terça-feira, 26 de março de 2013

Por que (algumas) Light Novel's Possuem Títulos Longos?


Esse poderia ser bem o título de uma light novel.

Yuusha ni Narenakatta Ore wa Shibushibu Shushoku wo Ketsui Shimashita é a mais nova light novel de nome prolixo a ganhar adaptação para anime, que provocou algumas reações interessantes na comunidade americana.

Essas LN de títulos longos geralmente seguem um padrão de capa.

Não há segredo, o senso comum nós diz que um nome que diga exatamente qual o proposito da obra é muito mais atrativo para o marketing.

Este é o motivo para que alguns títulos estrangeiros sejam adaptados para nossa língua e outros não. Os fãs mais aficionados ficam decepcionados e revoltosos com traduções que alteram o sentido original ou acrescentam informações desnecessárias das produções. De filmes à quadrinhos, passando pelos livros e seriados, temos muitos exemplos. O clássico The Sound of Music (literalmente 'O Som da Música') se transformou em ‘A Noviça Rebelde’, retirando o elemento musical do título e se concentrando na personagem que protagoniza o longa metragem, por ser considerado mais atrativo para o público da época. Outros títulos como 'Café da Manhã na Tiffany' (Breakfast at Tiffany's) não dizia muito para o publico brasileiro e se transformou em ‘Bonequinha de Luxo’ (Veja a nossa resenha do anime inspirado nessa obra). Ao sintetizar no título o enredo da história, você já faz uma ideia do que esperar, além de também ter uma ideia da concepção artística de quem concebeu a obra.

A editora Jbc recentemente optou pela tradução e manutenção do título Mirai Nikki – Diário do Futuro, utilizando um subtítulo, que também é algo bastante comum, sendo um recurso usado para adaptar o nome sem modifica-lo, mas ao mesmo tempo explicitando o assunto do qual se trata a obra. Há um tempo, a Panini se equivocou na adaptação do título ‘100% Morango’ (originalmente Ichigo 100%) e acabou não alcançando parte do público alvo do mangá. É um título que eu gosto, mas que acaba por passar uma conotação que afugenta o público masculino [principalmente o convencional, o que realmente faz a diferença nas vendas. Mas obviamente o fracasso do título em solo nacional não se deve apenas a este fato. Eu mesma acabei me decepcionando com os rumos da história].

Voltando ao tema do post, de uns anos pra cá, mais precisamente depois do buzz provocado por ‘A Melancolia de Haruhi Suzumiya’ em 2003 durante o boom da dessa mídia, as light novels têm se tornado mais e mais populares à cada ano, e nas mais recentes nota-se uma tendência em utilizar título prolixamente longos autoexplicativos que resumem a história em poucas linhas. Exemplos não faltam: Mondaiji-tachi ga Isekai kara Kuru sou desu yo? (‘Crianças problemáticas vêm de outro mundo, não é?’), Oniichan no Koto Nanka Zenzen Suki Janain Dakara ne—!! ? (‘Não é como se eu gostasse tanto assim de você, irmãozão!’) , e o título que abre o post; Yuusha ni Narenakatta Ore wa Shibushibu Shushoku wo Ketsui Shimashita (‘Eu relutantemente decidi encontrar um emprego, porque eu não poderei ser um herói’).

Essa tendência atual tem sido notada desde a adaptação de Ore no Imouto ga Konna ni Kawaii Wake ga Nai (literalmente ‘Não tem como a minha irmã ser tão Fofa assim’) em 2009 ao se tornar a primeira das light novels de títulos longos a alcançar grande sucesso com a adaptação, turbinando as vendas da série original – e como tudo que gera buzz tende a ter o seu modelo copiado, Ore no Imoto popularizou essa tendência editorial.


"O que há com esse título?" huehuehuehue Haganai zoando (^o^)

Eu percebi essa tendência ano passado, e pesquisando sobre o assunto, fui parar no kotaku americano, onde há um artigo sobre o assunto em que eles conversam com Pan Tachibana, autor de Dakara Boku wa, H ga Dekinai (‘Então, eu não posso jogar Hentai?’), uma light novel de 2010 que viraria anime em 2012. Tachibana conta que era cenarista de jogos adultos e após receber o convite para escrever ‘That's Why I Can't Have Ecchi’, sua maior dificuldade foi escolher o título. Ele explica por que: “Eu não havia recebido nenhum prêmio até então, então eu não tenho esse tipo de argumento de vendas para atrair leitores”.

No mínimo, eu queria um título que ao mesmo tempo chamasse a atenção e fosse cativante, e, também permitisse aos leitores saber que tipo de história que eles estavam levando”. De fato, como ele explica, com a popularização das light novels, a concorrência ficou mais acirrada, os editores são cientes de que um título e uma capa evocativa pode ser um diferencial para atrair a atenção do leitor em meio a tantas outras opções, “Não há nenhuma garantia de que alguém vai ter tempo para ler a descrição do enredo de um livro, por isso, se o título é longo e tem seu próprio significado na descrição, serve ao propósito”, diz Tachibana.

Light novels é uma mídia de produção pratica e está sempre revelando novos autores, tornando o mercado saturado e muito concorrido [na maioria das vezes com escritores desconhecidos e sem grande apelo comercial], principalmente com um grande número de títulos fazendo do nicho o seu público alvo. Por isso, sempre há um ciclo de termos recorrentes de fácil discernimento como “dennpa”, que são garotas estranhas e problemáticas. Toradora! por exemplo, é derivado da identidade visual do casal da história, sendo taiga para tigre e dora para dragão, pela pronuncia japonesa.

Já ri tanto disso que quando eu chegar nessa parte do anime, nem vai ter mais graça

Com a popularização das comédias românticas e dos brocons (garotas que gostam de seus irmãos), fica fácil encontrar diversos títulos com os termos imouto, kanojo, oniichan, além de “ore” e “boku”; pelo fato da narrativa quase sempre ser pela perspectiva masculina.  Atualmente, até a data deste post, “Yuusha” (que pode significar herói, o corajoso, valente, homem de valor) têm despontado como um dos termos mais recorrentes recentemente.

Com nomes tão difíceis de serem pronunciados e decorados sem necessidade de utilizar o control C + V, é usual a utilização da contração, que pode ser oficial [usada pelo autor já no primeiro volume ou pelo twitter oficial da série]ou marginal [adotada pelos próprio fãs]. Alguns exemplos são ; Infinite Stratos que virou IS, Boku ha Tomodachi ga suku nai que virou Haganai, e o Ore no Imouto que no Japão é conhecido como OreImo. Há alguns casos no Japão de contrações que acabam se tornando oficiais depois de serem aderidas por fãs, como Omae o Otaku ni Shiteyaru kara, Ore o Riajuu ni Shitekure!:Otaku que virou “Otaria” no 2ch, sendo adotado oficialmente depois. OTARIA seria um título ideal de light novel baseado em minha vida, mas vamos deixar baixo...

Claro que isto não é uma regra nem mesmo das light novels, em outras mídias você também pode encontrar exemplos de títulos prolixos, como o best-seller Moshidora (Moshi Koko Yakyu no Joshi Manager ga Drucker no "Management" o Yondara) que ganhou adaptações para anime, mangá e live action; Ano Hana (Ano Hi Mita Hana no Namae wo Bokutachi wa Mada shiranai), um anime original que recebeu adaptação para mangá recentemente, mas que desde na época de sua exibição, fora continuamente comparado com a estrutura narrativa de light novels [pela própria estrutura narrativa da série]; e também temos o exemplo do mangá WataMote (Watashi ga Motenai no wa dō Kangaetemo Omaera ga Warui! – Veja aqui entrevista com aautora, em ptBR), que muito em breve [daqui há alguns meses] estará recebendo adaptação para anime. No entanto, se trata de uma característica não muito usual por vários motivos.

Para encerrar, há meio que uma lenda urbana de que séries com títulos muito longos tendem a ser melhores e fazerem mais sucesso, o que é uma impressão muito espiritual e não corresponde aos fatos. Superstição que nasceu com a expansão de títulos prolixos. Inclusive o autor de Oreshura (Ore no Kanojo to Osananajimi ga Shuraba Sugiru) chegou a dizer que títulos mais longos têm uma probabilidade maior de sucesso, o que acaba sendo interpretado equivocadamente.


O Sucesso das Light Novels (romances leves)
-Uma repassada rapidinha e básica na sua história

Cunhado há mais de 20 anos, o termo light novel teve o seu boom nos anos 2000 (ao mesmo tempo em que os mangás começaram a fazer sucesso no ocidente), década que também acabou marcando as decrescentes vendas de antologias e de mangás. Como há uma explicação para tudo no Business Intelligence, a ascensão das light novels e a “queda” vertiginosa dos mangás foi marcada pela crise japonesa que atualmente vive um de seus piores momentos em termos de futuro, afinal, estes romances leves são tecnicamente um material barato e de fácil produção, que pelo seu acesso fácil, foi rapidamente difundido.  Com grande sucesso entre os adolescentes e jovens adultos no Japão, light novels podem ser traduzidas como “romances leves” de leitura rápida por utilizarem palavras [hiragana e katakana] de fácil compreensão para estudantes do ensino médio, que se reflete na moderada e pouco usual utilização de kanjis. Para mangás shounens e shoujos usa-se o mesmo sistema, o que em parte justifica a baixa popularidade de seinens e joseis.

Duas curiosidades; pela facilidade, Reki Kawahara e Kinoko Nasu começaram publicando na internet alguns de suas principais obras [SwordArt Online e Kara no Kyoukai].

A abordagem dinâmica e de rápida leitura de parágrafos curtos acaba contribuindo para a multiplicação de materiais de qualidade duvidosa ou até mesmo de escritores que realmente são amadores e que vão se desenvolvendo no processo (alguns nunca se desenvolvem :P). O que não impedem obras com linguagem sofisticadas e que acabam fugindo um pouco da estrutura de sucesso da mídia, de se sobressaírem e se tornarem populares. Eu não posso citar Suzumiya Haruhi, porque nunca li nenhum dos livros, mas Narita Ryohgo (Durarará e Baccano) é um autor que contraria a tendência ao centrar seu enredo em subculturas e narrativas paralelas. Ele começou serializar Baccano em 2003, época em que Suzumiya Haruhi começava a gerar todo um buzz, sendo a primeira série que elevou as light novels à outro patamar. A atual popularidade se reflete no número expressivo de adaptações que a mídia recebe. 

Falando em Suzumiya Haruhi, light novels inicialmente não fizeram muito sucesso nos EUA, mas foi com sua publicação que as editoras começaram a investir em títulos fortes e com publico estabelecido. Ainda é um nicho bem, mas beeem pequeno nos EUA se comparado aos mangás (a Vertical recentemente cancelou Guin Saga, publicando apenas 5 volumes de... 130 :P), e se cabe uma comparação, é menor que o mercado de mangás do Brasil. Mas isso é uma outra história, Seiji Horibuchi (fundador da Viz Media) espera que até em 2016 essa mídia se consolide por lá, se tornando equivalente à de mangás.  Já no Brasil, o quadro é pior, mas temos alguns títulos lançados:

-Samurai X (Crônicas de um espadachim na Era Meiji) 
//Jbc

-Cavaleiros do Zodíaco (Gigantomaquia)
//Editora Conrad

-Tarot Café 
// Pela editora NewPop. Tenho só os mangás apenas.

-Death Note (Another Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles) //boa
-Death Note (L change the WorLd: O grande detetive L) 
//Pela editora Jbc em uma boa edição. Another Note é do NisioIsin. A melhor, compre.

-Moribito: O Guardião do Espírito. 
//Pela editora Martins Fontes, mas desde 2011, ela só lançou 1 livro volume de 11. Compre nos EUA.

-Gravitation: Blue
-Gravitation: Red
//Pela NewPop, não tenho.

E não há sinais de melhoras neste quadro, pois até mesmo Sowrd Art Online as editoras demonstram certo receio em apostar, mesmo diante da imensa fanbase de potenciais consumidores convencionais. 

Referências:

Discussão:

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Sselecionei à dedo alguns que achei pelo caminho cujo títulos me fizeram ficar rindo: