Quando eu dei play e comecei a assistir o episódio, eu fui
surpreendida pelo estúdio SILVER LINK. E mais, eu gostei de ser surpreendida.
Como eu já comentei em outros posts aqui no blog, adaptações são uma outra
obra, é um outro ponto de vista, são outros envolvidos. Mas pra quem já conhece
e eventualmente já era fã do material original, acaba olhando com outros olhos.
Mas os primeiros minutos são bem inusitados, e também gostosos de se assistir. Eles
brincam com a narrativa, deixando a personagem título invisível para os espectadores
por boa parte do tempo, enquanto esses se divertiam a vendo aprontar com a pobre
Okonogi Momoe.
Isso trás a tona uma questão interessante: O quanto um
diretor deve mexer numa história para deixa-la como um produto que se sustente
sozinho [independente do original]. E esse primeiro episódio, aponta bem para
essa direção onde há a promessa virtual de uma história fechada em 12 episódios
[ou não]. Aqui foram-se uns 6 capítulos engolidos, onde a direção troca a
metade da série com apresentações de personagens e desenvolvimento da história,
por algo mais prático, que é todos já se conhecendo e fazendo parte do clubinho
de investigação sobrenatural. E sendo a partir disso que TOxA realmente entra
em seu POV e mostra a que veio, é sensato pensar que querem pegar o melhor da
obra original e apresentar isso para o espectador.
Mas mesmo esse episódio não mostra exatamente a que veio; É
basicamente uma introdução. O que gera uma certa curiosidade do que estaria por
vir adiante, afinal, o primeiro capítulo não é apenas importante para enredo,
mas também situa o leitor sobre a força que move a história, no caso a Yuuko. E
com isso, os capítulos seguintes vão entrelaçando o seu passado, com histórias
episódicas e novos personagens. Então, espero algo como flasbacks ou recortes,
resgatando uma ou outra coisa perdida nesse processo.
E esse episódio de TOxA me lembra bastante uma outra estreia
nessa temporada: Sankarea. Ambos
possuem conceitos visuais muito interessantes e que são basicamente um Shaft.feelings. No caso do anime
produzido pelo estúdio DEEN, o que se explica em parte pela presença de Mamoru
Hatakeyama na direção e que faz parte do time do estúdio SHAFT como animador e
diretor de episódios isolados de vário animes. No caso de TOxA, Shin Oonuma é
conhecido por ser um discípulo fiel de Shinbo Akiyuki, sendo um dos membros
ativos do estúdio. Mas diferente de suas obras no SILVER LINK, no caso Baka Test e o criticado C³, aqui ele quebra o estilo que vinha
adotando e volta à essência de um ef – a
tale of memories (também dirigido
por ele, só que no SHAFT). Nesse caso, será algo curioso de se acompanhar e
ver quais serão as escolhas da dubla de diretores (Takashi Sakamoto e Shin Oonuma), uma vez que Sankarea dá abertura
para muito mais arroubos visuais do que TOxA, onde o tom mais escuro é o que
chama a atenção.
Mas as escolhas até aqui foram ótimas (na verdade, nem todas. Explicarei adiante). Todo aquele líquidovermelho escorrendo pelo vídeo enquanto a Momoe dialogava foi na medida. O que
dizer então da cena onde Yuuko e Teiichi estão no elevador? Foi uma ótima
tomada [e com um feeling totalmente cinematográfico – Eu não me lembro de exatamente
qual, mas já vi essa tomada em um ou outro filme por ai], apesar de simples. Ficou
provocante e visualmente bonito. Mas o melhor é sem dúvidas a parte externa
onde os personagens estão no tumulo de Yuuko e os efeitos visuais podem ser mais
bem apreciados com aquele lindo por do sol, onde o vermelho e o amarelo
contrastam com o tom escuro da escola. Ela pergunta pro Teiichi se a paisagem é
linda e realmente é belíssima e a OP destaca esse clima da história que se
passa no outono, com as folhas caindo e amarelecidas no chão dão um quê de nostalgia
e melancolia. E dando uma de pseudo-otakinha aqui, é um cenário que combina
perfeitamente com a história, pois o tom amarelado dessa estação indica a
passagem de uma estação para outra e bem, esse é justamente o drama de Yuuko: A
eternidade, onde ela é a espectadora – Ela é um fantasma, né!? E com amnesia.
Foi um episódio com animação sólida e fluida, boa BGM e uma
direção que faz deste um episódio ideal pra se assistir embaixo do edredom por
ser tão b-OPS! Okay, a execução é boa e agradável, mas certas escolhas tomadas são
discutíveis. A repetição das cenas foi redundante e me soou um tanto quanto egocêntrica.
Por mais agradável que tenha sido, foi um desgaste desnecessário, deixando um
terço do episódio bem arrastado. Afinal, não há proposito na repetição quando que
por volta dos 6 minutos, todos estão na porta do elevador quando Teiichi é
almejado por Yuuko [furiosa] que aparece pela primeira vez aos olhos dos
espectadores com seus cabelos negros esvoaçantes. É basicamente uma situação
onde tenta se explicar uma piada.
Não compromete a forma como eu vejo o episódio, como um todo
algo bom e que merece atenção, mas sem dúvidas tira um pouco do brilho. E voltando ao ponto inicial do post, o fato da
direção estar deliberadamente ousando e assumindo riscos, trás uma expectativa
a mais do que está por vir. Afinal, TOxA é uma história simples e agradável e
que se sustenta na amnesia de Yuuko. É uma mistura de mistério sobrenatural, elementos
de horror e uma divertida comédia romântica [sobrenatural], com casos onde o
clubinho de investigação tem que entrar na ativa pra resolvê-los, mas que
sempre envolve algo do misterioso passado da Dama da Amnesia. E é esse o ponto,
onde o primeiro plot twist do enredo deve ser a partida rumo aos episódios
finais (jogando com probabilidades)
para pegar o espectador desprevenido.
As personagens são clichês, mas interessantes o suficiente
pra despertar atenção. E a dinâmica funcionou satisfatoriamente bem, onde Yuuko
é uma namorada não declarada completamente enciumada de Kirie e Momoe, que
nitidamente possuem afeição por Teiichi. Obviamente, sem nenhuma chance [nem
mesmo um fanservice básico para os shippers de plantão poderem sonhar], mas que
não poderia faltar já que é um elemento tão inerente a obras que querem vender.
E a Momoe é fofa e hiperativa, a Kirie provocante e Teiichi consegue soar agradável,
mesmo sendo o típico protagonista de séries escolares. As brincadeiras entre os dois foram divertidas
e perigosamente atravessa a linha do ecchi em algo completamente hot hot hot. Não há potencial para ser o
anime da temporada, mas tem tudo pra ser divertidamente um ótimo entretenimento
se continuarem com o bom feeling.
P.s: CHOIR JAIL, a música tema da OP é muito boa. Tem um
pique que empolga e é cantada pela promessa do J-pop de apenas 15 anos recém-completados;
Konomi Suzuki. E como já comentei antes, curtir bastante a arte conceitual que
acompanha a música com Yuuko no centro fazendo origamis, completamente só. A última imagem que já virou costume nos
animes, é Yuuko num character designer à la Hekiru Hikawa, autor do mangá Pani
Poni, que foi adaptado para anime pelo SHAFT. Quem assistiu, certamente adorou
a referência.
P.S: Aquele poeminha da Yuuko ao final me levou de volta aos
velhos tempos de Higurashi.