terça-feira, 18 de novembro de 2014

Hitsuji no Uta (2003): A Canção dos Cordeiros

O drama de dois irmãos que se apaixonam um pelo outro, e análogo a este desejo incestuoso, o forte impulso de se alimentarem de sangue.
Texto escrito originalmente em 06/06/2013

“É muita solidão... É muito depressivo... A dor e o sofrimento se sucedem um após o outro”

Esse trecho da música de encerramento, Destiny ~Shukumei~, cantada por Hayashibara Megumi e Seki Tomokazu, os seiyuus de Chizuna e Kazuna Takashiro; resumem com mais eficácia do que mil palavras do que se trata Hitsuji no Uta (Song of the Sheep/A Canção dos Cordeiros) – e se trata, além de tudo, de uma canção tão bela, com notas, melodias e timbres que evidenciam em sincronia essa trágica relação entre os irmãos.

A família Takashiro tem um histórico de doença incomum que ocasiona uma vontade extrema de beber sangue, algo que os assemelha a vampiros. Porém, estão muitos distantes daqueles vampiros místicos; eles não possuem longas presas, não têm a pele esbranquiçada, nem sofrem com sol ou alhos ou qualquer ponto fraco que tornou icônica a imagem clássica que se tem acerca dos vampiros dos contos de fantasia. É apenas uma família normal sofrendo com uma terrível doença. Dessa forma, os irmãos Chizuma (Megumi Hayashibara) e Kazuma Takashiro (Tomokazu Seki) são separados ainda na infância, com o garoto não sabendo nada com relação a sua doença, enquanto ela assistia a agonia de seus pais até a morte. Os dois voltam a se encontrar quando Kazuma começa a sofrer os sintomas dessa doença e reencontra inesperadamente a irmã mais velha.

Hitsuji no Uta é uma adaptação em 04 OVAs de 2003 do mangá homônimo da autora Kei Toume. Além desse OVA, a série ainda ganhou uma adaptação em live action contando o drama dos irmãos Takashiro. Hitsuji no Uta tem aquilo que eu mais admiro em obras vampirescas: o conflito. Para mim, é inconcebível que uma obra que trate deste universo deixe de tocar nos pontos mais complexos dessa mitologia, que é a solidão frente à perspectiva de uma vida eterna e o dilema de morder ou não morder. A trama é mundana e abre mão de quaisquer aspectos fantasiosos. Chizuna e Kazuma não possuem poderes sobre humanos, nem sua doença serve de muleta para resolver os conflitos. Na verdade, o diamante azul dessa obra de Toume está exatamente no aspecto humano desse enredo.
Chizuna e Kazuma acabam por irem morar juntos, numa tentava que no primeiro momento fica subtendido como uma forma de ambos se apoiarem, devido os sintomas aparentes dele. No entanto, Chuzina está apenas mexendo suas varinhas manipulativas para ter nele a figura substituta de seu pai. A série tem fortes conotações incestuosas e sexuais, mas se tratando de Toume, ela nunca deixa isso gratuito ou mesmo torna isso visualmente explicito. O enredo segue uma narrativa densa e dramática – muito melodramático, aliás. O conflito de se alimentar de sangue é exposto à exaustão com fortes embates psicológicos. A direção de Gisaburo Sugii (que também escreveu o roteiro adaptado) busca dar mais impacto visual a tais cenas com movimentações de câmera e filtros que extraiam o dilema interno do protagonista. Um dos pontos mais belos aqui é a perspectiva que se tem da morte, e com a trilha sonora de Ken Miyazawa, isto se torna ainda mais forte. É similar àqueles impulsos que surgem vez ou outra de se abandonar, de se jogar e olhar tudo em volta com olhos mortos paisagens acinzentas.

Nesse sentido, este OVA consegue extrair toda a desesperança presente nas veias dos Takashiro e anular qualquer cor que não monocromática, os tons são sempre acinzentados, mórbidos, com uma direção de fotografia que busca trazer a tona em paisagens sem vida o tom ideal para uma história que retrata a perspectiva da vida de personagens só enxergam a morte. A única cor que realmente se destaca é o carmesim.
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O resultado final de Hitsuji no Uta, porém, não é dos melhores. Se por um lado, Gisaburo Sugii fez um trabalho exemplar ao extrair toda a melancolia interior dos personagens e trabalhar o conflito de uma forma que ele reflita no audiovisual, com uma fotografia suja, estilizada, com cores mortas, paletas de cores acinzentadas e uma trilha sonora e animação minimalista (neste caso esta característica é motivada pela falta de grana; ainda assim me soava agradável, sentia algo de charmoso nessas imagens retrô assimétricas); por outro o seu roteiro peca em esticar demais o conflito inicial de Kazuna por dois episódios sem que nada de significativo aconteça com ele ou à sua volta, e nem mesmo com todo este tempo de tela, ele se torna suficientemente um personagem capaz de gerar interesse e envolvimento.  
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A motivação dos personagens não é convidativa à imersão por boa parte do tempo e seus conflitos acabam soando superficiais, mesmo com o enredo dedicado exclusivamente à caracterização dos dois, e a decisão de cobrir todos os 7 volumes originais é certamente o que torna tudo isto tão superficial. Chizuna consegue ser mais atrativa por dois motivos fundamentais: a dublagem irretocável de Hayashibara Megumi que torna a Chizuna assustadora e insondável; e á própria Chizuna, que se mostra uma personagem mais complexa que Kazuna. Os diálogos que envolvem Kazuna se resumem a diálogos repetidos, flashbacks e frases desconexas. Falta um algo a mais que nunca vem.

A animação é quase ausente, com diversas células reutilizadas à exaustão. O ponto mais alto alcançado são os personagens conversarem sem mexerem a boca. Se há algo de destaque aqui além de Chizuna e Hayashibara Megumi, é sem dúvidas a trilha sonora, embora simples, e com uma peça de teclado que se repete infinitamente, traduz auditivamente a melancolia da história. E nada disso serve para salvar este OVA de Hitsuji no Uta da mediocridade.

Avaliação:  ★ ★ ★ ★
Direção: Gisaburo Sugii
Roteiro: Gisaburo Sugii
Estúdio: MADHOUSE
Episódios: 4
Formato: OVA
Duração: 30 min./média
Trilha Sonora: Ken Miyazawa
Página: MAL

Temas Relacionados:
-The Hour Of The Mice (Hatsukanezumi no Jikan)

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