Acho que para mim, o episódio mais bacana desde o primeiro e
o quarto.
Para uma série que se dizia ser sobre o crescimento e
adaptação de Ledo em Gargantia, foi tudo muito genérico e pouco aprofundado,
mas problemas estruturais a parte, estou realmente apreciando os rumos dessa
trama. Este episódio é clichê, tem um desfecho fácil (parte da culpa é da estruturação da série que vem se seguindo, apesar
de linear, com tramas episódicas; há um inicio, meio e fim em todos os
episódios. O senso de linearidade é através do fio condutor da história, e por
falar nela, tenho pontos a explanar logo adiante), mas novamente com uma
direção firme, um bom ritmo e um roteiro eficaz. Isso faz toda a diferença em
um episódio climático. Eu até me senti comovida com o conflito de Ridget.
O roteirista Torico Nanasino novamente (a outra vez foi no episódio 04) consegue trazer a tona o lado
interno dos personagens de modo satisfatório e tornar isso empático enquanto
discorre em uma narrativa com insights provocantes [como já o fizera no quarto
episódio], ao menos no que se refere à Ridget. Você pode notar como os
preparativos para o funeral do ex-comandante Fairlock se contrasta com os
dilemas internos de Ridget e torna a narrativa mais forte: se preparar para o
que está por vir, mudanças profundas num padrão estabelecido, aceitação, resignação,
e tudo isso permeado por um sentimento de perda. Ridget hesita, assim como nós
algumas pessoas ali não acreditam que esteja preparada para suportar nos ombros
tanta responsabilidade, enquanto isso o funeral continua seguindo o seu trajeto
inabalável por um caminho repleto de pesar até chegar no seu destino em que se
aceita que aquele ponto final é também o inicio de um novo paragrafo. É neste
momento que Ridget recobra o seu controle interno e entende o obvio. Sua
atitude de soltar os cabelos, sempre presos nos momentos que precisa ostentar
sua autoridade, simboliza sua resignação e fragilidade frente à aceitação da
nova situação estabelecida.
Uma cena muito bonita e que conseguiu me tocar, aliás, todo
o conflito de Ridget foi levado de uma maneira bem envolvente. A dificuldade de
aceitação por parte da alta cúpula, espécie de parlamento judicial, foi algo
que também me agradou por não se focar na questão dela ser mulher e sim por
entenderem que ela não tinha maturidade para o posto – não, não teria problema
se fosse puro sexismo da parte deles, seria crível e até legal do ponto de
vista conflitivo, mas isso ressoaria lá na frente e não acho que tenham tempo
para continuar se focando nos conflitos de Ridget. O diálogo com Bellows me
deixou exultante! Aquele velho não fez tudo sozinho, ele tinha você!, diz
Bellow, enquanto eu “Isso, isso, isso mesmo. Você só vai assumir oficialmente e
ganhar mais responsabilidade (fazendo ADM, eu aprendi que há uma boa diferença entre fazer o trabalho pesado e ter que ser aquele que toma as decisões. Enfim entendi o porque do comandante delegar algumas decisões à ela e ficar mais à margem), já que têm feito tudo ali desde sempre!!”. Novamente,
é só o obvio e diálogos muito planos, assim como ocorreu do diálogo entre Ledo
e Bevel no episódio 04, mas eficazes. Ao contrário de muitos, eu não fiquei
incomodada com aquele diálogo, nem com este. É uma resolução fácil, mas
competente. Às vezes só depois de termos um diálogo pontual com alguma pessoa,
que algumas coisas começam a clarear em nossas mentes. Não é como se você nunca
tenha aludido para a questão, e sim que nunca realmente a considerou fortemente
por tempo suficiente para o seu cérebro mantê-la em destaque nos principais
tópicos da sua mente. No primeiro episódio, por exemplo, Ledo se questiona,
para alguns segundos depois se focar no que realmente importava. Ele só vem a
considerar realmente em outra situação que privilegiou esta analise. O mesmo
para Ridget. É claro que internamente ela sabia de tudo aquilo, mas precisou da
presença da Bellows para que sua mente considerasse o obvio. Quantas vezes só
conseguimos nos acalmar e tomar uma decisão diante uma situação só com alguém
próximo te dizendo as coisas mais obvias do mundo?
Por outro lado, mesmo que não comprometa, o conflito de Amy
é fraco. Se por um lado entendemos a motivação de Ledo em querer partir, por
outro o drama dela não envolve, não comove, embora podemos muito bem entender a
sua situação. Não a sentimos porque ela realmente nunca foi trabalhada
satisfatoriamente para ser uma existência independente. As situações em que a
vemos são sempre sendo uma ponte que liga Ledo à Gargantia (e situações fetichistas). É uma pena, até aqui, tanto ela quanto
Bellows são só carne (não que eu me
importe o suficiente hahah). Agora, as interações entre Ledo e Bevel fazem
os meus olhos brilharem. As poucas vezes em que conversam, são sempre diálogos que
vão um pouco além dos de Ledo com qualquer outro personagem ali, inclusive Amy (esses dois têm química, mas os diálogos
são apenas convencionais, novamente uma pena). Não dá pra culpar o Nanasino
se essa despedida de Ledo não traz nenhum baque, é um problema causado por
falta de consistência lá atrás. Nem mesmo aquela belíssima cena do episódio anterior salvou este momento.
A morte de Fairlock (Só eu achei tosco ele acordando só pra entregar a chave pra Ridget? Forçadinho =P) trouxe consequências interessantes, afetará
diretamente os rumos da história. Não apenas, sua morte abre caminho para que
enfim alguns personagens de fundo possam se mostrar um pouco mais, Bellows e
Amy são uma possibilidade. Mas o que realmente tem me chamado a atenção é com
relação ao futuro. Antes eu tinha certeza de que Gargantia terminaria com um
desfecho previsível, onde a chegada da Aliança Intergaláctica resultaria num clímax
em meio a calmaria, com Ledo tendo que se decidir entre um e outro. Bem, agora...
Continuo achando que o final será previsível. Só que com um cenário inesperado. Sai a
Aliança Galáctica e entre em cena as Hideauzes. Ledo parte para essa missão,
obviamente vão jogar alguma merda no ventilar e as coisas vão ficar fedidas (como indica o preview do próximo episódio).
O desfecho seria algo preto e branco, ao estilo Butcher, com Ledo e alguns
sobreviventes voltando de cabeça baixa para Gargantia. Essa seria uma etapa do
seu amadurecimento, se dando conta que agora ele não é mais um soldado, mas um
humano comum que passará o resto de seus dias na terra. Para isso, Chamber
precisa “partir”. Imagino algo próximo a isto. De qualquer forma, nada de
confronto com Aliança Galactica, Bitches! Ao menos, é o que estou supondo agora.
Sem dúvidas, um episódio muito competente e emotivo na
medida certa. Kazuya Murata é de longe o melhor nome dessa série, mais uma vez
a fotografia foi belíssima, como toda a parte técnica que envolve Gargantia (demorei para me dar conta que Ledo estava
mais moreno, mesmo “percebendo”), sempre muito afiada. A OST do cortejo
foi um toque e tanto, assim como a boa percepção de Murata quanto ao roteiro,
fazendo um storyboard que privilegiasse através de planos de câmera a escrita
repleta de referências de Torico Nanasino, o mais seguro dos roteiristas até
aqui. Vale mencionar também os tons de cores mais introspectivas, ou seja,
suaves (mesmo todo aquele verde neste
episódio estava muito tristonho). Por fim, a escrita desse episódio faz
coro a seu principal alicerce, que é a interação de Ledo com este novo mundo. A
ideia de não depender apenas de si mesmo, de seguir diante, de saber lidar com
situações adversas para continuar vivo (ao
evitarem conflitos diretos com piratas, mortes desnecessárias e ignorar as
lulas gigantes) e amadurecer (como fica insinuante no confronto no final
de Ridget com o povo de Gargantia), tudo isso têm sido a máxima até então
desde o segundo episódio da série.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★