quarta-feira, 22 de maio de 2013

Otona Joshi no Anime: Hora do Drama das Mulheres Adultas (2011/2013)


Hora de falar das coisas negativas da vida. Das merdas que cometemos e decisões equivocadas que mudam toda a nossa vida ao avesso do que imaginávamos em outrora.

Mas eu não quero falar disso, então vamos subverter isto e falar dos efeitos cognitivos de um entretenimento de massa. E assim vou direcionar todo o texto.

Certa vez comentaram no twitter sobre como determinados autores masculinos de mangá são tão machistas e eu comentei com a pessoa que não apenas homens, mas que algumas autoras conseguiam ser ainda mais que a média. Machismo e sexismo independem de sexo por estar ligado a um intrínseco condicionamento cultural. Nada mais natural então em um país altamente patriarcal e com um berço tradicionalista tão forte, muitas mulheres – algumas muito fortes e influentes – mantenham uma postura rígida com relação à subserviência feminina, ao ponto de rebaixar aquelas que desvirtuam deste papel definido para o gênero. É complicado, tem toda aquela questão de valores morais embutidos.

Logo, é fácil de encontrar mangás, não necessariamente machistas, que transmitem esses valores convencionais de uma sociedade muito patriarcal como algo natural, às vezes de forma tão subjetiva que não raramente passa despercebido. Em Bakuman, escutar os personagens falando que a personagem Aiko Iwase foi preterida por ser uma mulher subversiva e independente por uma domesticada, é algo que pode até mesmo se chocar com a nossa realidade; atualmente já não é algo tão natural para nós, muitos que leem esse mangá provavelmente possuem mães que trabalham fora ou mesmo só tem ela sendo o pai e mãe. E se engana quem pensa que isto seja uma caraterística exclusiva de mangás para garotos, é em shoujos e até joseis onde você encontrará as maiores ocorrências [além de uma infinita perpetuação de uma falsa fantasia – que eu confesso gostar muito e ninguém poderá me julgar!!!], afinal, é típico para essa demografia tratar de assuntos tão íntimos do universo feminino (por isso, diversos estudos atualmente apontam o quão benéfico pode ser para garotas que leem battle shounens e se identificam com personagens femininas fortes).


Otona Joshi no Anime (Hora do Anime para Mulheres Adultas) é um especial de 4 episódios com média de 25 minutos exibidos na tv estatal NHK (aquela mesma que cancelou o anime de Tsubasa RESERVoir CHRoNiCLE na segunda temporada por que o mangá havia se tornando muito violento para a faixa etária que era exibido - Sim, na pirâmide alimentar, os estúdios são o últimos) com a adaptação de 4 histórias diferentes de 4 autoras literárias prestigiadas no país para contar a saga de 4 mulheres em seus conflitos cotidianos, por 4 estúdios de animação (ufa...).  É o que podemos chamar de josei, já que o público pretendido pelo canal está na faixa de mulheres dos 30 a 40 anos. Logo, as protagonistas são todas trintonas ou beirando aos 40. Não tem a fantasia idealizada de muitos shoujos, mas também não faz crítica alguma. O que você vai notar são personagens que acreditavam nessa fantasia e então deram com a cara nos muros, que se sentem mal por não terem realizado a fantasia, ou simplesmente conseguiu viver a tão sonhada fantasia, mas por algum motivo se sentem vazias e incompletas [no entanto, as vezes sendo incapazes de reverter essa situação].

São 4 histórias com 4 perspectivas bem interessantes, embora alguns possam senti-las bem tristes e deprimentes (foi o meu caso). O aspecto mais chamativo e que se entrelaça entre todas as histórias, está no obvio subtexto de como todas essas personagens tinham grandes expectativas para a vida adulta, mas por algum motivo deu errado. Note também que a única personagem que recebeu um final “feliz” com letras de neon e tudo, foi a domesticada. Isso não é acaso, em Nana, por exemplo, você pode perceber que mesmo a Nana Oosaki sendo uma personagem subversiva (põe seu desejo profissional assim do desejo clássico feminino de casar e cuidar da família; ela tem horror a ideia de ter filhos), é ela quem é punida, enquanto Nana Komatsu que fez todas as escolhas erradas, mas permanecera atrelada a corrente (infeliz, mas ao lado do seu príncipe que lhe dá uma bela vida, sem preocupações, além do que vai fazer para o jantar ou se o marido volta pra casa), fora beneficiada com o “final feliz” (aspas muito necessárias).

‘A Pessoa Amada’, já resenhado aqui, é outro mangá que fala bastante desse universo feminino da mulher japonesa, traçando uma linha entre a fantasia e complexos culturais entre gêneros (como a diferença de idade). Mais abaixo na parte 2, alguns comentários sobre o que faz cada história de Otona Joshi no Anime, que se trata de um drama bem simples, existencial e que deve dizer mais para mulheres japonesas, que podem se ver retratadas ali em cada história, embora nunca deixam de ser interessantes para qualquer outra pessoa.

Nota: 07/10
Episódios: 04
Onde Encontrar: Dollars Fansub

Postagens Relativas:

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Parte 2

Kawamo o Suberu Kaze (Como o Vento Tocando a Superfície de um Rio)
Ano: 2011
Autora original: Yuikawa Kei
Roteiro: Reiko Yoshida
Estúdio: CuriouScope


Este foi a primeira empreitada do projeto Otona Joshi no Anime, exibido em janeiro de 2011, que em 2013 ganharia mais uma edição, dessa vez com 3 especiais.

Kawamo o Suberu Kaze conta a história de Noriko (Misato Tanaka) que depois de muitos anos retorna a sua cidade natal com o seu filho de 4 anos e acaba reencontrando antigas lembranças de uma velha vida e de quebra, uma antiga paixão que ela ainda não esquecera. Noriko é a clássica personagem subversiva que irá sofrer muito pelas imposições que a sociedade japonesa impõe, por estar prestes a se divorciar (caso ela volte a morar no Japão, além de estampar o rotulo na testa de divorciada, ainda será mãe solteira). Em um dos momentos de seu monologo, ela questiona a forma como a sua família irá reagir com a notícia; neste momento a narrativa dá ênfase à condição de bem casada de sua irmã mais velha, do tradicionalismo da família representado pelo apego do pai por velhas tradições e a casa cheia e sorridente com filhos, genros e netos muito felizes. Entre todos, Noriko é a única que sustenta uma nuvem preta sobre a cabeça.

Outro aspecto interessante em Noriko que subjetivamente à mostra sendo punida por suas decisões, é o fato de ao ser sempre contrastada pela irmã, seu instinto de independência e subversão às tradições sempre se mostrou mais aparente com ela não querendo seguir o mesmo destino de sua irmã; se casar e abrir mão de sua vida profissional, de conhecer novos lugares, ser do lar. Noriko que inclusive mantêm os cabelos cortados ao estilo Joãzinho (cabelo curto em mulheres costuma simbolizar força, independência, rebeldia. No Japão, a mulher ideal, a Yamato Nadeshiko, possui longos cabelos, delicadeza e é tradicional) quando ainda jovem e cheia de sonhos pra sua carreira profissional, mas agora, volta com os cabelos longos, vestida de forma muito mais feminina que antes (atente aos pequenos detalhes do seu look) e sem toda aquela vivacidade.

Atenhamos aos fatos: Noriko queria ir pra Tóquio, conseguiu o bom emprego que tanto sonhara e sacrificou o grande amor de sua vida; um homem bom, trabalhador, sério e que a amava (imagina as criticas que ela deve ter recebido por isso). Mas antes, acabou se entregando a ele, já comprometida com outro, e descobrindo que estava grávida, acabou aceitando o pedido de casamento deste gaijin (estrangeiro) com o qual estava namorando (pense a situação dela, "não dava" pra voltar grávida, nem falar que o filho era de um outro homem enquanto já namorava. No fim, não teve força suficiente para enfrentar a situação e preferiu "fugir"). Com ele, teve que largar o emprego pra se dedicar a criança e deste então, se tornou domesticada – o que a incomoda e faz com que tome a decisão de se separar.

Kawamo o Suberu Kaze fecha de forma extremamente satisfatória ao novamente contrastar Noriko, dessa vez com sua antiga paixão. Perguntada por ele se era feliz, ela ao ver que ele conseguiu constituir uma família feliz aos moldes tradicionais (mulher caseira, filhos sadios, situação financeira positivamente estável), simplesmente assente num falso “sim, muito feliz”, com um meio sorriso no rosto. Ela dizer isso ao apertar a mãozinha do filho foi lindo, sem nenhuma dúvida é a prova de que ela faria tudo novamente se possível. Porém, no subtexto é fácil de notar a síntese perfeita da punição recebida por Noriko da vida, por pensar demais na profissão e abrir mão da família (inclusive ela escondeu que o menino era na verdade o seu filho – bem, teria sido pior revelar isso agora). Sensacional.

A paleta de cores é opaca [igual a vida de Noriko] e com animação e estilo de arte bem econômico, mas que serve bem ao que pretende: monólogos internos – É onde se passa o melhor que este especial tem a mostrar. 




Yuuge (Ceia)
Ano: 2013
Autora original: Amy Yamada
Diretor: Toru Takahashi
Roteiro: Komparu Tomoko
Estúdio: PRODUCTION REED


Este é o primeiro do Otona Joshi no Anime 2013 e também aquele com mais potencial para deixar as garotas de cabelo em pé. Quando eu li no Argama sobre a história desse, eu já vim obstinada a dar uns tapas virtuais na cara da protagonista, mas tudo o que consegui sentir foi apenas pena.

Mimi (Noriko Nakagoshi) é a típica vitima de condicionamento referente a imposições de gênero, sim, mas não é uma coitadinha; pelo contrário, ela sabe se impor, o suficiente para enfrentar os desafios que encontra pelo caminho por aquilo que deseja e se encontra bem ciente sobre a sua natureza subserviente. Ela gosta do que faz, o seu mundo é uma cozinha e a eterna rotina de cozinhar para o marido e fazer sexo. Ele o trata [e até mesmo chega a compará-la a vários] como um bichinho de estimação, sempre a sua espera; bonita, janta pronta, casa arrumada, e ávida por sexo. Apesar de se questionar várias vezes sobre essa sua fraqueza de precisar ser dependente de alguém e este alguém dela (neste caso, como mulher perfeita do lar, já que considera essa tarefa até mais fácil do que transar), assim como Nana Komatsu, quandoque seu amado chega, ela se esquece de tudo e se joga aos seus braços.

Ela gosta. Ele gosta. Ambos estão felizes assim, se usando mutualmente. Ele dá o “amor”, o carinho e a atenção que ela sempre quis, que por sua vez se porta como um bichinho de estimação para ele, além de lhe dar uma situação financeira estável.  Qual o problema?

Por mim nenhum, só pena por no fundo ela estar se enganando e engaiolando (ela própria sente tudo isso) para viver esta fantasia. Mimi fora submetida a um casamento arranjado com uma figura importante, que nunca lhe dava atenção. Então, se separa e ao ser salva por um gari na hora que ia por lixo pra fora, acaba se apaixonando. Abandona tudo, sua posição, nome, família, para viver uma vida simples e amigada com um homem simples. Mimi representa o ideal de milhões de Mimi’s pelo mundo, que carentes, acabam indo procurar abrigo nos braços de homens. O que ela busca é atenção, o que ela quer é ser indispensável para alguém, viver um grande amor, e ter uma casa/família clássica. Nem mesmo que para isso ela precise ser um bichinho de estimação que faz tudo o que seu dono quer em troca de afagos. "Eu faço um homem comer. É a única coisa que posso fazer" – Mimi. Infelizmente, com isso você nunca deixará desse sentir este vazio existencial que te abala e que tenta em vão preencher a todo custo, Mimi. A nossa plena “felicidade” nunca pode estar condicionada a uma pessoa, porque nenhum ser humano é perfeito, embora naturalmente não saibamos muito bem como ser sozinhos. Suponho que cada um tenha sua própria receita de felicidade, mas o interessante nos casos como o da Mimi, é que muito provavelmente ela cresceu sendo condicionada a este pensamento retrogrado com as fantasias das princesas Disney. O problema não é o sonho de uma garota ser uma perfeita dona do lar e com um príncipe ao lado, mas tentar achar nisto respostas [ou mesmo uma fuga] que o tempo nunca irá oferecer, ou que sua vida se restringe a isto (e eu achei bem engraçadinho esse episódio, a Mimi é uma avoada huehuehueheuehue)

Em termos técnicos, este especial é o mais inventivo, mesclando animação com imagens reais. O efeito é muito bonito e artisticamente torna Yuuge o mais brilhante das 4 histórias. A trilha sonora de Youuge é a melhor dentre todos os especiais, parecem até reproduzir o interior apaixonado de Mimi. Aquele estridente som de jazz ao final fez doer o coração. E essa história poderia ter sido linda se não fosse a forma como um vê o outro, e pela forma que ambos encaram esse relacionamento. Por fim, não duvido que Mimi e seu novo marido possam viver bem e com momentos felizes assim por toda a vida, como muitas outras Mimi's. Não seria algo pra mim, e eu já estou mudando de assunto e ficando melosa, vishe. Chega.




Jinsei Best Ten (As 10 melhores coisas da vida)
Ano: 2013
Autora: Kakuta Mitsuyo
Diretor: Yo Miura
Roteiro: Reiko Yoshida
Estúdio: BONES


Sem dúvidas o mais divertido, com a protagonista mais carismática, e com as situações mais inusitadas! Baseado num romance que visa listar um top 10 dos melhores momentos da vida da personagem Hatoko (Miki Nakatani), infelizmente aqui nós só veremos 6, enquanto que acompanharemos de perto apenas um.

Prestes a completar 40 anos, Hatoko resolve listar os 10 melhores momentos de sua vida, e o top 1 é impagável e merecidíssimo, diria eu. Eu não vou contar pra não estragar a surpresa para quem possivelmente tenha interesse em ver ainda, mas vale falar um pouco sobre Hatoko. Novamente uma personagem sendo “castigada” pela vida por ter uma boa carreira profissional, onde enquanto se tornava independente, ia colecionando fracassos amorosos. Hatoko não tem motivo nenhum para se sentir fracassada, no entanto, isto se torna inevitável ao ser constantemente contrastada com este modelo de sucesso feminino, onde o correto é na sua idade já ter uma família formada. E o Inferno astral de Hatoko não tem fim, não basta o complexo da idade, ao ser convidada pra uma confraternização que reúne todos seus amigos de quando frequentava a escola, se vê rodeada por pessoas “realizadas”, enquanto ela mal namorou em toda a vida “Ser casada, ter filhos, e ainda por cima ser gerente de uma boutique em um dos lugares mais chiques de Tóquio... Eu sou uma perdedora completa, comparada a ela”. O que ela faz? Começa a mentir sobre a sua vida amorosa para não se sentir menosprezada, criando muitas desculpas para dar em sua mente fértil. Chega a um ponto da noite em que ela passa a acreditar nas próprias fantasias. A Hatoko, no entanto, apesar de complexada, não entrega os pontos e encara tudo de forma muito divertida e entusiasmada, mesmo em sequências tragicômicas! Se eu puder ser como a Hiroko aos 40, estará ótimo, porque eu também tenho as minhas neuroses condicionadas e sinceramente não conseguirei desvencilhar delas nessa encarnação (as pontadas que não sinto no peito quando ouço “quanto mais peito melhor” *risos nervosos* /equivalente a ser homem no Brasil de estatura muito baixa).

A produção do estúdio BONES não é nada surpreendente, mas Yo Miura dá uma entonação artística singular a esta história, desde o character designer, ao uso de cores. Tecnicamente o melhor, ao lado de Yuuge.

E entre o top 10 da Hatoko, está "fugir de casa na infância". Sério, acho que se foi criança e não fugiu de casa, não viveu plenamente. No meu top da vida certamente constará a minha fuga de quando eu era uma pimpolha travessa.




Dokoka Dehanai Koko (Em qualquer Lugar, Menos aqui)
Ano: 2013
Autora original: Yamaoto Fumio
Roteiro: Masako Imai
Estúdio: Wao World


O mais amargo, mas que termina como um doce derretendo na língua que nos faz ansiar por ver mais da Maho (Tae Kimura) e os rumos que a vida dela tomou. Instintivamente o melhor, por assim como Kawamo o Suberu Kaze, apresentar personagens realmente fortes enquanto mães, porque tudo é mais difícil quando se envolve filhos. E este vai mais além, porque Maho não apenas tem 2 filhos adolescentes crescidos, mas sua história se distância de todo o glamour estabelecido nos enredos anteriores com protagonistas de famílias de classe média vivendo em classe média. Maho precisa se desdobrar trabalhando em casa exaustivamente e fora durante a noite para ajudar nas contas, um cenário muito similar ao da América latina, além de ter um marido indiferente que não lhe ajuda em nada [a não ser que ela venha lhe pedir pessoalmente] e 2 filhos ingratos.

A filha some por dias sem dar recado e quando volta, diz que está se mudando porque não quer mais olhar para a cara da mãe passiva diante de tudo (“não quero ser como voc! Mãe, odeio a forma como você vive!), mas Maho se encontra tão esgotada fisicamente e psicologicamente, que não tem forças nem para pensar numa discussão, se encolhendo no sofá. O marido não diz nada ou ao menos tenta conversar com ela sobre qualquer coisa que seja, apenas vive uma rotina de casa+trabalho+tv+silêncio, no trabalho um funcionário mais jovem tenta assediá-la, sua mãe idosa nem sonha da situação em que se encontra e exige-lhe uma atenção que não pode dar, a bicicleta que ia para o trabalho é roubada, o filho a ofende-  Caramba, a Maho estava vivendo no limite e já desenvolvendo uma clara depressão profunda difícil de ser contornada, até que estoura. Bate no filho malcriado por conta de uma má resposta, passa pelo marido sem dar explicações, grita quando o colega assediador tenta arrastá-la para uma noite, vai à mãe e lhe diz tudo o que estava entalado, questionada pela gerente sobre o assédio, responde sem hesitar “Ele deve ter me chamando para sair porque achou que eu fosse velha e não iria rejeitá-lo. Mas eu não vou desistir por uma besteira como essa”.

O problema de Maho é o fato de que ela não estava vivendo e guiando a própria vida, apenas se deixando levar pelas situações, se questionando mas sem fazer nada de efetivo para mudar o quadro, tão cansada psicologicamente que seus olhos exibiam toda a sua passividade em meio a toda aquela tempestade; que fora formada aos poucos. A depressão castra qualquer tipo de força de vontade que possa se manifestar em uma pessoa, se tornando passiva ao ponto de em dado momento, se questionar como que tudo pode ter chegado a tal ponto, de apenas querer fugir para longe. Em dado momento, ela pensa “se meu marido ganhasse tão bem, eu não precisaria estar trabalhando”, o que denota o choque de realidade que sofrera ai sair do berço da família, encontrando uma vida que não esperava num casamento arranjado, tornando a extremamente passiva a tudo ao ponto de perder o respeito dos filhos. Eu fiquei realmente muito contente ao vê-la se reencontrando internamente num momento decisivo e que isso a tenha feito mudar de atitude e começar a mudar por conta própria os rumos de sua vida.

Eu vejo na Maho muito da mulher comum japonesa, submissa e fazendo o que precisa ser feito pela família, mas sem a força necessária para se posicionar. E isso se dá por tantos motivos, como no caso da Maho, a imposição social e familiar – ela nem ao menos pode contar para a mãe a situação em que o marido se encontra, muito por orgulho e status social. O grito que a Maho deu no estacionamento, impedindo os avanços do colega, é o grito que todas as mulheres deveriam dar e não aceitar caladas certas imposições de gênero. Parece banal, mas é assustador pensar que muitas mulheres podem ser vitimas de assédio sem ao menos conseguirem esboçar uma negativa. Às vezes enfrentar os problemas pode ser mais simples do que ignorá-los ou de apenas fugir: “Vou continuar viva bem aqui, erguendo minha cabeça pouco a pouco, a cada dia que passa”. Lindo. 



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