Uau, caramba! Agora eu dei um salto da cadeira.
Surpreendente!
Certo, não é um poço profundo de originalidade, afinal; Lupus
est homo homini non homo. O homem é o lobo do homem, que o filosofo inglês Thomas
Hobbes (1588/1679) chamaria de
“Estado de Natureza” – os homens são iguais, desejam as mesmas coisas e possuem
as mesmas necessidades, o mesmo instinto de autopreservação – e o estado
natural é o conflito. As guerras existem porque as pessoas querem as mesmas
coisas, mas pensam de formas diferentes. A idéia de perfeita paz e harmonia mundial é utópica, por isso o homem acaba se tornando seu próprio algoz, e a
ficção cientifica como um gênero que denuncia os excessos do homem com relação
à ciência, está sempre retratando essa dicotomia de Humanos Vs Criaturas.
Mas ainda assim, agora parece fácil chegar e dizer que não é
surpreendente, quando a maioria mal poderia prever o passo seguinte do enredo.
Quando o leitor Taryon veio com essa imagem abaixo no post anterior, eu nem
considerei com seriedade. Agora todos os indícios plantados anteriormente se
tornam óbvios.
No entanto, agora este episódio levanta a bandeira e indica
os rumos a se seguir nessa reta final. Que muito me agradam por se revelarem
fiel ao argumento original. Apesar de embates físicos e duelos/questionamentos
psicológicos me agradarem, Gargantia não é sobre isso. É sobre o que realmente
se leva dessa vida, a eterna busca pelo estado etéreo e, claro, o conflito de
Ledo com esse novo modo de vida até então desconhecido. Como dito por Kazuya
Murata e Gen Urobuchi, é pra ser uma série positiva sobre o crescimento de um
individuo. O próximo passo é o conflito de Ledo ao ter que lidar com essas
novas descobertas e possivelmente abraçando essa nova vida ao se colocar contra
a Aliança. Malandramente conveniente, mas funciona. O importante é como isto
será executado, o que se tratando de Suisei no Gargantia que vive em um mar
inconstante, nem é tão animador.
É incrível como este episódio carrega a assinatura do
Butcher-sensei, mesmo ele não o tendo escrito diretamente dos próprios punhos.
É o momento em que o herói se quebra e seus valores ideológicos antes
inabaláveis defronta-se com uma verdade com a qual não pode lidar. Tão típico
do Butcher, é sua assinatura, e o momento em que Chamber contra a
vontade de Ledo esmaga uma lula-Hideauze e ele se desespera, é o segundo
momento na série (o primeiro é quando
ele chora ao se lembrar do seu irmão, no episódio 04) no qual pude ver sua
faceta mais humana. E a construção para este momento foi bem feita, de modo
contrário seria difícil crer no seu desespero. Este momento se torna grande
porque o que vemos é uma das lulas com forma humana, aquela que provavelmente é
a ligação direta entre as duas espécies (logo
adiante volto no assunto). Uma lula já evoluída provavelmente não teria o
mesmo efeito. Então desenham uma lula com aspectos humanos e trejeitos moe, o
impacto que sua morte causa não chega nem perto das de suas companheiras. Isso
acontece porque nos reconhecemos nela.
Descobrimos que as Hideauze eram seres humanos [entre simpatizantes
e membros do grupo ‘Evolvers’] que se submeteram às modificações genéticas para
se adaptarem ao ambiente no espaço. Esse grupo encontrou uma forte oposição,
chamada União Continental, dividindo o mundo ao meio entre aliados à causa dos
Evolvers e os que se opunham. Enquanto o planeta se afundava cada vez mais na Quinta
era Glacial, os humanos guerreavam. Isso não impediu que ambas as partes se
preparassem para debandar do planeta. No entanto, a guerra continuou no espaço.
O resto é história, os Evolvers depois de milhares de anos evoluíram em sua
forma, mas continuam com os mesmos conflitos primitivos com a União Continental,
agora denominada Aliança Galáctica da Humanidade, numa guerra ad infinitum.
A despeito do 3DCG, que neste episódio se mostra bem pobre e
conflitante visualmente quando contrastado com o 2D, a parte técnica de
Gargantia é sempre impecável, Kazuya Murata se atenta aos mínimos detalhes do
enredo, de um simples transição temporal ao bronzeamento natural de Ledo no
decorrer dos episódios; tanto que as vezes passam despercebidos. Minha reação é
de pura admiração. É fantástico se comparado à marginalidade das animações para
TV no Japão. A forma encontrada por ele para a excessiva carga de exposição
acerca do enredo foi muito interessante. Utilizar uma mídia para transmitir um
flashback não é um recurso super original, mas ele escolheu o melhor caminho e com
uma narrativa lúcida (eu duvido que alguém
tenha entendido todas aquelas cargas de exposições de Evangelion logo de
primeira, sem precisar rever pausadamente para entender o que realmente
aconteceu com o mundo).
Enquanto as lulas humanóides no espaço continuavam a
evoluir, as da terra se tornaram espécies marítimas em harmonia com os humanos.
Natural, suponho que as que ficaram para trás, já tendo sido submetidas ao
experimento, eram pessoas comuns e sem qualquer motivação partidária. A
exemplo, a própria filha de Ryan Matsumoto, o primeiro da espécie, se tornou uma
espécime. No final, fica-se com a clara impressão de que era ela, Elaine,
valorizando ainda mais sua morte. Eu não consigo deixar de sentir um pouco o
asco na atitude do Chamber. Na minha mente, era Elaine. E de fato o era. Mas e as outras? Depois que saem do casulo,
elas tendem a ganhar uma forma mais animalesca que Elaine, que é uma
remanescente, uma original. Elas não são humanas também? O que define ser
humano? Na minha definição, as lulas deixaram de serem humanas quando passaram
a evoluir e se tornar uma nova espécie, mas Elaine se encaixa perfeitamente na
minha definição. Voltamos então na temática de Gargantia, sobre coexistência
pacifica. Elas não precisam ser humanas para que sejam respeitadas em seu
habitat. O que torna tudo isso meio hipócrita se pensarmos que o Ledo, e nós,
nos chocamos somente por descobrirmos que elas se originaram de nós.
O triste é que provavelmente isto irá se manter. Ledo vai
respeitar essa diversidade, mas não entendê-la. Essa superficialidade na
abordagem é o que tira potencialmente o brilho do mundo de Gargantia. O próprio
gesto de incredulidade de Ledo me soa muito deslocado para um soldado que mal
teve sua casca riscada durante o tempo que passou em Gargantia. De
qualquer forma, eu não acho que a Aliança seja a grande vilã, como vi alguns
comentando. São apenas pessoas com seus próprios interesses em continuar
levando a guerra adiante.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
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-A matéria necessária para se criar um buraco de minhoca pode nem existir, a ciência não descarta, mas é matematicamente improvável. No entanto, eu posso estar sendo muito leviana aqui, mas isto acima não se parece com o conceito de uma Estrela de nêutrons? Eu não sei, mas talvez tenham reimaginado o conceito do escritor de FC e físico Robert Forward de um campo magnético com prótons capaz de se transformar numa máquina do tempo. Seja como for, fico me perguntando o porque de terem inserido um wormhole caseiro a esta altura do campeonato, será que pensam em realmente trazer à tona a Aliança Intergaláctica?
-"... à exceção do hidrogênio, todos os átomos que compõem cada um de nós - o ferro no sangue, o cálcio nos ossos, o carbono no cérebro - foram fabricados em estrelas vermelhas gigantes a milhares de anos-luz no espaço e a bilhões de anos no tempo. Somos feitos, como gosto de dizer, de matéria estelar."
(Carl Sagan)
Nossa existência por si só já é absurda o suficiente. Então, romantizar engenharia genética e evolução natural é algo muito aceitável em ficção cientifica. Nos tempos atuais, matematicamente a manipulação genética dos Evolvers é algo muito falho, uma vez que lulas são animais capazes de resistirem à alta pressão no fundo do mar, mas são extremamente frágeis fora da água. O desempenho não seria melhor no espaço, onde há pouca pressão atmosférica. Aí tem todos esses organismos em forma de flores, caracóis, nautilus, e lulas, conhecidos agora como Hideauzes. Uma pura alusão às criaturas do Mitos de Cthulhu, e tal qual não podem nem, ao menos geneticamente, ser considerados mais humanos. Agora são criaturas irracionais que provavelmente mal devem se lembrar de sua origem, de que fizeram experimentos hediondos em nome da ciência, agora agindo por puro instinto.
-Novamente, no mundo real seria difícil crer em alguém financiando este tipo de projeto à lá Centopeia Humana (haha, alguém já assistiu?), mas num mundo beirando ao apocalipse, qualquer fio de esperança seria agarrado com força, enquanto ainda permaneceriam aqueles moral contra a algo que blasfema a natureza.
-Também podemos pensar pelo lado das viagens espaciais - e encouraçados interestelares se pensarmos em ficção cientifica - que evoluiu do conceito da tecnologia empregada em viagem marítimas para a exploração do mar, auxiliando nos projeto de equipamentos para a excursão no espaço. Dessa forma, a lula que vemos naquela realidade, não é mais uma simples lula, mas uma existência manipulada pela ciência com base numa evolução de milhares de anos. A aparência de lula é conveniente ao romantismo da obra, mas seu sistema pode ser mais complexo do que imaginamos. Oh, agora caí na risada aqui. Estou realmente levando isso à sério, tssssssssssss! #apanha
-Eu fico pensando se não criaram esse mito em torno das lulas para poder camuflar a verdade e impedir os humanos de chegarem perto demais, levando em conta que as ancestrais eram criaturas doceis. Afinal, se passou milhares de anos desde o derretimento das calotas polares, ao ponto de todo o passado ter se perdido e virado lenda. Essas lulas aparentemente têm uma vida longa, hein?
-Por fim, tem razão daquele local ter virado hostil e ninho de lulas. Era o centro cientifico! Ohhhhh °/
Isso levanta a pergunta... Se Gargantia estava sempre em movimento, seguindo os caminhos da galaxia, como raios chegaram tão rápido a este local, que pelas memórias do Pinion, deveria estar à anos de distância?
-Ficaram sabendo que terá uma OVA focando especialmente na Sayak-, digo, Bridget? E ela está lindíssima.
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