domingo, 25 de dezembro de 2011

Fechando 2011 Com Ótimas Produções Animadas



É engraçado como o ser humano gosta de retrospectivas, resumos de momentos, não é mesmo? Provavelmente pelo saudosismo. De qualquer forma, não pretendo fazer uma retrospectiva, nem muito menos um resumão. Mas alguns comentários no que se refere a animes. E você, quantos animes assistiu esse ano? Dois, três? Acompanhar animes por temporada é passo natural na vida de qualquer um que comece a ter contato com o mundo das animações japonesas. Você começa assistindo séries finalizadas, mas logo começa a dedicar boa parte do seu tempo em episódios semanais. No inicio, costuma ser em um ritmo intenso, mas a tendência é que com o tempo, isso diminua gradativamente. 

Engraçado que 2011, que deveria ser o ano do estardalhaço, ano de ver os efeitos da lei 156, também conhecida como lei "Anti-otaku", que foi debatida ferozmente aqui no Brasil, extrapolando até o nicho e gerando discussão entre os que ficam a margem do entretenimento japonês. Houve até quem se lembrou temerosamente do Comic Code, mas o ano chegou, o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, criador da lei, se demitiu e o mais próximo que chegamos de discussão com respeito a censura, foi com relação a uma queixa do órgão de fiscalização do governo japonês (algo parecido com o nosso Ministério Público)com relação ao anime Madoka Mágica, onde supostamente aos olhos da sociedade, era crueldade demais retratar as amáveis garotas mágicas naquela situação.

“É um anime que passa de madrugada, mas contém cenas de uma menina que tem sua cabeça arrancada fora por um monstro”!
“Os produtores têm demonstrado a sua intenção de continuar lucrando com essas cenas cruéis a cada semana.”
“Mesmo que seja tarde da noite, é ultrajante que um programa de tv esteja flagrantemente lucrando com este tipo de material horrível."

E por falar em Madoka Mágica, esse foi o ano das surpresas, com animes que deram o que falar e proporcionaram grandes discussões nas redes sociais e fóruns com foco em animes. Pela minha perspectiva, o saldo foi extremamente positivo, onde tivemos um bom drama de comoção em massa, que foi Ano Hana [Nós ainda não sabemos o nome da flor que vimos naquele dia], de puro amor e nostalgia, onde todos que acompanharam entoaram juntos o mesmo coro agridoce de Usagi Drop. Ainda que seus semelhantes, como por exemplo, Ikoku Meiro no Croisée, não tenham tido uma repercussão tão virulenta, o gênero Slice of Life teve uma boa representação, tanto com Ano Hana, quanto com Usagi Drop, certamente serão nomes que virão de forma instantânea na mente logo após nomes como Clannad e Ef - A Tale of Melodies – Estes, já clássicos do gênero “slice of life com drama”. Mas será que desses slice of lifes de drama que foram transmitidos esse ano, alguém ainda se lembra do razoável Moshidora? Claro que sim, mas é uma série que deve cair rapidamente no ostracismo.

 Claro que o fato de um anime acabar caindo no esquecimento coletivo, não quer dizer que ele seja ruim, apenas não foram mainstream o bastante. Hourou Musuko mesmo foi um anime extremamente bem produzido e que representa bem o que é o bloco de tv, Noitamina no imaginário popular de quem se alimenta do entretenimento japonês. Teve uma abordagem até certo ponto, complexa e delicada, com um mote trabalhado em cima da homossexualidade e transexualidade. Nem todos compraram a ideia, obvio, com uma produção tão restrita. Não foi bem nas vendas e com isso, reafirma-se uma tendência que já vinha acontecendo, do tradicional bloco Noitamina ser vinculado cada vez mais a animes mais populares e voltados ao nicho otaku hardcore. Do outro lado, porém na mesma ponte, temos Dog Days, considerado pelo querido do @LeoKusanagi (que está até hoje tentando convencer o @Gyabbo a assistir o anime – nem preciso dizer que, sem sucesso, claro), como underdog, “surpreendeu” a todos com boas vendas e ao receber uma virtual segunda temporada. Mas é fato que o otaku hardcore no Japão, faz a diferença. Ao contrário das pessoas “comuns” da sociedade, eles estão sempre comprando tudo que tenham o rosto e o nome de sua personagem ou “waifu” estampada. Não precisa ser bom, basta agrada-los. Fato que demonstra bem o relativo sucesso comercial que o medianamente ruim Hanasaku Iroha obteve.

Porém, independe das críticas, se aquilo te satisfaz, é o que importa no final das contas e “haters gonna hater” pra todo mundo. Mas é importante não deixar que o lado emocional, afete o seu lado crítico. Como diria Cazuza; “Não existe música certa ou errada; existe música boa!!!". Acho engraçado como The iDOLM@STER não faz a cabeça do grande público “BRBR”, e nem a minha, mas que só de dar uma olhada marota e curiosa, é possível ver que tem uma boa execução e certamente faz por merecer o “sucessinho” que faz entre as meia-dúzias de pessoas que o assistem. Algo parecido é com Dog Days, esse sim eu assisti até o fim e me agradou, mas ali há elementos suficientes para que o público “normal” torça o nariz.

Mas nem só de surpresas agradáveis foi feito o ano, mas de grandes fracassos também. E como diria aquele ditado popular, “quanto maior a altura, maior o tombo”, é o que podemos dizer quanto a projetos que falharam em suas propostas, como Fractale, [C]: The Money of Soul and Possibility Control, Deadman Wonderland, Blood-C e o atualmente em exibição, Mirai Nikki. Todas essas foram produções que se mostraram com enorme hype por parte do fandom, ou já nasceram com status inflado de “Blockbuster” – Este é o caso do atual anime em exibição, Guilty Crown, que é divertidinho e apresenta diversos efeitos visuais, mas que por não corresponder ao hype inicial e não apresentar um enredo contundente, forma junto com Mirai Nikki, a dupla de animes mais criticados da temporada de Outono da tv japonesa. Mas não posso deixar de citar também, como decepcionante a linha “hero” da parceria entre Marvel e MADHOUSE, que segundos boatos da interweb, não houve tanta liberdade para o parceiro japonês. Claro que foi uma grande jogada de marketing e uma tentativa de introduzir os heróis americanos, aos japoneses que nutrem um certo esplendor por eles. Masakazu Katsura e Hiroya Oku, por exemplo, não escondem de ninguém que são fãs de Batman, que excelente gosto eles têm, não? Mas tecnicamente falando, são produções pra se esquecer, até mesmo as boas adaptações de X-Men e Wolverine


Mas se a MADHOUSE, teve parte de seu brilho como um dos grandes estúdios de animação do ano, apagado, no último instante conseguiu novamente chamar a atenção com uma inusitada adaptação de um mangá Josei, com foco em jogo de cartas. Falo de Chihayafuru, um anime que é bem um Hikaru no Go, versão feminina. Se junta ao lado de Kimini Todoke S2 e Natsume Yuujinchou San, como os melhores animes conceitualmente shoujos (que consideramos, voltado primeiramente ao publico feminino) do ano. Um ano que novamente segue bem fraco com relação ao publico feminino tradicional. Falo “tradicional”, pois parece que o mercado decidiu abrir definitivamente os olhos para a parcela feminina do fandom. Afinal, existe um público feminino que é tão hardcore quanto o masculino, mas que nunca receberam a atenção devida. A tendência é que no rastro, principalmente, de Tiger&Bunny, No.6 e Uta No Prince-sama, surjam muito outros, de olho no bolso, principalmente, das fujoshis. Da mesma forma que o Yuri Fanservice, veio numa crescente enorme nesse ano, onde os YuruYuri, A-Chanel, entre outros, se aproveitam da trilha feita por K-on, onde o moe em um mundo que homens praticamente são plantas vegetativas, veem fazendo sucesso. De modo reverse também, pois as mulheres também apreciam moe, ainda que nessa temporada, Kimi to Boku passou praticamente despercebido.

Também foi um ano marcado pelas adaptações de light novels, Fate/Zero é um dos grandes representantes do gênero. Mas a maioria, sem dúvida tem como característica básica o ecchi, como Kyoukai Senjou no Horizon que também é um expoente dessa tendência. Não que ecchi seja sinônimo de baixo nível, o problema é que a grande maioria das produções que surgem, são medianamente ruins, o que dá essa falsa visão que o problema é o ecchi em si. Mas às vezes aparece um Mayo Chiki! ou  Haganai, obras adaptadas de light novels, onde o foco no fanservice ecchi, é o grande destaque. Mas foram séries super elogiadas por grande parte fandom e dos blogueiros de plantão. Haganai que usa um character designer que despontou em Denpa Onna, mais um dos “moe moe” deste ano, e que já desponta como uma tendência irreversível, como aconteceu com o character designer de K-On. Por isso, perfeitamente natural à impressão que se tem que já viu certo personagem em outro anime, são todos iguais.


Claro que há muito mais nesse ano do que foi comentado aqui, várias outras experiências legais assistindo anime certamente não foram aqui comentadas, assim como há os animes que receberam ótimas analises criticas, mas que grande parte do fandom insiste em ignorar, como Kaiji 2, Dororon Enma-kun Meera mera ou Yondemasuyo, Azazel-san – Somente alguns exemplos. Mas também há aqueles que são praticamente impossíveis não fazer uma citação e que se tornaram avatares do ano animístico de 2011 – Madoka Mágica, Steins;Gate e Tiger & Bunny. Um pouco mais atrás destes em popularidade, há Mawaru Penguindrum, que certamente não é o anime da década, mas certamente do ponto de vista técnico, é uma das grandes produções de 2011. E também, um dos mais polêmicos. Não pela abordagem, mas pelas discussões envolvendo pessoas que o tacharam como pseudo-intelectual e seu pequeno, mas, barulhento fandom. Para alguns, apenas competente, para outros, é algo bom demais para ser anime. Porém, Mawaru Penguindrum dá um passo importante no que se refere a animes não convencionais, mostrando que estes podem vender e acerta justamente onde um Fractale ou Hourou Musuko, falharam, batendo mais uma vez na mesma tecla de que, se pode ser experimental e metalinguístico, e ainda assim vender. Como tudo que dá certo no mundo, vira tendência, esperemos que se abra caminho para outras séries que aparentemente, não possuem capacidade para abocanhar grande parte do público e pagar suas contas e por isso acabam ficando no papel. Claro que, isso envolve mais o time de produção, do que a obra em si. Fractale tinha ingredientes suficientes para uma grande série, mas falhou nas mãos de Yutaka Yamamoto, que até tentou ser pop com um mote unilateral, mas ao não teve a mesma competência de Kunihiko Ikuhara (diretor de Mawaru Penguindrum) na hora de embrulhar o presente. No fim das contas, concluímos que mais importante que o conteúdo, é saber embrulhar a mercadoria. 


Steins;Gate, sem contar com um grande maestro na direção, como Mawaru Penguindrum com Kunihiko Ikuhara ou Madoka Magica com Akiyuki Shinbo, ou muito requintes em sua produção, conseguiu ser uma das melhores adaptações do ano, no que tange a Visual Novels. Caiu nas graças do espectador e deverá seguir como uma grande referência por muito tempo, não é sempre que aparece um sci-fi genuíno com foco em viagens no tempo. Aliás, a comparação com Back to the Future (De Volta para o Futuro) é super válida. E no fim das contas, ainda que seja um produto autenticamente voltado para otakus hardcore, consegue furar essa esfera e agradar até mesmo o espectador mais incauto, por ser antes de qualquer coisa, divertido. 

Curiosamente, Tiger & Bunny se mantem como destaque do ano, ainda que tenha encontra certa resistência por parte do público ocidental. Alimentado principalmente pelas fujoshis, o fandom de Tiger & Bunny cresceu bastante e se consolidou. Confesso que cheguei a pensar que ficaria restrito, sem conseguir ultrapassar a resistência popular que No.6 teve, mas a caprichada direção e o inusitado roteiro, que pode ter nascido sem grandes pretensões, transformaram Tiger & Bunny em uma grande franquia lá no Japão, de grande sucesso comercial e a série segue muito bem comentada.


Pra fechar, independente da satisfação pessoal que se teve com cada anime assistido, Madoka Magica é o grande nome em animes de 2011. Compacta e redondinha, a série explodiu e virou um fenômeno a parte, com o meticuloso roteiro escrito por Gen Urobuchi, o traço conceitualmente moe de Ume Aoki, que deu toda personalidade às personagens, que aliado a competente direção de Akiyuki Shinbo, transformaram Madoka Magica em um virtual clássico moderno da animação. Se irá sustentar essa plaquinha em um futuro próximo, não sabemos, mas hoje, já se tornou uma série cultuada [O MAINSTREAN, O CULT E O PSEUDO]. O novo Neon Genesis Evangelion, só que de saias? A comparação pode irritar alguns, mas toda a metalinguagem irá continuar a provocar discussões e manter a série viva no imaginário coletivo e as comparações também. Certamente, quem assistir hoje, não terá o mesmo impacto de quem viu a série ser transmitida quase que em tempo real, mas sua consistência marcou um ano em que todos os fãs de animações saíram premiados com obras caprichadas que, ainda que não se tornem imortais no imaginário popular, ajudaram a fazer deste um ano excelente. Que venham mais Gosick, Ao Exorcist e vários Level -E e com um pouco de sorte, ao menos um do combo [Madoka + Steins + T&B + Mawaru] pra deixar as discussões ainda mais quentes e envolventes.

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