Saudações do Crítico Nippon!
Avatar - o Último Dobrador de
Ar é, com certeza, o melhor cartoon que eu já assisti. E colocado ao lado dos
animes, sem exagero nenhum, é melhor que uns 98%. Juro que estou sendo o menos
exagerado possível, e sinto uma enorme responsabilidade ao escrever sobre algo
que me é tão impressionante. Avatar é simplesmente completo em todos os
sentidos. Se você só o assistiu quando tinha 12 anos na Nickelodeon, sinto
informar que não deve ter captado a essência de muita coisa. Muita coisa mesmo.
E sua `continuação`, Korra, é claramente inferior (com exceção da animação
deslumbrante). Portanto, vamos analisar agora a lenda de Aang. E que lenda,
meus amigos. Que lenda.
(A primeira metade desta crítica não contém spoilers. A segunda metade, com o título Parte 2, aí sim, está repleta de spoilers)
Apresentando um universo
extremamente rico, a abertura é um resumo perfeito (cartoons costumam fazer
isso, como Caverna do Dragão, Gárgulas...): o mundo é dividido em 4 Nações
(Fogo, Terra, Água e Ar), e alguns poucos conseguem manipular (“dobrar”) tais
elementos de suas respectivas nações.
Além disso, a cada 100 anos surge um ser místico, conhecido como Avatar,
que ajuda a manter o equilíbrio entre todas, e que era o único que podia
manipular as quatro habilidades. Assim, quando o pequeno Aang, reencarnação
“atual” do Avatar, acaba congelado em um iceberg por toda aquela que deveria
ter sido a sua geração, o equilíbrio se perde. A Nação do Fogo começa a
subjugar as outras e o mundo entra numa era de trevas.
Assim, quando os irmãos
Sokka e Katara acidentalmente livram Aang de seu congelamento, a história
imediatamente torna-se urgente. O “poderoso” Avatar é só uma criança. Ele sabe
apenas uma das habilidades (a do título do desenho). Ele precisa se readaptar a
época em questão, aprender todas as dobras que faltam e ainda impedir a Nação
do Fogo que encontra-se cada vez mais poderosa. E diga-se de passagem, essa
urgência é uma das coisas que mais falta em sua predecessora, Korra.
Trata-se de uma trama fácil
de compreender e que não perde tempo em longas explicações (a abertura já faz
isso). Ao invés disso, concentra-se nas reações dos personagens ao que está
acontecendo, e no desenvolvimento destes. Tanto que, diferente da maioria dos
animes, estamos sempre acompanhando os vilões, o jovem Zuko e
seu tio Iroh. Eles não aparecem somente para fazer suas cenas de ação contra os
mocinhos e pronto. Os dois foram exilados pela própria Nação do Fogo e são
tratados mal por todos. Percebam que já há uma história só deles aí. Um drama
que os torna tridimensionais. E que, ao seu próprio modo, nos faz torcer por
eles (o público sempre torcerá pelos oprimidos). Inclusive, num dos episódios
da primeira temporada, soldados da Terra capturam o tio Iroh pelado (um idoso
nu! Tem como ser mais vulnerável ao espectador do que isso?) Os criadores foram
extremamente inteligentes de plantarem essas sementes desde o início. Aliás, se
preocupam até em nos mostrar como os vilões podem saber a localização dos
heróis (algo geralmente ignorado). E uma das brilhantes sequências econômicas é
feita acompanhando um peixe: pescado na aldeia em que o Avatar está, os
pescadores ouvem rumores sobre o seu retorno. Assim, vemos cenas deles passando
a informação adiante aos seus compradores, até vermos o peixe em questão na
mesa de Zuko e Iroh, junto com a informação que chegou até eles através das
fofocas.
Sokka e Katara ganham
contornos tridimensionais ao vermos sua relação de irmãos, suas personalidades
distintas, seu passado trágico (a mãe morreu e o pai está em local
desconhecido) e, claro, pela opressão que sofrem dos vilões, além da
responsabilidade de cuidarem de sua pequena vila. Isso, contudo, não torna o
desenho triste ou melancólico. A direção é tão soberba que encara essas situações
com naturalidade, sabendo se tratar de crianças que agirão como crianças, algo
que os animes transformariam em um dramalhão colossal.
E assim, chegamos ao protagonista
Aang. E é louvável que tenham conseguido acertar tanto ao concebê-lo. Sem
torná-lo um monge aborrecido em personalidade, nem um ser supremo e invencível
em força, os criadores encontram o equilíbrio perfeito. Aang é um menino e age
como tal. Brinca bastante com suas habilidades do ar, olha para o sexo oposto
com interesse, houve episódios em que se exibia até demais para as garotas da
vila Kyoshi, trata seus animais de estimação com companheirismo (Appa e Momo). E
nos primeiros confrontos com Zuko, quando acreditava que podiam ser amigos, essa
sua hesitação não vinha de uma maturidade falsa como Avatar, mas justamente de
sua inocência infantil para com outro da mesma idade.
A propósito, e me perdoem as
repetidas comparações, mas obviamente é inevitável, outra coisa que falta nos personagens
de Korra são os confrontos pessoais de cada um. Em Korra, temos somente pessoas
claramente bonitas, ricas, que dominam todas as habilidades, enfim, “perfeitas”.
Só falta colocar lá o Johnny Bravo, o Eu sou o Máximo e a Daphne e o Fred do
Scooby Doo. No Último Dobrador de Ar, todos parecem frágeis de alguma forma: Aang
passa por uma jornada em que descobre que todos que convivia há 100 anos estão mortos (!!!); Sokka e Katara
perderam os pais e são os mais fortes da vila (o que não quer dizer nada) que
confia na proteção deles; Zuko tem uma enorme queimadura no rosto para sempre,
feita pelo próprio pai (que também o exilou). E ele estaria atrás de Aang por
“maldade” ou simplesmente para ser aceito pela família? E quantos de nós não
fazemos coisas que não gostamos apenas para nos “encaixarmos” melhor em nossa
própria família (cursos de faculdade específicos para agradá-los; esconder
deles a verdadeira sexualidade; permanecer na mesma cidade que os pais; etc,
etc)? E só de podermos fazer esse questionamento já torna Zuko um “vilão” completamente
diferente. E, claro, a graciosa Toph, que é uma personagem cega e sente o mundo
com os pés e sua dobra de Terra (quão genial é isso?).
Explorando o universo de
forma inteligente e orgânica, cada Nação tem suas particularidades. Uma entrada
num Templo do Ar só abre com aquele tipo de dobra em um mecanismo perfeitamente
aceitável; a entrada na Nação da Terra é simplesmente um paredão liso,
facilmente aberto e fechado pela dobra de seus guardas; um templo do Avatar na
Nação do Fogo precisa de cinco bolas de fogo simultâneas para entrar. Enfim,
são inúmeros exemplos tratados de forma natural e prosaica, mas que tornam cada
localidade crível. E mais: o design na concepção da cultura deles é igualmente
inspirado, com seus respectivos vestuários e cores (e fazer os protagonistas
usarem as roupas de todas as tribos é uma sacada magistral): das grossas vestes
da Tribo da Água, feitas com peles de animais; passando pelas roupas claras, da
cor da natureza, da Nação da Terra, podendo servir de camuflagem; as
vestimentas alegres e quentes do Ar, com panos finos que permitem voar com mais
facilidade; chegando enfim nas veste da Nação do Fogo, carregadas em armaduras
que lembram muito às de samurais antigos. Assim como todo o resto do design do
desenho, incluindo meios de transportes, arquiteturas estruturais e detalhes de
interiores. É um trabalho cuidadoso e impressionante.
Embora não apenas na
concepção do mundo construído pelas pessoas está a inteligência dos criadores,
mas na relação dos personagens com a natureza ao redor e seus elementos. Assim,
temos ideias extremamente ambiciosas: como ao tornar os dobradores de água mais
fortes em noites de lua cheia (afinal, o astro controla as marés); bem como
episódios em que a Nação do Fogo perde os poderes devido a um eclipse solar (sério,
quão genial é isso?!); e o clímax do desenho ocorre quando um cometa está
passando pelo planeta potencializando a Nação do Fogo (mesmo, quão fuckin
genial é isso?!?) (não é spoiler, é dito que isso aconteceria lá no início da
primeira temporada).
Utilizando os poderes de
forma absurdamente inteligente, as batalhas são espetaculares. O raciocínio
rápido dos combatentes acostumados a utilizar seus poderes a vida toda é de
tirar o fôlego. Chega a ser injusto destacar alguma luta específica entre
tantas (embora o farei na segunda parte desta crítica). Explorando todas as
possibilidades que os elementos trazem, vemos os dobradores transformando água
em gelo, além de utilizar até o próprio suor (e outro líquido que comentarei na
parte 2 e é fenomenal); o fogo que transcende e vira raio; os Dobradores de
Terra que se dão conta de utilizar o carvão que abastece uma fortaleza do Fogo;
e o ar, que torna o mais simples espirro de Aang em um ataque eficiente. Em
suma, são tantas surpresas, com tanta frequência, que Avatar jamais se mostra
previsível ou repetitivo. Pelo contrário, da primeira a última temporada
estamos sempre boquiabertos.
E se já andei fazendo
algumas comparações com os animes, tenho muito mais. E apesar dos criadores de
Avatar terem feito inúmeras pesquisas orientais para concepção de seu mundo e
ideias (as coreografias que os dobradores fazem vem diretamente das artes
marciais), é mesmo a cultura ocidental que torna tudo tão agradável. Assim, os
personagens parecem conversar mais da maneira que estamos acostumados, com
piadas extremamente orgânicas (principalmente da parte do Sokka, divertidíssimo.
E, claro, a gag recorrente do comerciante de repolhos). Jamais fazendo
caricaturas grotescas para forçar o riso, nem pausas para reflexões bobas e
fora de contexto como praticamente todos os animes.
Isso reflete, inclusive, nas
personagens femininas (e o amado Japão pode até saber valorizar os idosos, mas ainda
não estendeu isso para as mulheres). Todas garotas em Avatar são tão
impressionantes ou mais que os garotos. E que galeria formidável: guerreiras
Kyoshi, Katara, Azula, Ty Lee, Mai, Toph (claro, Korra)... O trio de garotas do
fogo, aliás, são as vilãs mais perigosas de todo o desenho, despertando tensão
absoluta quando estão em tela (além de terem derrotado os heróis inúmeras
vezes). De qualquer modo, a cultura ocidental também se reflete nos romances,
que não tem um pingo do dramalhão abominável das animações japonesas.
Personagens beijam, namoram, ficam, tudo de maneira natural e espontânea.
E mais! Graças a veia
ocidental do desenho, temos discussões pontuais sobre o feminismo (mesmo sem o
uso da palavra), entre Sokka e Katara e as guerreiras Kyoshi (vê lá se o Japão
tá preocupado com isso, vai lá, vai). Aang, por exemplo, é vegetariano, um
detalhe precioso como Avatar. A mistura de raças é belíssima, de morenos,
pardos, mestiços, índios, brancos, enfim. Todos extremamente belos à sua
maneira. E Korra definitivamente é uma das personagens mais lindas que eu já
vi.
E é formidável que Avatar trate a Nação do Fogo o mais realista
possível ao invés de ir pelo caminho mais fácil, sem o estereótipo de que todos
lá são inescrupulosos e merecem o ódio eterno (cof Sonserina cof). Assim, o
mestre de Aang do fogo na primeira temporada é gentil e extremamente
inteligente; o de Sokka na terceira temporada é igualmente admirável; tio Iroh
é a pessoa mais bondosa de todo desenho; e mais tarde vemos que são ensinadas
mentiras históricas para os alunos nas escolas da Nação do Fogo, algo que
definitivamente reflete em governos do mundo atual.
Com cada final de temporada dando importância absoluta a todos os personagens envolvidos, não há ninguém sem um papel fundamental. E é fascinante não termos conceitos pré estabelecidos sobre quem são “os mais fortes” (de novo, animes), assim não depositamos nossas esperanças todas em um ou outro personagem. Todos podem fazer a maior das diferenças e acreditamos plenamente na capacidade de cada um.
Com cada final de temporada dando importância absoluta a todos os personagens envolvidos, não há ninguém sem um papel fundamental. E é fascinante não termos conceitos pré estabelecidos sobre quem são “os mais fortes” (de novo, animes), assim não depositamos nossas esperanças todas em um ou outro personagem. Todos podem fazer a maior das diferenças e acreditamos plenamente na capacidade de cada um.
Em suma, Avatar – O Último
Dobrador de Ar é um entretenimento que diverte e emociona em todos os sentidos,
claramente feito com paciência, cuidado e planejamento. Com uma galeria
excepcional de personagens e alguns dos arcos mais dramáticos que já tive o
prazer de acompanhar (que comentarei na Parte 2 desta crítica, que eu recomendo
muito que só leiam depois de terem assistido). A lenda de Aang nos proporciona
momentos inesquecíveis e a constatação inegável de que testemunhamos uma
aventura como nenhuma outra jamais será.
Parte 2
O tema principal de Avatar é
o equilíbrio, não apenas do mundo em si, mas de seus personagens. A jornada
emocional de todos segue por esse caminho rumo à harmonia, seja Toph aceitando
seu drama familiar e ganhando uma personalidade cada vez mais amável; passando
por Katara e o episódio chave em que trilha uma jornada de vingança contra o
assassino de sua mãe; chegando ao Sokka, o único humano normal do grupo, que
descobre uma força surpreendente em si mesmo (que culmina no episódio em que
ganha a espada negra). Porém, por mais belas que sejam todas essas jornadas
pessoais, o equilíbrio é expressado principalmente nas figuras de Aang e Zuko.
O ar e o fogo. E o fato dos dobradores das chamas não precisarem carregar uma
vela por aí para usarem seus poderes (eles criam fogo do nada, diferente dos
demais dobradores que precisam estar próximos de seus elementos), encontra
justificativa naquilo que alimenta o fogo: o ar. Essa harmonia entre estes dois
elementos ganha eco na relação entre os garotos.
Começando no episódio chave,
com uma direção formidável, em que simultaneamente vemos o passado de Aang e
como foi parar dentro do iceberg, e de como Zuko ganhou a cicatriz em seu
rosto. O paralelo entre os dois é tocante pelo contraste: enquanto Aang vivia
cercado de amigos e brincadeiras, com monges que queriam ensiná-lo a ser um
Avatar digno, Zuko vivia em um lar sombrio, sem amigo nenhum, tratado com
violência e humilhação pela própria família.
Há também, claro, o episódio
do Espírito Azul, em que Zuko disfarçado salva Aang. E mais tarde o contrário
ocorre, com Aang descobrindo sua identidade e esperando até que ele acorde. O
príncipe do Fogo, aliás, tem a maioria de suas batalhas contra os próprios
conterrâneos da Nação, seja em um agnikai contra um general, passando pelas
ações como Espírito Azul, ao clímax da 1a temporada em que sua
última luta é novamente contra a figura importante do exército. E sua magnífica
luta final, na 3a temporada, é contra a própria irmã.
E aqui devo tomar um viés
diferente e falar um pouco mais do príncipe antes de completar a análise dele
com o Aang. É provável que Zuko passe pelo maior arco dramático do Último
Dobrador de Ar, superando o personagem título. E nossa percepção dele é
extremamente cambiante, ora temos raiva quando encurrala os heróis ou envia
assassinos atrás deles; ao mesmo tempo em que torcemos pela sua relação com tio
Iroh e nas situações em que se encontra em perigo de vida. Até o final de 2a
temporada, Zuko nos mantinha assim. E eis que surge a absolutamente fenomenal 3a
e última temporada. E confesso que a cada episódio do Livro do Fogo eu pensava
comigo mesmo: “esse é o meu episódio favorito”. E ia repetindo isso a cada novo
capítulo.
Se inúmeras obras de ficção
apostam na jornada do herói caindo para lado negro, culminando no “amigo contra
amigo”, “irmão contra irmão”, num recurso dramático naturalmente eficiente ao
transformar duas pessoas que se gostam em inimigos, Avatar vai pelo caminho
contrário. Zuko trilha a inédita jornada do lado negro para o lado da luz. Jornada
essa que me arrancou inúmeras lágrimas. Sem jamais oferecer explicações fáceis
para o que se passa na cabeça de Zuko, seus questionamentos acerca do que está
fazendo são muito graduais e esporádicos, crescendo com naturalidade. Desta
forma, no fabuloso clímax do episódio da Praia, quando ele e suas amigas do Fogo
estão desabafando, percebemos um enorme amadurecimento em seus diálogos. Ele reconhece
a maldade do pai em marcar seu rosto, ao mesmo tempo em que expressa ter raiva
de si mesmo. De suas fraquezas? De ter aceitado calado os castigos do pai? De
caçar o Avatar pelos caprichos de Ozai? De não ter percebido antes que estava
no caminho errado? Todas as alternativas anteriores?
E finalmente chegamos a um
dos momentos mais belos da série e divisor de águas para Zuko: o episódio em
que confronta o próprio pai, o Senhor do Fogo Ozai. E o fato de ser um
confronto verbal, não físico, é brilhante por mostrar o auto controle e
amadurecimento que o jovem atingiu.
- Como você pode justificar um duelo com uma
criança?
- Foi pra te ensinar respeito.
- Foi cruel e foi errado!
- Então você não aprendeu nada!
- Não... eu aprendi tudo! E tive que aprender
sozinho.
Nas palavras do próprio
príncipe, lutar com o pai é o destino do Avatar, não dele. Portanto, uma
conversa tão firme e desafiadora com aquele que antes o garoto temia e só
queria agradar, é mais emocionante que qualquer golpe. Assim como é de partir o
coração o momento em que Ozai ridiculariza a bondade de Zuko insinuando que a
tirou do tio, e o garoto orgulhosamente responde que sim, não se deixando
abalar. Zuko admite que Iroh foi seu verdadeiro pai, e torna-se mais belo ainda
a cena não ocorrer na frente do tio, mostrando que o garoto não estava só
querendo agradar. Zuko está em paz consigo mesmo e com suas novas decisões,
encontrando o equilíbrio dentro de si.
É interessante constar
também que Zuko age como uma pessoa normal ao invés de um estereótipo de lobo
solitário. Ele faz chá para os novos companheiros, mantém uma relação amorosa
com Mai, troca ideias com os amigos sobre mulheres, aceita elogios, fala coisas
bonitas. Então, comparando com os animes (sim, de novo), ele pode até ocupar o
cargo de Vegeta-Hiei-Sasuke da série, mas claramente é muito mais que isso.
E voltamos enfim à relação
do ar com o fogo, que encontra seu fechamento perfeito no primeiro episódio
após Zuko se juntar ao grupo do Avatar. E já andei comentando a Dança do Dragão
em meu texto O Despertar da Força... nos animes. Assim, Zuko e Aang encerram o
conflito um com o outro através dos passos da dança e da dominação do último
elemento. Aang torna-se completo como Avatar graças ao príncipe, que também
encontra seu cerne de novo graças ao amigo. E o fato dos mestres dragões terem
aceitado a alma do garoto que passou a série inteira caçando o Avatar, é a
confirmação definitiva de que estamos diante de um personagem completamente
diferente. É uma sequência tão rica em termos de significado, direção,
fotografia cinematográfica, que me faltam palavras.
Há também o momento
revelador em que Zuko questiona o que Aang pretende fazer com o seu pai
(matá-lo ou quê?), mais um momento no qual ar e fogo se complementam. E ao
invés de ser uma pregação barata digna de animes sobre, vai de encontro a uma
quase hipocrisia do Avatar em aconselhar apenas os outros a não matarem. E a busca do herói por respostas de como
agir, em figuras mais velhas e experientes, é realmente tocante e sincera,
refletindo em nossas próprias expectativas do que é certo e errado, sem jamais
cair para o melodrama.
Trazendo ao longo das
temporadas episódios que jamais poderiam ser chamados de “filler”, mesmo que
sejam uma pausa da trama maior, são todos belos. Desde os Contos de Ba Sing Se
(certamente entre os favoritos de toda a série) até àquele que conta sobre a
relação do Avatar com o Senhor do Fogo anterior, formando um paralelo
emocionante com a geração que acompanhamos. Aliás, estes episódios funcionam
justamente pelo desenho se levar a sério, e encarar a “lenda de Aang” como o
nome diz, quase como fábula. Assim, temos diversos itens como Espírito da Lua,
espíritos das reencarnações passadas de Avatares, Espírito da Floresta. Isso
tudo até soaria auto indulgente, não fosse a seriedade absoluta com que os
personagens encaram tudo ao seu redor.
Seriedade essa que reflete
em inúmeros outros aspectos formidáveis. Como no episódio em que é mencionado a
Dobradora de Sangue. Criando um clima sombrio até culminar na revelação, a
técnica não é encarada como algo a ser celebrado por tornar Katara mais forte;
mas como algo a ser temido e evitado. Longe de se chegar ao equilíbrio com essa
habilidade. Desta forma, se num anime o agnikai final de Zuko contra Azula
seria embalado por uma trilha heroica e empolgante, em Avatar se opta por um
tema melancólico, que nos lembra a tragédia que está ocorrendo ali entre dois
irmãos numa batalha de vida ou morte.
Culminando num clímax
absolutamente espetacular em todos os sentidos, o perigo da Nação do Fogo é de
uma escala surpreendente. Pecando pontualmente por não vermos muito as pessoas
inocentes que provavelmente morreram aos montes devido ao ataque de Ozai,
sacrificando um pouco o impacto. Embora seja óbvio que não é mostrado devido a
classificação indicativa. Mas isso é um pecadilho quando testemunhamos a
grandiosidade de Aang em Modo Avatar utilizando todos os elementos
simultaneamente. O momento que esperamos a série inteira e encontra adversário
a altura na figura do Senhor do Fogo. Recompensa com louvores a espera toda.
Encerrando de forma
extremamente satisfatória, Avatar – O Último Dobrador de Ar merece toda
veneração do mundo. Trabalhando com comédia, tensão, lutas, desenvolvimento de
personagem, tudo isso com a máxima eficiência. E vai ser difícil encontrar uma
obra assim tão cedo. Extremamente difícil. E até hoje, desde que se encerrou,
ainda não vi nada semelhante.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon")
@PedroSEkman
resenha, análise, crítica, review, comentários, estudo animação
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