segunda-feira, 16 de julho de 2012

Review: Sankarea - Até os Zumbis Podem ser Moe


Pense, o que é melhor que uma cosplay moe moe? Que tal uma cosplay moe moe zumbie? Furuya curtiu isso!

Sankarea é daqueles animes com enorme potencial, reduzido a nada. O começo é promissor, embora o primeiro episódio seja um pouco truncado, mas acaba sendo uma boa apresentação. O plot é mais um destes que transformam grandes nomes ou figuras mitológicas em lindas garotas moé. Furuya é obcecado por zumbis e acumulou uma enorme coleção de apetrechos sobre o tema. Seu sonho é namorar uma garota zumbi, o que faz com que ele feche os olhos pra todas as garotas ao redor, incluindo ai, sua prima Wanko, que de tão over [tem um corpão, é linda, cozinha e só tem olhos pra ele] que é, faz aumentar sua suspensão de descrença. Mas o fato é que, quando o seu gato morre, ele tenta reanimá-lo com uma poção. Nessa época, ele conhece uma garota chamada Rea [bonitinha, ingênua quando humana e meio perva quando vira zumbi. Rica, problemática a procura do seu salvador] que tenta cometer suicídio usando a poção Furuya, mas em vez disso, acaba se torna um zumbi.

É um conceito distorcido, mas é legal, divertido, funciona e é palpável por ser uma comédia, meio que uma sátira do gênero. Para quem é fã de zumbi, a primeira coisa que irá notar é a multiplicidade de referências a filmes do gênero [de cenas sequenciais, a pôsteres colados na parede], e homenagens á nomes famosos como Dário Argento, Lucio Fulci e George Romero [nos nomes dos personagens, como Mero = George Romero. E a própria Rea Sanka, é um trocadilho para Sangria, título japonês de Zumbi 2, filme mais famoso do Fulci].


Adaptado do mangá homônimo de Mitsuru Hattori, em publicação desde 2009, Sankarea é uma produção, ainda que mediana, acima da média para um estúdio como o DEEN. Claro, conta com o patrocínio da Kodansha, Lantis e Pony Canyon, nomes que vocês já devem estar cansados de ver em diversos animes. Muito se deve à boa staff da série, que possui uma experiência considerável. Sankarea tem uma paleta de cores que se destaca, o uso das cores, principalmente nos primeiros episódios, era algo notável, juntamente da integração entre animação 2D e CG, com alguns toques de SHAFT nos maneirismos dos personagens. Mas nada tão exagerado como visto em Tasogare Otome X Amnesia. O figurino da Rea nos primeiros episódios era bem elegante. Destaque para a fotografia, sempre muito viva. A trilha sonora de Yukari Hashimoto (que esteve à frente na composição da trilha de Mawaru Penguindrum) apesar de não se destacar, complementa muito bem.

A direção do estreante como diretor Mamoru Hatakeyama, é funcional. Ao menos, até o momento em que a série exige dele mais do que uma adaptação fiel; uma boa história. A função do diretor é fazer com que a narrativa de uma história [em quadrinhos] funcione como audiovisual, como uma experiência que não necessite de muletas para se fazer entender, mesmo que isso signifique não ser uma adaptação fiel. O final de Sakamichi no Apollon pode ser criticado por ser corrido, muito condensado e ter deixado de fora várias coias, mas como animação foi funcional, com uma direção certeira que tornou a história redondinha. Mas, se Mamoru Hatakeyama já se mostra perdido com o material que tem em mãos, não sabendo como levar a história para o seu desfecho final, o roteiro do mangá original também não ajuda em nada, chegando a ser ofensivo para qualquer ser pensante.


Temos bons elementos, um conceito interessante [garota zumbi totalmente racional. E moé. Numa sátira de gênero], um protagonista que é mais ativo que a média, embora ainda seja um arquétipo bem raso, e temos um enredo com um conflito sério. Rea era mantida prisioneira pelo pai pedófilo, com uma madrasta alcoólatra e vê na vida após a morte, a sua redenção. O que ela não contava, era com a obstinação de seu pai, mesmo depois desta tendo se transformado em uma zumbie. A montagem até metade da série é satisfatória.  Diverte. O conceito é bem explorado e possui alguns ganchos que poderiam levar a catarse na fase final, com direito a um clifhanger que talvez fosse impactante.

O problema é que as tramas não se desenvolvem de forma satisfatória, a progressão é apática e sem brilho, chegando a um desfecho genérico e sem inspiração. É como se a série estivesse fazendo piada de si mesmo. Furuya, como um geek tsundere, conseguiu se sobressair até o ponto onde seu divertimento com seu animal de estimação e objeto de fetiche, Rea, começou a se mostrar repetitivo e sem evolução. Rea por outro lado, de garota problemática em apuros, conseguiu mostrar uma face inusitada que deveria ter sido mais explorada. Mas faltou desenvolvimento de seu conflito. O dilema do convívio com sua família e os traumas subsequentes, sua própria condição como zumbi e a forma como afetava a todos – Tivemos isso espalhado pela série, mas foi apenas resquícios em meio a mediocridade, onde na maior parte do tempo, Rea é colocada como um mero objeto decorativo, objeto de afeto, seja por Furuya, seja pelo eu pai.


Não é que eu esteja exigindo demais de um harém genérico com público alvo nos garotinhos de 14 anos ávidos por peitinhos saltitantes, calcinhas e uma história sem muito potencial para ser algo mais além da margem de diversão. Mas é o mínimo que se pede de uma boa história; bom roteiro [já que, mesmo que um personagem não seja bom, tendo um bom roteiro que os sustente, já passa a ser uma história considerável], que não subestime a inteligência de seu público. O conflito central, envolvendo Dan'ichiro Sanka, pai de Rea, apesar de interessante e podendo ser explorado como um drama mais pesado ou apenas um drama de fundo, sem muito destaque, acabou se revelando um recurso de roteiro bem artificial pelo destaque dado na narrativa. A reviravolta então foi um capote de 180º, onde o conflito é amenizado e a resolução patética. Dan'ichiro é um vilão sem força, mera ferramenta mal explorada do roteiro. Temos no episódio 11, o pior diálogo da temporada, contraditório em todos os sentidos, com tudo que foi mostrado anteriormente.

[Here, here. Contém spoilers - Nota para Mise en  scène]


Sankarea seria uma séria magistral, caso fosse uma paródia. Mas acaba se perdendo na   narrativa, assim como Tasogare, muito por sua multiplicidade. Mamoru Hatakeyama não soube trabalhar bem os elementos de drama, slice of life, romance e comédia na mesma proporção. Como resultado, temos vários bons momentos de comédia, mas acaba pecando e muito em outros pontos, principalmente no drama. Faltou-lhe sensibilidade. A pitada de ecchi tende a cruzar a linha de muitos, mas foi algo sempre bem aplicado. Sankarea possui ótimos momentos, como o episódio centrado na irmã de Furuya, a Mero, único dos atalhos que a história toma que realmente trabalhou em favor do enredo – Onde ao mesmo tempo em que temos o desenvolvimento da personagem, temos um vislumbre no que pode vir a acontecer no futuro da história. O conflito de Rea com sua família nos primeiros episódios, a presença de Furuya sempre como um personagem divertido e digestível. Mesmo as situações de fanservice, como na primeira vez de Rea na casa de Furuya.

Mas Sankarea acaba terminando de forma medíocre, num episódio final em forma de prólogo totalmente desajustado, foram do tom e sem feeling algum, com um clifhanger incapaz de causar tensão. A bem da verdade, com as vendas do mangá não sofrendo nenhuma alteração com a adaptação, nem mesmo as vendas do anime sendo algo digno de nota, Sankarea tem aqui, um fim merecido. E caso tentem reanimar o morto, o que seria surpreendente, não terá minha audiência. Mais um pra vala dos potenciais desperdiçados. Que descanse em paz!

Destaque: Babu. O melhor gato zumbi, desde sempre. 

Nota: 05/10
Diretor: Mamoru Hatakeyama
Roteiro: Noboru Takagi
Estúdio: DEEN
Episódios: 12 + Episódio 0 (OVA)

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