Postagem random, sobre coisas que foram criadas quando eu
nem mesma era nascida.
Minhas primeiras impressões sobre Ace wo Nerae!
Então galera, eu estou enfim, depois de alguns probleminhas técnicos,
maratonando a primeira [e única disponível, infelizmente] temporada de Ace wo
Nerae!, shoujo clássico da década de 70. Acho que nunca comentei por aqui, mas
eu tenho verdadeira paixão pelos shoujos clássicos, mas confesso que tinha um
puta preconceito com Ace wo Nerae! por causa de seu character designer. É feio,
disforme, torto. Eu pensava, mas você se acostuma. Aqui o traço do animador e
character designer, Akio Sugino (grande
mestre, responsável pelos desenhos de animes como Ashita no Joe), ainda era
bastante inconsistente.
Dirigido por Osamu Dezaki, grande parceiro do Akio Sugino e
que juntos ajudaram a fundar o estúdio Madhouse após a falência do lendário estúdio
do Ozamu Tezuka, o Mushi Production [lendário porque foi o estúdio que com sua
dissolução, ajudou a formar alguns dos principais estúdios que temos hoje com
seus funcionários talentosos]. E Ace wo Nerae! é justamente o primeiro grande
anime do Madhouse [que além de ser conhecido por seus animes obscuros, é também
pela produção de alguns dos animes shoujos mais clássicos que temos].
Caralhaaaada, isso aqui era pra ser um post curto, raso e
simples. Putz, por que eu tenho que ser tão “faladeira”? Bem, Ace wo Nerae! é
um anime de esporte. E eu não tenho muito conhecimento sobre este gênero, mas
dos poucos que eu li ou assisti, estes eram shoujos. E todo shoujo de esporte
tende a seguir a premissa de caloura talentosa, tentando seguir os passos da
sempai/veterana. Elas se tornam rivais dentro do esporte e no mais, é aquela
coisa de treino, superação, treinador dando bronca e pouco romance, onde a
caloura vai tentar superar a veterana a todo custo. De Kaleido Star (que é uma
animação original, mas possui a estética shoujo), a Chihayafuru.
Tenho bastante coisa pra comentar, mas dessa vez irei apenas
falar um pouco do background. Akio Sugino é um dos pilares da indústria, e em Ace
wo Nerae!, e com apenas 2 episódios assistidos, eu já vejo o motivo disso. A
qualidade de animação é bem limitada, mas ele consegue compensar isso com
efeitos adoráveis e para lá de charmosos. O estilo de arte causa uma estranheza
inicial, mas rapidamente seus olhos se acostumam. A paleta de cores é predominantemente
em tons pasteis...
A uniformidade do vestuário com a decoração do quarto de Hitomi, é praticamente como usar xadrez hoje em dia. E olhe o mascote, oinw oin~ Era bem comum toda garota de shoujo ter o seu.
... e os efeitos de luz e contraste ao fundo são bem inventivos...
O reflexo e storyboard que enaltece a "superioridade" da personagem. Mesmo que os cabelos dela não se mexam, ou seus movimentos não sejam fluídos, é um belíssimo quadro
Cores, cores, movimentos, estado de espírito
O lado emocional é expresso estilisticamente, ora vermos a
nossa protagonista (Hiromi)
totalmente acuada, perplexa, em um inferno astral.
O melhor exemplo tá no episódio 02, onde ela realmente está
totalmente perdida em quadra, não conseguindo alcançar a bola. Ao fundo, os
cenários remetem ao inferno astral.
No segundo quadro, nos temos a sua veterana (Ryuzaki), voando num paraíso de flores
e borboletas, golpeando com imensa técnica e beleza a boca com a raquete.
Aliás, em Ace wo Nerae!, pela primeira vez eu ouvi o termo "Ochōfujin",que
tem o significado de Madame Butterfly, borboleta. A Ryuzaki é conhecida como
Ochofujin por causa de sua elegância na quadra de tênis. E no painel ao fundo,
sempre que vemos uma jogadora jogar com graciosidade, notamos a forma como elas
voam como uma borboleta.
E eerhm....animes de esporte tendem a ser um pouco
exagerados, mas eu até gosto. Olha esses efeitos...
Em Ace wo Nerae!,nos temos claramente a influência do
movimento “Op art” do final da década de 60 e inicio dos anos 70. Op art (do inglês optical art, que significa “arte
óptica”) é um termo usado para descrever a arte que explora a falibilidade
do olho e pelo uso de ilusões ópticas. Em português: menos expressão e mais
visualização. O termo que defende uma arte mutável e instável, parece cair como
uma luva não apenas nos animes shoujos da década de 70 e 80, mas como todos os
animes dessa época. De Cavaleiros do Zodíaco
(que eu costumo zoar muito por causa dessa postura extremamente teatral e uma
animação totalmente jocosa), a Ashita
no Joe (não assisti, mas já vi que segue o mesmo esqueminha).
E em Ace wo Nerae!, eu me impactei ao ver a dubladora da protagonista
e demais personagens gritando/atuando a plenos pulmões, com todo aquele agudo,
com bastante entonação nos finais das frases. Em Rosa de Versailles, pelo que pude reparar, apesar da postura ainda
teatral, há mais elegância na atuação. Nota-se uma evolução.
Voltando ao background, o Op-Art influenciou bastante, e esse
anime é um dos melhores exemplos para toda essa arte psicodélica, com diversos
efeitos de sobreposição de imagens/quadros que visam uma alternativa a baixa
animação, onde toda uma sequência com baixos frames (quadros de animação) consegue soar lindamente cinético, dinâmico e
emocionante. Os olhos deslumbrantes, repletos de glitter que dão aquele feeling
de beleza [tão comum nos mangás shoujos].
A cada raquetada, uma rajada de cores. Magenta com amarela,
com rosa, e que dão toda uma impressão de eletricidade e ~poesia~.
Tão old, mas naquela época, Ace wo Nerae!, ao lado de Onisama-E (que eu preciso comentar qualquer
hora aqui), representavam a modernidade, que viriam a influenciar bastante
os passos seguintes de toda uma indústria. Inclusive a Mise en scène [a forma
como seu personagem se porta em cena, através de storyboards, cinematografia e
cenografia – Onde parecem estarem atuando em um teatro]. Essa é uma técnica bem
barata e engenhosa, marca de um período onde tudo era mais expositivo como
forma de uma alternativa ao baixo orçamento e muitos episódios. E tem todo um
charme, viu? Assistir um Berserker,
ou Monster, hoje em dia, ainda
impressiona com todo o seu cenário com imensa riqueza e vida. Você olha aqueles
cenário, e eles realmente parecem fazer parte da cena. E é o que mais me fascina nos shoujos
clássicos, e normalmente mais me broxa nos atuais, com seu igualmente baixo
orçamento, porém com um background muito sem vida, com cores desbotadas – Salve
exceções. E bem, levando isso em conta, acho que concordo com o Shingo Araki (outro grande nome da mesma época,
character designer de Cavaleiros dos Zodíacos e Rosa de Versailles) sobre
as técnicas novas; “Não, eu não lamento
nada (não ter tido isso a seu
alcance na época). Eu sempre me
divertir mais criando animações diferentes ao invés de vê-los criados por
computadores.”.
Saavu, sumashu, voore. Besuto, wo fukuse. Eesu, eesu,
eesu...Eeeeesu wo nerae! – Eu vou ficar cantando esse refrão por dias. Aguardem
uma review quando eu terminar de assistir.
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