quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Kill la Kill: OVA – A Formatura

Aceitando o que passou e seguindo adiante. 
Graduação.

Depois de passar tanto tempo vestindo o uniforme escolar não é fácil se desfazer daquele pedacinho de pano que nos une em laços afetivos àquele ambiente de confrontação, revolta, aprendizado, descobertas, amadurecimento. Uma escola não é só um lugar onde você se senta e aprende lições teóricas, vai muito além. É um local de interação e daí surge diversas divergências, dificuldades de integração e um único objetivo em comum que é superar todos estes desafios que se colocam à sua frente e se graduar. Uma escola é um simulacro da sociedade e como tal se coloca como um agente preparatório. O uniforme te coloca em um status diferenciado.

No Japão, existe a crença social de que quando se é um estudante com seu uniforme escolar, você é [metaforicamente falando] dotado de superpoderes, isso vem da grande energia e vigor presentes durante essa fase da juventude, que para muitos, o momento máximo em que uma pessoa consegue brilhar intensamente. Por isso, a crença de que quando alguém se forma e se torna uma pessoa apta a ingressar na sociedade, ela deixa de existir. Ela deixa de existir para se tornar mais uma engrenagem do sistema e cumprir suas obrigações. É como se não fosse mais tolerado os sonhos e então a magia se perde.

É exatamente por isso que o relacionamento homoafetivo entre garotas do colegial é geralmente aceito, se fazendo vistas grossas, mas somente por que se acredita ser algo passageiro e inerente à idade das descobertas e aventuras. Ou seja, nunca é levado a sério. Nos primórdios do Yuri mangá, todos tinham finais trágicos e eram caracteristicamente melodramáticos, não só devido ao zeitgeist, mas porque não havia perspectivas de futuro para o romance lésbico.
Independente das diferenças culturais, se graduar é de uma forma ou de outra, deixar algo de você para trás juntamente do uniforme. Para muitas pessoas é difícil abrir mão daquilo que a acompanhou por cerca de uma década de sua vida, virar as costas e seguir adiante para uma nova etapa. Esse OVA de Kill la Kill, que se passa após a luta final contra Ragyo e antes do epílogo mostrando no encerramento do episódio 24, coloca um ponto final no tema da série acerca da individualidade e do coletivismo, uma história sobre descobrir a si mesmo. Ou seja, a velha história de amadurecimento. Nesse sentido, esse encerramento não poderia ser mais adequado, retratando justamente a atmosfera de uma graduação, que é o olhar para trás, a negação, o apego, as lágrimas e enfim, a aceitação. O que passou, passou. É preciso olhar para frente e vislumbrar diversas possibilidades e novos desafios, com a certeza de que embora superados, todos aqueles momentos vividos poderão ainda queimar no seu peito, fazendo ali a sua morada. Afinal, eu acredito que a memórias são o maior tesouro que um Homem consegue carregar.

Este belíssimos frames, do momento que Satsuki corta o seu cabelo e rompe com o passado, com seu velho eu, e dá as boas vindas ao que virá, sintetiza tudo o que foi este episódio em um gesto simbólico:
Kill la Kill certamente não é a obra prima do despirocado diretor Hiroyuki Imaishi, assim como teve uma condução turbulenta com altos e baixos (quando e se o ELBR tecer uma critica sobre a série, isso deve ser abordado), mas soube cativar a muitos [como eu] com seus personagens icônicos e carismáticos, além do nonsense absurdo. Esse OVA faz uma coisa que não é tão comum na indústria atual de animes, que é produzir OVAs que complementam a história. O Crítico Nippon já escreveu sobre isso, em OVAs Que Engrandecem a Série, e quanto a mim, creio que o último que me deu essa sensação de completude foi o OVA de Shiki.  Kill la Kill 25 mereceu tem seu lugar entre estes OVA’s que se sobressaem, com uma trama que dá sequência ao final proposto na série e mesmo tom narrativo, inclusive estão aqui elementos comuns em battles shounens que marcaram o anime, como o protagonista superando seus limites no último instante com uma força que recebe daqueles que contam com ele. Uma trama sobre duplos, uma sombra sua que se nega a se resignar à suas decisões reflete bem o estado emocional em que as pessoas se colocam em situações de perda, onde você precisa lutar contra você mesmo. Uma trama sobre personagens que desesperadamente se apegam à algo que se partiu e se vê um prisioneiro de fantasmas do passado, como Rei Hououmaru. Uma trama que é um belo epilogo final de despedida para os seus fãs. Parece ser a última chance para vermos mais uma vez estes personagens.


Nota: eu confesso que não iria me importar se houvesse mais um OVA – curtinho que fosse – com beach episode e apenas de descontração. 
-Ryuuko: "Acho que eu realmente superei  os uniformes de marinheiro"
-Mako: "Mas Senketsu estará sempre com você! Ele estará sempre em seu coração!'


***
Cerejeiras e suas pétalas, simbolo do renascimento. Ela representa o inicio de um novo ciclo de estações.
E como não shippar essas duas? Eu gostei tanto de ter encerrado com elas. Significa muito, já que Mako acolheu Ryuuko como parte da família, foi muito legal Ryuuko dizendo até logo pra sua "nee-san" (awwwwnnnnn<3) e partindo com os Mankashoku.

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