Um instituto com vigilância 24 horas onde as crianças são enviadas ainda bebês para se tornarem membros excepcionais da sociedade. Mas será que um sistema assim pode trazer felicidade?
Texto escrito originalmente há pouco mais de um ano, mas que só agora publicado.
Aaah, esses autores intermediários... O que me atrai afinal
de contas em seus trabalhos? Eu tenho na minha lista, várias e várias obras de
autores intermediários com obras do naipe de filmes da sessão da tarde em sua
fase áurea que transforma filmes como ‘O Carro Desgovernado’ e ‘Curtindo a Vida
adoidado’ em verdadeiros “clássicos” trash. Por exemplo, Line do Yua Kotegawa
é um mangá que eu fiquei muito contente de poder conferir quando chegou a vez
dele na minha lista de leitura, diria que até certo ponto eu gostei, mas não é
algo que eu voltaria a ver. O mesmo para a obra que comentarei agora, The Hour
Of The Mice (originalmente Hatsukanezumi
no Jikan), da autora Tome Kai.
A história é exatamente o que o título dá a entender: A Hora
dos Ratos. Maki Takano, Ryo, Natsume e Mei são alunos de uma academia
particular para a formação de pessoas altamente talentosas para a sociedade.
Eles não têm lembranças de seus pais ou mesmo de uma vida em família já que
estão detidos neste local fechado com acesso limitado e monitorados 24 horas
por dia desde que se entendem por gente. Além de terem que seguir um rígido
cronograma de estudos e se submeterem a baterias de exames, precisam tomar
periodicamente capsulas de remédios determinados.
Oh, sim, como você pode notar, há algo de muito estranho com
este lugar. Esses estudantes vivem isolados do mundo exterior e se alguém tenta
fugir ou infringe alguma regra, acaba preso e pode até ser expulso. Mas seria
isso mesmo? Há vários boatos de estudantes que desapareceram e nunca mais foram
vistos. Quando a estilosa e porra louca Kiriko
Hinatsu – a sua garota de gênio forte e semblante fechado capaz de atrair um
culto de apaixonados atrás de si – aparece de forma suspeita como uma aluna
transferida, Maki tem a estranha impressão de tê-la visto anteriormente. E
antes que o pobre garoto se desse conta, já estava obcecado pela garota de
poucas palavras. Ele só não contava que essa menina fosse envolve-lo em um
plano de fuga que traria a tona todos os segredos dessa escola para super
dotados.
A partir deste ponto, Maki e os demais precisam decidir se
acompanham Kiriko em seu sonho de liberdade ou permanecessem na academia como
ratos de laboratório. The Hour Of The Mice é menos sobre conspiração, como as
sinopses dão a entender, e mais sobre aquele velho conceito de felicidade e
liberdade (tema abordado em The Music of Marie). É menos sobre suspense e mais sobre pessoas e seus conflitos
existenciais. Para um passarinho criado dentro da gaiola, o mundo pode ser
assustadoramente hostil com ele tendo que se adaptar a novas regras.
Muitos já devem ter se perguntando o porquê de uma pessoa
preferir uma distopia a viver numa realidade e a Kei Toume levanta a bola,
embora de maneira muito tímida. E basicamente este é o principal problema de The
Hour Of The Mice; falta estimulação e foco no que realmente importa. Ela joga
as questões em diálogos unilaterais pouco inspirados e as respostas em caixas
de diálogos em que os personagens parecem estar recitando uma cartilha. Não há
nuances que o façam parecer reais, nem mesmo qualquer traço de complexidade,
seja nos personagens ou na trama. Os personagens são planos e executam um papel
pré-determinado, vinculados por um drama superficial. A história é formada por
diversas subtramas que apesar de começar de modo frenético e dinâmico, acaba
ganhando uma barriguinha que se estende até o capítulo final, à altura do
campeonato, previsível e sem qualquer conflito real.
Minto, Toume nos brinda com um desfecho para o personagem
principal muito pouco usual, apesar de se tratar de um mangá de demografia
adulta. Apesar da condução turbulenta, vale ressaltar os méritos de Toume; o
seu traço é bem estilizado e dá um tom muito melancólico para a história, assim
como as expressões dos personagens sempre abatidas. Ela ambienta suas histórias em uma atmosfera que me agrada, além da arte taciturna, esteticamente assimétrica/irregular e um tanto rebuscada, para mim ressoa com um certo charme. É uma autora que podemos
chamar de puritana, em um sentido não degenerativo. Em suas histórias, ela
nunca apela para fetichizações e tendem a ser muito carregadas dramaticamente,
abatidas, meio tristes. E ela sempre tem bons temas, porém lhe falta
carpintaria para histórias como The Hour Of The Mice ganhem um brilho que a
tornem marcantes. É um pecado olhar para esse mangá e não sentir nenhuma
vontade de revê-lo ou de adentrar em suas camadas por ser irremediavelmente
unidimensional. Admiro a tentativa de tornar a história mais ambígua e tentar
alcançar conflitos envolvendo os personagens. Quando um autor tenta isso, mas
sem a competência para lhes dar uma alma, tudo o que eu faço é dar de ombros e
suspirar. Tudo o mais sobre The Hour Of The Mice, é Toume e sua habilidade de
fazer suas histórias serem lidas do inicio ao fim mesmo que a escrita te
desagrade. É notável.
Nota: 06/10
Autora: Kei Toume
Ano: 2004
Volumes: 4
Demografia: Seinen
Serialização: Revista Morning/Afternoon (Kodansha)
Perfil: MU
Temas Relacionados:
-The Music of Marie: O Sorriso Gentil & Cruel de Marie
Nota: 06/10
Autora: Kei Toume
Ano: 2004
Volumes: 4
Demografia: Seinen
Serialização: Revista Morning/Afternoon (Kodansha)
Perfil: MU
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-The Music of Marie: O Sorriso Gentil & Cruel de Marie
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