Oláááá integrantes dessa nave louca chamada Big Brother!
Quando a adaptação de Uchuu Kyoudai para animação ganhou
vida como uma produção de muitos episódios, a grande dúvida era; “será que passados dois cours, este anime
ainda manterá o fôlego inicial?”. Passados praticamente 2 cours [2
temporadas de 12 episódios], e ainda com previsão de mais 2 pela frente, a
história que materializa os sonhos dos irmãos Mutta e Hibito – e injetam uma
mensagem de esperança e otimismo nas veias de centenas de japoneses que
acompanham essa jornada todas as manhãs de domingo – continua incrivelmente
envolvente, e nas mãos habilidosas do veterano Ayumu Watanabe, dá sinais de que pode sim,
repetir a máxima da brilhante adaptação da primeira temporada de Kaiji: Onde o nada parece ser muito, e
o muito, parece ser pouco.
Claro, falo da enorme simplicidade da produção de Kaiji, seu traço bizarramente feio (que é o grande charme da proposta),
uma BGM não muito variável e seus 26 episódios que não se fazem notar.
O desenho dos personagens de Uchuu Kyoudai não é atraente,
mas traz um quê de realidade, onde personagens com traços feios e bonitos se
misturam. Sua BGM não alterna muito, mas é extremamente eficaz, seja nos
momentos de tensão, ou de nostalgia. Este segundo arco, trouxe os selecionados
da etapa anterior, encarcerados numa capsula espacial por cerca de 10
episódios, numa espécie de Big Brother – E o que poderia ter sido chato, se
mostrou cativante o suficiente, ao ponto de sentirmos a despedida de muitos
daqueles personagens secundários que nos irritaram, nos emocionaram e nos
surpreenderam com suas histórias.
É muito bom ver a volta de animes que não sejam apenas
centrados em batle shounen e mahou shoujo com uma grande quantidade
de episódios para se desenvolverem. E este é um fator primordial para o sucesso
da série, que dificilmente seria tão envolvente – com muitos episódios envoltos
numa áurea mágica capaz de te emocionar sem ao menos lhe arrancar uma única
lágrima e fazer brotar aquele sorriso espontâneo dentro do peito – se não
tivesse todo o tempo do mundo para se desenvolver, sem se preocupar com
condensações e invariavelmente, a perda de nuances importantes no processo. Se
dos 60 aos 90, o comum eram séries de longa duração, muitas vezes ganhando uma
barriguinha no meio de sua exibição por falta de conteúdo, hoje, com a mudança
do mercado de animes no Japão, trouxe uma nova realidade onde series de enredos
expansivos muitas vezes não têm a chance de mostrar a que veio por não poderem
se desenvolver adequadamente. Ironicamente, são as que se centram no cotidiano
dos personagens que às vezes apresentam as maiores perdas. Não por acaso, uma
vez que os personagens precisam de tempo para se desenvolverem e amadurecerem
no processo, que muitas vezes se dá de forma sutil.
E bem, não há muito que falar sobre esse arco, mas gostaria
dizer que o achei simplesmente fantástico! Até melhor que o primeiro, por não
se limitar à ótica de Mutta e por conseguir tirar o melhor do confinamento dos
três grupos de personagens. Continuo dizendo o mesmo que disse no primeiro
post, as tramas são bem previsíveis, e ao menos que você seja muito ingênuo, o
resultado final já está na cara, personagens como Serika e Makabe [pra não
dizer o Mutta] continuarão seguindo em frente e talvez até se tornem
integrantes da JAXA. Porém, todas as situações de mistério, a dinâmica de grupo
envolvendo os personagens e as intervenções do controle de comando da JAXA, a
fim de causar tensão e desestabilizar os confinados são tão bem amarradas e
envoltos em um suspense com algo dramático e conflituoso que eu ficava
totalmente aflita em ver como aquilo iria se desenvolver e os personagens iriam
reagir.
A produção do estúdio A-1 Pictures é apenas okay, com
planos, angulações e storyboards padrões e muitos quadros estáticos, mas que
pela força da história residir em seus personagens, passa facilmente despercebido.
As expressões dos personagens continuam sendo o destaque, como não rir das
poses de Mutta imitando Michael Jackson e da reação de Serika? Eu me mijei ali
de rir! Ri com vontade! E claro, as carrancas do Ya-san (Yasushi Furuya) provocando o Mutta, sempre impagáveis. Os roncos
do estômago da Serika e sua fome incontrolável (parece eu hahaha). Ainda assim, a fluidez do character designer em
alguns episódios tendem a decair muito, normalmente quando algumas sequências
exigem mais da animação, então se sacrifica um traço mais sólido por uma
animação mais fluida.
[vez ou outra aparecem alguns erros de continuação nos
animes, em Uchuu Kyoudai foi no caso dos green card, que só deveriam aparecer
no flashback seguinte, quando Naoto levantasse o porta-óculos]
Em meio a conflitos, o sútil desenvolvimento de alguns dos
principais personagens foi fundamental para que sentíssemos suas despedidas. Naoto
mesmo na velhice, ainda continuar acreditando e correndo em busca de seus
sonhos, mesmo tendo sacrificado o convívio com sua família e agora não possa
nem mesmo voltar atrás, foi tocante. A conflituosa relação de Makabe com seu
colega de grupo e sua indecisão entre o seu sonho e sua família, faz um
contraponto sensacional com Naoto, afinal, sendo um piloto da Nasa, ele não
verá sua filha crescer, e perderá todos os melhores momentos com sua família. Será
que no fim das contas, ele irá desistir? A forma como isso é trabalhado e
explode nos episódios finais traz a tona a sensação de ver um Rock Balboa se
recuperando nos minutos finais e nocauteando seu oponente. Os pontos fracos dos
personagens, os conflitos, e suas qualidades, são trabalhados já pensando no
momento máximo da catarse, que vem e não decepciona.
Mesmo o Ya-san, que eu achava um chato (!!), que só sabia reclamar e pegar no pé do Mutta, conseguiu ser
aquele personagem cricri revestido de uma forma muito humana. Como não vibrar
junto a ele no clímax do episódio 20, com seu estouro emocional? De repente,
eram todos capazes de simpatizar com seu drama.
A Serika acabou sofrendo uma vasta desconstrução, onde de
uma garota séria e centrada que parecia ser no primeiro arco, se mostrou mais
como um alivio cômico, mas não senti tanta a falta de um desenvolvimento nessa
parte da história, além de ter visto nela o interesse romântico perfeito para o
Mutta. Sua construção pode não ter sido tão eficaz, mas se mostrou uma
personagem para lá de carismática e com muito potencial. Já Mutta, teve um
desenvolvimento mínimo, mas contundente. Seu lado negativista foi minimizado em
prol de suas qualidades, que foram capsuladas. Acredito que entre todos, foi o
que mais soube tirar proveito de toda aquela situação, o que mais cresceu
dentro da competição.
Os flashabacks continuam aparecendo, sempre contando algo
importante da vida de Mutta que será fundamental para o desfecho da trama. Geralmente
quando Uchuu Kyoudai se aproxima de passar aquela sensação de algo mágico, tem
a ver com algo de sua infância, como vemos na sequência do episódio 19 ao 20. Ao
mesmo tempo em que acompanhamos Mutta se sentindo solitário por ninguém compartilhar
o seu sonho, também vemos que a importante lição que aprendera com a tia Sharon
não apenas seria fundamental para o equilíbrio da equipe nos momentos finais,
como evidenciou aquele feeling onde ele agora estava ao lado de pessoas que
compartilham o mesmo sentimento que ele. A cena de todos eles amassando a massa
com os pés foi mágica.
Esse arco ressaltou ainda mais a capacidade de observação de
Mutta, mas também continuou a prestar sua homenagem sutil a homens que
persistiram no sonho de pisar no espaço, muitas vezes contando com a sorte. Sim,
novamente temos uma pincelada no fator ~sorte~ que sempre acompanha os
vencedores. No episódio 12, Mutta sabia que era 3:00 por ter olhado no relógio no
painel do ônibus. E foi o único, entre todos, que notou. Tem muito de uma
situação já vivenciada pelo astronauta Alan Bean durante o lançamento da Apollo
12, quando um raio atingiu o foguete Saturno V duas vezes durante sua ascensão e
destravou virtualmente todos os controles de circuitos elétricos do Módulo de
Comando da Apollo. Entraram em modo bersek e estavam à beira de abortar a
missão, quando um dos controladores de voo como medida de ultima hora, ordenou
à tripulação para mudar o SCE para auxiliar. Ninguém sabia o que isso significava, com
exceção de Alan Bean, que se lembrava por ter visto um interruptor pouco usado
rotulado como "SCE" durante o treinamento.
A dublagem continua sensacional, Sawashiro Miyuki nem parece
a fatal Mine Fujiko de Lupin III, Hiroaki
Hirata conseguiu transcender o que fez com o Kotetsu em Tiger & Bunny, colocando bastante autenticidade em Mutta, que
ao meu ver, é o personagem masculino do ano. Ryo Naitou estava incrível como o
chato Ya-san. Mas, impagável mesmo é Yutaka Aoyama como Shigeo Nasuda, o diretor da JAXA. AQUEEELE bigodinho, AQUELE “néééé, néééé”, chessusss!!! Também acredito que todos sentiram falta de "Feel
so Moon" na abertura, mas Eureka (do
cantor Sukima Switch) conseguiu me cativar com o tempo. A melodia é gostosa
e tem uma acústica bacana, além de ser super otimista, transmitindo bem o
feeling do anime. A animação da abertura ficou excelente, confesso que já
tentei recriar aquela coreografia aqui no meu quarto. Ficou ridículo,
obviamente. E todos os personagens com perucas do Mutta e do Hibito dançando
daquela forma ficou hilário e muito divertido. Uchuu Kyoudai pode ser muito
fantasioso às vezes, ou o seu protagonista parecer ser muito bobo, mas é sempre
bom vermos uma série calma e completamente familiar capaz de te fazer relaxar e
ainda ser reflexiva e te dar aquela pitada de otimismo de que sim, é possível e
que trabalhando, muitas vezes a sorte pode estar do seu lado. E acredito que
Mutta é a representação ideal de muitos que assistem, afinal, se sua vida
pudesse ser um filme, talvez seu drama fosse melhor representado de forma cômica.
Para mim que adoro algo realista, obscuro e trágico, acaba sendo um bom alivio.
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