sábado, 25 de agosto de 2012

Space Brothers: Episódios 09~21 - Acorrentados


Oláááá integrantes dessa nave louca chamada Big Brother!

Quando a adaptação de Uchuu Kyoudai para animação ganhou vida como uma produção de muitos episódios, a grande dúvida era; “será que passados dois cours, este anime ainda manterá o fôlego inicial?”. Passados praticamente 2 cours [2 temporadas de 12 episódios], e ainda com previsão de mais 2 pela frente, a história que materializa os sonhos dos irmãos Mutta e Hibito – e injetam uma mensagem de esperança e otimismo nas veias de centenas de japoneses que acompanham essa jornada todas as manhãs de domingo – continua incrivelmente envolvente, e nas mãos habilidosas do veterano  Ayumu Watanabe, dá sinais de que pode sim, repetir a máxima da brilhante adaptação da primeira temporada de Kaiji: Onde o nada parece ser muito, e o muito, parece ser pouco.

Claro, falo da enorme simplicidade da produção de Kaiji, seu traço bizarramente feio (que é o grande charme da proposta), uma BGM não muito variável e seus 26 episódios que não se fazem notar.



O desenho dos personagens de Uchuu Kyoudai não é atraente, mas traz um quê de realidade, onde personagens com traços feios e bonitos se misturam. Sua BGM não alterna muito, mas é extremamente eficaz, seja nos momentos de tensão, ou de nostalgia. Este segundo arco, trouxe os selecionados da etapa anterior, encarcerados numa capsula espacial por cerca de 10 episódios, numa espécie de Big Brother – E o que poderia ter sido chato, se mostrou cativante o suficiente, ao ponto de sentirmos a despedida de muitos daqueles personagens secundários que nos irritaram, nos emocionaram e nos surpreenderam com suas histórias.

É muito bom ver a volta de animes que não sejam apenas centrados em batle shounen e mahou shoujo com uma grande quantidade de episódios para se desenvolverem. E este é um fator primordial para o sucesso da série, que dificilmente seria tão envolvente – com muitos episódios envoltos numa áurea mágica capaz de te emocionar sem ao menos lhe arrancar uma única lágrima e fazer brotar aquele sorriso espontâneo dentro do peito – se não tivesse todo o tempo do mundo para se desenvolver, sem se preocupar com condensações e invariavelmente, a perda de nuances importantes no processo. Se dos 60 aos 90, o comum eram séries de longa duração, muitas vezes ganhando uma barriguinha no meio de sua exibição por falta de conteúdo, hoje, com a mudança do mercado de animes no Japão, trouxe uma nova realidade onde series de enredos expansivos muitas vezes não têm a chance de mostrar a que veio por não poderem se desenvolver adequadamente. Ironicamente, são as que se centram no cotidiano dos personagens que às vezes apresentam as maiores perdas. Não por acaso, uma vez que os personagens precisam de tempo para se desenvolverem e amadurecerem no processo, que muitas vezes se dá de forma sutil.

E bem, não há muito que falar sobre esse arco, mas gostaria dizer que o achei simplesmente fantástico! Até melhor que o primeiro, por não se limitar à ótica de Mutta e por conseguir tirar o melhor do confinamento dos três grupos de personagens. Continuo dizendo o mesmo que disse no primeiro post, as tramas são bem previsíveis, e ao menos que você seja muito ingênuo, o resultado final já está na cara, personagens como Serika e Makabe [pra não dizer o Mutta] continuarão seguindo em frente e talvez até se tornem integrantes da JAXA. Porém, todas as situações de mistério, a dinâmica de grupo envolvendo os personagens e as intervenções do controle de comando da JAXA, a fim de causar tensão e desestabilizar os confinados são tão bem amarradas e envoltos em um suspense com algo dramático e conflituoso que eu ficava totalmente aflita em ver como aquilo iria se desenvolver e os personagens iriam reagir.


A produção do estúdio A-1 Pictures é apenas okay, com planos, angulações e storyboards padrões e muitos quadros estáticos, mas que pela força da história residir em seus personagens, passa facilmente despercebido. As expressões dos personagens continuam sendo o destaque, como não rir das poses de Mutta imitando Michael Jackson e da reação de Serika? Eu me mijei ali de rir! Ri com vontade! E claro, as carrancas do Ya-san (Yasushi Furuya) provocando o Mutta, sempre impagáveis. Os roncos do estômago da Serika e sua fome incontrolável (parece eu hahaha). Ainda assim, a fluidez do character designer em alguns episódios tendem a decair muito, normalmente quando algumas sequências exigem mais da animação, então se sacrifica um traço mais sólido por uma animação mais fluida.

[vez ou outra aparecem alguns erros de continuação nos animes, em Uchuu Kyoudai foi no caso dos green card, que só deveriam aparecer no flashback seguinte, quando Naoto levantasse o porta-óculos]


Em meio a conflitos, o sútil desenvolvimento de alguns dos principais personagens foi fundamental para que sentíssemos suas despedidas. Naoto mesmo na velhice, ainda continuar acreditando e correndo em busca de seus sonhos, mesmo tendo sacrificado o convívio com sua família e agora não possa nem mesmo voltar atrás, foi tocante. A conflituosa relação de Makabe com seu colega de grupo e sua indecisão entre o seu sonho e sua família, faz um contraponto sensacional com Naoto, afinal, sendo um piloto da Nasa, ele não verá sua filha crescer, e perderá todos os melhores momentos com sua família. Será que no fim das contas, ele irá desistir? A forma como isso é trabalhado e explode nos episódios finais traz a tona a sensação de ver um Rock Balboa se recuperando nos minutos finais e nocauteando seu oponente. Os pontos fracos dos personagens, os conflitos, e suas qualidades, são trabalhados já pensando no momento máximo da catarse, que vem e não decepciona.

Mesmo o Ya-san, que eu achava um chato (!!), que só sabia reclamar e pegar no pé do Mutta, conseguiu ser aquele personagem cricri revestido de uma forma muito humana. Como não vibrar junto a ele no clímax do episódio 20, com seu estouro emocional? De repente, eram todos capazes de simpatizar com seu drama.

A Serika acabou sofrendo uma vasta desconstrução, onde de uma garota séria e centrada que parecia ser no primeiro arco, se mostrou mais como um alivio cômico, mas não senti tanta a falta de um desenvolvimento nessa parte da história, além de ter visto nela o interesse romântico perfeito para o Mutta. Sua construção pode não ter sido tão eficaz, mas se mostrou uma personagem para lá de carismática e com muito potencial. Já Mutta, teve um desenvolvimento mínimo, mas contundente. Seu lado negativista foi minimizado em prol de suas qualidades, que foram capsuladas. Acredito que entre todos, foi o que mais soube tirar proveito de toda aquela situação, o que mais cresceu dentro da competição.

Os flashabacks continuam aparecendo, sempre contando algo importante da vida de Mutta que será fundamental para o desfecho da trama. Geralmente quando Uchuu Kyoudai se aproxima de passar aquela sensação de algo mágico, tem a ver com algo de sua infância, como vemos na sequência do episódio 19 ao 20. Ao mesmo tempo em que acompanhamos Mutta se sentindo solitário por ninguém compartilhar o seu sonho, também vemos que a importante lição que aprendera com a tia Sharon não apenas seria fundamental para o equilíbrio da equipe nos momentos finais, como evidenciou aquele feeling onde ele agora estava ao lado de pessoas que compartilham o mesmo sentimento que ele. A cena de todos eles amassando a massa com os pés foi mágica.


Esse arco ressaltou ainda mais a capacidade de observação de Mutta, mas também continuou a prestar sua homenagem sutil a homens que persistiram no sonho de pisar no espaço, muitas vezes contando com a sorte. Sim, novamente temos uma pincelada no fator ~sorte~ que sempre acompanha os vencedores. No episódio 12, Mutta sabia que era 3:00 por ter olhado no relógio no painel do ônibus. E foi o único, entre todos, que notou. Tem muito de uma situação já vivenciada pelo astronauta Alan Bean durante o lançamento da Apollo 12, quando um raio atingiu o foguete Saturno V duas vezes durante sua ascensão e destravou virtualmente todos os controles de circuitos elétricos do Módulo de Comando da Apollo. Entraram em modo bersek e estavam à beira de abortar a missão, quando um dos controladores de voo como medida de ultima hora, ordenou à tripulação para mudar o SCE para auxiliar.  Ninguém sabia o que isso significava, com exceção de Alan Bean, que se lembrava por ter visto um interruptor pouco usado rotulado como "SCE" durante o treinamento.

A dublagem continua sensacional, Sawashiro Miyuki nem parece a fatal Mine Fujiko de Lupin III, Hiroaki Hirata conseguiu transcender o que fez com o Kotetsu em Tiger & Bunny, colocando bastante autenticidade em Mutta, que ao meu ver, é o personagem masculino do ano. Ryo Naitou estava incrível como o chato Ya-san. Mas, impagável mesmo é Yutaka Aoyama como Shigeo Nasuda, o diretor da JAXA. AQUEEELE bigodinho, AQUELE “néééé, néééé”, chessusss!!! Também acredito que todos sentiram falta de "Feel so Moon" na abertura, mas Eureka (do cantor Sukima Switch) conseguiu me cativar com o tempo. A melodia é gostosa e tem uma acústica bacana, além de ser super otimista, transmitindo bem o feeling do anime. A animação da abertura ficou excelente, confesso que já tentei recriar aquela coreografia aqui no meu quarto. Ficou ridículo, obviamente. E todos os personagens com perucas do Mutta e do Hibito dançando daquela forma ficou hilário e muito divertido. Uchuu Kyoudai pode ser muito fantasioso às vezes, ou o seu protagonista parecer ser muito bobo, mas é sempre bom vermos uma série calma e completamente familiar capaz de te fazer relaxar e ainda ser reflexiva e te dar aquela pitada de otimismo de que sim, é possível e que trabalhando, muitas vezes a sorte pode estar do seu lado. E acredito que Mutta é a representação ideal de muitos que assistem, afinal, se sua vida pudesse ser um filme, talvez seu drama fosse melhor representado de forma cômica. Para mim que adoro algo realista, obscuro e trágico, acaba sendo um bom alivio.