Este foi o episódio mais fascinante de Psycho-Pass, com uma
narrativa um tanto quanto... maçante (não
que eu tenha me incomodado, pelo contrário), mas sem dúvidas o mais
abrangente entre todos os episódios exibidos até o momento. Para a minha
surpresa, e tenho a certeza que de muitos também, já entramos na história
principal e com um primeiro arco que busca expandir ainda mais aquele universo –
Sempre através de uma narrativa bem expositiva. Afinal, não seria uma história
do butch Gen, se inicialmente não houvesse bastantes diálogos, progressão
lenta, questionamentos acerca da dualidade humana e certo mistério.
Além de abrir as cortinas definitivamente para um “Admirável
Mundo Novo” (desculpem, não resisti, e o
próprio argumento se referencia ao clássico de Aldous Huxley), a série continua
trabalhando nas minúcias do enredo, como a interação de Akane com os demais, a
forma como eles reagem com surpresa a certas novidades que para nós soam como
algo absurdo, e o próprio sistema Sibila. Algo que vem me chamando a atenção
desde o episódio passado é a forma como os Enforcers (caçadores/Justiceiros) são tratados quando não estão trabalhando –
E até mesmo quando estão trabalhando –, sempre de forma respeitosa, a despeito
do tratamento despachado por Ginoza (o
que aumenta ainda mais a minha suspeita do problema dele com eles, em especial
com o Masaoka, seja algo puramente pessoal), o sistema trata eles como se
fossem prisioneiros sob condicional.
Para se deslocarem quando são solicitados e estão fora do
turno de trabalho, eles são escoltados por uma força policial, mas quando não
estão em atividade, o local onde ficam parece ser customizado de acordo com a
preferência de cada um, embora não tenham nenhum luxo. Agora, o velho Masaoka
apesar de ser um farejador e casca grossa, mantêm hábitos bem diferentes do que
se imagina dele. Claro, clichê. É sempre assim, a figura mais durona, sempre
mantêm hobbies ditos de garotinhas. Numa
das onshots do Hiroki Endo (que se chama
“Plataforma”), um Yakusa possui o mesmo hobbie nas horas vagas.
Com relação à trama do episódio, a narrativa nada mais fez
do que clarear aquilo que já se mostrara obvio anteriormente; A existencia de
pessoas insatisfeitas que vivem a margem da sociedade. E eu adorei a forma como
fizeram isso, interligando várias pontas. Ora com interlúdio com Akane tentando
entender Kogami, onde fica mais claro que ela ficará em cima do muro, sem saber
qual lado escolher para lutar, ora no fato da “justiça humana” claramente não
estar preparada pra lidar com acontecimentos fora do padrão, ou mesmo com o que
diz respeito à realidade virtual.
Parece que a direção tem tido o prazer de tornar cada vez
mais obvias as suas principais referências. Primeiro Katsuyuki Motohiro (o diretor principal) fala na reminiscência
de Ghost in the Shell na série e na obvia escolha do Production I.G. como o
estúdio que daria vida a história, e logo após fala como Blade Runner influenciou
na criação deste argumento. No episódio passado, tivemos mais uma referência a
um Sci-Fi clássico, e claro que sabemos que essa série é uma amalgama referencial,
mas que até agora vem dando certo toda essa mistureba a fim de criar um produto
popular. Dessa vez, temos outra referência bem diferente, que também já era óbvia,
que é ao livro Nineteen Eighty-Four [ou como é popularmente conhecido: 1984]. E
vejam só, isso tem uma cara de partido da equipe de produção, não do Urobuchi.
Mas seja como for, é uma referência essencial para se
entender as minucias dessa trama. Para vocês terem uma ideia, é deste livro que
surgiu o conceito "Big Brother", com a constante fiscalização e
controle de determinado governo na vida dos cidadãos, com invasão sobre os
direitos do indivíduo. Ou seja, uma liberdade vigiada. O ponto aí, é que o
autor, George Orwell, tinha tendências anarquistas e chegou a flertar com o
movimento socialismo democrático – Grupo de pessoas que se colocam em oposição às
correntes que defendem o autoritarismo.
Lindo *O* - Adorei o viual e as expressões dele. Vai ser pura emoção ver ele confrontar Kogami, se é que me entendem >__^ |
Shogo Sugawara é o nosso antagonista, já apresentado no
primeiro episódio, que será confrontando obviamente pelo Kogami, que nada mais
faz que seguir as ordens. Akane,
obviamente, ficará indecisa qual lado apoiar, afinal, quanto mais ela descobrir
sobre o sistema Sibila, mais será um choque frente a tudo o que ela aprendeu
até agora [não é típico do Urobuchi, mas será que rolará triangulo amoroso?
Mais fácil que a tensão sexual aconteça entre Kogami e Shogo! Sério, acho que
acontecerá essa atração entre opostos].
Como vimos, nós temos aqui dois grupos distintos: Os que
vivem a margem do sistema [e provavelmente, o grupo ao qual Shogo faz parte], e
aquele insatisfeito com o regime atual, mas que não querem abrir mão da
tecnologia, por isso, durante o dia são pessoas normais, e fora das lentes e
sob o aval do anonimato da internet, são anarquistas. Este foi um episódio com
embate invisível entre duas vertentes; O totalitarismo [castração da liberdade,
com os hábitos do cidadão monitorados pelo sistema], e o anárquico [respaldado
pela realidade virtual, onde o anonimato proporciona a liberdade].
São apenas suposições minhas, mas Shogo parece ser um
estrategista, e ele sabe que não há melhor estratégia para ruir um sistema, que
se infiltrar nele e o corroer a partir de suas estruturas internas. O que temos
até aqui é o fato de essas pessoas que vivem em anonimatos nos fóruns virtuais
não são mais do que uma anomalia, porém uma anomalia ineficaz. Eles estão
insatisfeitos, mas não fazem nada a respeito, usando aquilo meramente como uma
ferramenta para o escapismo. Considerando àquela sociedade, a internet é o único
local onde eles podem ter uma liberdade irrestrita e desabafarem com os outros,
através de um avatar. Com base nisso, vários usuários começaram a criar
comunidades – E dentre esses usuários, dois se destacaram exatamente por
oferecer aquilo que as pessoas queriam: Diversão e um local onde pudessem
contar tudo o que lhe afligem, sem deixar registros sobre sua verdadeira
persona.
Só porque achei atrevidamente charmosa essa cena. Lábios atraentes em um vermelho picante, constrastando com a pele, e unhas delicadas, constrastando com a vulgaridade do look. |
Shogo foi pelo obvio, assumindo (não ele, ao que tudo indica um dos seus aliados) a identidade de
uma importante figura dentro daquele mundo virtual [Talisman], o próximo passo
seria desbancar a figura principal, e aparentemente a líder de todos da
comunidade: Spooky Boogie [Shoko Sugawara, seu nome real fora da internet] – E não
se enganem, teria sido morta mesmo se ela não tivesse armado pra ele. Estando
no poder, eu acredito que seu próximo plano seja usar àquelas pessoas contra o
sistema. Sim, são pessoas meio que alienadas, você observa isso a partir do
momento de revolta deles quando houve a emboscada do CID (Departamento de Investigação Criminal). Não há realmente uma força
na revolta deles, eles estão indignados por terem sido expostos àquilo, e por
terem perdido pessoas queridas, mas não estão revoltosas a um ponto anárquico.
E eu acredito que Shoko (não confundir
os nomes), irá tirar proveito disso para espalhar a sua doutrina.
Outro detalhe que merece atenção, e que vem sendo discutido
desde o primeiro episódio, até este quarto, é com relação ao treinamento da
força policial em Psycho-Pass. Como podemos ver, o sistema apresenta falhas,
mas ironicamente essas falhas vêm do lado humano. Ao manter informações
primordiais acerca do sistema e sua operação escondidas da grande população, o
governo dá margem para quem é contra o sistema, ser o elemento surpresa. Fiquei
com a impressão que nem mesmo o CID está preparado para o que eles estão enfrentando.
Akane ficou surpresa ao ter conhecimento que ainda havia pessoas que não
trabalhavam na sociedade atual, e embora o CID tenha plenos conhecimentos disto
(normal, são eles que fazem o serviço
sujo, totalmente a parte da sociedade), eles não estavam sequer preparados
para uma operação como aquela, onde mesmo figuras experientes como o velho
Masaoka e Kogami, mostraram visivelmente um descontrolo na hora de agir, optando
pelo método mais atrapalhado e ineficiente, que foi sair apontando a Dominator
a esmo.
Sabe qual foi o mérito do Shoko? Sim, estar preparado para
hackiar o sistema virtual de avatares. Sim, também estar preparado para o CID e
suas Dominatos, o que denuncia que este plano dele provavelmente foi construído
durantes anos – Ninguém constrói uma tecnologia anti-Dominators, e que consiga driblar
o sibila, da noite para o dia. Eles provavelmente a construíram com base nos
pontos fracos do sistema, que não estava preparado para algo desde nível –, mas
o ponto máximo do seu plano foi prever que ao exibirem suas Dominators em
público, todos ficariam em um stress altíssimo, elevando seus CC (coeficiente criminal). E no meio
daquele muvucão, não seria problema para ele fugir, e mais do que isso, por em
prática o seu plano primordial: Localizar Spooky Boogie. Eu sei lá como ele se
infiltrou em seu apartamento, sem ser notado pelo Sibila, este é um ponto que
estou curiosa para descobrir, afinal já ficou obvio que ainda não existe tecnologia
de teletransporte, mesmo o holograma, é apenas isso; um holograma não muito a
frente do nosso tempo.
Enfim, temos uma trama muito bem trabalhada e intricada ao
melhor estilo thriller policial + ação Cyberpunk. O vilão é unidimensional, mas
aparenta ter bases muito interessantes e sólidas. Veremos. Destaque para o
visual halloween, com a CommuField decorada por Spooky Boogie a caráter.
Ironicamente, ela que tinha um avatar de um gato com tapa-olho e um laço no pescoço,
aparecendo para os navegantes imitando uma cena de esquartejamento, ser morta
daquela maneira (Urobutcher, eu te amo!
Amo o seu espirito irônico sarcástico), demonstra um total humor negro.
Também vamos comentar sobre os avatares. Vocês notaram como a grande maioria
eram de figuras famosas? Voltem a fita e reparem que temo até do Jason Sexta
Feira 13. No Japão, o halloween é comemorado como se fosse um carnaval. Todos
saem fantasiados a caráter, às vezes com fantasias nada a ver, como por
exemplo, um saco na cabeça (apareceu no episódio)
ou como super-heróis. Ginoza vai de moeda americana! O que é algo
interessante de se analisar, eu particularmente vejo como uma piadinha de
bastidores, com relação à pretensão de liderança dos EUA embasados na economia e
politica.
Também podemos fazer um paralelo rápido, entre a Spooky
Boogie, e Winston Smith, protagonista de 1984, onde ambos são mortos após uma
traição. Vale frisar, que em 1984, há um programa de recondicionamento, para converter
àqueles que se opõe às leis do Big Brother.
Bem, a parte final foi sem dúvidas a mais pulsante. Eu
adorei aquilo! Foi hilário! Foi lindo! A Spooky Boogie parecia uma Otaku prissy.
Com essa cena, fica provado que Urobuchi não tem a intenção de fazer uma obra
madura. Uma história séria é diferente de uma história adulta (se me permitem esse momento “capitão obvio”).
A citação do velho Masaoka (no inicio do
episódio, na analogia sobre o abismo) com
referência a um das frases mais celebres de Nietzsche pode ser pretencioso, mas
talvez seja uma tentativa de soar cult, equilibrando com a proposta de também
ser popular. Enfim, apenas divagações. Já falei demais, mas gostaria de dizer
que adorei a ending alternativa, com uma nova animação, e com arranjos iniciais
(antes de entrar o encerramento) que
foi bem no pique do episódio. Seria bacana que se alternassem sempre que o
feeling do final do episódio pedisse. O que eu não falei é por conta de vocês,
e o que não concordarem, apenas contestem. O que acharam do visual e da arte do episódio (*sai
rolando, êhhh... acabou o flood*)?
Eu já imagino o diálogo abaixo entre o diretor e a desenhista do story board. Algo assim:
- Que episódio foi esse? Eu já não disse que não pode ter moe?
-Um visual bonitinho é mais atrativo, senhor!
- Maldita, e por que você está vestida como uma otaku?
-Isso aqui é Gothic Lolita Kawaii!
-Mentira, você é um fojoshi infiltrata! Alguns personagens parecem gays!
-Eu nã- Guhs- Eu não consigo resp-UUAUAARRGHHHH
Eu já imagino o diálogo abaixo entre o diretor e a desenhista do story board. Algo assim:
- Que episódio foi esse? Eu já não disse que não pode ter moe?
-Um visual bonitinho é mais atrativo, senhor!
- Maldita, e por que você está vestida como uma otaku?
-Isso aqui é Gothic Lolita Kawaii!
-Mentira, você é um fojoshi infiltrata! Alguns personagens parecem gays!
-Eu nã- Guhs- Eu não consigo resp-UUAUAARRGHHHH
Não moe, sim GAR! |
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★