É engraçado como o ser humano gosta de retrospectivas,
resumos de momentos, não é mesmo? Provavelmente pelo saudosismo. De qualquer
forma, não pretendo fazer uma retrospectiva, nem muito menos um resumão. Mas
alguns comentários no que se refere a animes. E você, quantos animes assistiu
esse ano? Dois, três? Acompanhar animes por temporada é passo natural na vida
de qualquer um que comece a ter contato com o mundo das animações japonesas.
Você começa assistindo séries finalizadas, mas logo começa a dedicar boa parte
do seu tempo em episódios semanais. No inicio, costuma ser em um ritmo intenso,
mas a tendência é que com o tempo, isso diminua gradativamente.
Engraçado que 2011, que deveria ser o ano do estardalhaço,
ano de ver os efeitos da lei 156, também conhecida como lei "Anti-otaku", que foi debatida
ferozmente aqui no Brasil, extrapolando até o nicho e gerando discussão entre
os que ficam a margem do entretenimento japonês. Houve até quem se lembrou
temerosamente do Comic Code, mas o
ano chegou, o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, criador da lei, se demitiu
e o mais próximo que chegamos de discussão com respeito a censura, foi com relação
a uma queixa do órgão de fiscalização do governo japonês (algo parecido com o nosso Ministério Público)com relação ao anime Madoka Mágica, onde supostamente aos
olhos da sociedade, era crueldade demais retratar as amáveis garotas mágicas
naquela situação.
“É um anime que passa
de madrugada, mas contém cenas de uma menina que tem sua cabeça arrancada fora
por um monstro”!
“Os produtores têm
demonstrado a sua intenção de continuar lucrando com essas cenas cruéis a cada
semana.”
“Mesmo que seja tarde
da noite, é ultrajante que um programa de tv esteja flagrantemente lucrando com
este tipo de material horrível."
E por falar em Madoka
Mágica, esse foi o ano das surpresas, com animes que deram o que falar e
proporcionaram grandes discussões nas redes sociais e fóruns com foco em
animes. Pela minha perspectiva, o saldo foi extremamente positivo, onde tivemos
um bom drama de comoção em massa, que foi Ano Hana [Nós ainda não sabemos o nome da flor que vimos naquele dia], de
puro amor e nostalgia, onde todos que acompanharam entoaram juntos o mesmo coro
agridoce de Usagi Drop. Ainda que
seus semelhantes, como por exemplo, Ikoku
Meiro no Croisée, não tenham tido uma repercussão tão virulenta, o gênero
Slice of Life teve uma boa representação, tanto com Ano Hana, quanto com Usagi
Drop, certamente serão nomes que virão de forma instantânea na mente logo
após nomes como Clannad e Ef - A
Tale of Melodies – Estes, já clássicos do gênero “slice of life com drama”. Mas
será que desses slice of lifes de drama que foram transmitidos esse ano, alguém
ainda se lembra do razoável Moshidora? Claro que sim, mas é uma série que deve
cair rapidamente no ostracismo.
Porém, independe das críticas, se aquilo te satisfaz, é o
que importa no final das contas e “haters
gonna hater” pra todo mundo. Mas é importante não deixar que o lado
emocional, afete o seu lado crítico. Como diria Cazuza; “Não existe música certa ou errada; existe música boa!!!".
Acho engraçado como The iDOLM@STER
não faz a cabeça do grande público “BRBR”, e nem a minha, mas que só de dar uma
olhada marota e curiosa, é possível ver que tem uma boa execução e certamente
faz por merecer o “sucessinho” que faz entre as meia-dúzias de pessoas que o
assistem. Algo parecido é com Dog Days,
esse sim eu assisti até o fim e me agradou, mas ali há elementos suficientes
para que o público “normal” torça o nariz.
Mas nem só de surpresas agradáveis foi feito o ano, mas de
grandes fracassos também. E como diria aquele ditado popular, “quanto maior a
altura, maior o tombo”, é o que podemos dizer quanto a projetos que falharam em
suas propostas, como Fractale, [C]: The Money of Soul and Possibility
Control, Deadman Wonderland, Blood-C e o atualmente em exibição, Mirai Nikki. Todas essas foram
produções que se mostraram com enorme hype por parte do fandom, ou já nasceram
com status inflado de “Blockbuster” –
Este é o caso do atual anime em exibição, Guilty
Crown, que é divertidinho e apresenta diversos efeitos visuais, mas que por
não corresponder ao hype inicial e não apresentar um enredo contundente, forma
junto com Mirai Nikki, a dupla de
animes mais criticados da temporada de Outono da tv japonesa. Mas não posso deixar
de citar também, como decepcionante a linha “hero” da parceria entre Marvel e MADHOUSE, que segundos boatos da interweb, não houve tanta
liberdade para o parceiro japonês. Claro que foi uma grande jogada de marketing
e uma tentativa de introduzir os heróis americanos, aos japoneses que nutrem um
certo esplendor por eles. Masakazu
Katsura e Hiroya Oku, por
exemplo, não escondem de ninguém que são fãs de Batman, que excelente gosto eles têm, não? Mas tecnicamente
falando, são produções pra se esquecer, até mesmo as boas adaptações de X-Men e Wolverine.
Mas se a MADHOUSE, teve parte de seu brilho como um dos
grandes estúdios de animação do ano, apagado, no último instante conseguiu
novamente chamar a atenção com uma inusitada adaptação de um mangá Josei, com
foco em jogo de cartas. Falo de Chihayafuru,
um anime que é bem um Hikaru no Go,
versão feminina. Se junta ao lado de Kimini Todoke S2 e Natsume Yuujinchou
San, como os melhores animes conceitualmente shoujos (que consideramos, voltado primeiramente ao publico feminino) do
ano. Um ano que novamente segue bem fraco com relação ao publico feminino
tradicional. Falo “tradicional”, pois parece que o mercado decidiu abrir
definitivamente os olhos para a parcela feminina do fandom. Afinal, existe um
público feminino que é tão hardcore quanto o masculino, mas que nunca receberam
a atenção devida. A tendência é que no rastro, principalmente, de
Tiger&Bunny, No.6 e Uta No Prince-sama, surjam muito outros, de olho no
bolso, principalmente, das fujoshis. Da mesma forma que o Yuri Fanservice, veio
numa crescente enorme nesse ano, onde os YuruYuri, A-Chanel, entre outros, se
aproveitam da trilha feita por K-on, onde o moe em um mundo que homens
praticamente são plantas vegetativas, veem fazendo sucesso. De modo reverse
também, pois as mulheres também apreciam moe, ainda que nessa temporada, Kimi to Boku passou praticamente
despercebido.
Também foi um ano marcado pelas adaptações de light novels, Fate/Zero é um dos grandes
representantes do gênero. Mas a maioria, sem dúvida tem como característica
básica o ecchi, como Kyoukai Senjou no
Horizon que também é um expoente dessa tendência. Não que ecchi seja
sinônimo de baixo nível, o problema é que a grande maioria das produções que
surgem, são medianamente ruins, o que dá essa falsa visão que o problema é o
ecchi em si. Mas às vezes aparece um Mayo
Chiki! ou Haganai, obras adaptadas de light novels, onde o foco no fanservice
ecchi, é o grande destaque. Mas foram séries super elogiadas por grande parte
fandom e dos blogueiros de plantão. Haganai
que usa um character designer que despontou em Denpa Onna, mais um dos “moe
moe” deste ano, e que já desponta como uma tendência irreversível, como
aconteceu com o character designer de K-On.
Por isso, perfeitamente natural à impressão que se tem que já viu certo
personagem em outro anime, são todos iguais.
Claro que há muito mais nesse ano do que foi comentado aqui,
várias outras experiências legais assistindo anime certamente não foram aqui
comentadas, assim como há os animes que receberam ótimas analises criticas, mas
que grande parte do fandom insiste em ignorar, como Kaiji 2, Dororon Enma-kun
Meera mera ou Yondemasuyo,
Azazel-san – Somente alguns exemplos. Mas também há aqueles que são
praticamente impossíveis não fazer uma citação e que se tornaram avatares do
ano animístico de 2011 – Madoka Mágica,
Steins;Gate e Tiger & Bunny. Um pouco mais atrás destes em popularidade, há Mawaru Penguindrum, que certamente não
é o anime da década, mas certamente do ponto de vista técnico, é uma das
grandes produções de 2011. E também, um dos mais polêmicos. Não pela abordagem,
mas pelas discussões envolvendo pessoas que o tacharam como pseudo-intelectual e
seu pequeno, mas, barulhento fandom. Para alguns, apenas competente, para
outros, é algo bom demais para ser anime. Porém, Mawaru Penguindrum dá um passo importante no que se refere a animes
não convencionais, mostrando que estes podem vender e acerta justamente onde um
Fractale ou Hourou Musuko, falharam, batendo mais uma vez na mesma tecla de que,
se pode ser experimental e metalinguístico, e ainda assim vender. Como tudo que
dá certo no mundo, vira tendência, esperemos que se abra caminho para outras
séries que aparentemente, não possuem capacidade para abocanhar grande parte do
público e pagar suas contas e por isso acabam ficando no papel. Claro que, isso
envolve mais o time de produção, do que a obra em si. Fractale tinha ingredientes suficientes para uma grande série, mas
falhou nas mãos de Yutaka Yamamoto,
que até tentou ser pop com um mote unilateral, mas ao não teve a mesma
competência de Kunihiko Ikuhara (diretor de Mawaru Penguindrum) na hora
de embrulhar o presente. No fim das contas, concluímos que mais importante que
o conteúdo, é saber embrulhar a mercadoria.
Já Steins;Gate,
sem contar com um grande maestro na direção, como Mawaru Penguindrum com Kunihiko
Ikuhara ou Madoka Magica com Akiyuki Shinbo, ou muito requintes em
sua produção, conseguiu ser uma das melhores adaptações do ano, no que tange a
Visual Novels. Caiu nas graças do espectador e deverá seguir como uma grande
referência por muito tempo, não é sempre que aparece um sci-fi genuíno com foco
em viagens no tempo. Aliás, a comparação com Back to the Future (De Volta para o Futuro) é super válida. E no
fim das contas, ainda que seja um produto autenticamente voltado para otakus
hardcore, consegue furar essa esfera e agradar até mesmo o espectador mais
incauto, por ser antes de qualquer coisa, divertido.
Curiosamente, Tiger
& Bunny se mantem como destaque do ano, ainda que tenha encontra certa
resistência por parte do público ocidental. Alimentado principalmente pelas
fujoshis, o fandom de Tiger & Bunny
cresceu bastante e se consolidou. Confesso que cheguei a pensar que ficaria
restrito, sem conseguir ultrapassar a resistência popular que No.6 teve, mas a caprichada direção e o
inusitado roteiro, que pode ter nascido sem grandes pretensões, transformaram Tiger & Bunny em uma grande
franquia lá no Japão, de grande sucesso comercial e a série segue muito bem
comentada.
Pra fechar, independente da satisfação pessoal que se teve
com cada anime assistido, Madoka Magica
é o grande nome em animes de 2011. Compacta e redondinha, a série explodiu e
virou um fenômeno a parte, com o meticuloso roteiro escrito por Gen Urobuchi, o traço conceitualmente
moe de Ume Aoki, que deu toda
personalidade às personagens, que aliado a competente direção de Akiyuki Shinbo, transformaram Madoka Magica em um virtual clássico
moderno da animação. Se irá sustentar essa plaquinha em um futuro próximo, não
sabemos, mas hoje, já se tornou uma série cultuada [O MAINSTREAN, O CULT E O PSEUDO]. O novo Neon Genesis Evangelion, só que de saias? A comparação pode irritar
alguns, mas toda a metalinguagem irá continuar a provocar discussões e manter a
série viva no imaginário coletivo e as comparações também. Certamente, quem
assistir hoje, não terá o mesmo impacto de quem viu a série ser transmitida
quase que em tempo real, mas sua consistência marcou um ano em que todos os fãs
de animações saíram premiados com obras caprichadas que, ainda que não se
tornem imortais no imaginário popular, ajudaram a fazer deste um ano excelente.
Que venham mais Gosick, Ao Exorcist e vários Level -E e com um pouco de sorte, ao
menos um do combo [Madoka + Steins +
T&B + Mawaru] pra deixar as discussões ainda mais quentes e
envolventes.
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