quarta-feira, 9 de março de 2016

Avatar - O Último Dobrador de Ar

Saudações do Crítico Nippon!

Avatar - o Último Dobrador de Ar é, com certeza, o melhor cartoon que eu já assisti. E colocado ao lado dos animes, sem exagero nenhum, é melhor que uns 98%. Juro que estou sendo o menos exagerado possível, e sinto uma enorme responsabilidade ao escrever sobre algo que me é tão impressionante. Avatar é simplesmente completo em todos os sentidos. Se você só o assistiu quando tinha 12 anos na Nickelodeon, sinto informar que não deve ter captado a essência de muita coisa. Muita coisa mesmo. E sua `continuação`, Korra, é claramente inferior (com exceção da animação deslumbrante). Portanto, vamos analisar agora a lenda de Aang. E que lenda, meus amigos. Que lenda.

(A primeira metade desta crítica não contém spoilers. A segunda metade, com o título Parte 2, aí sim, está repleta de spoilers)



Apresentando um universo extremamente rico, a abertura é um resumo perfeito (cartoons costumam fazer isso, como Caverna do Dragão, Gárgulas...): o mundo é dividido em 4 Nações (Fogo, Terra, Água e Ar), e alguns poucos conseguem manipular (“dobrar”) tais elementos de suas respectivas nações.  Além disso, a cada 100 anos surge um ser místico, conhecido como Avatar, que ajuda a manter o equilíbrio entre todas, e que era o único que podia manipular as quatro habilidades. Assim, quando o pequeno Aang, reencarnação “atual” do Avatar, acaba congelado em um iceberg por toda aquela que deveria ter sido a sua geração, o equilíbrio se perde. A Nação do Fogo começa a subjugar as outras e o mundo entra numa era de trevas.

Assim, quando os irmãos Sokka e Katara acidentalmente livram Aang de seu congelamento, a história imediatamente torna-se urgente. O “poderoso” Avatar é só uma criança. Ele sabe apenas uma das habilidades (a do título do desenho). Ele precisa se readaptar a época em questão, aprender todas as dobras que faltam e ainda impedir a Nação do Fogo que encontra-se cada vez mais poderosa. E diga-se de passagem, essa urgência é uma das coisas que mais falta em sua predecessora, Korra.


Trata-se de uma trama fácil de compreender e que não perde tempo em longas explicações (a abertura já faz isso). Ao invés disso, concentra-se nas reações dos personagens ao que está acontecendo, e no desenvolvimento destes. Tanto que, diferente da maioria dos animes, estamos sempre acompanhando os vilões, o jovem Zuko e seu tio Iroh. Eles não aparecem somente para fazer suas cenas de ação contra os mocinhos e pronto. Os dois foram exilados pela própria Nação do Fogo e são tratados mal por todos. Percebam que já há uma história só deles aí. Um drama que os torna tridimensionais. E que, ao seu próprio modo, nos faz torcer por eles (o público sempre torcerá pelos oprimidos). Inclusive, num dos episódios da primeira temporada, soldados da Terra capturam o tio Iroh pelado (um idoso nu! Tem como ser mais vulnerável ao espectador do que isso?) Os criadores foram extremamente inteligentes de plantarem essas sementes desde o início. Aliás, se preocupam até em nos mostrar como os vilões podem saber a localização dos heróis (algo geralmente ignorado). E uma das brilhantes sequências econômicas é feita acompanhando um peixe: pescado na aldeia em que o Avatar está, os pescadores ouvem rumores sobre o seu retorno. Assim, vemos cenas deles passando a informação adiante aos seus compradores, até vermos o peixe em questão na mesa de Zuko e Iroh, junto com a informação que chegou até eles através das fofocas.












Sokka e Katara ganham contornos tridimensionais ao vermos sua relação de irmãos, suas personalidades distintas, seu passado trágico (a mãe morreu e o pai está em local desconhecido) e, claro, pela opressão que sofrem dos vilões, além da responsabilidade de cuidarem de sua pequena vila. Isso, contudo, não torna o desenho triste ou melancólico. A direção é tão soberba que encara essas situações com naturalidade, sabendo se tratar de crianças que agirão como crianças, algo que os animes transformariam em um dramalhão colossal.


E assim, chegamos ao protagonista Aang. E é louvável que tenham conseguido acertar tanto ao concebê-lo. Sem torná-lo um monge aborrecido em personalidade, nem um ser supremo e invencível em força, os criadores encontram o equilíbrio perfeito. Aang é um menino e age como tal. Brinca bastante com suas habilidades do ar, olha para o sexo oposto com interesse, houve episódios em que se exibia até demais para as garotas da vila Kyoshi, trata seus animais de estimação com companheirismo (Appa e Momo). E nos primeiros confrontos com Zuko, quando acreditava que podiam ser amigos, essa sua hesitação não vinha de uma maturidade falsa como Avatar, mas justamente de sua inocência infantil para com outro da mesma idade.


A propósito, e me perdoem as repetidas comparações, mas obviamente é inevitável, outra coisa que falta nos personagens de Korra são os confrontos pessoais de cada um. Em Korra, temos somente pessoas claramente bonitas, ricas, que dominam todas as habilidades, enfim, “perfeitas”. Só falta colocar lá o Johnny Bravo, o Eu sou o Máximo e a Daphne e o Fred do Scooby Doo. No Último Dobrador de Ar, todos parecem frágeis de alguma forma: Aang passa por uma jornada em que descobre que todos que convivia  há 100 anos estão mortos (!!!); Sokka e Katara perderam os pais e são os mais fortes da vila (o que não quer dizer nada) que confia na proteção deles; Zuko tem uma enorme queimadura no rosto para sempre, feita pelo próprio pai (que também o exilou). E ele estaria atrás de Aang por “maldade” ou simplesmente para ser aceito pela família? E quantos de nós não fazemos coisas que não gostamos apenas para nos “encaixarmos” melhor em nossa própria família (cursos de faculdade específicos para agradá-los; esconder deles a verdadeira sexualidade; permanecer na mesma cidade que os pais; etc, etc)? E só de podermos fazer esse questionamento já torna Zuko um “vilão” completamente diferente. E, claro, a graciosa Toph, que é uma personagem cega e sente o mundo com os pés e sua dobra de Terra (quão genial é isso?).



Explorando o universo de forma inteligente e orgânica, cada Nação tem suas particularidades. Uma entrada num Templo do Ar só abre com aquele tipo de dobra em um mecanismo perfeitamente aceitável; a entrada na Nação da Terra é simplesmente um paredão liso, facilmente aberto e fechado pela dobra de seus guardas; um templo do Avatar na Nação do Fogo precisa de cinco bolas de fogo simultâneas para entrar. Enfim, são inúmeros exemplos tratados de forma natural e prosaica, mas que tornam cada localidade crível. E mais: o design na concepção da cultura deles é igualmente inspirado, com seus respectivos vestuários e cores (e fazer os protagonistas usarem as roupas de todas as tribos é uma sacada magistral): das grossas vestes da Tribo da Água, feitas com peles de animais; passando pelas roupas claras, da cor da natureza, da Nação da Terra, podendo servir de camuflagem; as vestimentas alegres e quentes do Ar, com panos finos que permitem voar com mais facilidade; chegando enfim nas veste da Nação do Fogo, carregadas em armaduras que lembram muito às de samurais antigos. Assim como todo o resto do design do desenho, incluindo meios de transportes, arquiteturas estruturais e detalhes de interiores. É um trabalho cuidadoso e impressionante.













Embora não apenas na concepção do mundo construído pelas pessoas está a inteligência dos criadores, mas na relação dos personagens com a natureza ao redor e seus elementos. Assim, temos ideias extremamente ambiciosas: como ao tornar os dobradores de água mais fortes em noites de lua cheia (afinal, o astro controla as marés); bem como episódios em que a Nação do Fogo perde os poderes devido a um eclipse solar (sério, quão genial é isso?!); e o clímax do desenho ocorre quando um cometa está passando pelo planeta potencializando a Nação do Fogo (mesmo, quão fuckin genial é isso?!?) (não é spoiler, é dito que isso aconteceria lá no início da primeira temporada).


Utilizando os poderes de forma absurdamente inteligente, as batalhas são espetaculares. O raciocínio rápido dos combatentes acostumados a utilizar seus poderes a vida toda é de tirar o fôlego. Chega a ser injusto destacar alguma luta específica entre tantas (embora o farei na segunda parte desta crítica). Explorando todas as possibilidades que os elementos trazem, vemos os dobradores transformando água em gelo, além de utilizar até o próprio suor (e outro líquido que comentarei na parte 2 e é fenomenal); o fogo que transcende e vira raio; os Dobradores de Terra que se dão conta de utilizar o carvão que abastece uma fortaleza do Fogo; e o ar, que torna o mais simples espirro de Aang em um ataque eficiente. Em suma, são tantas surpresas, com tanta frequência, que Avatar jamais se mostra previsível ou repetitivo. Pelo contrário, da primeira a última temporada estamos sempre boquiabertos. 


E se já andei fazendo algumas comparações com os animes, tenho muito mais. E apesar dos criadores de Avatar terem feito inúmeras pesquisas orientais para concepção de seu mundo e ideias (as coreografias que os dobradores fazem vem diretamente das artes marciais), é mesmo a cultura ocidental que torna tudo tão agradável. Assim, os personagens parecem conversar mais da maneira que estamos acostumados, com piadas extremamente orgânicas (principalmente da parte do Sokka, divertidíssimo. E, claro, a gag recorrente do comerciante de repolhos). Jamais fazendo caricaturas grotescas para forçar o riso, nem pausas para reflexões bobas e fora de contexto como praticamente todos os animes.



Isso reflete, inclusive, nas personagens femininas (e o amado Japão pode até saber valorizar os idosos, mas ainda não estendeu isso para as mulheres). Todas garotas em Avatar são tão impressionantes ou mais que os garotos. E que galeria formidável: guerreiras Kyoshi, Katara, Azula, Ty Lee, Mai, Toph (claro, Korra)... O trio de garotas do fogo, aliás, são as vilãs mais perigosas de todo o desenho, despertando tensão absoluta quando estão em tela (além de terem derrotado os heróis inúmeras vezes). De qualquer modo, a cultura ocidental também se reflete nos romances, que não tem um pingo do dramalhão abominável das animações japonesas. Personagens beijam, namoram, ficam, tudo de maneira natural e espontânea.

E mais! Graças a veia ocidental do desenho, temos discussões pontuais sobre o feminismo (mesmo sem o uso da palavra), entre Sokka e Katara e as guerreiras Kyoshi (vê lá se o Japão tá preocupado com isso, vai lá, vai). Aang, por exemplo, é vegetariano, um detalhe precioso como Avatar. A mistura de raças é belíssima, de morenos, pardos, mestiços, índios, brancos, enfim. Todos extremamente belos à sua maneira. E Korra definitivamente é uma das personagens mais lindas que eu já vi.










E é formidável que Avatar  trate a Nação do Fogo o mais realista possível ao invés de ir pelo caminho mais fácil, sem o estereótipo de que todos lá são inescrupulosos e merecem o ódio eterno (cof Sonserina cof). Assim, o mestre de Aang do fogo na primeira temporada é gentil e extremamente inteligente; o de Sokka na terceira temporada é igualmente admirável; tio Iroh é a pessoa mais bondosa de todo desenho; e mais tarde vemos que são ensinadas mentiras históricas para os alunos nas escolas da Nação do Fogo, algo que definitivamente reflete em governos do mundo atual.



Com cada final de temporada dando importância absoluta a todos os personagens envolvidos, não há ninguém sem um papel fundamental. E é fascinante não termos conceitos pré estabelecidos sobre quem são “os mais fortes” (de novo, animes), assim não depositamos nossas esperanças todas em um ou outro personagem. Todos podem fazer a maior das diferenças e acreditamos plenamente na capacidade de cada um.

Em suma, Avatar – O Último Dobrador de Ar é um entretenimento que diverte e emociona em todos os sentidos, claramente feito com paciência, cuidado e planejamento. Com uma galeria excepcional de personagens e alguns dos arcos mais dramáticos que já tive o prazer de acompanhar (que comentarei na Parte 2 desta crítica, que eu recomendo muito que só leiam depois de terem assistido). A lenda de Aang nos proporciona momentos inesquecíveis e a constatação inegável de que testemunhamos uma aventura como nenhuma outra jamais será.



Parte 2


O tema principal de Avatar é o equilíbrio, não apenas do mundo em si, mas de seus personagens. A jornada emocional de todos segue por esse caminho rumo à harmonia, seja Toph aceitando seu drama familiar e ganhando uma personalidade cada vez mais amável; passando por Katara e o episódio chave em que trilha uma jornada de vingança contra o assassino de sua mãe; chegando ao Sokka, o único humano normal do grupo, que descobre uma força surpreendente em si mesmo (que culmina no episódio em que ganha a espada negra). Porém, por mais belas que sejam todas essas jornadas pessoais, o equilíbrio é expressado principalmente nas figuras de Aang e Zuko. O ar e o fogo. E o fato dos dobradores das chamas não precisarem carregar uma vela por aí para usarem seus poderes (eles criam fogo do nada, diferente dos demais dobradores que precisam estar próximos de seus elementos), encontra justificativa naquilo que alimenta o fogo: o ar. Essa harmonia entre estes dois elementos ganha eco na relação entre os garotos.


Começando no episódio chave, com uma direção formidável, em que simultaneamente vemos o passado de Aang e como foi parar dentro do iceberg, e de como Zuko ganhou a cicatriz em seu rosto. O paralelo entre os dois é tocante pelo contraste: enquanto Aang vivia cercado de amigos e brincadeiras, com monges que queriam ensiná-lo a ser um Avatar digno, Zuko vivia em um lar sombrio, sem amigo nenhum, tratado com violência e humilhação pela própria família.


Há também, claro, o episódio do Espírito Azul, em que Zuko disfarçado salva Aang. E mais tarde o contrário ocorre, com Aang descobrindo sua identidade e esperando até que ele acorde. O príncipe do Fogo, aliás, tem a maioria de suas batalhas contra os próprios conterrâneos da Nação, seja em um agnikai contra um general, passando pelas ações como Espírito Azul, ao clímax da 1a temporada em que sua última luta é novamente contra a figura importante do exército. E sua magnífica luta final, na 3a temporada, é contra a própria irmã.




E aqui devo tomar um viés diferente e falar um pouco mais do príncipe antes de completar a análise dele com o Aang. É provável que Zuko passe pelo maior arco dramático do Último Dobrador de Ar, superando o personagem título. E nossa percepção dele é extremamente cambiante, ora temos raiva quando encurrala os heróis ou envia assassinos atrás deles; ao mesmo tempo em que torcemos pela sua relação com tio Iroh e nas situações em que se encontra em perigo de vida. Até o final de 2a temporada, Zuko nos mantinha assim. E eis que surge a absolutamente fenomenal 3a e última temporada. E confesso que a cada episódio do Livro do Fogo eu pensava comigo mesmo: “esse é o meu episódio favorito”. E ia repetindo isso a cada novo capítulo.

Se inúmeras obras de ficção apostam na jornada do herói caindo para lado negro, culminando no “amigo contra amigo”, “irmão contra irmão”, num recurso dramático naturalmente eficiente ao transformar duas pessoas que se gostam em inimigos, Avatar vai pelo caminho contrário. Zuko trilha a inédita jornada do lado negro para o lado da luz. Jornada essa que me arrancou inúmeras lágrimas. Sem jamais oferecer explicações fáceis para o que se passa na cabeça de Zuko, seus questionamentos acerca do que está fazendo são muito graduais e esporádicos, crescendo com naturalidade. Desta forma, no fabuloso clímax do episódio da Praia, quando ele e suas amigas do Fogo estão desabafando, percebemos um enorme amadurecimento em seus diálogos. Ele reconhece a maldade do pai em marcar seu rosto, ao mesmo tempo em que expressa ter raiva de si mesmo. De suas fraquezas? De ter aceitado calado os castigos do pai? De caçar o Avatar pelos caprichos de Ozai? De não ter percebido antes que estava no caminho errado? Todas as alternativas anteriores?


 Contudo, não há como falar de Zuko sem falar de outro personagem fundamental no arco dramático deste: tio Iroh. E a relação dele com o sobrinho é de amor incondicional e de verdadeira sabedoria. Dono de uma personalidade carismática e bondosa, tio Iroh quase nunca é visto lutando. Ao invés disso, o vemos tocando música no convés do navio, se preocupando com seu chá, com peças de jogos antigos. Iroh se limita em aconselhar o sobrinho e incentivá-lo a questionar as próprias decisões. Como um verdadeiro adulto. O tio é um poço de paciência com seu explosivo afilhado, parecendo ter saído de qualquer Nação, exceto a do fogo. E justamente por isso, entendemos quão importante ele pode ser na vida do garoto que só encontrou violência e rejeição em todos ao seu redor. É tocante, por exemplo, cada vez que Iroh fica aliviado quando Zuko resolve descansar ou fazer qualquer outra coisa que não seja caçar o Avatar, algo que o Senhor do Fogo deseja, não o sobrinho.






E finalmente chegamos a um dos momentos mais belos da série e divisor de águas para Zuko: o episódio em que confronta o próprio pai, o Senhor do Fogo Ozai. E o fato de ser um confronto verbal, não físico, é brilhante por mostrar o auto controle e amadurecimento que o jovem atingiu.
 - Como você pode justificar um duelo com uma criança?
 - Foi pra te ensinar respeito.
 - Foi cruel e foi errado!
 - Então você não aprendeu nada!
 - Não... eu aprendi tudo! E tive que aprender sozinho.
Nas palavras do próprio príncipe, lutar com o pai é o destino do Avatar, não dele. Portanto, uma conversa tão firme e desafiadora com aquele que antes o garoto temia e só queria agradar, é mais emocionante que qualquer golpe. Assim como é de partir o coração o momento em que Ozai ridiculariza a bondade de Zuko insinuando que a tirou do tio, e o garoto orgulhosamente responde que sim, não se deixando abalar. Zuko admite que Iroh foi seu verdadeiro pai, e torna-se mais belo ainda a cena não ocorrer na frente do tio, mostrando que o garoto não estava só querendo agradar. Zuko está em paz consigo mesmo e com suas novas decisões, encontrando o equilíbrio dentro de si.



É interessante constar também que Zuko age como uma pessoa normal ao invés de um estereótipo de lobo solitário. Ele faz chá para os novos companheiros, mantém uma relação amorosa com Mai, troca ideias com os amigos sobre mulheres, aceita elogios, fala coisas bonitas. Então, comparando com os animes (sim, de novo), ele pode até ocupar o cargo de Vegeta-Hiei-Sasuke da série, mas claramente é muito mais que isso.

E voltamos enfim à relação do ar com o fogo, que encontra seu fechamento perfeito no primeiro episódio após Zuko se juntar ao grupo do Avatar. E já andei comentando a Dança do Dragão em meu texto O Despertar da Força... nos animes. Assim, Zuko e Aang encerram o conflito um com o outro através dos passos da dança e da dominação do último elemento. Aang torna-se completo como Avatar graças ao príncipe, que também encontra seu cerne de novo graças ao amigo. E o fato dos mestres dragões terem aceitado a alma do garoto que passou a série inteira caçando o Avatar, é a confirmação definitiva de que estamos diante de um personagem completamente diferente. É uma sequência tão rica em termos de significado, direção, fotografia cinematográfica, que me faltam palavras.


Há também o momento revelador em que Zuko questiona o que Aang pretende fazer com o seu pai (matá-lo ou quê?), mais um momento no qual ar e fogo se complementam. E ao invés de ser uma pregação barata digna de animes sobre, vai de encontro a uma quase hipocrisia do Avatar em aconselhar apenas os outros a não matarem.  E a busca do herói por respostas de como agir, em figuras mais velhas e experientes, é realmente tocante e sincera, refletindo em nossas próprias expectativas do que é certo e errado, sem jamais cair para o melodrama.

Trazendo ao longo das temporadas episódios que jamais poderiam ser chamados de “filler”, mesmo que sejam uma pausa da trama maior, são todos belos. Desde os Contos de Ba Sing Se (certamente entre os favoritos de toda a série) até àquele que conta sobre a relação do Avatar com o Senhor do Fogo anterior, formando um paralelo emocionante com a geração que acompanhamos. Aliás, estes episódios funcionam justamente pelo desenho se levar a sério, e encarar a “lenda de Aang” como o nome diz, quase como fábula. Assim, temos diversos itens como Espírito da Lua, espíritos das reencarnações passadas de Avatares, Espírito da Floresta. Isso tudo até soaria auto indulgente, não fosse a seriedade absoluta com que os personagens encaram tudo ao seu redor.


Seriedade essa que reflete em inúmeros outros aspectos formidáveis. Como no episódio em que é mencionado a Dobradora de Sangue. Criando um clima sombrio até culminar na revelação, a técnica não é encarada como algo a ser celebrado por tornar Katara mais forte; mas como algo a ser temido e evitado. Longe de se chegar ao equilíbrio com essa habilidade. Desta forma, se num anime o agnikai final de Zuko contra Azula seria embalado por uma trilha heroica e empolgante, em Avatar se opta por um tema melancólico, que nos lembra a tragédia que está ocorrendo ali entre dois irmãos numa batalha de vida ou morte.


Culminando num clímax absolutamente espetacular em todos os sentidos, o perigo da Nação do Fogo é de uma escala surpreendente. Pecando pontualmente por não vermos muito as pessoas inocentes que provavelmente morreram aos montes devido ao ataque de Ozai, sacrificando um pouco o impacto. Embora seja óbvio que não é mostrado devido a classificação indicativa. Mas isso é um pecadilho quando testemunhamos a grandiosidade de Aang em Modo Avatar utilizando todos os elementos simultaneamente. O momento que esperamos a série inteira e encontra adversário a altura na figura do Senhor do Fogo. Recompensa com louvores a espera toda.

Encerrando de forma extremamente satisfatória, Avatar – O Último Dobrador de Ar merece toda veneração do mundo. Trabalhando com comédia, tensão, lutas, desenvolvimento de personagem, tudo isso com a máxima eficiência. E vai ser difícil encontrar uma obra assim tão cedo. Extremamente difícil. E até hoje, desde que se encerrou, ainda não vi nada semelhante.


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon")
@PedroSEkman

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