domingo, 2 de junho de 2013

Kotonoha no Niwa - Makoto Shinkai

Saudações do Crítico Nippon!


Quem acompanha meus textos sabe que sou fã de Makoto Shinkai. Não apenas pelas críticas que escrevi de dois de seus filmes aqui e aqui, mas pelas citações que fiz nas obras de outros cineastas, como do recente “Ookami Kodomo no Ame toYuki” de Mamoru Hosoda. Após o pavoroso trabalho anterior em Hoshi Wo Ou Kodomo (e mesmo assim, elogiei fartamente seus trabalhos anteriores no texto), Makoto volta aos trilhos, deixando para seu colega Miyazaki as terras fantasiosas e concentrando-se no que sabe fazer melhor: explorar o nosso agridoce mundo de melancolia e distância.






Takao é um garoto que mata as aulas em dias chuvosos, ficando no quiosque de um jardim desenhando sapatos (algo que ele faz artesanalmente, todas as etapas). Lá, conhece Yukino, uma mulher mais velha que também falta ao trabalho em dias chuvosos. Aos poucos começam a conversar, e combinam de se encontrar sempre ali se, e somente se, estiver chovendo. E é com esta simples premissa – claro - que gira em torno a trama.


Com uma duração bastante curta, só não atrás de Hoshi no Koe que era inferior a meia hora, não há espaço para maiores subtramas em Kotonoha no Niwa. Passamos os pouco mais de 40 minutos com a dupla principal, conhecendo-os devagar como os próprios. Nesse sentido, a calma com que Makoto inicia sua narrativa é admirável e contemplativa como ele já está seguro de fazer. Explorando a maturidade de seus personagens mais velhos, ainda melhor que os de “The Place Promised in Our Early Days”, a distância aqui é justamente a idade (o garoto com 15 e a mulher com 27). E mesmo que haja o fator de que eles só irão se ver em dias de chuva (e sim, conseguimos ficar tão envolvidos e ansiosos quanto ambos, separados nos dias de Sol) é um empecilho que pode ser facilmente resolvido.



O pacote Makoto Shinkai aqui é completo: a riqueza em detalhes é tão exuberante que por vezes me vi assistindo a cena uma vez para ler a legenda, e então voltando para admirar os detalhes perdidos com a leitura. A simples imagem da rua em um dia congestionado de chuva, já contém uma riqueza incrível. E claro, sem jamais causar sensação de incômodo ou poluição na tela. O material de Takao para construção dos sapatos é cuidadosamente mostrado em detalhes, com uma atenção extremamente interessante. Explorando ainda as imagens que a chuva proporciona, por exemplo, ao focá-la estourando na superfície de um lago e a diferença na pedra lisa.

A luz solar continua ausente como de costume (ainda mais com o foco nos dias chuvosos), geralmente em um borrão branco desfocado nada bonito ou mesmo alegre. Uma analogia clara à felicidade e bons sentimentos que parecem sempre fugir de seus melancólicos personagens, ainda mais neste cujo pacto entre o “casal” depende dos dias escuros e acinzentados. E aqui os protagonistas voltam à falar com suas vozes quase sussurradas e confidentes para com o espectador, como já acontecia em 5 Centímetros... e Hoshi no Koe.



Revelando-se um estudo de personagem maduro e curioso, é interessante notar, por exemplo, as diversas pistas que Makoto joga sem escancarar, mas que somadas se complementam e diz muito sobre Yukino. Começando com seu hábito de tomar cerveja pela manhã e faltar ao trabalho com freqüência; depois vemos que ela não possui habilidade alguma na cozinha; e então descobrimos seu apartamento completamente bagunçado e as mentiras que conta. Assim, claro, lhe chama atenção o completo oposto que é Takao: um jovem que, mesmo matando as aulas em dias de chuva, dedica esse tempo não para dormir, mas aprimorando as habilidades de sua possível futura carreira. Dividindo os estudos com trabalho para comprar material para fabricar seus sapatos, é um entretenimento à parte a dedicação toda para com sua arte. Enxergando em Yukino a figura idealizada de uma mulher feita (“Para mim, ela representa os próprios segredos do mundo”), o diretor faz questão de salientar na cena em que o garoto tira as medidas do pé dela, como se estivesse quase que literalmente a reverenciando.


Encerrando sua curta história com energia e emoção em seu discurso final, Makoto Shinkai cria com sucesso mais um doce casal para sua galeria, ao lado de Mikako e Noburo, e Takaki e Akari. Separados não somente pela idade, mas por outros fatores que não posso revelar, em momento algum se torna algo repulsivo como a quase bebê Asuna de seu filme anterior. O amor não consumado de suas obras talvez seja idealizado justamente por isso: por ser feito de poucas doses, jamais foi consumido por completo, ficando gravado em nossas mentes e corações como uma eterna possibilidade.




(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman

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