Esse poderia ser bem o título de uma light novel.
Yuusha ni Narenakatta Ore wa Shibushibu Shushoku wo Ketsui
Shimashita é a mais nova light novel de nome prolixo a ganhar adaptação para anime, que provocou algumas reações interessantes na comunidade americana.
Essas LN de títulos longos geralmente seguem um padrão de capa. |
Não há segredo, o senso comum nós diz que um nome que diga
exatamente qual o proposito da obra é muito mais atrativo para o marketing.
Este é o motivo para que alguns títulos estrangeiros sejam
adaptados para nossa língua e outros não. Os fãs mais aficionados ficam
decepcionados e revoltosos com traduções que alteram o sentido original ou
acrescentam informações desnecessárias das produções. De filmes à quadrinhos,
passando pelos livros e seriados, temos muitos exemplos. O clássico The Sound
of Music (literalmente 'O Som da
Música') se transformou em ‘A Noviça Rebelde’, retirando o elemento musical
do título e se concentrando na personagem que protagoniza o longa metragem, por
ser considerado mais atrativo para o público da época. Outros títulos como 'Café
da Manhã na Tiffany' (Breakfast at
Tiffany's) não dizia muito para o publico brasileiro e se transformou em ‘Bonequinha
de Luxo’ (Veja a nossa resenha do anime inspirado nessa obra). Ao sintetizar no título o enredo da história, você
já faz uma ideia do que esperar, além de também ter uma ideia da concepção
artística de quem concebeu a obra.
A editora Jbc recentemente optou pela tradução e manutenção
do título Mirai Nikki – Diário do Futuro, utilizando um subtítulo, que também
é algo bastante comum, sendo um recurso usado para adaptar o nome sem
modifica-lo, mas ao mesmo tempo explicitando o assunto do qual se trata a obra.
Há um tempo, a Panini se equivocou na adaptação do título ‘100% Morango’ (originalmente Ichigo 100%) e acabou
não alcançando parte do público alvo do mangá. É um título que eu gosto, mas
que acaba por passar uma conotação que afugenta o público masculino
[principalmente o convencional, o que realmente faz a diferença nas vendas. Mas
obviamente o fracasso do título em solo nacional não se deve apenas a este fato.
Eu mesma acabei me decepcionando com os rumos da história].
Voltando ao tema do post, de uns anos pra cá, mais
precisamente depois do buzz provocado por ‘A Melancolia de Haruhi Suzumiya’ em
2003 durante o boom da dessa mídia, as light novels têm se tornado mais e mais
populares à cada ano, e nas mais recentes nota-se uma tendência em utilizar
título prolixamente longos autoexplicativos que resumem a história em poucas
linhas. Exemplos não faltam: Mondaiji-tachi ga Isekai kara Kuru sou desu yo? (‘Crianças problemáticas vêm de outro
mundo, não é?’), Oniichan no Koto Nanka Zenzen Suki Janain Dakara ne—!! ? (‘Não é como se eu gostasse tanto assim de
você, irmãozão!’) , e o título que abre o post; Yuusha ni Narenakatta Ore
wa Shibushibu Shushoku wo Ketsui Shimashita (‘Eu relutantemente decidi encontrar um emprego, porque eu não poderei
ser um herói’).
Essa tendência atual tem sido notada desde a adaptação de Ore
no Imouto ga Konna ni Kawaii Wake ga Nai (literalmente
‘Não tem como a minha irmã ser tão Fofa assim’) em 2009 ao se tornar a
primeira das light novels de títulos longos a alcançar grande sucesso com a
adaptação, turbinando as vendas da série original – e como tudo que gera buzz
tende a ter o seu modelo copiado, Ore no Imoto popularizou essa tendência
editorial.
"O que há com esse título?" huehuehuehue Haganai zoando \(^o^)/ |
Eu percebi essa tendência ano passado, e pesquisando sobre o
assunto, fui parar no kotaku americano, onde há um artigo sobre o assunto em
que eles conversam com Pan Tachibana, autor de Dakara Boku wa, H ga Dekinai (‘Então, eu não posso jogar Hentai?’),
uma light novel de 2010 que viraria anime em 2012. Tachibana conta que era
cenarista de jogos adultos e após receber o convite para escrever ‘That's Why I
Can't Have Ecchi’, sua maior dificuldade foi escolher o título. Ele explica por
que: “Eu
não havia recebido nenhum prêmio até então, então eu não tenho esse tipo de argumento
de vendas para atrair leitores”.
“No mínimo, eu queria um título que ao mesmo tempo chamasse a atenção e fosse
cativante, e, também permitisse aos leitores saber que tipo de história que
eles estavam levando”. De fato, como ele explica, com a popularização
das light novels, a concorrência ficou mais acirrada, os editores são cientes
de que um título e uma capa evocativa pode ser um diferencial para atrair a
atenção do leitor em meio a tantas outras opções, “Não há nenhuma garantia de que
alguém vai ter tempo para ler a descrição do enredo de um livro, por isso, se o
título é longo e tem seu próprio significado na descrição, serve ao propósito”,
diz Tachibana.
Light novels é uma mídia de produção pratica e está sempre
revelando novos autores, tornando o mercado saturado e muito concorrido [na
maioria das vezes com escritores desconhecidos e sem grande apelo comercial],
principalmente com um grande número de títulos fazendo do nicho o seu público
alvo. Por isso, sempre há um ciclo de termos recorrentes de fácil discernimento
como “dennpa”, que são garotas estranhas e problemáticas. Toradora! por
exemplo, é derivado da identidade visual do casal da história, sendo taiga para
tigre e dora para dragão, pela pronuncia japonesa.
Já ri tanto disso que quando eu chegar nessa parte do anime, nem vai ter mais graça |
Com a popularização das comédias românticas e dos brocons (garotas que gostam de seus irmãos),
fica fácil encontrar diversos títulos com os termos imouto, kanojo, oniichan, além
de “ore” e “boku”; pelo fato da narrativa quase sempre ser pela perspectiva
masculina. Atualmente, até a data deste
post, “Yuusha” (que pode significar
herói, o corajoso, valente, homem de valor) têm despontado como um dos
termos mais recorrentes recentemente.
Com nomes tão difíceis de serem pronunciados e decorados sem
necessidade de utilizar o control C + V, é usual a utilização da contração, que
pode ser oficial [usada pelo autor já no primeiro volume ou pelo twitter
oficial da série]ou marginal [adotada pelos próprio fãs]. Alguns exemplos são ;
Infinite Stratos que virou IS, Boku ha Tomodachi ga suku nai
que virou Haganai, e o Ore no Imouto que no Japão é conhecido como OreImo.
Há alguns casos no Japão de contrações que acabam se tornando oficiais depois
de serem aderidas por fãs, como Omae o Otaku ni Shiteyaru kara, Ore o Riajuu ni
Shitekure!:Otaku que virou “Otaria” no 2ch, sendo adotado oficialmente depois.
OTARIA seria um título ideal de light novel baseado em minha vida, mas vamos
deixar baixo...
Claro que isto não é uma regra nem mesmo das light novels,
em outras mídias você também pode encontrar exemplos de títulos prolixos, como
o best-seller Moshidora (Moshi Koko Yakyu
no Joshi Manager ga Drucker no "Management" o Yondara) que ganhou
adaptações para anime, mangá e live action; Ano Hana (Ano Hi Mita Hana no Namae wo Bokutachi wa Mada shiranai), um anime
original que recebeu adaptação para mangá recentemente, mas que desde na época
de sua exibição, fora continuamente comparado com a estrutura narrativa de
light novels [pela própria estrutura narrativa da série]; e também temos o
exemplo do mangá WataMote (Watashi ga
Motenai no wa dō Kangaetemo Omaera ga Warui! – Veja aqui entrevista com aautora, em ptBR), que muito em breve [daqui há alguns meses] estará
recebendo adaptação para anime. No entanto, se trata de uma característica não
muito usual por vários motivos.
Para encerrar, há meio que uma lenda urbana de que séries
com títulos muito longos tendem a ser melhores e fazerem mais sucesso, o que é
uma impressão muito espiritual e não corresponde aos fatos. Superstição que
nasceu com a expansão de títulos prolixos. Inclusive o autor de Oreshura (Ore no Kanojo to Osananajimi ga Shuraba
Sugiru) chegou a dizer que títulos mais longos têm uma probabilidade maior
de sucesso, o que acaba sendo interpretado equivocadamente.
O Sucesso das Light
Novels (romances leves)
-Uma repassada rapidinha e básica na sua história
Cunhado há mais de 20 anos, o termo light novel teve o seu
boom nos anos 2000 (ao mesmo tempo em
que os mangás começaram a fazer sucesso no ocidente), década que também
acabou marcando as decrescentes vendas de antologias e de mangás. Como há uma
explicação para tudo no Business
Intelligence, a ascensão das light novels e a “queda” vertiginosa dos
mangás foi marcada pela crise japonesa que atualmente vive um de seus piores
momentos em termos de futuro, afinal, estes romances leves são tecnicamente um
material barato e de fácil produção, que pelo seu acesso fácil, foi rapidamente
difundido. Com grande sucesso entre os
adolescentes e jovens adultos no Japão, light novels podem ser traduzidas como
“romances leves” de leitura rápida por utilizarem palavras [hiragana e katakana]
de fácil compreensão para estudantes do ensino médio, que se reflete na
moderada e pouco usual utilização de kanjis. Para mangás shounens e shoujos
usa-se o mesmo sistema, o que em parte justifica a baixa popularidade de
seinens e joseis.
Duas curiosidades; pela facilidade, Reki Kawahara e Kinoko
Nasu começaram publicando na internet alguns de suas principais obras [SwordArt Online e Kara no Kyoukai].
A abordagem dinâmica e de rápida leitura de parágrafos
curtos acaba contribuindo para a multiplicação de materiais de qualidade
duvidosa ou até mesmo de escritores que realmente são amadores e que vão se
desenvolvendo no processo (alguns nunca
se desenvolvem :P). O que não impedem obras com linguagem sofisticadas e
que acabam fugindo um pouco da estrutura de sucesso da mídia, de se
sobressaírem e se tornarem populares. Eu não posso citar Suzumiya Haruhi,
porque nunca li nenhum dos livros, mas Narita Ryohgo (Durarará e Baccano) é um autor que contraria a tendência ao
centrar seu enredo em subculturas e narrativas paralelas. Ele começou
serializar Baccano em 2003, época em que Suzumiya Haruhi começava a gerar todo
um buzz, sendo a primeira série que elevou as light novels à outro patamar. A atual popularidade se reflete no número expressivo de adaptações que a mídia recebe.
Falando em Suzumiya Haruhi, light novels inicialmente não
fizeram muito sucesso nos EUA, mas foi com sua publicação que as editoras
começaram a investir em títulos fortes e com publico estabelecido. Ainda é um
nicho bem, mas beeem pequeno nos EUA se comparado aos mangás (a Vertical recentemente cancelou Guin Saga, publicando apenas 5
volumes de... 130 :P), e se cabe uma comparação, é menor que o mercado de
mangás do Brasil. Mas isso é uma outra história, Seiji Horibuchi (fundador da Viz Media) espera que até em 2016 essa mídia se consolide por lá, se tornando equivalente à de mangás. Já no Brasil, o quadro é pior, mas temos alguns
títulos lançados:
-Samurai X (Crônicas
de um espadachim na Era Meiji)
//Jbc
-Cavaleiros do Zodíaco (Gigantomaquia)
//Editora Conrad
-Tarot Café
// Pela editora NewPop. Tenho só os mangás apenas.
-Death Note (Another
Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles) //boa
-Death Note
(L change the WorLd: O grande detetive L)
//Pela editora Jbc em uma boa edição. Another Note é do NisioIsin. A melhor, compre.
-Moribito: O Guardião do Espírito.
//Pela editora Martins Fontes, mas desde 2011, ela só lançou 1 livro volume de 11. Compre nos EUA.
-Gravitation: Blue
-Gravitation: Red
//Pela NewPop, não tenho.
E não há sinais de melhoras neste quadro, pois até mesmo
Sowrd Art Online as editoras demonstram certo receio em apostar, mesmo diante
da imensa fanbase de potenciais consumidores convencionais.
Referências:
Discussão:
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