quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Mundo Descontente de Inio Asano


Seria mesmo Inio Asano a voz da geração atual?

O jornal japonês The Daily Yomiuri, publicou em seu site no mês de Abril de 2010 um artigo oriundo de uma entrevista com Inio Asano. Faz um bom tempo que eu a li, na verdade, mas como estou numa vibe de resgatar pra cá entrevistas de autores que gosto, aqui está. Quem é admirador do Asano, talvez se incomode um pouco com o tom do artigo, mas eu o achei bem interessante, trazendo o ponto de vista da crítica especializada japonesa. Claro, o que Asano faz é bem restrito e dialoga principalmente com a faixa etária jovem contemporânea, é bem normal que pessoas mais maduras acabem encarando com a mesma seriedade com a qual olham para qualquer mangá de Kazuo Umezu, ainda que Solanin e Oyasumi PunPun sejam dois de seus trabalhos mais abrangentes, inclusive com o primeiro sendo considerado pelos próprios japoneses uma obra prima, e o último sendo uma obra cult bastante aclamada.

Asano e Rino Sashihara do AKB48, em um encontro onde ela se declara fã dele e leitora de Oyasumi PunPun (isso é de uma outra entrevista)

Solanin (2005) foi lançado em 2011 aqui no Brasil, pela editora LePM, e embora não saibamos oficialmente como foi a repercussão, é fácil imaginar que não tenha sido das melhoras pela própria estrutura do nosso mercado, que ainda é um bebê engatinhando. Nos EUA, a VIZ lançou Subarashii Sekai (2003) e Solanin – Este teve uma boa recepção muito pela sua proposta que fala diretamente com o público jovem americano, ao misturar música, sonhos, a pressão com relação ao futuro no mercado de trabalho.

Nessa entrevista, ele comenta como começou e como surgiu a chance de escrever pra uma grande revista e influencias – Me surpreendeu a citação à autora de Helter Skelter, Kyoko Okazaki. O que depois da surpresa inicial, acaba se tornando algo que parece ser obvio, porque os mangás de Okazaki partem sempre do pressuposto que seus personagens são peças em desajuste com o sistema. O artigo traduzido em inglês pode ser lido aqui, ou aqui. No mais, o que Asano revela, sempre foi o que ele deixou transparecer em suas fotos. Também vale destacar que no início da carreira, Asano foi assistente de Shin Takahashi (autor de Saikano), também um autor da Shogakukan, o que certamente foi o empurrão nescessário para que ele participasse e ganhasse a principal premiaçã da revista.

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O Mangaká Inio Asano tornou-se uma das vozes de sua geração. Seu trabalho - histórias de jovens que soariam muito estranhas ou embaraçosas para adultos no ápice da idade- encontrou uma casa no coração dos adolescentes descontentes e dos jovens na faixa dos vinte e poucos anos. Um dos mais conhecidos mangás de Asano se chama Solanin, a história de uma banda jovem, que foi recentemente lançado como um filme live action com Aoi Miyazaki como protagonista.


Talvez não devesse ser algo surpreendente que durante a nossa entrevista em seu estúdio de Tóquio, Asano parecia ser um de seus próprios personagens - um “soshoku Danshi" (literalmente “menino herbívoro”), um estilo de vida atual, em que os homens tendem a passatempos tradicionalmente associados às mulheres, ao mesmo tempo, abstendo-se de construir relações estreitas com membros do sexo oposto.

O mangaká de 29 anos de idade trabalha como um profissional há uma dúzia de anos, estreando com a idade de 17 em uma revista de mangá. Seu trabalho também inclui Oyasumi Punpun (Boa Noite PunPun), um mangá centrado em um garoto que ele descreve como uma criatura pássaro em um cenário, ao contrário do que se poderia esperar, normalmente humano. O imaginário excêntrico complementa uma história sombria sobre como as crianças se tratam.

Asano, originalmente da província de Ibaraki, começou com ilustrações cômicas 4-koma na escola, em parte porque realmente não gostava de estudar e não tinha mais nada para fazer, ele explica.

“Eu me vi tentando obter uma manga todo feito em um período de aula”, diz ele. “Meu manga era muito popular entre os meus amigos, então eu tentei enviá-lo para a Big Comics Spirits”.

A princípio, a principal antologia de mangá semanal rejeitou seu envio. Mas então ele tem um golpe de sorte quando um editor da revista que tinha visto o seu trabalho decidiu usá-lo quando outro mangaká não veio por causa de outro projeto. Isso deu a Asano quatro páginas para preencher em sua estreia no time principal.

Foi um começo inesperado para um artista que já era talentoso em retratando a juventude atual e do momento difícil que eles se misturam com a sociedade.

Mas, apesar de a exposição em grande escala para um mangaká novo, Asano afirma ter passado por um período difícil e seco logo em seguida. “Eu comecei arrogante e me deixei levar por causa do grande começo, apesar de eu não ter uma base sólida”, Asano recorda. Nos próximos cinco anos, o artista nunca foi convidado para criar qualquer série nova, apenas uma ocasional tirinha, quando ele frequentou a universidade em Tóquio.

Como a formatura se aproximava, Asano tornou-se mais e mais frustrado com a falta de comissões para o seu trabalho. Certa vez, ele chegou a considerar um emprego na indústria de Jogos, diz ele, mas era “muito preguiçoso e não podia ser incomodado para preencher o requerimento”.

Asano fez amizade com diversas pessoas chamadas freeters (trabalhadores em tempo parcial, que saltam de emprego em emprego) que, como ele, escondiam sua ansiedade sobre seu futuro sob o lema de “viver o momento”, algo que ele adaptou em seus mangás. Ele também atribui sua atitude ambígua por ter sido criado em uma área que nunca teve sua própria identidade, como se fosse preso em algum lugar entre a cidade grande e os quintos dos infernos.


Sua frustração e falta de autoestima - sentimentos que encontram eco em toda sua geração - provou ser uma das qualidades mais atraentes de seus mangás, tais como Solanin, serializado na Young Sunday, uma série cheia de personagens ambíguas tanto em seus sentimentos, quanto em suas palavras.

À primeira vista, o estilo de Asano pode parecer para alguns como superficial. No entanto, suas obras estão cheias de indícios de mortes e frivolidades, e frases e imagens que implicam “o fim está próximo” aparecem frequentemente.

Asano diz que sua perspectiva geral resulta de uma malformação física: Seu peito é um pouco distorcido para dentro, uma característica que lhe custou a autoconfiança, quando ele era pequeno. Ele começou a temer que pudesse morrer jovem e posteriormente deixou de pensar em seu futuro. “Foi horrível ao imaginar um mundo onde eu já não existia, mas meus amigos continuaram”.

“Desde que era uma criança, eu meio que estava resignado a uma morte precoce. Isso provavelmente afetou como eu interpreto o mundo”, diz Asano.

Ele foi influenciado por mangakás como Kyoko Okazaki, cujos refinados trabalhos foram publicados em revistas de moda, não em publicações de mangá. Com isso, Asano percebeu a importância de respeitar o seu conteúdo subcultural mesmo enquanto está sendo serializado em grandes revistas.

“Basicamente você pode expressar qualquer coisa que você quer em fanzines independentes ou publicações de mangá menores. Mas liberdade demais não leva a um bom mangá. Eu gostaria de tentar quebrar as regras em uma grande revista”, diz Asano.

No caso de Solanin, por exemplo, um protagonista desaparece de repente, se tornando uma surpresa para todos, exceto seu editor imediato.

Em Oyasumi Punpun, Asano inicialmente planejou retratar todos os personagens como o protagonista em forma de pássaro. Mas seu editor não parece ter gostado da ideia, então Asano decidiu retratar apenas o protagonista e seus familiares dessa forma.

“Eu gosto de levar meus trabalhos em revistas e apresentá-los como um produto de venda decente”, diz Asano.

Copyright 2010 The Daily Yomiuri

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