosse mais gostoso de assistir apesar de toda tensão. A cena do Kiritsugu derrubando o avião com aquela Stinger foi belíssima, com as gaivotas sobrevoando ao redor e eclipsando o close na personagem. Excelente direção de Ei Aoki e igualmente ótima a interpretação de Rikiya Koyama, como Kiritsugu. O seiyuu mostrou um lado do Kiritsugu, inimaginável para muitos com maestria. E no próximo, Rider mostra que ainda tá vivo. Que saudades do conquistador.

Alguns Pontos:

-Aquela frieza da Natália foi um charme e tanto. Melhor ainda a desenvoltura da Watanabe Akeno, a interpretando daquele jeito, completamente despida diante de Kiritsugu.
-Só eu que acho o Kiritsugu adolescente, muito bizarro com aquela voz imponente demais pra idade?
-Natália usa a mesma marca de cigarros da Aozaki Touko [personagem de Kara no Kyoukai], no quinto filme, Paradox Spiral.
-Bela homenagem para o dia das mães de Gen Urobuchi, Type-Moon e Ufotable. É isso ai! Parabéns pra Natália.