segunda-feira, 8 de setembro de 2014

The Hour Of The Mice (Hatsukanezumi no Jikan) 2004

Um instituto com vigilância 24 horas onde as crianças são enviadas ainda bebês para se tornarem membros excepcionais da sociedade. Mas será que um sistema assim pode trazer felicidade? 

Texto escrito originalmente há pouco mais de um ano, mas que só agora publicado
Aaah, esses autores intermediários... O que me atrai afinal de contas em seus trabalhos? Eu tenho na minha lista, várias e várias obras de autores intermediários com obras do naipe de filmes da sessão da tarde em sua fase áurea que transforma filmes como ‘O Carro Desgovernado’ e ‘Curtindo a Vida adoidado’ em verdadeiros “clássicos” trash. Por exemplo, Line do Yua Kotegawa é um mangá que eu fiquei muito contente de poder conferir quando chegou a vez dele na minha lista de leitura, diria que até certo ponto eu gostei, mas não é algo que eu voltaria a ver. O mesmo para a obra que comentarei agora, The Hour Of The Mice (originalmente Hatsukanezumi no Jikan), da autora Tome Kai.
  

A história é exatamente o que o título dá a entender: A Hora dos Ratos. Maki Takano, Ryo, Natsume e Mei são alunos de uma academia particular para a formação de pessoas altamente talentosas para a sociedade. Eles não têm lembranças de seus pais ou mesmo de uma vida em família já que estão detidos neste local fechado com acesso limitado e monitorados 24 horas por dia desde que se entendem por gente. Além de terem que seguir um rígido cronograma de estudos e se submeterem a baterias de exames, precisam tomar periodicamente capsulas de remédios determinados.

Oh, sim, como você pode notar, há algo de muito estranho com este lugar. Esses estudantes vivem isolados do mundo exterior e se alguém tenta fugir ou infringe alguma regra, acaba preso e pode até ser expulso. Mas seria isso mesmo? Há vários boatos de estudantes que desapareceram e nunca mais foram vistos. Quando a estilosa e porra louca Kiriko Hinatsu – a sua garota de gênio forte e semblante fechado capaz de atrair um culto de apaixonados atrás de si – aparece de forma suspeita como uma aluna transferida, Maki tem a estranha impressão de tê-la visto anteriormente. E antes que o pobre garoto se desse conta, já estava obcecado pela garota de poucas palavras. Ele só não contava que essa menina fosse envolve-lo em um plano de fuga que traria a tona todos os segredos dessa escola para super dotados.
A partir deste ponto, Maki e os demais precisam decidir se acompanham Kiriko em seu sonho de liberdade ou permanecessem na academia como ratos de laboratório. The Hour Of The Mice é menos sobre conspiração, como as sinopses dão a entender, e mais sobre aquele velho conceito de felicidade e liberdade (tema abordado em The Music of Marie). É menos sobre suspense e mais sobre pessoas e seus conflitos existenciais. Para um passarinho criado dentro da gaiola, o mundo pode ser assustadoramente hostil com ele tendo que se adaptar a novas regras.

Muitos já devem ter se perguntando o porquê de uma pessoa preferir uma distopia a viver numa realidade e a Kei Toume levanta a bola, embora de maneira muito tímida. E basicamente este é o principal problema de The Hour Of The Mice; falta estimulação e foco no que realmente importa. Ela joga as questões em diálogos unilaterais pouco inspirados e as respostas em caixas de diálogos em que os personagens parecem estar recitando uma cartilha. Não há nuances que o façam parecer reais, nem mesmo qualquer traço de complexidade, seja nos personagens ou na trama. Os personagens são planos e executam um papel pré-determinado, vinculados por um drama superficial. A história é formada por diversas subtramas que apesar de começar de modo frenético e dinâmico, acaba ganhando uma barriguinha que se estende até o capítulo final, à altura do campeonato, previsível e sem qualquer conflito real.

Minto, Toume nos brinda com um desfecho para o personagem principal muito pouco usual, apesar de se tratar de um mangá de demografia adulta. Apesar da condução turbulenta, vale ressaltar os méritos de Toume; o seu traço é bem estilizado e dá um tom muito melancólico para a história, assim como as expressões dos personagens sempre abatidas. Ela ambienta suas histórias em uma atmosfera que me agrada, além da arte taciturna, esteticamente assimétrica/irregular e um tanto rebuscada, para mim ressoa com um certo charme. É uma autora que podemos chamar de puritana, em um sentido não degenerativo. Em suas histórias, ela nunca apela para fetichizações e tendem a ser muito carregadas dramaticamente, abatidas, meio tristes. E ela sempre tem bons temas, porém lhe falta carpintaria para histórias como The Hour Of The Mice ganhem um brilho que a tornem marcantes. É um pecado olhar para esse mangá e não sentir nenhuma vontade de revê-lo ou de adentrar em suas camadas por ser irremediavelmente unidimensional. Admiro a tentativa de tornar a história mais ambígua e tentar alcançar conflitos envolvendo os personagens. Quando um autor tenta isso, mas sem a competência para lhes dar uma alma, tudo o que eu faço é dar de ombros e suspirar. Tudo o mais sobre The Hour Of The Mice, é Toume e sua habilidade de fazer suas histórias serem lidas do inicio ao fim mesmo que a escrita te desagrade. É notável.

Nota: 06/10
Autora: Kei Toume
Ano: 2004
Volumes: 4
Demografia: Seinen
Serialização: Revista Morning/Afternoon (Kodansha)
Perfil: MU

Temas Relacionados:
-The Music of Marie: O Sorriso Gentil & Cruel de Marie

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